Capítulo 2



Depois de um mês tudo parecia igual, exceto, claro, por Will. Ele agora parecia um menino de verdade, sempre alegre, falante e sorridente, mas se qualquer pessoa mencionasse o pai dele, logo Will ficava triste e calado. Por isso, evitava falar no Sr. Draco Malfoy, pelo menos na frente do garoto.
Durante esse tempo tentei de todas as formas abordar o homem, mas ele é muito difícil de ser encontrado, quando acordo ele já saiu (e, veja bem, eu acordo muito cedo), de noite, fico esperando por ele, mas sempre acabo dormindo e não consigo vê-lo chegando.
Estava bem desiludida quanto à minha promoção, porque acho que ela vai acontecer em, tipo, um milhão de anos, isso se eu estiver com sorte, mas eu nem imaginava que logo teria oportunidade para falar com ele.
Então o aniversário de 9 anos do Will chegou. Uns dias antes, falei com a professora dele para, sei lá, fazer alguma festinha com os amiguinhos dele de escola, porque eu sabia que em casa só nós (os empregados) lembrariam. E claro que Will não sabia que a professora e os amiguinhos iam fazer festa para ele.
Bem, enquanto isso, eu, Sophia, Liz e Mark organizamos uma pequena comemoração para ele. Sophia ficou encarregada de encontrar o ilustríssimo Sr. Draco Malfoy e, sinceramente, senti pena dela, ninguém merece esse serviço. Liz ficou encarregada de fazer o bolo de chocolate que Will adorava e Mark foi comprar os docinhos e salgadinhos numa confeitaria. Por fim, eu fiquei encarregada da arrumação da sala de jantar (que era onde faríamos a comemoração).
No fim da tarde eu e Mark formos até a Escola buscar o garoto, ele vinha carregando vários pacotes e sorria para mim, mas eu sabia que ele não estava completamente feliz, seus olhos continuavam tristes.
E tudo isso era culpa de quem?
Do Sr. Draco Malfoy, o grande advogado inglês e péssimo pai!
Durante o trajeto de volta para a Mansão, Will nos contou os detalhes sobre a festa e os presentes, ele tentava parecer completamente feliz, mas eu sabia que algo estava errado.
Quando chegamos em casa mandei-o subir para o quarto e se preparar para o jantar, enquanto isso, fui para a cozinha falar com os outros.
“E então, tudo pronto?”
“Sim, Ginny, mas não conseguimos falar com o Sr. Malfoy.” – Sophia falou, triste.
“Grande novidade...” – respondi indignada.
Sério, como um pai pode ser tão desnaturado?
“Vamos, Will vai descer daqui a pouco.” – falei enquanto pegava a bandeja de salgadinhos.
Liz pegou o bolo, Sophia os refrigerantes e Mark os doces, arrumamos tudo na mesa do jantar e esperamos que Will descesse.
Quando ouvimos os passos na escada, apagamos as luzes e segundos depois ouvi a vozinha dele:
“Ginny?” – falou assustado – “Gente? Onde vocês estão?”
Ele nos viu ao redor da mesa e logo sorriu, depois cantamos o “parabéns a você” e ele apagou a velinha em formato de nove.
E agora vinha a parte mais difícil, porque íamos acender a luz e ele ia ver que aquele traste que ele chama de pai, não estava lá.
“Adorei!” – falou batendo palmas – “Mas...” – falou enquanto olhava para cada um de nós e seu sorriso ia se desfazendo lentamente – “Meu pai não veio...”
Eu sei que sou anjo e só devo pensar em coisas boas, tipo, bichinhos e flores, mas naquele momento eu estava com tanto ódio que só pensava em maneiras de fazer Draco Malfoy sofrer bastante.
Comemos em silêncio, e a festa acabou sendo mais parecida com um velório.
No final, Sophia, tentando amenizar a tensão, disse:
“Hora dos presentes! Abra o meu!” – falou enquanto entregava a ele um pacote.
Will sorriu tristemente e abriu o presente, era uma coleção de livros infantis. Depois foi a vez de Liz, e o presente era uma caixa de chocolate enorme, por fim, Mark entregou o seu presente e era um carrinho eletrônico.
O garoto adorou todos e agradeceu e até já ia saindo da mesa quando eu o lembrei:
“Ei, rapaz, falta o meu presente.”
“Você comprou presente para mim?”
“Claro!” – o que não era mentira, porque foi a primeira coisa que fiz quando recebi meu salário.
Entreguei a ele uma caixinha e esperei que abrisse o pacote.
Ele desfez o embrulho e viu o colar de ouro com um pequeno pingente de anjo.
Sei, meio sem criatividade, mas era uma jóia linda.
“É lindo, Ginny. Obrigado.” – falou enquanto me abraçava.
Coloquei o colar no pescoço dele e disse:
“É para você nunca esquecer de mim.” - você sabe, quando eu for embora (se for possível).
Subimos para o quarto dele e o ajudei a trocar de roupa para dormir. Quando já estava deitado e já tínhamos rezado, ele falou:
“Meu pai me odeia.” – afirmou sem me encarar.
Sentei na cama e disse:
“Claro que não, Will. Ele só está ocupado...”
“Mas até no meu aniversário?” – falou me encarando e completou – “Quando mamãe era viva ele sempre estava presente. Acho que papai me culpa pela morte dela, por isso me odeia.”
“Não diga isso, Will.” – falei enquanto me controlava para não deixar meu ódio ser percebido – “Ele te ama, mas teve que resolver algumas coisas, só isso...”
Ele sorriu tristemente como se eu estivesse falando uma besteira e depois disse:
“Você me ama, Ginny?”
“Amo sim.” – falei sorrindo.
“Então você nunca vai me abandonar?”
“Não, nunca vou te abandonar.” – respondi sem lembrar que, alô, um dia eu teria que ir embora.
Ele sorriu e fechou os olhos. Beijei-lhe a bochecha, apaguei a luz e já estava quase saindo quando o ouvi dizer:
“Eu também amo você, Gi.”
Fechei a porta e saí para a sala.
Sei que deveria ser um anjo mais profissional e não me envolver tanto, mas como não sentir raiva de um ser tão desprezível como Draco Malfoy?
Sentei no sofá e esperei durante algumas horas, e não tinha a menor vontade de sair dali enquanto não conseguisse falar com aquele ser desprezível.
Já passava da meia-noite quando ouvi o carro estacionar do lado de fora. A porta foi aberta segundos depois, ao mesmo tempo em que eu acendi o abajur.
“Quem é você?” – ele falou enquanto fechava a porta.
“Boa noite para o Sr. também.” – respondi – “Sou Ginevra, a babá do seu filho.”
“Ah... e o que ele fez dessa vez?” – falou enquanto sentava e desapertava o nó da gravata.
“Como?”
“Ele sempre assusta as babás... esse garoto está terrível...”
Sério.
Ele era um ridículo.
Senti meu coração bater mais rápido e o ódio aumentava na mesma velocidade.
“O seu filho é uma criança maravilhosa.”
“Sei.” – falou enquanto sorria maliciosamente
“É sim, uma criança maravilhosa e, por isso, não merece um pai como o Sr.”
Ele me olhou assustado e antes que pudesse falar alguma coisa, continuei:
“O Sr. sabe que dia é hoje? Com certeza não sabe, porque só se preocupa com o trabalho. Hoje é o dia do aniversário do seu filho e você não lhe deu nem parabéns.”
“Escuta aqui sua...”
“E acho, sinceramente, que teria sido bem melhor se você tivesse morrido, assim Will não estaria tão desamparado. Sua morte teria sido o melhor para o seu filho, realmente foi uma tremenda injustiça sua mulher morrer ao invés de você.” – falei e saí correndo para o meu quarto.
Tranquei a porta e tentei me acalmar, mas quando lembrava das palavras dele tudo piorava.
Nunca tinha visto uma pessoa tão estúpida e grosseira.
Minutos depois Gabriel apareceu no quarto.
“Ginny, você não podia ter se descontrolado.”
“Desculpe, Gabriel, mas aquele homem é horrível...”
“Ginny, acalme-se ou então não conseguiremos nada. Dessa vez ele não despedirá você, mas não se descontrole mais.” – falou e desapareceu.
Deitei na cama e tentei adormecer, mas só consegui quando já estava quase amanhecendo.

~*~* Amor de Primavera *~*~

O dia seguinte era sábado, por isso poderia acordar um pouquinho mais tarde, já que Will não ia para a Escola.
Quando acordei fui até a cozinha e a encontrei deserta, o que, sinceramente, era muito estranho. Fui até a sala e vi Liz, Mark e Sophia na janela, olhando para algo que os deixara petrificados.
“O que houve?” – perguntei nervosa enquanto via a cara de susto deles.
“O Sr. Malfoy, olhe, Ginny.” – Sophia respondeu enquanto apontava para a janela.
Olhei para o lugar e vi.
E realmente era inacreditável.
No jardim, Draco e Will estavam sentados embaixo da árvore e conversavam. O menino falava muito e era perceptível que ele estava chorando, enquanto isso, o pai (que, como pude perceber, estava com a mesma roupa com que chegou) ouvia o filho atentamente.
Então algo estava acontecendo!
Isso era ótimo!
Continuamos observando os dois. Depois que Will falou, Draco também disse algumas coisas e por fim os dois se abraçaram emocionados.
Então, no final das contas, Draco Malfoy tinha uma coração?
Isso era uma surpresa...
Eles ficaram abraçados por alguns minutos, até que recomeçaram a falar, mas agora os dois sorriam.
E, meu Deus, pára tudo.
QUE SORRISO ERA AQUELE?
Eu sei que sou anjo e não devo pensar nessas coisas, mas o negócio é o seguinte:
Draco Malfoy era lindo sorrindo...
Tentei não olhar mais para ele, mas era como se aquele sorriso tivesse algum tipo de ímã... o rosto dele ficava muito mais jovem e saudável quando ele sorria...
Certo, mas depois desses pensamentos, me afastei da janela e disse para Sophia:
“Que bom que eles se entenderam.”
“Realmente... e, o que será que fez o Sr. Malfoy mudar de comportamento?”
“Não sei...” – falei toda inocente enquanto Sophia me olhava com uma cara de incredulidade.
Sério, ela não sabia, né?
Depois disso, fomos para a cozinha e só depois de muito tempo pai e filho voltaram para a casa. Os dois subiram juntos e só depois que tomei meu café fui falar com Will.
Abri a porta do quarto e dei graças a Deus por ele estar sozinho.
“Bom dia, meu amor.” – falei enquanto beijava-lhe a face.
“Bom dia, Gi! Meu pai me ama!”
“Eu disse, querido.” – embora não acreditasse muito – “O que você está fazendo?” – perguntei vendo que ele tinha colocado várias roupas em cima da cama.
“Estou escolhendo uma roupa. Nós vamos ao parque depois do almoço.”
“Que bom. Então, vá tomar banho e eu escolho sua roupa.”
“Tudo bem. E acho melhor você também mudar de roupa.”
Olhei para mim e disse:
“Por quê?”
“Você vai comigo!”
“Acho melhor não.” – falei ao lembrar do que tinha acontecido na madrugada anterior.
“Ginny, você vai!” – sabe, às vezes, ele pode ser bem mandão...
Como sabia que não dava para argumentar, aceitei. Escolhi a roupa e depois fui me trocar. Para evitar mais desgaste, não apareci no almoço. Assim só teria que ver o Sr. Malfoy no passeio.
Will foi até a cozinha e disse:
“Não se esconda, Ginny! Vamos!”
Revirei os olhos e o acompanhei.
Draco, quer dizer, o Sr. Malfoy, já estava no carro.
E, espera...
Ele realmente estava muito bonito naquela roupa mais clara, diferente daqueles ternos escuros e sem graça.
Entramos no carro e, apenas por educação, disse:
“Boa tarde, Sr. Malfoy.”
“Boa tarde.” – respondeu enquanto me olhava pelo espelhinho do carro.
Will não notou a tensão entre nós dois e continuou falando sobre o que queria fazer no parque.
A verdade é que ele estava realmente mudado...
O Draco, sabe... ele prestava atenção ao que filho falava e sorria freqüentemente, o que me deixava meio hipnotizada...
Chegamos ao parque e Will quis ir em todos aqueles brinquedos, o balançador e aquela roda... e claro que ele fez com que eu e Draco também fôssemos...
Depois Will conheceu alguns garotos e foi brincar com eles, deixando eu e Draco sozinhos.
E eu não queria mesmo ficar a sós com ele...
Afinal, da última vez, tinha gritado com o homem e tinha dito coisas horríveis...
Por isso, corri para o balançador e pensei que isso seria o bastante para me afastar dele, mas o negócio é que ele me seguiu e sentou no balançador ao meu lado.
Ficamos calados por algum tempo e eu já estava me sentindo incomodada, quando ele falou:
“Obrigado.”
Simples assim.
Tipo, pelo quê?
Por ter dito que ele era um péssimo pai? Ou por ter dito que era melhor se ele tivesse morrido?
“Pelo quê, Sr. Malfoy?”
“Por ter me mostrado o quanto meu filho é maravilhoso. Ontem fiquei pensando em tudo que passei nos últimos dois anos e vi o quanto fui egoísta. Christine morreu e meu filho não teve culpa. Ninguém tem. Além de mim.” – falou olhando para o lugar em que Will brincava com os outros garotos.
Essa família tinha complexo de culpa?
Alô, ela tinha problemas de saúde, vocês não tinham culpa!
“Ninguém é culpado. Ela estava doente.”
Ele deu um sorriso triste e permaneceu calado.
Sinceramente.
Eu achava que já tinha resolvido tudo por aqui, mas vi que só estava começando.
Ele não podia continuar pensando assim, mas talvez fosse melhor esperar outra oportunidade para falar disso...
No fim da tarde voltamos para a Mansão. Will parecia completamente feliz, falava sobre tudo o que tinha feito (e nem se lembrava que eu tinha visto tudo, mas não interrompi a narração dele).
E eu sentia algo estranho.
Por um lado, estava feliz que pai e filho tinham se entendido. Mas, por outro, me perguntava porquê Draco não tinha me demitido? E porquê meu coração deu tantos pulos quando viu aquele sorriso nele? Pior, o que era aquele negócio de achá-lo bonito?
Quer dizer, eu sou um anjo de respeito, não posso ficar pensando nessas coisas...
Fui para o meu quarto e mal tinha fechado a porta quando Gabriel apareceu:
“Parabéns, querida amiga!”
“Obrigada, Gabriel, mas ainda tenho que resolver algumas coisas.”
“Sim, é verdade. Os dois ainda precisam de você.”
“É.” – falei sentando na cama e me sentindo culpada por ter pensado coisas estranhas sobre Draco.
“Ginny.” – Gabriel falou sentando ao meu lado – “não se sinta culpada pelo que você sente.”
“O quê? Do que você está falando?”
O pior de ter amigos anjos superiores é que eles lêem seu pensamento.
“Você sabe que não foi algo só porque está em forma humana... Ele realmente mexeu com você...”
“Ahm? Nada disso... eu só...”
“Ginny, não tenha medo.” – falou segurando minha mão – “Apenas deixe que seu coração te guie...”
“Mas não pode ser nada, certo? Deve ser igual ao que sinto pelo filho dele, não é?”
“Só você poderá responder à essa pergunta.” – falou se levantando – “Lembre-se que não há o que temer, você não deixa de ser pura por sentir isso... mas você terá tempo para descobrir. Qualquer coisa, pense em mim e virei vê-la. Até mais, Ginny.” – disse e desapareceu.
Mas é claro que nem estava sentindo nada, deve ter sido o açúcar da noite anterior que acabou acelerando meu coração, mesmo que já faça 24hs que eu comi os docinhos e o bolo...
Por isso me deitei e tentei desviar meu pensamento, mas descobri que aquilo seria mais difícil do que imaginei...

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