Saber escutar



Capítulo 11 - Saber escutar




Theresa não podia negar uma certa trepidação ao se dirigir às masmorras depois do jantar. Ela não tinha estado lá depois da discussão de algumas semanas atrás, e ainda estava incerta sobre seus sentimentos. A conversa com Snape a tinha deixado inquieta e insegura.


E agora ela iria enfrentá-lo de novo.



- Entre! - disse a voz que ela tanto conhecia em resposta à sua batida.



- Com licença - ela se deteve na sala de estar - Professor Snape?



Ele emergiu do laboratório, sem a capa. Theresa sabia que ele teria passado horas na sala escura, preparando suas preciosas poções. O coração dela se esquentou ao lembrar do passado.



Snape trouxe dois frascos.



- Ah, sim. Eis aqui, Srta. Applegate. Este aqui - apontou um vidro escuro e largo - você deve tomar ao se deitar, e o outro ao se levantar. Esses vidros deverão durar até a senhorita prestar seus exames. Caso contrário, venha apanhar mais.



- Obrigada - ela olhou para ele - Por que está fazendo isso?



Ele respondeu, parecendo irritado:



- Porque o Prof. Dumbledore me pediu, porque você não tem uma mente completamente idiótica quando se dedica a alguma tarefa e deverá passar nos exames, se conseguir tirar essa obsessão asnática da cabeça!



- Eu o irrito, professor?



Ele rosnou:



- O desperdício me irrita, Srta. Applegate. Espero não estar desperdiçando meu tempo com a senhorita.



- Eu lhe fiz uma promessa, professor, assim como o senhor me fez uma. Eu vou honrar a minha promessa.



Ela se deteve nesse ponto, com suas palavras ecoando na sala e um desafio implícito. Snape a encarou com olhos enigmáticos, e Theresa sentiu um frio na barriga.



- Está por acaso implicando que eu não faria o mesmo? - ele não deixou que ela respondesse - Tem consciência de que isso só alimenta sua obsessão?



Ela não agüentou a ferida:



- Talvez ajudasse se conversássemos sobre o assunto. O senhor se recusa a discutir o aconteceu!



Por um momento, Theresa pensou que Snape fosse sacar da varinha e lançar uma maldição bem mirada bem no meio de seu rosto. Mas ele simplesmente movimentou-se para perto da lareira e disse, calmamente:



- O que passou, passou, Srta. Applegate. Como sonserino, eu enxergo a vida como ela se apresenta. Mas acredito que uma corvinal como a senhorita tenha necessidade de um perfeito entendimento de tudo que a cerca, até mesmo aquilo que não pode ser entendido.

Ela começou a se irritar e controlou-se para não explodir diante da teimosia dele. De que adiantava tanta discussão, tanto sofrimento? Ele não iria arredar pé nunca de sua posição. A irritação dela foi dando espaço a uma tristeza carregada de melancolia.



Ela disse apenas, com um sorriso triste:



- Eu só sinto falta de dormir a seu lado, é só.



Snape fechou ainda mais a cara, mas não disse coisa alguma. Theresa suspirou, derrotada.



De repente ele disse:



- Gostaria de combinar uma coisa. Depois de terminar seus exames, venha discutir o de Poções comigo.



- Por quê?



- Pretendo avaliar seu desempenho. É o que um professor faz.



Ela não entendeu, mas não rejeitaria essa oportunidade de ser recebida nas masmorras:



- Está bem.



O Mestre de Poções ergueu uma sobrancelha e disse:



- Muito bem. Pode ir.



Theresa deu boa-noite e saiu das masmorras, sentindo-se irremediavelmente dispensada. Caminhando de volta para a Torre de Corvinal, a jovem pensava na injustiça de tudo. Ela não pedira para se apaixonar, e também não tinha se dado conta de que esse amor só se aprofundara pela convivência dos dois, mesmo na relação mestre-animal. Só depois, quando ela se viu recebendo novamente o típico tratamento Snape é que ela percebeu que ele não era só ironia, crueldade e sarcasmo. Não era justo sair do Paraíso literalmente do dia para noite.



Era uma injustiça tremenda.










Fiel à sua promessa, Theresa passou a aparecer no Salão Principal regularmente para as refeições. As olheiras fundas diminuíram e seu rosto tinha uma aparência mais descansada - sinal de que estava dormindo. Mas a expressão de seu rosto não escondia a profunda tristeza.



Sua amiga Déborah achou que o fato do Prof. Snape ter dado poções e feito promessas era muito animador, e vivia tentando animar Theresa. Mas ela mal prestava atenção. De qualquer modo, era inegável que ela estava com uma disposição um pouco melhor. Do alto da mesa dos professores, ela podia sentir penetrantes olhos negros a escrutiná-la de maneira minuciosa. Snape estava de olho nela, e de algum modo isso a deixava perturbada.



Finalmente, chegou a semana dos malfadados N.I.E.Ms. Eles não eram chamados de Níveis Incrivelmente Exaustivos de Magia à toa. Ao final de cada dia, Theresa se sentia esgotada, e fugia dos demais alunos, muitos dos quais - como Hermione Granger - queriam comparar as notas e comentar as questões. Mais de uma vez ela viu Harry Potter chamando-a para junto de seu grupo de grifinórios, mas ela acenou com um sorriso triste e saiu.



Ela tinha que pensar em sua vida dali para frente. Talvez sua capacidade de animaga pudesse ser útil na escolha de uma profissão. Mas ela descobrira que era difícil ficar pensando nisso: no dia em que daria adeus a Hogwarts, ou melhor, no dia em que seria obrigada a dizer adeus a Severo Snape. Era extremamente dolorido.



Como toda corvinal que se preze, mesmo com a recente negligência nos estudos, Theresa não podia dizer que tinha ido totalmente mal nas provas. Ela poderia ter tirado uma nota melhor em Aritmancia, e certamente em Adivinhação, mas tinha se saído de maneira excepcional em Herbologia, Transfiguração e Poções. Ela também achava que tinha ido razoavelmente bem em Feitiços, Defesa contra as Artes das Trevas e Astronomia.



Ao final dos exames, enquanto muitos alunos comemoravam, ela se preparava para outra prova difícil: falar com o Mestre de Poções, como tinha ficado combinado entre os dois. Provavelmente seria a última vez que o veria. Resolveu não esperar o dia seguinte, quando deveria pegar o trem de volta e deixar Hogwarts definitivamente. Foi para as masmorras.



- Quem está aí?



A voz não era boa.



- Theresa Applegate, professor. O senhor me pediu para...



A porta se abriu de supetão e o rosto dele apareceu, carrancudo, os olhos apertados, o cabelo em desalinho. Não era um rosto que inspirasse confiança.



- ... passar aqui depois dos N.I.E.M.s... - ela engoliu em seco - Devo voltar outra hora?



No seu jeito mais típico, ele fez um gesto que esvoaçou as capas e disse:



- Não seja tola. Entre.



Hesitante, Theresa entrou, reconhecendo o jeito dele como sendo não exatamente irritado, mas nervoso. Ela também sabia que poucas pessoas reconheceriam a diferença, mas ela tinha tido a vantagem de conhecer mais facetas de Snape do que a maioria das pessoas. Talvez até todas.



Ele disse, indicando o sofazinho perto da lareira:



- Sente-se enquanto eu termino uma poção. Voltarei já.



E voltou para o laboratório antes que ela pudesse responder qualquer coisa. Theresa sentou-se perto da lareira, e ele logo voltou - trazendo um bule que parecia fumegante:

- Trouxe chá, feito à moda trouxa.



Ele colocou o bule na mesinha e usou a varinha para fazer aparecer uma bandeja com duas xícaras, enquanto dizia:



- A cocção deve ser precisa para trazer um efeito calmante. Torna-se muito semelhante a uma poção. É altamente recomendável para estados de alteração nervosa em que se precise manter a clareza de idéias.



- Oh - disse ela, observando-o servir o chá - Obrigada por se dar ao trabalho.



Ele se sentou, pegando uma xícara:



- Como foram seus exames?



- Devo confessar que poderiam ter sido muito ruins, mas não foram. Acho que me saí muito bem em Poções.



- Eu não duvido disso.



- Acho até que a parte teórica foi mais difícil do que a prática. Sabe, fazer uma poção é tão natural, e tão gostoso, mas a teoria é mais uma questão de disciplina e... - ela enrubesceu - Certamente o senhor sabe bem do que estou falando.



- Por isso entendo muito bem o que quis dizer.



- Desculpe por fazer papel de tola.



- Amanhã a senhorita vai embora?



- O trem parte de manhã. Felizmente não é muito cedo.



- Tem planos para essa noite?



- Graduados têm permissão para ir a Hogsmeade comemorar até a meia-noite. Muita gente quer fazer festa até tarde - ela baixou a cabeça - Mas eu não vou.



- Posso perguntar por quê?



- Sinceramente, não tenho o que comemorar.



- A senhorita já pensou o que vai fazer de sua vida?



- Vou me oferecer para trabalhar na loja Gemialidades Mágicas Weasley, filial de Hogsmeade. Eu conheço os gêmeos Weasley, e por isso acredito que eles devam precisar de alguém que administre a loja.



Ele franziu o cenho, intrigado:



- Mas se suas notas foram razoáveis, tenho certeza de que pode aplicar a uma colocação melhor no Ministério da Magia ou no Beco Diagonal.



Ela enrubesceu:



- Eu prefiro trabalhar em Hogsmeade.



Snape ergueu uma sobrancelha:



- Mesmo?



- Mesmo - foi o que ela disse, estudando o rosto dele sem conseguir descobrir coisa alguma.



- Se essa é sua intenção, talvez eu possa ajudar.



- Como?



- Wellington Fimel, dono da melhor botica de Hogsmeade, está pensando em abrir uma segunda loja, especializada em Herbologia para Poções. Se estiver interessada, eu poderia recomendá-la para ser gerente.



- Nossa - ela ficou espantada - Isso seria muito generoso de sua parte.



- Infelizmente, o projeto só deverá ficar pronto no início do ano que vem. Até lá, você pode tentar uma posição na atual botica - ele olhou para ela - Tem certeza de que é isso que quer?



- Eu quero mesmo trabalhar em Hogsmeade.



Snape fez silêncio, e Theresa sabia que ele estava louco para saber o motivo. Ela o faria perguntar - não diria a ele.



O que ela queria era ficar perto dele o máximo que pudesse. Já que não podia ser em Hogwarts, então que fosse o mais próximo possível da escola: Hogsmeade.



- Parece estar muito determinada a isso - notou ele - Hogsmeade é um vilarejo com poucas perspectivas de crescimento. Não estou certo de que seja um bom lugar para se começar uma carreira.



- É importante para mim.



- Posso perguntar por quê?



Ela disse:



- Não iria gostar se eu dissesse.


Pausa. Snape a encarou durante alguns minutos, o silêncio pesando entre os dois. Finalmente ele colocou a xícara de chá na mesa e indagou, irônico:



- Será que na verdade não está ansiosa para me falar?



Theresa colocou a xícara na mesa também e estourou:


- Professor, essa é minha última noite em Hogwarts. Eu não sou mais sua aluna, portanto não tenho mais que ficar aqui e ouvir suas ironias!



Ele se ergueu e disse:



- Sim, sim, é verdade. Você agora tocou num ponto importante: você não é mais minha aluna. Muitas das regras que antes se aplicavam agora são letra morta... por assim dizer.



Ela olhou para ele e viu um meio sorriso nos seus lábios. Aquilo a deixou de coração acelerado, e ela quis saber:



- Está querendo dizer alguma coisa, professor?



Ele deu de ombros:



- Estou, mas a senhorita parece relutante em me escutar.



Aquilo estava começando a irritar Theresa, que se levantou do sofá:


- Então talvez o senhor devesse falar mais claramente!



Snape não disse uma palavra. Ele cruzou os poucos passos de distância que os separavam, e por um instante Theresa genuinamente temeu que ele fosse dar um tapa nela. Mas ele parou em frente a ela, e sua voz baixou um tom misterioso e quase sedutor:



- Falar mais claramente? Não, acho que não. Já sabe que esse é o meu jeito. Eu sou assim, e não pretendo mudar. Pensei que isso estivesse claro. Obviamente nada me impede de fazer pequenas concessões, mas apenas e tão somente aqui e ali quando me for conveniente.



Sentindo-se acuada, Theresa arregalou os olhos, assustada. Os joelhos começaram a tremer, e ela sentiu um frio diferente na barriga. Aquele olhar de Snape era algo totalmente novo.



Nem Tessa conhecia aquele lado dele.



- A senhorita sabe por que está aqui, Srta. Applegate?



Ela sentiu a voz falhar - afinal, a respiração dela estava totalmente irregular:



- Acho que... não foi para... discutir meu N. I. E. M. de Poções...



Snape se riu, e Theresa estremeceu quando ele fez isso.



- Dez pontos para Corvinal - ele disse, sempre de olhos fixos nela - Quer que eu lhe diga o verdadeiro motivo de estar aqui?



Theresa assentiu, incerta de que conseguiria fazer mais do que isso. Ele continuou, sempre com a voz sedutora, que a deixava inebriada:



- Esperei muito por esse dia, para tê-la aqui e expor-lhe a verdade dos fatos. Durante todo esse tempo, eu tentei lutar contra o que sentia. Primeiro por uma questão de preconceito. Eu confesso... Durante muito tempo me incomodou que eu tivesse sentimentos por você. Você tem quase a metade de minha idade e era minha aluna, e isso por algum motivo me incomodava. Mas agora que você já não é mais minha aluna, tudo isso mudou. A questão da idade é secundária, se você não está mais sob minha tutela.



Ela não sabia o que responder, então ficou calada. Com um suspiro, ele olhou para a lareira:



- Mas eu realmente não sei se você vai me querer depois de tudo pelo qual eu fiz você passar. Entenda, eu queria me esquecer de você, de verdade. Mas foi mais forte do que eu. Meus sentimentos... no que se referem a você, eles ficam irritantemente independentes e fora do meu controle. Eu gostaria de esperar que não fosse muito tarde para que você correspondesse ao que sinto por você.



Ele se voltou para ela:



- Theresa... Se eu não a conhecesse, eu diria que você me enfeitiçou. E não pense que eu estou reclamando. Essas sensações no meu corpo, os pensamentos na minha mente... Eu nunca senti isso por alguém antes. Claro que senti atrações por outras mulheres no passado. Mas aquilo foi uma gota de água num deserto, e meus sentimentos por você são como uma enxurrada numa floresta tropical. Eu me sinto vivo, desperto, livre... Eu me sinto um homem. Um homem que reconhece você como minha mulher. Que a quer como mulher, inteira e totalmente. Minha, só minha.



Ele se aproximou dela, a aparência de um animal esfomeado, prestes a se atracar sobre sua presa. Theresa percebeu, com um calor no baixo ventre, que essa presa era ela. De repente, toda a imaginação e fantasia de que ele a olhasse de outra maneira tinha se tornado realidade em questão de minutos. Ela não tinha tido tempo de fazer a transição e agora sentia a respiração errática, um rubor nas faces, um tremor nas pernas. Ele a olhava cheio de desejo, com uma voracidade que a fazia sentir-se totalmente exposta. Quase nua.



E Snape de repente estava bem perto dela.



Era um jogo de gato e rato. Obviamente, nesse jogo, ela não era o felino.



- Calada de repente? - perguntou, sarcástico, sua respiração nas faces dela.



Ela enfrentou os olhos negros que pareciam arder em chamas, mesmo que estivesse imprensada contra a parede:



- Eu quero ter certeza de que estou interpretando bem sua atitude, professor.



- Eu não sou mais seu professor - de novo o meio sorriso - Pensei que tivéssemos deixado isso claro. Quer me chamar de... Severo?



- Isso seria apropriado?



- Pensei que ficasse feliz com esse seu novo status de ex-aluna. Afinal, as possibilidades efetivamente poderiam se... multiplicar, não?



- Prof- ela se corrigiu - Severo, você está realmente oferecendo o que parece estar oferecendo?



Snape sorriu - e parecia ainda mais felino:



- Seus poderes de dedução parecem ter voltado... Srta. Applegate. Mas parece resistir à minha oferta.



- Sua... oferta não está clara - disse ela, odiando-se por parecer tão vulnerável - O que você quer de mim?



Ele fez seus olhos faiscarem ainda mais ao dizer:



- Cumprir a minha promessa.



- Mas... o senhor sempre deixou bem claro que não queria nada comigo. Por que de repente mudou de idéia?



- Não foi uma idéia que eu mudei, Srta. Applegate, foi um coração. O coração que Tessa abriu em mim.



Theresa sentiu o coração se dividir. Aquilo era tudo que ela esperara ouvir, mas...



Ele sentiu sua hesitação.



- Por que tanta relutância?



- Primeiro porque eu não sei se você vai me magoar de novo. Depois.... porque Tessa não existe mais. Ela nunca mais vai voltar.



- Que quer dizer?



Ela sentiu as lágrimas encherem seu rosto e baixou a cabeça triste:



- Quando a Profª McGonagall me treinou para ser uma animaga, minha forma não foi de um seminviso. Foi de outro animal. Tessa se foi para sempre.



- Pena - disse ele, com sinceridade - Terei excelentes lembranças.



Uma lágrima caiu e Theresa disse, ainda sem poder encará-lo:



- Portanto, se tem idéias sobre recriar aqueles tempos, é melhor não começarmos nada, porque isso não vai acontecer.



- Recriar o passado nunca é uma boa idéia. Mas você continua sem saber escutar. Eu não estou oferecendo voltar ao que já foi. Na verdade, só o que eu disse foi que Tessa abriu meu coração - ele encostou o dedo no queixo dela para fazê-la encará-lo - Mas foi você quem o conquistou. Só você me interessa, Theresa. Meu amor por Tessa foi apenas uma preparação para o que eu sinto por você. Não confunda as duas coisas.



Ela ficou boquiaberta, em choque e ruborizada diante da veemência das palavras de Snape - quer dizer, Severo.



- Mas... Eu... Desculpe, eu -



Severo pegou as pequenas mãos dela entre as suas:



- Entendo que esteja confusa agora. Minhas atitudes não contribuíram em nada para isso, mas... você era minha aluna, e eu tentei negar o que sentia. Eu sempre fui bom nisso. Mas de algum modo, eu não conseguia me desvencilhar de você, de querer você. Eu tive que fugir de você para não me entregar a meus sentimentos. Mas agora tudo acabou. Eu... eu... esperava que compreendesse...



Theresa confessou:



- Eu compreendo que você tenha se sentido traído quando Tessa desapareceu tão de repente. Mas eu quis conversar, quis mostrar a você que eu também sofri com aquilo. Eu nunca fui tão feliz, Severo, e agora tudo acabou.



- Mas nada impede que sejamos felizes daqui para frente. Dessa vez plenamente, numa relação horizontal e simétrica. Não a de um dono com seu bichinho. Quero você na forma de mulher, porque pretendo te amar como um homem. Mas ainda assim, eu gostaria de deixar minhas intenções bem claras.



Ele pegou a mão direita de Theresa e a colocou sobre sua própria cabeça. Ela riu e fez:



- Uh, uh.



Os dois se riram e de repente pararam de rir, os olhos se encontrando com uma intensidade que deixou Theresa se derretendo por dentro. Ele a envolveu nos braços, e ela estremeceu:



- Oh, Severo...



Com uma mão na cintura dela e a outra acariciando-lhe os cabelos, Severo inclinou-se para tomar os lábios dela entre os seus. Theresa sentiu um calor crescendo na sua barriga - e aquilo nada tinha a ver com chá trouxa, pois também afetava sua respiração e as batidas de seu coração. Algo dentro dela se derretia completamente, e seu corpo estava formigando de sensações.



Os lábios de Severo se abriram, e os dela instintivamente fizeram o mesmo. Foi quando a língua dele investiu contra a boca de Theresa, como se quisesse fazer um mapeamento total da área. Ele tinha gosto de limão, chá trouxa e especiarias, e ela queria sentir aquele gosto muitas vezes. Sentiu que ele a puxava contra si, fazendo-a se envolver mais ainda naquele corpo musculoso e quente.



Ele se separou dela e pediu:



- Não se vá.



Meio tonta, Theresa tentou obter fôlego suficiente para perguntar:



- Para onde?



- Não vá no Expresso de Hogwarts amanhã. Fique aqui.



- Eu preciso ir. Mas eu volto assim que puder.



- Vou mandar uma coruja todos os dias. Amanhã mesmo falarei com Fimel para que você trabalhe na loja em Hogsmeade, já que isso é tão importante para você. Com minha indicação, tenho certeza que ele vai aceitar.



- Quer saber mesmo por que eu prefiro trabalhar em Hogsmeade?



Ele deu um meio sorriso irônico:



- Eu tenho uma idéia, mas adivinhar não seria polido.



- Acho que você teria adivinhado certo.


Ele sequer respondeu: simplesmente puxou-a contra si e capturou os lábios dela com paixão intensa, deixando-a sem fôlego. Ela podia se acostumar rápido a esses beijos e ao cheiro de especiarias que ele exalava.



Theresa sorriu e abraçou-o:



- Isso está acontecendo mesmo ou você colocou alguma coisa naquele chá?



Ele a apertou contra si, inalando o cheiro dela:



- Garanto que nada coloquei no chá além de ervas e amor. Hum... você cheira bem.



- Obrigada - Ela ergueu a cabeça ainda abraçada a ele, olhando-o profundamente - Por tudo.



- Não me agradeça ainda. Você me conhece melhor do que ninguém e sabe que eu não sou nada fácil. Tem certeza de que é isso que quer? Um homem ranzinza, odiado, de cabelo oleoso, ex-Comensal da Morte e com idade para ser seu tio?



- Eu quero o homem que cuidou de mim, que soube me fazer crescer, que me respeita e que fará meu sonho se tornar realidade.



- Seu sonho?



Ela ergueu as sobrancelhas sugestivamente:



- Me fazer mulher.



Snape a olhou, com uma expressão séria irônica:



- Você está muito confiante de si, não está? Adolescentes! Só pensam em sexo!



Ela deu de ombros, jocosa:



- Desculpe, mas se você quer uma relação platônica, serei obrigada a recusar.



Mas Severo de repente ficou sério:



- Espere, você disse... fazer mulher? Ninguém ainda...



Theresa balançou a cabeça negativamente:



- Não. Ninguém. Eu só pensava em você. Esses rapazes desajeitados não me interessavam. Eu quero ser mulher de verdade, graças a um homem de verdade. Obrigada por mais isso.



Ele beijou as mãos dela, cavalheirescamente:



- Eu me sinto honrado além de palavras. A que horas seus amigos deverão voltar de Hogsmeade?



- Acho que só de manhã. Por quê?



- Porque eu pretendo prendê-la nessa masmorra o maior tempo que eu puder e fazer amor até os dois caírem de pura exaustão.



Ela podia sentir as pupilas se dilatando de desejo:



- Então é melhor não perdermos mais tempo.



- Concordo inteiramente - ele a pegou nos braços - Prometo fazer de você uma rainha.



- Meu nobre rei...



Os dois se perderam na intensidade do beijo e Severo teve dificuldade para chegar ao seu quarto, onde Theresa foi amada como uma deusa, todos os seus sonhos preenchidos e todos os seus desejos satisfeitos. Foi sua última noite em Hogwarts e a primeira do resto da vida dos dois. Depois de tantos obstáculos, eles conseguiram concretizar seu amor no melhor estilo.

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