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- Você achou ela? – perguntou Rony ao encontrar Harry subindo as escadas das masmorras.

- Não... Onde você estava?

- Segundo andar... Encontrei MacGonnagal no caminho... Ela perguntou porque Hermione não assistiu a aula.

- E? – instigou Harry preocupado.

- Eu não precisei responder, Pirraça chegou bem na hora e acertou um balão d’água na cabeça dela por engano...

- Agente já rodou o castelo todo... Você já checou em Hagrid? –questionou ele, ao surgimento da possibilidade.

- Não. Mas o que é que agente vai dizer? – justificou ele. E estava certo. Desde a noite anterior que ambos não viam a amiga, surpreendentemente ela faltara todas as aulas daquele dia. O que por si só já era um fator bastante alarmante. Além do fato de que a menina estava completamente perturbada quando saíra da biblioteca...

A preocupação dos dois era tanta que surgiu um quase-acordo mútuo entre os dois para que evitassem as bicadas, pelo menos até encontrarem a amiga e resolver aquela história toda... Depois, quem sabe, desconfiava Harry, Rony tivesse tempo suficiente para expressar a irritação para com ele. Entretanto, por enquanto, uma bandeira branca fora hasteada entre os dois...

- Ok... Eu vou procurar pelo lago... – sugeriu Harry, enquanto seguiam para o salão novamente.

- Eu vou procurar nas torres... Harry. – chamou o garoto, fazendo Harry que seguia para os portões, parar e se voltar para ele.

- Aquela garota... O que ela disse, voc...

- É... Eu sei...

Harry ainda não compreendera aquela conversa que as duas tiveram, ele sabia que era a mesma coisa que aparecera na noite anterior... Mas o que mais matelava em sua cabeça não era aquilo... Era o que ele ouvira, primeiro algo sobre Rabicho, mas era também muito nítida em sua memória a referencia que ela fizera a outra pessoa... Com a sensação de que havia muita explicação a ser dada por Hermione, ambos se voltaram para a procura da menina novamente...

Fazia mais de vinte minutos que Harry caminhava pela beira do lago atrás da menina. Já estava começando a achar fora uma idéia estúpida vir procurar a menina por ali. A área era imensa, e ele nunca conseguiria cobri-la toda... Por isso ele começava a apelar para a boa vontade da amiga... Para que se estivesse ali, fizesse o favor de aparecer:

- Hermione!! – gritou ele a plenos pulmões. Com sorte, ele conseguiria atrair a amiga ao invéz de qualquer outra coisa...

Silêncio. Harry apurou os ouvidos a procura de uma resposta da amiga, mas não ouviu nada, nem um pio. Entretanto não demorou muito para que Harry ouvisse de fato algo. Mas em lugar de uma resposta, tudo que Harry ouviu foi um mínimo murmúrio vindo de sua esquerda. Era Hermione, chorando, de novo.

- Mione...? – chamou ele timidamente.

A tarde já ia sumindo e aos poucos o céu ia tomando um tom acinzentado, escurecendo aos poucos o local. Hermione estava sentada em uma pedra particularmente grande em meio às outras à beira do lago. Ao localiza-la, Harry se perguntou como diabos não a vira antes, enquanto se dirigia em direção à amiga.

- Mione. Nós estávamos te procurando... – disse Harry sentando-se ao lado da garota. Só agora reparando que a roupa da menina era a mesma da noite anterior. Obviamente ela não voltara para o castelo desde ontem... – Você está bem...?

- Estou... – respondeu ela com a voz rouca e estremecida. Os olhos da amiga estavam inchados de tanto chorar, e apesar de secos, o vermelho neles indicava que ela provavelmente já derramara o máximo de lágrimas que poderia. Ainda mais preocupado que o normal, Harry continuou:

- Olhe... Aquela... Coisa, só estava tentado te atingir... Do mesmo jeito que fez comigo... Você sabe que aquilo não é verdade, Você não é uma aberração. – concluiu ele, num tom de quem explicava o óbvio.

- Eu sou... – murmurou ela, numa convicção cega e triste que Harry nunca vira nela.

- O qu... – ela levantou os olhos e se virou pra ele. Aparentemente, estava se preparando para dizer algo...

- E-eu, nunca contei isso a vocês, mas... Eu tive uma irmã... Uma vez... – falou ela ainda com a voz rouca.

Uma irmã? Quando? Por que ela nunca contara... – pensou Harry, a cabeça fervilhando. Até que ele próprio se lembrou de que na realidade, mesmo depois de tanto tempo, eles não sabiam muito da família de Hermione, exceto que era filha única de dois pais, dentistas. Sentindo-se ligeiramente corado com a falta de atenção dele para com a vida da amiga, Harry tratou de prestar atenção agora.

- O nome dela era Clarisse, ela era dois anos mais nova que eu... – acrescentou ela, com um sorriso que mais pareceu um esgar de tristeza.

- Era...? – o rosto da menina se entristeceu ainda mais. E logo Harry teve um flash da menina na biblioteca... A semelhança... Sim... Agora começava a fazer sentido.

- Quando eu tinha nove... Nós tínhamos ido passar férias na casa da minha vó, no campo... E lá, tinha esse riacho, que passava por uma ponte... Um dia, nós estavamos brincando, e... B-bem, ela pegou uma boneca minha, e não quis devolver... – continuou ela, agora entre soluços – Eu fiquei tão irritada... E então... Uma luz, forte, vermelha, atingiu ela no peito... Ela caiu da ponte. Eu fui atrás dela... Mas não consegui... E-eu... – Harry viu que a amiga não podia mais continuar... E apesar do choque da informação, ele a consolou:

- Hermione... Voc... Não foi culpa sua... Você mesma disse, você era uma criança... – mas a história não pareceu ter acabado aí.

- Eu fiquei tão assustada... Não sabia o que fazer, então eu contei aos meus pais, o que aconteceu... Eles... Eles enlouqueceram completamente... Eu acho que eles pensaram que eu estava doente ou algo assim... Então eles me mandaram, pra uma instituição...

- O que? – murmurou Harry. – M-mas... Você tinha nove...

- Foi só por alguns meses... – acrescentou ela com a vozmais fraca – Eu aprendi que não deveria mais falar sobre aquilo... Então eles me deixaram ir... – um minuto de silêncio se fez após as palavras da garota, até que ela continuasse:

- Eventualmente eles acabaram esquecendo... Sobre isso... Pelo menos até...

- Horgwarts... – murmurou Harry, quase que para si mesmo – Hermione eu...

- Não diga que sente muito, não diga... –ele não o fez. No fundo, apesar de não ter passado por aquilo tudo, ele sabia que aquelas palavras não iriam mudar muito do que a garota estava sentindo, e sabia por experiência própria, que a culpa não iria embora assim...

Após fazer Harry prometer que ele não abriria a boca para ninguém sobre o que ela acabara de lhe contar. Ele convenceu a garota a finalmente voltar para o castelo, onde Rony estaria provavelmente se remoendo de preocupação, assim como ele próprio estava alguns minutos atrás... Entretanto, exceto por alguns alunos ainda vagando pela comunal, não havia sinal de Rony em lugar nenhum...

- Onde ele está? – comentou Hermione, se virando para Harry que imaginou o amigo ainda procurando a menina pela escola.

- Imbecil... – murmurou uma voz mal-humorada vinda do buraco do retrato. Logo a cabeça vermelha denunciou a chegada de Rony no local. Não parecendo muito alegre, ele caminhou em direção a Harry.

- Eu achei... – comentou ele antes de parar para observar a expressão do amigo com curiosidade:

- Malfoy. E Snape... – acrescentou ele com extrema irritação. Então num tom completamente diferente se voltou para Hermione – Onde você estava?

- O que houve? – perguntou ela ignorando o amigo. Observando agora a vermelhidão no canto de sua boca.

- Eu peguei uma detenção! Foi isso que aconteceu.

- Como? –perguntou ela.

- Bem, eu briguei com ele, e por azar Snape tava passando...

- Rony! – exclamou ela, num tom de repreensão.

- O que? Ele mereceu! – reclamou ele parecendo ofendido. Hermione olhou pra ele, obviamente com uma ótima resposta na ponta da língua. Entretanto a garota parecia ter algo mais importante para falar, visto que a sua expressão desanuviou sensivelmente:

- Bem... Não importa. – encerrou ela. – Nós precisamos conversar... Em particular...

- Hei!! Vocês aí!! - gritou Rony para os alunos do primeiro ano que se encontravam na mesa no canto da sala.- Pra cama já!

- Mas não são nem dez! – insistiu um dos garotinhos indignado.

- Eu não perguntei as horas eu disse cama! Vão! Antes que eu tire cinco pontos de cada um! Agora! – mandou Rony. Sob protestos revoltados, os cinco garotinhos se voltaram para as escadas e seguiram rumo aos dormitórios.

- Pronto. – acrescentou ele com ar de satisfação.

- Bem... – começou Hermione.- E-eu acho que eu tenho um palpite sobre... Sobre o que está acontecendo ultimamente...

Ambos a encararam, agora se sentando em silêncio.

- E? – encorajou Harry.

- Er... A razão porque agente não encontrou nenhum registro sobre aquela coisa... É porque não há nenhum... Vejam... Tecnicamente, essa... “Coisa”... Bem, não... Não existe... – falou ela receosa.

- Hãn? –retrucaram os dois simulaneamente. Como não exista? Claro que existia. Eles viram não uma, mas duas vezes! Pensou Harry confuso.

- O que você quer dizer?- perguntou Rony, tão confuso quanto Harry.

- Bem... Ela existe. Mas só pra gente... Veja... Não existem precedentes, porque nós a criamos... – explicou ela.

Um momento de silêncio se seguiu às palavras da menina. Logo ficou claro para Hermione que nem Harry nem Rony haviam compreendido o que ela falara.

- Se chama: Taumogenesis... – especificou ela. Como não houve resposta, ela puxou a cadeira mais próxima de si e sentou-se à frente dos dois. Como que preparando-se para uma longa e cansativa explicação:

- Olhem... Tudo na magia está ligado. Como... Como um ciclo, sempre em movimento... Procurando por equilíbrio. Você não pode simplesmente mudar o curso dos acontecimentos ao seu favor. Existem algumas coisas na magia que não se pode evitar, ou modificar... Coisas como...

- Morte. – concluiu Harry.

- Bem... É. – confirmou ela, respirando fundo. – Veja... Quando trouxemos Sirius de volta, nós interrompemos essa cadeia, por assim dizer... Por isso nós precisamos de magia-negra... – aqui ela parou, como que procurando a melhor forma para explicar o que passava em sua cabeça. – Mas... O fato é, que não se pode ultilizar tanto poder assim sem dar algo em troca... Nesse caso, nós pedimos pela vida dele... Então, tecnicamente, nós deveríamos pagar a dívida com outra vida... Uma oferenda... – Harry teve um relance da noite passada na floresta, o dia em que trouxeram Sirius de volta. A cena começava agora a finalmente fazer sentido...

- Mas, bom... Eu não morri...

- Então o que? – questionou Rony.

- Bem... É como se alguém chegasse para você e dissesse: “Hei, se você quiser isso vai levar isso também...” Vocês entendem? – perguntou ela, agora parecendo não saber como ser mais clara que aquilo.

- Como um... – pensou Harry, procurando uma palavra que se encaixasse no contexto.

- Um “brinde”? – completou Rony.

- Bem... Mais ou menos... Mais como... Um efeito colateral...

- Efeito colateral? Um brinde? – exclamou Harry exasperado. – Essa coisa está tentando matar agente!

- Bom, a boa notícia é que ela não pode...

- Como assim? – quetionou Rony confuso.

- Bem, ela não pode ter contato físico conosco, com ninguém pra falar a verdade... Além do mais vocês mesmos viram... Ela só assume a forma de algo ou alguém que já morreu... Pelo menos vai ser fácil de identifica-la.

- Não... Quero dizer... Ela se trasformou em você certo? E você não está morta... – concluiu Rony logicamente.

- É... Mas... – começou Harry lentamente, ainda com a noite do ritual na memória. – Ela morreu sim... – acrescentou ele. – Bom... Foi só por um momento, sim... Mas tecnicamente falando, ela estava morta...

- É, eu suponho que sim... – concordou Hermione, tentando agora esconder um bocejo relutante. Era visível o estado deplorável da garota.

- Você devia ir dormir um pouco... –comentou Harry, lembrando da conversa tida há alguns minutos...

- Harry está certo... Você está arrasada... – comentou Rony. – Emocionalmente... Eu quero dizer... – acrescentou ele rapidamente.

- Certo... – murmurou ela, quase que dormindo sentada. – Eu vou então... – comentou ela se levantando da cadeira onde estava.

Ambos acompanharam a menina até a porta, onde ela se virou pra se despedir:

- ‘Noite...

- Boa noite. – responderam os dois em uníssuono.

Um momento de silêncio aterradoramente desconfortável se seguiu onde Hermione atingiu um suave tom rosado nas bochechas, e baixou a cabeça acrescentando rapidamente:

- Bem, tchau então. – com isso ela se virou e fechou a porta atrás de si.

- Ok...

- É...

- Eu vou...

- É eu também.

Harry se virou para entrar no próprio dormitório e seguiu direto para sua cama, onde se deitou distante e silencioso com relação ao amigo. Aquilo já estava saindo do controle...

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