Capítulo Único



Era uma noite de Dezembro, já perto das férias, mas ela nem dava conta da baixa temperatura que se fazia sentir. Hermione estava sentada à beira do Lago Negro a olhar o céu que, naquela noite, brilhava de um azul muito escuro, tornando a lua ainda mais reluzente. Aquilo tinha-se transformado num vício: todas as noites, depois da ronda, sentava-se na relva, junto ao lago, debaixo daquela mesma árvore, a pensar. Pensava em Harry, que tinha matado Voldemort, restaurando a paz ao mundo bruxo; pensava em Ron, e nas suas indecisões sentimentais, que tinham acabado com a paciência dela; pensava em Ginny, sempre apaixonada pelo Harry; pensava nos seus pais, cuja memória tinha sido apagada e ainda não estava restaurada; no seu futuro… Sim, agora com que a guerra tinha terminado, ela, com os seus dezoito anos, podia dar-se ao luxo de pensar no seu futuro. Afinal ela tinha um pela frente. Ficava assim durante horas, pois ela nem dava conta do tempo passar.

“A natureza é mesmo algo de fenomenal”, pensou ela, “Quem diria que depois daquela chuva, o céu ficasse tão limpo em tão pouco tempo?”

Uma leve movimentação fê-la acordar dos seus sonhos acordados. Ela olhou-o, contemplou-o, desejou-o apaixonadamente.

“Hermione, em que estás a pensar?”, contrariou-se ela, “Todos menos ele!”, pensou, lembrando-se de Ron e Harry. “Ele não!”, reafirmou ela.

De cabeça baixa e mão nos bolsos, ele descia as escadas que davam acesso ao jardim. Assim que os seus pés tocaram a relva, chutou uma pedra.

“Parece zangado”, analisou a morena, “Não, vendo bem ele está triste…”.

Inconscientemente, ele foi-se aproximando da árvore, debaixo da qual Hermione se encontrava sentada.

- O que fazes aqui, sua Sangue de Lama? – sibilou ele de forma arrogante.

- Nada que seja da tua conta, Malfoy! – respondeu ela de forma seca, deixando, no entanto, transparecer a sua decepção. “E pensar que eu fiquei com pena dele quando o vi descer as escadas.”, completou em pensamento, dirigindo o seu olhar para a superfície do Lago.

Ele sentou-se ao seu lado.

- Desculpa… - murmurou ele. Ela arregalou os olhos em sinal de surpresa. – É a sério. Desculpa. Não tens que apanhar com o meu mau humor. Não depois do que fizeste por mim…

Flashback

Depois de Harry matar Voldemort e de Ron, num acto heróico nunca antes visto, ter morto Lucius Malfoy, quando este tentava acertar um Avada Kedavra em Harry, todos os Devoradores de Morte, que não haviam caído em batalha, foram capturados. Depois de levados ao Wizengamot, o Supremo Tribunal Bruxo, todos eles foram executados, pois não havia mais Azkaban. Todos menos Draco Malfoy.

Quando Harry encontrou Severus Snape, ainda antes de Voldemort estar morto, o antigo professor de Poções entregou-lhe uma série de frasquinhos de cristal com uma substância nem líquida, nem gasosa, de uma tonalidade branca-prateada. Harry soube imediatamente o que eram: lembranças. Essas lembranças, para além de provarem a inocência de Severus Snape perante a morte de Dumbledore, promoveram a salvação de Draco Malfoy.

Sentado na cadeira dos réus, estava um loiro platinado, que ostentava um olhar derrotado e sem esperança.

- Vamos visualizar, neste momento, as lembranças de Severus Snape, docente na Escola de Magia e Feitiçaria de Hogwarts, que implica o acusado. – falou em voz ampliada por um feitiço de Sonorus, um dos feiticeiros do Tribunal.

Com um aceno de cabeça em concordância do Feiticeiro Superior, o feiticeiro que tinha falado anteriormente projectou a lembrança numa Penseira modificada, o que permitia que esta fosse assistida por todas as pessoas que se encontravam na sala.

Na lembrança, via-se um Draco Malfoy triste, revoltado, amargurado, que chorava perante a tarefa que o seu Lord lhe tinha confiado: matar Albus Dumbledore.

“- Como eu odeio aquele homem que se diz meu pai. Se ele realmente se importasse comigo, como ele diz que importa, não me tinha arrastado para esta guerra de causa perdida. – dizia ele.

- Draco. Que o Lord não te ouça dizer isso. Nem o teu pai. É uma honra servires o Lord. – respondeu-lhe Severus Snape, sério. – Pensa nisso como uma prova da tua lealdade para com o nosso Mestre”.

- Uma honra? UMA HONRA? – Draco ria descontroladamente – “É uma honra matar alguém? E uma honra nascer rodeado de dinheiro, poder e fama, mas sozinho e abandonado? Não era o dinheiro que me deitava na cama quando eu era pequeno e me lia uma história. Não era o poder que brincava comigo. E definitivamente não era a fama que me passava a mão na cabeça quando eu me magoava. Mas foram eles que me levaram a pessoa que o fazia. Foram eles que mataram a minha mãe e me arrastaram para onde eu estou agora. Foram eles que criaram este Draco Malfoy. – cuspiu ele com a voz carregada de sarcasmo e mágoa.”

Da sua cadeira, Draco cerrava os punhos e segurava as lágrimas, que não lhe obedeciam, ao lembrar a morte da sua mãe.

“- De que me vale lutar, matar até, se, no fundo, eu vou continuar só? Sem pais, sem amigos, sem ninguém.”

Hermione, do seu lugar, chorava silenciosa e compulsivamente. Teve uma vontade imensa de saltar do seu lugar, abraçar o loiro, passar-lhe a mão na cabeça e dizer-lhe que ela, Hermione, estava ali do lado dele, caso ele precisasse. Essa vontade não passou despercebida aos seus dois amigos, que conhecendo-a bem como só eles conheciam, foi só necessário olhá-la de relance para eles perceberem o que tinha acabado de passar na cabeça da morena, reprovando imediatamente a ideia.

Draco foi, então, absolvido da execução por unanimidade de todos os Feiticeiros do Wizengamot. No entanto, teve de passar as férias a prestar Serviço Comunitário no Ministério da Magia até ao início do novo ano lectivo.

Ele sentia-se aliviado, mas extremamente só. Em Setembro, regressou a Hogwarts (assim como todos os estudantes que, no ano lectivo anterior, estavam inscritos no sétimo ano), para terminar a sua formação-base na Escola de Magia e Feitiçaria. Mas, era ignorado, olhado de lado como se fosse um hipógrifo com alguma doença contagiosa. Apenas uma pessoa foi capaz de olhar para ele e sorrir.

- Boa noite, Draco. – disse Hermione com um sorriso sincero, na Noite de Selecção, - Fico muito feliz que tenha regressado a Hogwarts.

- Er… Obrigado. – murmurou ele, baixando o olhar perante o ar de desaprovação que Harry e Ron lhe lançaram.

Quando o Trio Maravilha continuou o seu caminho, pode ouvir os meninos ralharem com Hermione.

- Desde quando é tratas o Malfoy por Draco, Mione?

- E desde quando é que ficas toda sorrisinhos quando o vês?

- Desde que ele mostrou ser uma pessoa boa. Será que vocês não sabem ver isso?

- Ele é um Devorador de Morte! Caso não te lembres, Mi.

- E depois? Lá por continuar com Marca no braço, faz dele um Devorador de Morte para toda a eternidade? – Draco, involuntariamente, levou a sua mão ao braço onde estava a dita Marca, – Ele mudou! Dêem-lhe uma segunda oportunidade. – dizia Hermione cansada.

“A única pessoa a quem eu nunca tratei bem nem dei importância, é neste momento a única pessoa que demonstra alguma preocupação comigo.”, pensou Draco. “Sim, porque eu ainda me dava ao trabalho de duelar com o Santo Potter ou o Cenoura Ambulante, mas nunca me passou pela cabeça fazer isso com a Sangue de Lama, quer dizer, a Granger, porque ela era simplesmente insignificante.”

Fim de Flashback

A luz da lua reflectia nas grossas lágrimas que corriam, agora livremente, nas bochechas do loiro. Hermione olhou para ele e sentiu, novamente, borboletas no estômago. “Desde quando é que eu me sinto assim?”, pensou ela, mantendo o silêncio que reinava entre eles à já uns bons minutos. “Desde quando é o meu sentimento pelo Draco mudou?”

Flashback

Tudo mudou com um pergaminho, um simples pergaminho. Numa manhã de Outubro, enquanto tomava o seu pequeno-almoço, na mesa dos Gryffindor, juntamente com os restantes elementos da sua casa, uma coruja deixou cair, junto ao seu sumo de abóbora, um pergaminho. Hermione estranhou esse facto, já que só recebia cartas dos seus pais e estas eram em papel de carta Muggle. Com uma certa curiosidade, abriu o pergaminho e leu-o três vezes, sem querer acreditar naquelas linhas:

“Querida Hermione,
Quero agradecer a ajuda que me deste ontem à tarde, na Biblioteca, com o meu trabalho de Poções. Ainda pensei em agradecer pessoalmente, mas como o Harry e o Ron estão sempre contigo, achei que eles não ficassem muito satisfeitos com a minha presença perto de ti, muito menos para te agradecer o facto de teres passado a tarde na minha companhia (mesmo que tenha sido para me ajudares com um trabalho).
Na realidade, ando com problemas em várias matérias, será que me podias ajudar em algumas delas?
O meu mais sincero obrigado.

Draco”

Hermione levantou instintivamente o olhar surpreso para a mesa dos Slytherin e encontrou o loiro a sorrir para ela. Ela simplesmente acenou, levemente, a cabeça em concordância com a proposta dele. A partir daí, passaram-se a encontrar todas as sextas-feiras à tarde, na Biblioteca para estudarem juntos. Claro que os meninos não faziam ideia de onde ela estava, mas também como tinham treino de Quidditch nessa altura, era provável que nem dessem pela sua falta. Nessas tardes, não havia sangue puro, nem sangue de lama, nem arrogância, cinismo ou superioridade, havia duas pessoas que, apesar de se conhecerem à sete anos, se descobriam pela primeira vez.

Fim de Flashback

A verdade é que ele a desarmava com um simples olhar, um simples sorriso, um simples toque na mão. E para ela, vê-lo ali, ao seu lado, tão vulnerável, partia-lhe o coração. No entanto, ela sabia que não era correspondida.

- Perdoas-me? – perguntou ele, arrancando-a dos seus devaneios pela segunda vez naquela noite. – És demasiado importante para mim para eu te perder por uma crença na qual o meu pai me obrigou a acreditar por dezassete anos.

Hermione agradeceu o facto de ser noite, pois corou com o que ele havia dito. “Eu sou importante para ele? Será que ele também sente o mesmo por mim?”, pensou abraçando os próprios joelhos.

A noite já ia longa e ela não tinha trazido a capa com ela. Draco reparou e, com carinho, passou o seu braço pelos ombros da menina, numa tentativa falhada de a aquecer. Hermione aproximou-se dele, para se aquecer, deitou a cabeça no seu ombro e sentiu-o quente. No entanto, ele tremia, não de frio, mas da proximidade dela.

Com cuidado, Draco, com a mão livre, levantou o queixo da morena, fazendo-a olhar para ele e ficando a pouco milímetros dos seus lábios rosados. Ambos podiam sentir a respiração descompassada do outro, como que em sintonia. O loiro começou por beijar a bochecha da morena. Enquanto esta fechava os olhos, Draco permanecia com os seus abertos para a observar. Passou depois à orelha, à linha da mandíbula, ora beijando, ora lambendo, arrancando pequenos suspiros e pequenos gemidos dela. A mão de Draco retirou as de Mione de volta dos joelhos para se poder aproximar mais do corpo da mulher. Num gesto de gentil possessão, o loiro agarrou a fina cintura, com uma mão, apertando-a ligeiramente, enquanto a outra passeava nos, já então domados, caracóis, ao mesmo tempo que possuía a boca de Hermione, iniciando-se assim uma sensual e excitante dança de línguas. As mãos da morena despenteavam os cabelos loiros platinados do rapaz.

Suavemente, deitou-a na relva, sem nunca a deixar de beijar. A mão masculina que, outrora deslizava levemente na cintura, entrelaçava, agora, a mão direita de Hermione, mantendo-a à altura dos olhos dela. Num misto de amizade, desejo, amor e paixão, adormeceram ao relento, sem se importarem com o frio.

* * *

Acordaram com a claridade daquela manhã, onde o frio reinava. Hermione levantou-se rapidamente.

- Eu não acredito que adormeci aqui! – disse ela rouca, - Os meninos devem estar preocupados.

Draco, que se havia levantado imediatamente a seguir, ficou de semblante triste por ela não ter dado importância ao que se tinha passado na noite anterior e apenas pensar nos meninos. Não trocaram nenhuma palavra no percurso até ao castelo.

- Até Draco. – disse subindo as escadas.

- Até já…

- Draco? – chamou ela, já do cimo das escadas, fazendo-o voltar atrás. – Não. – Ele arqueou uma sobrancelha. – Eu não te perdoo, porque não há nada para perdoar. – Completou com um sorriso. Draco sorriu de volta.

Hermione seguiu para a Sala Comunal dos Gryffindor, onde três pessoas a esperavam de pé e mãos cruzadas sobre o peito.

- Onde passaste a noite? – perguntou Ron.

- A tua cama não foi desfeita. – afirmou Ginny.

- Ficamos preocupados. – continuou Harry.

- Bom dia para vocês também! Eu estou bem e dormi ainda melhor. – ironizou ela perante o bombardeamento de perguntas dos amigos. – Vou tomar banho porque já estou atrasada.

- Mione… Estás rouca! Ei! Volta aqui! – Gritaram os três. Ela limitou-se a virar a cara para eles, sorrir e mandar um beijinho para o ar.

Depois de agarrar a roupa que já tinha separado na noite anterior, antes da sua ronda, dirigiu-se ao quarto de banho. Entrou, colocou a roupa num banquinho que conjurou e trancou a porta. Ligou de seguida a torneira da banheira que se encontrava no centro do banheiro e acendeu um pauzinho de incenso para relaxar.

- Humm. Que delícia.

* * *

De banho tomado e roupa vestida, virou-se ao cabelo. Escovou-o e prendeu-o numa longa trança. Não pôde, no entanto, deixar de sorrir, quando as suas mãos fizeram o percurso que a boca de um certo loiro tinha feito, na noite passada, ao longo do seu pescoço até a boca. Forçosamente levou as mãos aos lábios entreabertos.

- Mione? Ainda demoras muito? – perguntou Padma Patil, batendo à porta.

- Não! Saio já. – respondeu. – Expurgar! – disse, apontando a varinha para a banheira e a sua roupa suja.

Desceu rapidamente, depois de tomar uma poção para a rouquidão, para o salão para tomar o pequeno-almoço. Dirigiu um olhar rápido para a mesa dos Slytherin e lá encontrou um loiro com um sorriso de trinta e dois dentes, o qual ela retribuiu (como era hábito).

- Eu não acredito! Passaste a noite com o Malfoy? – perguntou Ron com raiva

- O quê? – perguntou Hermione incrédula, sem querer acreditar no que ouvia.

- Ouviste muito bem. Ou vais querer que eu também o diga? – ajudou Harry.

- Onde eu passei a noite não vos diz respeito. Com a quem passei, muito menos. – respondeu calmamente, pois não queria discutir com os amigos.

- Como assim? Não diz respeito?

- Não diz e pronto.

- Mas nós ficámos preocupados. – disse Harry com um ar de cachorro abandonado. Ginny só olhava de Harry e Ron para Hermione.

- Preocupar com o quê? Que o Voldemort me ataque? – riu ela. – Caso não tenhas reparado, tu – apontando para Harry – acabaste com ele quase há seis meses. Agora se não se importam, eu vou até ao jardim, porque não estou para aturar as vossas crises.

* * *

“Um Animago é um bruxo que consegue transformar-se num determinado animal. Esta habilidade não é inata, devendo ser trabalhada com magia. Todos os Animagos devem ser registados…” Era assim que o capítulo começava, mas Hermione não conseguiu prestar atenção a uma linha sequer. Não se conseguia concentrar. Não quando a lembrança daqueles beijos lhe toldavam a memória.

- Ouvi-te “discutir” – disse ele fazendo aspas com os dedos – com eles. Está tudo bem?

- Draco! Sim. Está tudo bem. Só estavam preocupados comigo. – Ele passou a mão direita nos seus fios de cabelo loiro, em sinal de nervosismo. – E tu? Estás bem? Pareces nervoso. – completou a morena, fechando o livro, já que não estava a conseguira prestar atenção ao que lia.

- Er… Hermione… – disse receoso e sem jeito. – O que se passou connosco ontem à noite não pode ser ignorado. Há muito tempo que me sinto diferente quando estou contigo e depois de ontem, não tenho mais dúvidas.

- Mione? – chamou Ginny, aproximando-se do par. – Preciso de ti. Será que me podias ajudar ainda antes de ires para a aula?

- Sim. – disse Hermione, levantando-se. – Draco, falamos depois, sim? – O loiro anuiu.

- Mi, eu preciso de falar contigo sobre o Harry.

“De que estava ele a falar?”

- Não sabes o que ele fez.

“Sente-se diferente comigo?”

- Ele ontem à noite levou-me até à torre de Astronomia.

“Não tem mais dúvidas?”, Hermione pensava.

- E beijou-me de novo. Mione? HERMIONE! – gritou a ruiva, interrompendo a sua história e assustando a amiga. – Não ouviste nada do que eu disse.

- Desculpa Ginny. O que estavas a dizer mesmo?

- Deixa para lá. Vai para a aula que já estás atrasada. – disse-lhe a amiga, suspirando.

* * *

Depois da aula, quando se dirigia para a Biblioteca para estudar na hora vaga que tinha agora no horário, sentiu uma mão puxá-la para dentro de uma sala de aula vazia. Draco rapidamente lhe tapou a boca com a mão, impedindo-a de gritar.

- Que susto. Queres matar-me do coração? – ralhou-lhe a menina, ofegante.

- Desculpa. Mas eu tenho que falar contigo com urgência. Eu não aguento mais. – disse-lhe o loiro, enquanto fechava a porta e executava um feitiço silenciador.

- O que se passa? - O loiro andava, nervosamente, dentro da sala, de um lado para o outro. – Draco, pára. Ainda fazes um buraco no chão de tanto andar. – repreendeu-o Hermione, indo até ele e segurando-o pelos ombros.

O rapaz não se controlou. Levou as mãos à cara de Hermione e puxou-a para um beijo. Um beijo não totalmente delicado recheado de desejo. A morena não resistiu, tomando ela a iniciativa de aprofundar ainda mais o beijo. As suas mãos passeavam na nuca do loiro, despenteando-o. Quando se lembraram que tinha de respirar, separam as bocas, encostando uma testa na outra.

- Mione… Eu não sei… o que fizeste… comigo... Eu não era… assim.

Hermione deixou a sua mão escorregar da nuca em direcção ao rosto de Draco, acariciando-o.

- Eu é que não sei o que me fizeste. – Draco sorriu, ao ouvir estas palavras vindas da menina.

- Nunca me senti assim. Não sei explicar. Tu mexes comigo. Eu fico diferente quando estou contigo. Cada vez que estudávamos na Biblioteca, o meu coração batia com mais força, com mais frequência, descompassado até, só por estar perto de ti. Só por sentir o odor do teu perfume, do teu champoo. Só por me agarrares a mão para me ajudares com algum feitiço mais delicado. Muitas vezes me passou deixar os livros de lado e beijar-te, como nos meus sonhos. – Hermione estava supresa. Draco Malfoy sonhava com ela? – Sim. Eu sonhava, e sonho, contigo diariamente. – respondeu ele como se lhe tivesse lido a mente. – Não sei se isto é Amor. Mas o que quer que seja, eu quero sentir para o resto da minha vida.

- Draco…

- Diz que me amas, que queres ficar comigo para sempre e que te queres casar comigo e fugir para um lugar bem longe onde vamos ser felizes.

Hermione ponderou tudo aquilo que o loiro lhe tinha dito com a pouca sanidade que lhe restava no momento. Afinal de contas, ele era Draco Malfoy. Mas também era verdade que ele estava mudado. Muito mudado mesmo.

“Ah! Que se lixe. Eu estou apaixonada mesmo.”, pensou num momento de loucura, e puxou o loiro para um beijo. E outro e mais um.

- Entendo isso… como um sim… certo? – perguntou ele retomando o fôlego.

- Sim, tonto! Mas depois temos que rever a parte de fugirmos para um lugar longe. Agora tenho de ir. Não posso faltar à aula. – terminou ela, dando um beijo rápido na boca do outro e saindo da sala.

Draco sentia-se uma criança numa manhã de Natal. Não cabia em si de tanta felicidade. O que não passou despercebido a ninguém. Ele queria mesmo que o seu relacionamento com a Hermione funcionasse, por isso tomou uma decisão.

* * *

- Ainda não nos disseste onde passaste a noite.

- Nem aquela hora vaga depois da aula de Transfiguração.

Hermione não queria acreditar que os seus amigos estavam a massacrá-la ainda com aquele assunto. Será que não poderia almoçar em paz?

- Er…Harry… Ron…Eu queria falar com vocês.

Todo o salão estava de olhos postos nos quatro.

- Malfoy? O que queres?

Draco olhou para Hermione, que lhe devolveu um olhar confuso.

- Hermione na falta dos teus pais, que estão em Londres, tenho que pedir aos teus irmãos. Harry, Ron, será que me dão permissão para namorar a Hermione?

Hermione sentiu os seus olhos molhados, de tanta felicidade. O mesmo aconteceu com Draco, mas não de felicidade, pois Ron tinha acabado de lhe desferir um soco no nariz.

- RON! – gritou Hermione, enquanto se levantava e aproximava do loiro, caído agora no chão. – Episkey. – formulou ela, apontando a varinha para o nariz de Draco.

- Não nos cabe a nós dar ou não permissão a Hermione para namorar contigo. Ela já é grandinha para decidir o que é melhor para ela. – falou Harry – Mas uma coisa te garantimos: Se a fizeres sofrer, há mais de onde veio este. – referindo-se ao soco de Ron.

- Estejam descansados. Eu não a farei sofrer. – disse sorrindo para a menina. Levantou-se, pôs um joelho no chão e pegou na mão de Hermione. – E então? Queres ser minha namorada?

Ginny chorava em silêncio, assim como quase todas as meninas que se encontravam no salão.

- Claro que quero. – declarou ela com determinação.

– Amo-te tanto! – disse o loiro. Puxou-a para um beijo, que foi aplaudido pelo Salão.

* * *

Mais tarde, na Sala Comunal dos Gryffindor, Hermione perguntou aos amigos:

- Sinceramente, pensei que a vossa reacção fosse pior quando soubessem que eu estava envolvida com o Draco.

- Nós também pensámos que íamos reagir de maneira diferente. Assim mais virados para a violência. – disse Ron, estalando os dedos das mãos.

- Mas já sabíamos que havia aí qualquer coisa. A Ginny veio falar connosco, de manhã, antes da nossa aula de Transfiguração.

- Foste?

- Sim. Depois de não teres prestado atenção nenhuma ao que eu te estava a contar, hoje de manhã, foi só ligar as peças do puzzle. – Hermione arqueou a sobrancelha, num gesto muito à Draco Malfoy. – Sim. As sextas-feiras passadas na Biblioteca com o Malf… Draco, sim eu sabia disso; a noite passada que não foste para o dormitório e o sorriso que lhe deste hoje de manhã, quando entraste no salão; o não me teres dado atenção quando eu interrompi a vossa conversa… Foram apenas alguns indicadores claros de que se passava algo aí. – Hermione sorriu.

- Vocês sabem que eu vos adoro, não sabem? – disse dando um abraço a cada um deles. – Bem vou fazer a ronda. Ron? – chamou Hermione, metendo a cabeça pelo quadro da Dama Gorda.

- Sim?

- Posso-te pedir um favor? Do tamanho do mundo? – pediu ela com ar de cachorro abandonado. O ruivo torceu o nariz. – Sabes que o pai do Draco foi morto. Claro que sabes, foste tu que o mataste. E que ele não tem mãe. Será que seria pedir demais que ele passasse o Natal connosco n’ A Toca?

- Claro, Mione. É melhor acostumarmo-nos com a presença dele nas nossas vidas, não é?

- Obrigada! Obrigada! Obrigada! – Hermione abraçou Ron e deu-lhe um beijo estalado na bochecha.

Quando Hermione saiu, Ron levou a mão à bochecha onde Mione lhe tinha dado o beijo.

- Tu gostas dela, não gostas? – perguntou Harry. – Por isso é que deste o soco no Malfoy, certo?

Ron baixou o olhar em direcção às chamas que crepitavam na lareira, murmurando um sim, num fio de voz.

* * *

Na ronda, Hermione sentiu um perfume familiar no corredor e sorriu. Ao virar a esquina, do corredor no quinto andar, deu de caras com um loiro muito sorridente.

- Pensei que ias demorar mais tempo. Estás atrasada.

- Atrasada? Mas nós não combinamos nada. Aliás, o que estás aqui? Acho que vais precisar de uma bela detenção. – disse Hermione, num falso tom sério.

- É mesmo? E o que seria essa detenção? – disse Draco, enquanto se aproximava perigosamente de Mione. As suas mãos pousaram na cintura fina da mulher, puxando-a de encontro ao seu corpo.

- Humm, não sei. Deixa ver. Que tal dares-me um beijo?

- Mas eu já estava a pensar dar-te um. Se bem que só um, seria ainda pior que uma detenção. – disse ele olhando de lado, como quem pensa.

Hermione passou a sua mão por trás do pescoço do loiro, acabando com o espaço vazio entre as suas bocas. Entregaram-se ao beijo como se fosse o primeiro que haviam dado e último que dessem.

- Draco… Onde vais passar o Natal?

- Em minha casa. – O sorriso do loiro desapareceu do seu rosto. – Suponho que vás passá-lo na casa dos Weasleys, não é?

Hermione anui e continuou:

- Porque vais passá-lo em casa? Não tens lá ninguém.

- Tenho se vieres comigo.

- Eu tenho uma proposta para te fazer. Podes tirar esse sorrisinho da cara, porque não é nada disso que estás a pensar.

- Como sabes em que estou a pensar?

- Não sei mas imagino. Vem passar o Natal n’ A Toca, comigo.

- Eu? Na casa dos Weasleys?

- Porque não?

- Amor, sabes que para eles eu vou ser sempre um maldito Devorador de Morte.

- Não digas isso. – Hermione beijou-o. – Não me importa o que eles pensam de ti e sim o que eu penso. E para eles isso basta.

- Amo-te. – beijando-a de volta.

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