Fique Escondido



“(...) Sirius, preciso que você comece imediatamente. Alerte Remus Lupin, Arabella Figg, Mundugus Fletcher – a turma antiga. Fique escondido com Lupin por enquanto…”
Harry Potter e o Cálice de Fogo, pag. 566


Eles sentaram à margem de um rio, grama pressionada gentilmente contra tornozelos e pernas. Outros talvez houvessem visto a imensidão do céu acima deles, ouvido o murmúrio e as faíscas do rio em seu caminho ao sul. Em algum outro momento talvez houvesse o canto dos pássaros, o riso distante da criança de alguém, o ruído estrondoso de um trem avermelhado, um pensamento que descartasse um sanduíche meio-mordido, um comentário melancólico sobre os méritos do chá.

Mas com a grama pressionando espinhosa-e-gentil contra a pele envelhecida, havia apenas a lentidão do tempo, a inspiração e expiração de ar quando os amigos sentaram-se um ao lado do outro, perdidos em contemplação – tinta e ratos e o cheiro de meias adolescentes tropeçando como engrenagens sobre a memória para recair sobre dedos que ainda tremem como tremiam quando estes amigos se beijaram pela primeira vez. Não havia palavras para derramar nos sólidos dez centímetros de espaço entre um cotovelo e outro, nenhum feitiço cômico capaz de quebrar treze anos de farpada desconfiança, doze meses de cautelosa separação. Ao invés disso havia grama, verde como inveja, verde como uma íris, perfeitamente formada e plana e rara para olhos habituados a rochas, para olhares que cresceram acostumados com solidão, não companhia.

Então dedos arrancam nervosamente as propensas lâminas, cacos de verde sangrando pela ponta dos dedos, fôlego oscilando entre canções e sorrisos. Mãos em cauteloso repouso ao lado de quadris que doíam quando a lua deslizava para algum céu diminuto, e em todo lugar, todas as pessoas, cada idéia verde, tão verde.

“Quanto tempo?” Remus perguntou enfim, sua voz soando enferrujada, embora finalmente aberta para uma esperança que havia sido trancada.

“Duas semanas?” Havia dor na fibra do ombro de Sirius, na profundidade de sua clavícula contra o ar que se movia livre. “Não muito. Não muito mesmo.”

Remus concordou e olhou em direção aos vilarejos mal-guardados há muito por feitiços ineficientes. “Duas semanas, então,” ele murmurou, e se estendeu para tocar as costas da mão marcada-pela-prisão de um estranho.

Sirius recuou, então segurou Remus antes que ele pudesse se afastar. “Desculpe, desculpe, estúpido da minha parte – eu –”

“Padfoot,” Remus murmurou, grave compreensão em cada pesarosa palavra.

Um sopro do que talvez houvesse sido riso em alguma vida mais fácil rasgou no vértice da tarde suspensa. “Não vamos entrar ainda.”

“Não,” Remus concordou. “Não vamos.” E seus cotovelos se tocaram desajeitadamente quando eles se deram as mãos e esperaram por força o suficiente para dizer o resto, ou mapear a afeição, ou reaprender os corpos, ou sentar com a grama pressionando doce-e-pontiaguda e paciente contra tornozelos e gratidão, contra amantes em repouso.

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