D/Hr



 


Draco Malfoy estava sentado à sua poltrona favorita diante da lareira, olhando através dos vitrais das janelas de sua biblioteca. Contemplava a tarde fria e chuvosa, fazendo de seus pensamentos escravos do frio e da umidade do ar que respirava. Desviou o olhar para uma foto sobre um de seus móveis: uma mulher de cabelos longos e castanhos e um rapaz alto e forte, Hermione Granger e Olivio Wood, seus melhores amigos, sorriam pra ele. Ocorrera-lhe uma lembrança, e uma expressão suave perspassou por seu rosto, porém tal expressão logo fora substituída por preocupação. 

Hermione não fazia contato há três dias. Uma ligeira insegurança lhe ocorreu, afinal o estado emocional dela não estava lá dos melhores ultimamente, desde que seu namorado Paul, um trouxa francês que conhecera numa viagem, havia partido sem explicações. Sabendo do temperamento passional da amiga, uma pequena insegurança bateu em seu coração; não saberia se poderia suportar se algo acontecesse com Hermione. Não mesmo. Decidido a procurar pela amiga, Draco se levantou e vestiu sua capa de viagem, mas sua atenção se desviou para uma coruja parda que estava pousada em sua janela. Como não a reparara antes? Observou-a intrigado por um momento, pois nunca vira tal coruja. Caminhou até a janela, puxou o trinco e desamarrou uma pequena carta da perna da coruja, que levantou vôo assim que se viu livre da carta. Draco fechou a janela e examinou a carta por um instante; sorriu aliviado ao reconhecer a caligrafia de Hermione (sempre cortava os t's inclinados!), porém ficou em dúvida: como Hermione usou correio-coruja? Pensou que estivesse visitando os pais em Notting Hill, e que práticas mágicas fossem proibidas por lá. Relevando a questão, desdobrou a carta e começou a ler: 

" Caro Draco,, como você está? Aposto que ótimo, como sempre! Tenho algumas notícias que o farão ficar ainda melhor! Paul está de volta. Oh, meu Deus, mal consigo dizer como me sinto. Acho que só fiquei feliz assim quando soube que ia ser mãe. Cheguei em casa do trabalho e lá estava ele, de costas; quando ele se virou pude ver seus olhos azuis cheios de lágrimas. Então ele segurou a minha mão e disse: "Por favor, Hermione,, me perdoe. Eu te AMO, eu quero você comigo pela eternidade. Casa comigo?" 

Draco, foi como se toda a raiva que eu sentia estivesse esvaindo pouco a pouco do meu corpo. Perdoei Paul e aceitei me casar com ele. Acho que nos casaremos dentro de um mês e quero que você seja nosso padrinho! É meu melhor amigo, a pessoa que mais me apoiou todo esse tempo. No mais, estamos bem. Joanna ficou feliz com a volta do "Tio Paul", e disse que de agora em diante quer ser chamada de Jo, que é como Paul costuma chamá-la. Sabe, por vezes a acho tão parecida com o Rony... pena que não teve a oportunidade de conhecê-lo. Enfim, tenho que me despedir agora. Venha nos visitar quando puder, voltei pra Londres e estou com saudades de você. 

Eu te amo muito, Mione." 

Draco releu a carta mais duas vezes; sabia que devia estar feliz pela volta de Paul e pela felicidade de Hermione, mas qualquer que fosse o sentimento que o dominava no momento, não era felicidade. Mione desde o fim da Guerra fora uma amiga, uma irmã, e ele sabia disso, mas por que se sentia tão estranho?

(...) 

Hermione estivera sentada na laje de seu apartamento durante horas. Ali estivera desde cedo, fitando as cadeias de montanhas que se recortavam no céu, desenhando a paisagem, seus olhos marejados em lágrimas. A dor que sentia o dominava por completo; não conseguia entender o que levaria Paul a deixá-la mais uma vez, e num espaço de tempo absurdamente curto... ora, se estavam tão felizes! Justificativas brotavam loucamente em seus pensamentos, cada qual mais absurda que a anterior, e a maioria envolvendo o fato de ser bruxa. Não podia continuar assim. Completaria uma semana desde a partida de Paul, e estava na hora de retomar a vida; seria difícil, mas já havia sofrido coisas piores. Observou por um momento a corrente em suas mãos, que pertencera a Paul; o cordão era a única lembrança que restava do ex. Manuseou-o com cuidado, reparando cada detalhe das letras gravadas no pingente... 

Craque. O barulho fora tão alto que, com o susto, Hermione arrebentou a corrente em suas mãos. Teria chingado alto se não tivesse reconhecido imediatamente a figura ao seu lado: Draco Malfoy sorria embaraçado para ela. 

- Surpresa, eu acho - disse, sem graça. Draco conseguia ser muito bonito: seus olhos cinzentos faziam par com seus cabelos quase brancos que refulgiam ao sol, e tinha o sorriso mais bonito que Hermione já vira.

- Ora, ora, o que temos aqui! - exclamou Hermione, abraçando Draco calorosamente - Como você me encontrou?

- Joanna me disse que não te via desde o café da manhã, então eu presumi que estivesse aqui no seu esconderijo se lamentando. - ironizou Draco - Então pensei, por que não vir aqui e tirar sua paz por uns instantes? 

Os amigos se olharam nos olhos; por um breve momento, Hermione sentiu um calorzinho travesso percorrer por todo seu corpo, e Draco parecia ter sérios problemas para formar frases completas e continuar o diálogo. 

- Já disse, não me incomodo que venha me ver. O problema é essa sua insistência em desaparatar perto de mim. - disse a mulher, desviando o olhar e sentando-se novamente à laje. - Acaso está querendo dar uma de Fred e Jorge? 

- Claro que não. Acontece que eu adoro sua cara de espanto. - divertiu-se Draco, sentando-se ao lado dela. Observaram a paisagem por algum tempo, então Draco quebrou o silêncio, perguntando de repente muito sério: 

- Como você está se sentindo? 

- Não vou responder isso. - deviou ela - Como está você? 

- Bem, eu estou estranho. Olívio vai voltar pra casa na Espanha. - disse displicentemente, e ao ver a expressão no rosto de Hermione, emendou: - Oh, não se preocupe, não estou sofrendo tanto agora, acho que estou me acostumando. No fundo eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, a saúde dele é delicada, você melhor que ninguém sabe o quanto. Acho que meu problema é outro agora. 

- E qual seria? - Hermione perguntou, porém sem curiosidade; não se sentia muito altruísta nos últimos dias, mesmo quando se tratava de Draco. 

- Acho que estou apaixonado. - disse Draco, corando. 

- O QUÊ? - surpreendeu-se Hermione – Draco Malfoy está apaixonado? O homem de gelo finalmente se rendeu sentimento mais quente de todos?

- Hermione, você não muda nunca! – divertiu-se ele - ela é uma amiga, entenda. Nos conhecemos há muitos anos, mas eu não consigo evitar o que sinto. O problema maior é que somos como irmãos... - relatou Draco sem muito ânimo - Meu medo é arriscar errado e perder não só o coração dela, mas também a nossa amizade. 

- Sei como é... a amizade fica afetada quando tem esses lances no meio, né. - disse Hermione. 

- Em todo caso, acho que o melhor a fazer é esquecê-la - concluiu ele. 

- Está enganado - ponderou ela, manuseando os pedaços da corrente - se você não disser a ela, ela não poderá saber nunca. Eu, por exemplo, não sabia que era correspondida até o P... - mas não conseguiu completar a frase. Pigarreou de leve e prosseguiu - Em todo caso, você tem que contar a ela. 

- Você acha? - indagou Draco, nervoso. 

- Claro. - respondeu Hermione, encarando-o. Aquele calor estranho voltou a percorrer todo seu corpo ao encontrar os olhos do amigo; desviou rapidamente o olhar e fitou o horizonte. O sol estava se pondo, colorindo o céu a volta. Draco e Hermione observaram uma pequena pomba voar em direção ao sol e se perder na imensidão, cada qual absorto em seus próprimos pensamentos. 

- Draco? Um breve sorriso percorreu os lábios de Draco ao ouvir Hermione pronunciar seu nome. 

- Hum? - murmurou em resposta, ocultando imediatamente o sorriso. 

- Pode dar um jeitinho nessa corrente? Quebrou com o susto e não sei onde deixei minha varinha. - pediu ela. 

- Ah, claro, posso. - disse Draco desconcertado. Tirou do casaco uma varinha fina, apontou-a para a corrente e murmurou: - Reparo! 

- Obrigada. - agradeceu Hermione, ao ver a corrente se recompor. - Mione, eu tenho que ir agora. - Draco se levantou e espreguiçou-se - Ainda tenho algumas coisas pra fazer em casa, e estou realmente cansado. 

- Hum, ok. Então a gente se vê. - sorriu ela. Por um segundo, Draco parecia hipnotizado. 

- Certo. - Draco ajudou Hermione a se levantar e deu-lhe um abraço apertado. Estavam tão próximos que ela quase pôde sentir o perfume doce do pescoço dele. Draco deu dois passos para trás, mas desistiu do que quer que desejasse fazer e chamou: 

- Anh... Hermione? 

- O quê? 

- É de você que eu gosto. - disse, e desaparatou em seguida, deixando a mulher de queixo caído, e confusa como nunca estivera antes. 

(...) 

A noite era a mais quieta que Hermione já vira. Não ouvia-se sequer um sopro do vento, nem um pio de coruja. Era a ocasião ideal para refletir sobre seus sentimentos, que ultimamente estavam pelas quantas de confusos. Há semanas pensava em seu melhor amigo o tempo todo. Encontrara muita dificuldade em continuar as atividades de seu cotidiano, estava desatenta e não dormia direito. Por mais que lutasse para não adimitir (mais para si mesma do que pra qualquer outro) estava apaixonado por Draco. Hermione já estava pensando e pensando havia horas, e quanto mais tentava encontrar um caminho, mais perdida ficava. Levantou de sua poltrona e percorreu o corredor que o levava até a cozinha de seu pequeno apartamento. Atravessou a cozinha arrastando os chinelos até a geladeira e apanhou uma caixa de leite. Quando se virou para apanhar o cereal, notou que havia alguém atrás da porta. 

Alguém capaz de fazer tudo a sua volta perder o brilho, alguém capaz de inverter sua pulsação, alguém cujo sorriso carregava inocência, porém afetado pela dor. Draco parecia muito mais alto naquela noite. Carregava uma grande mochila nas costas e vestia um suéter verde-oliva; um suéter que ressaltava a beleza de seus olhos, Hermione anotou mentalmente. Olhou-o por um instante, e naquele momento, lhe parecia que sua mente tinha congelado. Draco não sorriu, apenas acenou com a cabeça e cumprimentou num tom horrivelmente frio e cordial: 

- Olá, Hermione. 

- Draco! - as palavras se embolavam em seus lábios. Fora, de fato, pega despreparada, mas decidira que este era o momento ideal para driblar a insegurança e contar ao amigo seus verdadeiros sentimentos - Como que 'cê tá? 

- Você sabe como eu estou. - respondeu ele friamente - Eu perguntaria o mesmo, se você não insistisse tanto em não conversar sobre os seus sentimentos. 

Hermione corou. Havia anos que não ouvia Draco Malfoy usar aquele tom com ela. Sentia-se acanhada pela falta de confiança em Draco ultimamente, mas ele não pareceu notar.

- Er, então, o que te trás à minha casa? - perguntou Hermione, ainda acanhado. 

- Vim me despedir da minha melhor amiga. - respondeu, parecendo agora ainda mais frio. - estou indo embora e não pretendo voltar. 

Hermione sentiu como se tivessem acabado de lhe arrancar o coração do peito. Como assim, indo emobra? Por quê? Pra onde? 

- C-como? - gaguejou ela. 

- Vou embora, saca? E-M-B-O-R-A. - disse Draco. 

- Não. Não é p-possível - balbuciou Hermione, olhando-o nos olhos - Por que isso, Draco? 

- Não aguento mais. - Draco de repente abandonara seu tom frio, que nada mais era do que um artifício para ocultar o verdadeiro sentimento que o dominava: tristeza. - Eu estou perdendo tudo, Mione, a começar pelo Olivio. E você... - uma lágrima desceu pelo rosto dele - Hermione, você nunca vai me ver como eu te vejo. 

Era a hora, AGORA. Não podia esperar nem mais um segundo. Hermione andou em direção a Draco, postou-se diante dele, olhou-o bem dentro dos olhos - aqueles olhos - segurou-o pelos braços e murmurou lentamente: 

- Draco, eu te amo. Eu te amo de verdade, eu preciso de você. - as palavras fluíam, e ela não parecia querer controlá-las – Eu amo você desde que me chamou de sangue-ruim pela primeira vez, só não tinha me dado conta disso antes. Por favor, não me deixe. Eu não saberia viver sem você. 

A incredulidade agora se fazia óbvia nos olhos de Draco Malfoy. Sustentava o olhar de Hermione, esperava alguma contradição; ao encontrar apenas ternura, sussurrou: 

- Isso é sério? - lágrimas brotavam em suas pestanas. 

- E você acha que Hermione Granger mentiria sobre isso? – disse e sorriu. Então, ali mesmo, naquela pequena cozinha, sem mais, nem menos, nem medo, nem explicação, beijou Draco como nunca beijara ninguém antes.


Draco Malfoy estava sentado à sua poltrona favorita diante da lareira, olhando através dos vitrais das janelas de sua biblioteca. Contemplava a tarde fria e chuvosa, fazendo de seus pensamentos escravos do frio e da umidade do ar que respirava. Desviou o olhar para uma foto sobre um de seus móveis: uma mulher de cabelos longos e castanhos e um rapaz alto e forte, Hermione Granger e Olivio Wood, seus melhores amigos, sorriam pra ele. Ocorrera-lhe uma lembrança, e uma expressão suave perspassou por seu rosto, porém tal expressão logo fora substituída por preocupação. 


Hermione não fazia contato há três dias. Uma ligeira insegurança lhe ocorreu, afinal o estado emocional dela não estava lá dos melhores ultimamente, desde que seu namorado Paul, um trouxa francês que conhecera numa viagem, havia partido sem explicações. Sabendo do temperamento passional da amiga, uma pequena insegurança bateu em seu coração; não saberia se poderia suportar se algo acontecesse com Hermione. Não mesmo. Decidido a procurar pela amiga, Draco se levantou e vestiu sua capa de viagem, mas sua atenção se desviou para uma coruja parda que estava pousada em sua janela. Como não a reparara antes? Observou-a intrigado por um momento, pois nunca vira tal coruja. Caminhou até a janela, puxou o trinco e desamarrou uma pequena carta da perna da coruja, que levantou vôo assim que se viu livre da carta. Draco fechou a janela e examinou a carta por um instante; sorriu aliviado ao reconhecer a caligrafia de Hermione (sempre cortava os t's inclinados!), porém ficou em dúvida: como Hermione usou correio-coruja? Pensou que estivesse visitando os pais em Notting Hill, e que práticas mágicas fossem proibidas por lá. Relevando a questão, desdobrou a carta e começou a ler: 


 


" Caro Draco,, como você está? Aposto que ótimo, como sempre! Tenho algumas notícias que o farão ficar ainda melhor! Paul está de volta. Oh, meu Deus, mal consigo dizer como me sinto. Acho que só fiquei feliz assim quando soube que ia ser mãe. Cheguei em casa do trabalho e lá estava ele, de costas; quando ele se virou pude ver seus olhos azuis cheios de lágrimas. Então ele segurou a minha mão e disse: "Por favor, Hermione,, me perdoe. Eu te AMO, eu quero você comigo pela eternidade. Casa comigo?" 


Draco, foi como se toda a raiva que eu sentia estivesse esvaindo pouco a pouco do meu corpo. Perdoei Paul e aceitei me casar com ele. Acho que nos casaremos dentro de um mês e quero que você seja nosso padrinho! É meu melhor amigo, a pessoa que mais me apoiou todo esse tempo. No mais, estamos bem. Joanna ficou feliz com a volta do "Tio Paul", e disse que de agora em diante quer ser chamada de Jo, que é como Paul costuma chamá-la. Sabe, por vezes a acho tão parecida com o Rony... pena que não teve a oportunidade de conhecê-lo. Enfim, tenho que me despedir agora. Venha nos visitar quando puder, voltei pra Londres e estou com saudades de você. 


Eu te amo muito, Mione." 


 


Draco releu a carta mais duas vezes; sabia que devia estar feliz pela volta de Paul e pela felicidade de Hermione, mas qualquer que fosse o sentimento que o dominava no momento, não era felicidade. Mione desde o fim da Guerra fora uma amiga, uma irmã, e ele sabia disso, mas por que se sentia tão estranho?


 


(...) 


 


Hermione estivera sentada na laje de seu apartamento durante horas. Ali estivera desde cedo, fitando as cadeias de montanhas que se recortavam no céu, desenhando a paisagem, seus olhos marejados em lágrimas. A dor que sentia o dominava por completo; não conseguia entender o que levaria Paul a deixá-la mais uma vez, e num espaço de tempo absurdamente curto... ora, se estavam tão felizes! Justificativas brotavam loucamente em seus pensamentos, cada qual mais absurda que a anterior, e a maioria envolvendo o fato de ser bruxa. Não podia continuar assim. Completaria uma semana desde a partida de Paul, e estava na hora de retomar a vida; seria difícil, mas já havia sofrido coisas piores. Observou por um momento a corrente em suas mãos, que pertencera a Paul; o cordão era a única lembrança que restava do ex. Manuseou-o com cuidado, reparando cada detalhe das letras gravadas no pingente... 


Craque. O barulho fora tão alto que, com o susto, Hermione arrebentou a corrente em suas mãos. Teria chingado alto se não tivesse reconhecido imediatamente a figura ao seu lado: Draco Malfoy sorria embaraçado para ela. 


- Surpresa, eu acho - disse, sem graça. Draco conseguia ser muito bonito: seus olhos cinzentos faziam par com seus cabelos quase brancos que refulgiam ao sol, e tinha o sorriso mais bonito que Hermione já vira.


- Ora, ora, o que temos aqui! - exclamou Hermione, abraçando Draco calorosamente - Como você me encontrou?


- Joanna me disse que não te via desde o café da manhã, então eu presumi que estivesse aqui no seu esconderijo se lamentando. - ironizou Draco - Então pensei, por que não vir aqui e tirar sua paz por uns instantes? 


Os amigos se olharam nos olhos; por um breve momento, Hermione sentiu um calorzinho travesso percorrer por todo seu corpo, e Draco parecia ter sérios problemas para formar frases completas e continuar o diálogo. 


- Já disse, não me incomodo que venha me ver. O problema é essa sua insistência em desaparatar perto de mim. - disse a mulher, desviando o olhar e sentando-se novamente à laje. - Acaso está querendo dar uma de Fred e Jorge? 


- Claro que não. Acontece que eu adoro sua cara de espanto. - divertiu-se Draco, sentando-se ao lado dela. Observaram a paisagem por algum tempo, então Draco quebrou o silêncio, perguntando de repente muito sério: 


- Como você está se sentindo? 


- Não vou responder isso. - deviou ela - Como está você? 


- Bem, eu estou estranho. Olívio vai voltar pra casa na Espanha. - disse displicentemente, e ao ver a expressão no rosto de Hermione, emendou: - Oh, não se preocupe, não estou sofrendo tanto agora, acho que estou me acostumando. No fundo eu sabia que mais cedo ou mais tarde isso aconteceria, a saúde dele é delicada, você melhor que ninguém sabe o quanto. Acho que meu problema é outro agora. 


- E qual seria? - Hermione perguntou, porém sem curiosidade; não se sentia muito altruísta nos últimos dias, mesmo quando se tratava de Draco. 


- Acho que estou apaixonado. - disse Draco, corando. 


- O QUÊ? - surpreendeu-se Hermione – Draco Malfoy está apaixonado? O homem de gelo finalmente se rendeu sentimento mais quente de todos?


- Hermione, você não muda nunca! – divertiu-se ele - ela é uma amiga, entenda. Nos conhecemos há muitos anos, mas eu não consigo evitar o que sinto. O problema maior é que somos como irmãos... - relatou Draco sem muito ânimo - Meu medo é arriscar errado e perder não só o coração dela, mas também a nossa amizade. 


- Sei como é... a amizade fica afetada quando tem esses lances no meio, né. - disse Hermione. 


- Em todo caso, acho que o melhor a fazer é esquecê-la - concluiu ele. 


- Está enganado - ponderou ela, manuseando os pedaços da corrente - se você não disser a ela, ela não poderá saber nunca. Eu, por exemplo, não sabia que era correspondida até o P... - mas não conseguiu completar a frase. Pigarreou de leve e prosseguiu - Em todo caso, você tem que contar a ela. 


- Você acha? - indagou Draco, nervoso. 


- Claro. - respondeu Hermione, encarando-o. Aquele calor estranho voltou a percorrer todo seu corpo ao encontrar os olhos do amigo; desviou rapidamente o olhar e fitou o horizonte. O sol estava se pondo, colorindo o céu a volta. Draco e Hermione observaram uma pequena pomba voar em direção ao sol e se perder na imensidão, cada qual absorto em seus próprimos pensamentos. 


- Draco? Um breve sorriso percorreu os lábios de Draco ao ouvir Hermione pronunciar seu nome. 


- Hum? - murmurou em resposta, ocultando imediatamente o sorriso. 


- Pode dar um jeitinho nessa corrente? Quebrou com o susto e não sei onde deixei minha varinha. - pediu ela. 


- Ah, claro, posso. - disse Draco desconcertado. Tirou do casaco uma varinha fina, apontou-a para a corrente e murmurou: - Reparo! 


- Obrigada. - agradeceu Hermione, ao ver a corrente se recompor. - Mione, eu tenho que ir agora. - Draco se levantou e espreguiçou-se - Ainda tenho algumas coisas pra fazer em casa, e estou realmente cansado. 


- Hum, ok. Então a gente se vê. - sorriu ela. Por um segundo, Draco parecia hipnotizado. 


- Certo. - Draco ajudou Hermione a se levantar e deu-lhe um abraço apertado. Estavam tão próximos que ela quase pôde sentir o perfume doce do pescoço dele. Draco deu dois passos para trás, mas desistiu do que quer que desejasse fazer e chamou: 


- Anh... Hermione? 


- O quê? 


- É de você que eu gosto. - disse, e desaparatou em seguida, deixando a mulher de queixo caído, e confusa como nunca estivera antes. 


 


(...) 


 


A noite era a mais quieta que Hermione já vira. Não ouvia-se sequer um sopro do vento, nem um pio de coruja. Era a ocasião ideal para refletir sobre seus sentimentos, que ultimamente estavam pelas quantas de confusos. Há semanas pensava em seu melhor amigo o tempo todo. Encontrara muita dificuldade em continuar as atividades de seu cotidiano, estava desatenta e não dormia direito. Por mais que lutasse para não adimitir (mais para si mesma do que pra qualquer outro) estava apaixonado por Draco. Hermione já estava pensando e pensando havia horas, e quanto mais tentava encontrar um caminho, mais perdida ficava. Levantou de sua poltrona e percorreu o corredor que o levava até a cozinha de seu pequeno apartamento. Atravessou a cozinha arrastando os chinelos até a geladeira e apanhou uma caixa de leite. Quando se virou para apanhar o cereal, notou que havia alguém atrás da porta. 


Alguém capaz de fazer tudo a sua volta perder o brilho, alguém capaz de inverter sua pulsação, alguém cujo sorriso carregava inocência, porém afetado pela dor. Draco parecia muito mais alto naquela noite. Carregava uma grande mochila nas costas e vestia um suéter verde-oliva; um suéter que ressaltava a beleza de seus olhos, Hermione anotou mentalmente. Olhou-o por um instante, e naquele momento, lhe parecia que sua mente tinha congelado. Draco não sorriu, apenas acenou com a cabeça e cumprimentou num tom horrivelmente frio e cordial: 


- Olá, Hermione. 


- Draco! - as palavras se embolavam em seus lábios. Fora, de fato, pega despreparada, mas decidira que este era o momento ideal para driblar a insegurança e contar ao amigo seus verdadeiros sentimentos - Como que 'cê tá? 


- Você sabe como eu estou. - respondeu ele friamente - Eu perguntaria o mesmo, se você não insistisse tanto em não conversar sobre os seus sentimentos. 


Hermione corou. Havia anos que não ouvia Draco Malfoy usar aquele tom com ela. Sentia-se acanhada pela falta de confiança em Draco ultimamente, mas ele não pareceu notar.


- Er, então, o que te trás à minha casa? - perguntou Hermione, ainda acanhado. 


- Vim me despedir da minha melhor amiga. - respondeu, parecendo agora ainda mais frio. - estou indo embora e não pretendo voltar. 


Hermione sentiu como se tivessem acabado de lhe arrancar o coração do peito. Como assim, indo emobra? Por quê? Pra onde? 


- C-como? - gaguejou ela. 


- Vou embora, saca? E-M-B-O-R-A. - disse Draco. 


- Não. Não é p-possível - balbuciou Hermione, olhando-o nos olhos - Por que isso, Draco? 


- Não aguento mais. - Draco de repente abandonara seu tom frio, que nada mais era do que um artifício para ocultar o verdadeiro sentimento que o dominava: tristeza. - Eu estou perdendo tudo, Mione, a começar pelo Olivio. E você... - uma lágrima desceu pelo rosto dele - Hermione, você nunca vai me ver como eu te vejo. 


Era a hora, AGORA. Não podia esperar nem mais um segundo. Hermione andou em direção a Draco, postou-se diante dele, olhou-o bem dentro dos olhos - aqueles olhos - segurou-o pelos braços e murmurou lentamente: 


- Draco, eu te amo. Eu te amo de verdade, eu preciso de você. - as palavras fluíam, e ela não parecia querer controlá-las – Eu amo você desde que me chamou de sangue-ruim pela primeira vez, só não tinha me dado conta disso antes. Por favor, não me deixe. Eu não saberia viver sem você. 


A incredulidade agora se fazia óbvia nos olhos de Draco Malfoy. Sustentava o olhar de Hermione, esperava alguma contradição; ao encontrar apenas ternura, sussurrou: 


- Isso é sério? - lágrimas brotavam em suas pestanas. 


- E você acha que Hermione Granger mentiria sobre isso? – disse e sorriu. Então, ali mesmo, naquela pequena cozinha, sem mais, nem menos, nem medo, nem explicação, beijou Draco como nunca beijara ninguém antes.



 

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