she wolf.



she wolf


Tinham parado em um beco perto da Basílica de São Marcos. Estava meio escuro, mas dava para ver todo mundo perfeitamente. O único som vinha de uma criança que estava chorando no colo da mãe. Passaram-se uns dois minutos quando uma luz fraca irrompeu de um pequeno corredor e um homem apareceu.


Ciao! Mio nome é Marcello Fabocci. Questo beco foi aumentato e os trouxas non podem vê-lo. Façam una fila e saiam em pequenos gruppi per non chamarem la attenzione, per favore – disse o homem, em uma mescla de inglês e italiano, apontando para o corredor de onde acabara de sair.


Minerva e Álvaro ficaram mais ou menos no meio da fila. As pessoas saíam em grupos de dois ou, no máximo, três pessoas. Os primeiros a sairem foram dois velhinhos; sairam de mãos dadas. Minerva perguntou-se se algum dia seria assim para Álvaro e ela; velhinhos, de mãos dadas, juntos, até a morte. Logo após os velhinhos sairam dois homens, também de mãos dadas, e, em seguida, o casal com a filha que chorava. E então foi a vez de Álvaro e Minerva. Eles entraram no apertado corredor, que aos poucos foi se abrindo até mostrar a cidade.


A primeira coisa que os dois viram assim que deixaram o beco para trás foi a Praça de São Marcos, rodeada pela Basílica de São Marcos, o Campanile, a Torre do Relógio, o Museu Correr, entre outros. Várias pessoas estavam aglomeradas na Praça. Minerva olhou para trás e viu que o beco havia sumido. Piscou os olhos e mais um casal apareceu na frente da parede lisa e impertubável.


Virou-se novamente para frente e olhou ao seu redor. Chegar à Veneza pela primeira vez transforma as expectativas criadas em torno da cidade em sombras diante do espetáculo de cores e luzes que se espalha ao longo dos canais que desenham a malha urbana.


Minerva estava deslumbrada com tudo aquilo. Será que era possível existir no mundo outro lugar tão lindo quanto este? Parecia impossível.


Ela abraçou Álvaro e lhe deu um beijo. O primeiro na cidade dos apaixonados. O mais longo de suas vidas. Pelos menos foi essa a sensação que Minerva teve. Parecia estar beijando Álvaro há décadas. Com muito esforço os dois se afastaram e se olharam nos olhos.


– Eu te amo tanto! – disse Minerva – Você nem pode imaginar o quanto.


– Acredite, eu posso. Você é tudo para mim. Você é minha vida. Você é o que faz meu coração bater. Sem você eu não sou nada.


Eles continuaram a se olhar por mais uma eternidade. Minerva se perdia nos olhos de Álvaro. Pareciam duas esmeraldas, especialmente lapidadas pelos deuses para serem os olhos de seu anjo da guarda.


Foi Álvaro que rompeu o silêncio:


– Acho melhor procurarmos um lugar para deixarmos as malas. Depois podemos passear e conhecer a cidade. O que acha?


– Acho uma ótima ideia, meu anjo.


Ele segurou a mão de sua amada e os dois começaram a andar em direção á Praça, que era onde tinha o maior número de pessoas que poderiam lhe informar uma pousada por perto. Álvaro, que falava italiano fluentemente, foi quem conversou com as pessoas. Todos pareciam ser estrangeiros; já tinham falado com seis pessoas e todas pareciam estar mais desnorteadas que eles. Só obtiveram sucesso quando resolveram perguntar para um casal, cujo filho estava brincando nos jardins do Giardinetti Reali.


– Buon giorno! Parla inglese? – perguntou Álvaro, em italiano (Bom Dia! Fala inglês?).


– No, spiacente – respondeu o moço (Não, desculpe).


– Potrebbe dirmi se esiste un ostello qui vicino? – continuou Álvaro (Poderia me dizer onde há uma pousada aqui perto?).


– Oh, sì! Vi è il Canal Grande. Ci sono diversi ostelli circa il Canal – respondeu o moço, apontando na direção do Grande Canal (Oh, sim! Ali está o Grande Canal. Há várias pousadas ao redor do Canal).


– Grazie – (Obrigado!).


– Sei il benvenuto! – (De nada!).


Álvaro explicou rapidamente á Minerva o que eles tinham falado e depois eles andaram em direção ao Grande Canal.


Bem, não há melhor forma de definir o Grande Canal senão com uma única palavra: grandioso. As águas esverdeadas se moviam graciosamente enquanto os barquinhos deslizavam por sua superfície. Havia muitas pessoas (a maioria casais) e várias gôndolas. E, como o moço da Praça disse, havia também um grande número de pousadas por ali. Álvaro e Minerva decidiram-se pela pousada cor-de-rosa que sustentava um grande letreiro escrito: Ca' Rialto.


Quando entraram na pousada perceberam que tinham feito uma ótima escolha. Era tudo muito simples e jeitosinho: e era nessa simplicidade que se escondia o charme do local. Tudo era feito de madeira cor-de-rosa, até mesmo o vasinho com tulipas que ficava em cima da balcão. Uma porta lateral atrás do balcão e uma moça gordinha apareceu. A moça os atendeu alegremente e Álvaro conversou com ela em italiano. Depois, voltou-se para Minerva:


– Ela disse que tem apenas mais um quarto. Demos sorte – disse, piscando – Vamos!


Subiram rapidamente ao quarto e deixaram lá as mochilas. Mal viram como era o quarto, de tanta pressa que tinham de conhecer a cidade dos enamorados. Minerva só pôde reparar que tudo era tão delicado que parecia que ia quebrar ao menor sopro de vento. Perguntou-se se não seria melhor fechar as janelas, mas logo percebeu que essa idéia era totalmente sem sentido. Trocou rapidamente a roupa que estava pelo vestido rosa-bebê, com o auxílio de mágica, claro.


Ao saírem do albergue foram direto alugar uma gôndola para poderem realizar o sonho de qualquer casal. Escolheram uma pequena gôndola vermelha, cujo gondoleiro era português. O forte sotaque e o bigode o denunciara. Minerva e Álvaro sentaram-se no barquinho e o português começou o passeio.


– Andar nessas coisinhas sempre foi meu sonho, sabia? – disse Álvaro, passando seu braço em volta de Minerva.


– O meu também, literalmente. Sabe, quando a gente estava no primeiro ano de Hogwarts eu sonhei que eu estava andando em uma gôndola e que de repente eu caí na água. E então você apareceu e me salvou. Foi meu primeiro sonho com você e foi quando eu percebi que estava totalmente apaixonada por você.


– No nosso primeiro ano? Você era apaixonada por mim desde o primeiro ano?


– Sim. Mas aí no segundo ano você começou a andar com aquela nojenta da Disgrace McMayer. Certo, certo, era Grace McMayer. Mas, para mim, ela sempre será uma desgraça. Foi ela que me fez sentir como se eu tivesse perdido você para sempre.


– Para sempre? – riu-se Álvaro – Nós tinhámos doze anos e eu só andava com ela porque ela era a mais bonita da turma.


– Como é que é? – replicou Minerva levantando uma sobrancelha.


– Ah, qual é, Minnie? Você era tão envergonhada que eu mal podia te notar. Você ficava sempre escondida atrás de um livro, ou de um caldeirão ou de alguma amiga. Sempre que eu aparecia você saía correndo de mim. Você mesma me contou isso.


– É, isso é verdade. Eu era uma idiota.


– Era a idiota mais linda da escola.


– Enfim, como você passou a andar com a Disgrace, eu tentei te esquecer e, no terceiro ano, comecei a sair com o Chris Margon, mas ele começou a andar com aquele Tom Riddle, da Sonserina, e eu sempre achei que aquele moleque não era coisa boa.


– Falando nele, não eram os amigos (ou o termo certo seria gangue?) dele que se autodenominavam Comensais?


– Acho que sim. Você acha que podem ser eles os tais Comensais da Morte?


– Por que não? Aquele garoto Riddle era bem estranho. Principalmente depois que trocou de nome. Voldemort, que nome tosco! Não duvido nada que ele esteja por trás disso.


– Será que o Prof. Slughorn não sabe de nada? Ele adorava o menino.


– Não. Ele pode ser ambicioso, mas não é mal. Nunca se juntaria a um grupo desse tipo. E se Riddle tiver realmente alguma coisa a ver com isso tudo, não sairia falando para todo mundo.


– Bom, de qualquer forma, isso não é da nossa conta. Não agora, pelo menos. Vamos voltar a falar sobre nós. Afinal, a gente não pagou esse barquinho para ficar discutindo sobre quem são os Comensais da Morte.


– Você tem razão, meu amor. Então, você terminou com o Margon no terceiro ano mesmo e depois?


– Ah, depois eu acho que nunca mais saí com ninguém antes de você. Até porque, segundo o código universal das garotas, a gente não deve namorar com ex-namorado de amiga e a Jessica namorou todos os meninos possíveis do colégio. Como ela era minha melhor amiga, 90% dos meninos eram proibídos para mim.


– Jessica Hurley? A ruiva?


– Isso. Ela só não deu em cima de você porque sabia que eu ainda gostava um pouco de ti. E porque achava que você era gay.


– Ha! Ela achava que eu era gay?


– É, bem... Lembra daquele Gayle Gemma?


– Claro, ele sempre andava comigo.


– Então, ele era gay. Desde o nome até o fio do cabelo. E Jessica achava que vocês eram mais que amigos. Vivia me dizendo que rolava um ménage à trois entre vocês dois e a Disgrace. Ainda bem que ela estava enganada.


– E isso ficou claro no nosso último ano...


– Quando você tomou coragem para me convidar para sair.


– Fomos ao Madam Puddifoot...


– E demos nosso primeiro beijo.


– Foi a coisa mais sensata que eu fiz na minha vida, Minnie.


Os dois se aproximaram e se beijaram e depois não falaram mais nada até chegarem na Ponte Rialto, onde o gondoleiro os deixou. Álvaro pagou em euros trouxas e os dois partiram. A ideia era ir de gôndola e voltar a pé, admirando a cidade e os amantes e tudo que Veneza oferecia. Andaram de mãos dadas por uns vinte minutos, olhando tudo, maravilhando-se com tudo, sonhando, perguntando-se se havia algum lugar que pudesse ser mais perfeito para um casal.


– Quer um sorvete? – perguntou Álvaro quando passaram em frente a uma sorverteria.


– Claro, amor. Nenhum dia é romântico o suficiente sem sorvete.


A sorveteria era bem simples, como tudo em Veneza. Simplicidade, delicadeza e beleza poderiam definir muito bem a cidade inteira. A placa acima da entrada exibia os dizeres “Gelateria Nico” e, ao lado, a imagem de um sorvete de morango com uma cereja decorando.


– Buon giorno! – saudou o homem atrás do balcão. Era impressionantemente magro e tinha os olhos mais escuros que Minerva já vira. Mal podia-se ver a pupila. Pareceria um pequeno buraco negro se não fosse caloroso e brilhante.


– Buon giorno! Parla inglese? – perguntou Álvaro.


– Sim, sim – respondeu o sorveteiro.


– Graças a Merlim! – exclamou Minerva – Não aguentava mais ficar perdida nas conversas.


– Graças a Merlim? Que engraçado! – disse o homem rindo.


– É, ela adora fazer uma piadinha – Álvaro disse, tentando arrumar a situação.


– Oh, isso é bom! As pessoas deveriam sorrir mais. Hoje entrou um grupo muito estranho aqui, todos sérios e encapuzados. Ingleses também, pelo sotaque. Um deles queria um sorvete de morango e uma moça ficou brigando com ele. Disse que um tal de Voodoo da Morte (apelido bem sem graça, se querem saber) não ia gostar de saber que eles ficavam passeando por aí, quando tinha que ir direto para Milão. Então um outro encapuzado falou para ela que ela não podia dizer o nome. O Lorde das Trevas não queria. Enfim, um bando de idiotas, se querem minha opinião. Se sorrissem mais, não seriam tão alienados. Francamente, Voodoo da Morte? Lorde das Trevas? Capa preta nesse calor?


Assim que o homem parou de falar, Minerva e Álvaro trocaram um olhar discreto e exasperado. Os Comensais estavam na Itália! Álvaro se recompôs rapidamente e respondeu:


– Concordo. Gente completamente estranha! Enfim, nós vamos querer dois sorvetes de, hmm, o que você quer, amor?


– De pêra! Meu tio-avô Herman disse que em Veneza se fazem os melhores sorvetes de pêra!


– Exatamente – exclamou o balconista – Não sei quanto aos outros estabelecimentos, mas aqui nós fazemos nossos sorvetes com pêra Williams!


– E o que tem de tão especial nessa pêra? – Álvaro quis saber.


– Ora, é a mesmo da famosa aguardente Poire, não sabia?


– Não, mas adoro Poire!


– E quem não adora? – retorquiu o homem, piscando um olho e lhes entregando os sorvetes – Aqui está! Exprimentem!


Minerva pegou seu sorvete e experimentou. Era o mais gostoso que Minerva já havia provado. Era de comer de joelhos de tão perfeito ao paladar.


– Oh, God! São ótimos, perfeitos, maravilhosos! – exclamou Minerva, encantada.


– Eu disse – respondeu o atendente, recebendo o dinheiro que Álvaro lhe passava.


– Realmente perfeito – disse Álvaro, e depois acrescentou para Minerva: – Acho que já devemos ir, amor.


– É, eu também acho.


Os dois deram tchau para o simpático e magrelo sorveteiro e voltaram a andar de mais dadas.


A lua já era visível no céu estrelado. À noite, Veneza se transformava completamente. O reflexo da lua cheia e das estrelas nas águas dos canais venezianos dava um toque especial na já encantadora cidade. Foram andando até a pousada em que tinham se hospedado. Já haviam terminado o sorvete quando chegaram. Ficaram parados na frente, admirando as estrelas e a lua. Álvaro apertou seus lábios nos de Minerva e eles se beijaram por um tempo que pareceu uma eternidade a Minerva. Era impressionante como Álvaro tinha o dom de fazê-la esquecer de tudo. Depois ficaram ali, os braços de Álvaro envolvendo Minerva enquanto conversavam sobre o que o sorverteiro tinha dito.


– Então, definitivamente Tom Riddle está envolvido – disse Minerva.


– É o que parece. Mas não temos como provar. Vou escrever para o Ministério, mas não acho que eles possam fazer muita coisa.


– Acha que deveríamos voltar?


– Voltar? Não, não acho que seja o caso. O moço da sorveteria disse que estavam indo para Milão. Não precisamos nos preocupar, eu acho.


– Certo. Venha, vamos subir.


Subiram as escadas vagarosamente, de mãos dadas. Minerva abriu a porta e entrou no quarto antes de Álvaro. Então se voltou para ele com um sorriso nos lábios, e com um gesto dos dedos convidou-o a entrar.


A luz do luar, que jorrava em cascatas pelas janelas abertas, enchia o aposento, brilhando sobre os móveis e realçando a brancura fascinante das cortinas e dos lençóis de uma cama deslumbrante. Não sentiam outros cheiros senão o aroma que exalavam as flores dos vasos de porcelana colocados sobre a madeira das delicadas mesinhas.


Minerva não disse mais nada; parou no meio do quarto, de frente para Álvaro.


Era outra mulher.


O rosto angelical e doce, que tanto impressionava Álvaro, se transformava completamente à claridade da lua: tinha agora uns toques ardentes e um brilho estranho que o iluminava. Os lábios finos e delicados pareciam inchados dos desejos que incubavam. Havia um abismo de sensualidade na respiração curta e sibilante, e também nas chamas que incendiavam seus olhos claros. O sangue, abrasando-lhe as veias, dava à pele branca reflexos de vida, que realçavam a radiante beleza.


Era uma transfiguração completa.


Enquanto Álvaro a admirava, Minerva, com a mão ligeira e ávida, soltava os botões que prendiam seu vestido e a presilha que prendia seu cabelo. Até que a presilha voou pelos ares e o coque dos cabelos negros rolou pelos ombros; o vestido, então, caiu a seus pés e Álvaro viu aparecer diante de seus olhos pasmos, cintilando à luz do luar, na magnificência de sua completa nudez, a mais bela mulher que habitava esse planeta.


Saiu alucinado! Seu olhar queimava; e, às vezes, parecia que iam estrangular um ao outro com seus braços, ou asfixiar-se com seus beijos, embora fossem extremamente delicados e cuidadosos.


Fora a melhor noite de suas vidas. A melhor e mais longa. A melhor e mais apaixonante. A melhor e mais perfeita. Nada, absolutamente nada, se comparava à perfeição daquele momento. A felicidade, por ora. Nem mesmo em seus mais loucos sonhos (ou seria melhor dizer pesadelos?) eles imaginaram o que estaria por vir.


 


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n/a: segundo capítulo arrumadinho e certinho. Não vai demorar muito para eu atualizar os outros. COMENTEM, meu povo! Por favor, x)




# She Wolf @ Shakira



Tinham parado em um beco perto da Basílica de São Marcos. Estava meio escuro, mas dava para ver todo mundo perfeitamente. O único som vinha de uma criança que estava chorando no colo da mãe. Passaram-se uns dois minutos quando uma luz fraca irrompeu de um pequeno corredor e um homem apareceu.


Ciao! MioQuestoaumentatononunagruppi per nonla attenzione, per favore – disse o homem, em uma mescla de inglês e italiano, apontando para o corredor de onde acabara de sair. nome é Marcello Fabocci. beco foi e os trouxas podem vê-lo. Façam fila e saiam em pequenos chamarem


Minerva e Álvaro ficaram mais ou menos no meio da fila. As pessoas saíam em grupos de dois ou, no máximo, três pessoas. Os primeiros a sairem foram dois velhinhos; sairam de mãos dadas. Minerva perguntou-se se algum dia seria assim para Álvaro e ela; velhinhos, de mãos dadas, juntos, até a morte. Logo após os velhinhos sairam dois homens, também de mãos dadas, e, em seguida, o casal com a filha que chorava. E então foi a vez de Álvaro e Minerva. Eles entraram no apertado corredor, que aos poucos foi se abrindo até mostrar a cidade.


A primeira coisa que os dois viram assim que deixaram o beco para trás foi a Praça de São Marcos, rodeada pela Basílica de São Marcos, o Campanile, a Torre do Relógio, o Museu Correr, entre outros. Várias pessoas estavam aglomeradas na Praça. Minerva olhou para trás e viu que o beco havia sumido. Piscou os olhos e mais um casal apareceu na frente da parede lisa e impertubável.


Virou-se novamente para frente e olhou ao seu redor. Chegar à Veneza pela primeira vez transforma as expectativas criadas em torno da cidade em sombras diante do espetáculo de cores e luzes que se espalha ao longo dos canais que desenham a malha urbana.


Minerva estava deslumbrada com tudo aquilo. Será que era possível existir no mundo outro lugar tão lindo quanto este? Parecia impossível.


Ela abraçou Álvaro e lhe deu um beijo. O primeiro na cidade dos apaixonados. O mais longo de suas vidas. Pelos menos foi essa a sensação que Minerva teve. Parecia estar beijando Álvaro há décadas. Com muito esforço os dois se afastaram e se olharam nos olhos.


– Eu te amo tanto! – disse Minerva – Você nem pode imaginar o quanto.


– Acredite, eu posso. Você é tudo para mim. Você é minha vida. Você é o que faz meu coração bater. Sem você eu não sou nada.


Eles continuaram a se olhar por mais uma eternidade. Minerva se perdia nos olhos de Álvaro. Pareciam duas esmeraldas, especialmente lapidadas pelos deuses para serem os olhos de seu anjo da guarda.


Foi Álvaro que rompeu o silêncio:


– Acho melhor procurarmos um lugar para deixarmos as malas. Depois podemos passear e conhecer a cidade. O que acha?


– Acho uma ótima ideia, meu anjo.


Ele segurou a mão de sua amada e os dois começaram a andar em direção á Praça, que era onde tinha o maior número de pessoas que poderiam lhe informar uma pousada por perto. Álvaro, que falava italiano fluentemente, foi quem conversou com as pessoas. Todos pareciam ser estrangeiros; já tinham falado com seis pessoas e todas pareciam estar mais desnorteadas que eles. Só obtiveram sucesso quando resolveram perguntar para um casal, cujo filho estava brincando nos jardins do Giardinetti Reali.


– Buon giorno! Parla inglese? – perguntou Álvaro, em italiano (Bom Dia! Fala inglês?).


– No, spiacente – respondeu o moço (Não, desculpe).


– Potrebbe dirmi se esiste un ostello qui vicino? – continuou Álvaro (Poderia me dizer onde há uma pousada aqui perto?).


– Oh, sì! Vi è il Canal Grande. Ci sono diversi ostelli circa il Canal – respondeu o moço, apontando na direção do Grande Canal (Oh, sim! Ali está o Grande Canal. Há várias pousadas ao redor do Canal).


– Grazie – (Obrigado!).


– Sei il benvenuto! – (De nada!).


Álvaro explicou rapidamente á Minerva o que eles tinham falado e depois eles andaram em direção ao Grande Canal.


Bem, não há melhor forma de definir o Grande Canal senão com uma única palavra: grandioso. As águas esverdeadas se moviam graciosamente enquanto os barquinhos deslizavam por sua superfície. Havia muitas pessoas (a maioria casais) e várias gôndolas. E, como o moço da Praça disse, havia também um grande número de pousadas por ali. Álvaro e Minerva decidiram-se pela pousada cor-de-rosa que sustentava um grande letreiro escrito: Ca' Rialto.


Quando entraram na pousada perceberam que tinham feito uma ótima escolha. Era tudo muito simples e jeitosinho: e era nessa simplicidade que se escondia o charme do local. Tudo era feito de madeira cor-de-rosa, até mesmo o vasinho com tulipas que ficava em cima da balcão. Uma porta lateral atrás do balcão e uma moça gordinha apareceu. A moça os atendeu alegremente e Álvaro conversou com ela em italiano. Depois, voltou-se para Minerva:


– Ela disse que tem apenas mais um quarto. Demos sorte – disse, piscando – Vamos!


Subiram rapidamente ao quarto e deixaram lá as mochilas. Mal viram como era o quarto, de tanta pressa que tinham de conhecer a cidade dos enamorados. Minerva só pôde reparar que tudo era tão delicado que parecia que ia quebrar ao menor sopro de vento. Perguntou-se se não seria melhor fechar as janelas, mas logo percebeu que essa idéia era totalmente sem sentido. Trocou rapidamente a roupa que estava pelo vestido rosa-bebê, com o auxílio de mágica, claro.


Ao saírem do albergue foram direto alugar uma gôndola para poderem realizar o sonho de qualquer casal. Escolheram uma pequena gôndola vermelha, cujo gondoleiro era português. O forte sotaque e o bigode o denunciara. Minerva e Álvaro sentaram-se no barquinho e o português começou o passeio.


– Andar nessas coisinhas sempre foi meu sonho, sabia? – disse Álvaro, passando seu braço em volta de Minerva.


– O meu também, literalmente. Sabe, quando a gente estava no primeiro ano de Hogwarts eu sonhei que eu estava andando em uma gôndola e que de repente eu caí na água. E então você apareceu e me salvou. Foi meu primeiro sonho com você e foi quando eu percebi que estava totalmente apaixonada por você.


– No nosso primeiro ano? Você era apaixonada por mim desde o primeiro ano?


– Sim. Mas aí no segundo ano você começou a andar com aquela nojenta da Disgrace McMayer. Certo, certo, era Grace McMayer. Mas, para mim, ela sempre será uma desgraça. Foi ela que me fez sentir como se eu tivesse perdido você para sempre.


– Para sempre? – riu-se Álvaro – Nós tinhámos doze anos e eu só andava com ela porque ela era a mais bonita da turma.


– Como é que é? – replicou Minerva levantando uma sobrancelha.


– Ah, qual é, Minnie? Você era tão envergonhada que eu mal podia te notar. Você ficava sempre escondida atrás de um livro, ou de um caldeirão ou de alguma amiga. Sempre que eu aparecia você saía correndo de mim. Você mesma me contou isso.


– É, isso é verdade. Eu era uma idiota.


– Era a idiota mais linda da escola.


– Enfim, como você passou a andar com a Disgrace, eu tentei te esquecer e, no terceiro ano, comecei a sair com o Chris Margon, mas ele começou a andar com aquele Tom Riddle, da Sonserina, e eu sempre achei que aquele moleque não era coisa boa.


– Falando nele, não eram os amigos (ou o termo certo seria gangue?) dele que se autodenominavam Comensais?


– Acho que sim. Você acha que podem ser eles os tais Comensais da Morte?


– Por que não? Aquele garoto Riddle era bem estranho. Principalmente depois que trocou de nome. Voldemort, que nome tosco! Não duvido nada que ele esteja por trás disso.


– Será que o Prof. Slughorn não sabe de nada? Ele adorava o menino.


– Não. Ele pode ser ambicioso, mas não é mal. Nunca se juntaria a um grupo desse tipo. E se Riddle tiver realmente alguma coisa a ver com isso tudo, não sairia falando para todo mundo.


– Bom, de qualquer forma, isso não é da nossa conta. Não agora, pelo menos. Vamos voltar a falar sobre nós. Afinal, a gente não pagou esse barquinho para ficar discutindo sobre quem são os Comensais da Morte.


– Você tem razão, meu amor. Então, você terminou com o Margon no terceiro ano mesmo e depois?


– Ah, depois eu acho que nunca mais saí com ninguém antes de você. Até porque, segundo o código universal das garotas, a gente não deve namorar com ex-namorado de amiga e a Jessica namorou todos os meninos possíveis do colégio. Como ela era minha melhor amiga, 90% dos meninos eram proibídos para mim.


– Jessica Hurley? A ruiva?


– Isso. Ela só não deu em cima de você porque sabia que eu ainda gostava um pouco de ti. E porque achava que você era gay.


– Ha! Ela achava que eu era gay?


– É, bem... Lembra daquele Gayle Gemma?


– Claro, ele sempre andava comigo.


– Então, ele eraménage à trois gay. Desde o nome até o fio do cabelo. E Jessica achava que vocês eram mais que amigos. Vivia me dizendo que rolava um entre vocês dois e a Disgrace. Ainda bem que ela estava enganada.


– E isso ficou claro no nosso último ano...


– Quando você tomou coragem para me convidar para sair.


– Fomos ao Madam Puddifoot...


– E demos nosso primeiro beijo.


– Foi a coisa mais sensata que eu fiz na minha vida, Minnie.


Os dois se aproximaram e se beijaram e depois não falaram mais nada até chegarem na Ponte Rialto, onde o gondoleiro os deixou. Álvaro pagou em euros trouxas e os dois partiram. A ideia era ir de gôndola e voltar a pé, admirando a cidade e os amantes e tudo que Veneza oferecia. Andaram de mãos dadas por uns vinte minutos, olhando tudo, maravilhando-se com tudo, sonhando, perguntando-se se havia algum lugar que pudesse ser mais perfeito para um casal.


– Quer um sorvete? – perguntou Álvaro quando passaram em frente a uma sorverteria.


– Claro, amor. Nenhum dia é romântico o suficiente sem sorvete.


A sorveteria era bem simples, como tudo em Veneza. Simplicidade, delicadeza e beleza poderiam definir muito bem a cidade inteira. A placa acima da entrada exibia os dizeres “Gelateria Nico” e, ao lado, a imagem de um sorvete de morango com uma cereja decorando.


– Buon giorno! – saudou o homem atrás do balcão. Era impressionantemente magro e tinha os olhos mais escuros que Minerva já vira. Mal podia-se ver a pupila. Pareceria um pequeno buraco negro se não fosse caloroso e brilhante.


– Buon giorno! Parla inglese? – perguntou Álvaro.


– Sim, sim – respondeu o sorveteiro.


– Graças a Merlim! – exclamou Minerva – Não aguentava mais ficar perdida nas conversas.


– Graças a Merlim? Que engraçado! – disse o homem rindo.


– É, ela adora fazer uma piadinha – Álvaro disse, tentando arrumar a situação.


– Oh, isso é bom! As pessoas deveriam sorrir mais. Hoje entrou um grupo muito estranho aqui, todos sérios e encapuzados. Ingleses também, pelo sotaque. Um deles queria um sorvete de morango e uma moça ficou brigando com ele. Disse que um tal de Voodoo da Morte (apelido bem sem graça, se querem saber) não ia gostar de saber que eles ficavam passeando por aí, quando tinha que ir direto para Milão. Então um outro encapuzado falou para ela que ela não podia dizer o nome. O Lorde das Trevas não queria. Enfim, um bando de idiotas, se querem minha opinião. Se sorrissem mais, não seriam tão alienados. Francamente, Voodoo da Morte? Lorde das Trevas? Capa preta nesse calor?


Assim que o homem parou de falar, Minerva e Álvaro trocaram um olhar discreto e exasperado. Os Comensais estavam na Itália! Álvaro se recompôs rapidamente e respondeu:


– Concordo. Gente completamente estranha! Enfim, nós vamos querer dois sorvetes de, hmm, o que você quer, amor?


– De pêra! Meu tio-avô Herman disse que em Veneza se fazem os melhores sorvetes de pêra!


– Exatamente – exclamou o balconista – Não sei quanto aos outros estabelecimentos, mas aqui nós fazemos nossos sorvetes com pêra Williams!


– E o que tem de tão especial nessa pêra? – Álvaro quis saber.


– Ora, é a mesmo da famosa aguardente Poire, não sabia?


– Não, mas adoro Poire!


– E quem não adora? – retorquiu o homem, piscando um olho e lhes entregando os sorvetes – Aqui está! Exprimentem!


Minerva pegou seu sorvete e experimentou. Era o mais gostoso que Minerva já havia provado. Era de comer de joelhos de tão perfeito ao paladar.


– Oh, God! São ótimos, perfeitos, maravilhosos! – exclamou Minerva, encantada.


– Eu disse – respondeu o atendente, recebendo o dinheiro que Álvaro lhe passava.


– Realmente perfeito – disse Álvaro, e depois acrescentou para Minerva: – Acho que já devemos ir, amor.


– É, eu também acho.


Os dois deram tchau para o simpático e magrelo sorveteiro e voltaram a andar de mais dadas.


A lua já era visível no céu estrelado. À noite, Veneza se transformava completamente. O reflexo da lua cheia e das estrelas nas águas dos canais venezianos dava um toque especial na já encantadora cidade. Foram andando até a pousada em que tinham se hospedado. Já haviam terminado o sorvete quando chegaram. Ficaram parados na frente, admirando as estrelas e a lua. Álvaro apertou seus lábios nos de Minerva e eles se beijaram por um tempo que pareceu uma eternidade a Minerva. Era impressionante como Álvaro tinha o dom de fazê-la esquecer de tudo. Depois ficaram ali, os braços de Álvaro envolvendo Minerva enquanto conversavam sobre o que o sorverteiro tinha dito.


– Então, definitivamente Tom Riddle está envolvido – disse Minerva.


– É o que parece. Mas não temos como provar. Vou escrever para o Ministério, mas não acho que eles possam fazer muita coisa.


– Acha que deveríamos voltar?


– Voltar? Não, não acho que seja o caso. O moço da sorveteria disse que estavam indo para Milão. Não precisamos nos preocupar, eu acho.


– Certo. Venha, vamos subir.


Subiram as escadas vagarosamente, de mãos dadas. Minerva abriu a porta e entrou no quarto antes de Álvaro. Então se voltou para ele com um sorriso nos lábios, e com um gesto dos dedos convidou-o a entrar.


A luz do luar, que jorrava em cascatas pelas janelas abertas, enchia o aposento, brilhando sobre os móveis e realçando a brancura fascinante das cortinas e dos lençóis de uma cama deslumbrante. Não sentiam outros cheiros senão o aroma que exalavam as flores dos vasos de porcelana colocados sobre a madeira das delicadas mesinhas.


Minerva não disse mais nada; parou no meio do quarto, de frente para Álvaro.


Era outra mulher.


O rosto angelical e doce, que tanto impressionava Álvaro, se transformava completamente à claridade da lua: tinha agora uns toques ardentes e um brilho estranho que o iluminava. Os lábios finos e delicados pareciam inchados dos desejos que incubavam. Havia um abismo de sensualidade na respiração curta e sibilante, e também nas chamas que incendiavam seus olhos claros. O sangue, abrasando-lhe as veias, dava à pele branca reflexos de vida, que realçavam a radiante beleza.


Era uma transfiguração completa.


Enquanto Álvaro a admirava, Minerva, com a mão ligeira e ávida, soltava os botões que prendiam seu vestido e a presilha que prendia seu cabelo. Até que a presilha voou pelos ares e o coque dos cabelos negros rolou pelos ombros; o vestido, então, caiu a seus pés e Álvaro viu aparecer diante de seus olhos pasmos, cintilando à luz do luar, na magnificência de sua completa nudez, a mais bela mulher que habitava esse planeta.


Saiu alucinado! Seu olhar queimava; e, às vezes, parecia que iam estrangular um ao outro com seus braços, ou asfixiar-se com seus beijos, embora fossem extremamente delicados e cuidadosos.


Fora a melhor noite de suas vidas. A melhor e mais longa. A melhor e mais apaixonante. A melhor e mais perfeita. Nada, absolutamente nada, se comparava à perfeição daquele momento. A felicidade, por ora. Nem mesmo em seus mais loucos sonhos (ou seria melhor dizer pesadelos?) eles imaginaram o que estaria por vir.


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