Hoje Não Tem Aula



Lílian andava apressada pelos corredores. Teria aula de Poções naquela manhã e estava atrasada. “Por quê, diabos, eu tive que acordar tarde justamente hoje!?” perguntou-se mentalmente a garota que cursava o sétimo e último ano de Hogwarts.



Enquanto quase desabava escadas a baixo a caminho das masmorras, seus longos cabelos acajus esvoaçavam livres e alegres, hora formando magníficas ondulações nas pontas, hora ficando lisos como se a menina acabasse de ter tirado a cabeça de dentro de um barril com água.



Estava imersa em seus pensamentos sobre as aulas que teria naquele dia que acabou por não ver a pessoa que vinha em sua direção, aparentemente também imersa em seus pensamentos, quando, sem nenhum aviso, os dois se chocaram.



- Oh, perdão! – desculpou-se Lily, que caiu, literalmente, de bunda no chão. Olhou para cima mas não viu ninguém, então olhou para a sua frente e viu uma cabeça repleta de cabelos negros e ensebados e uma mão particularmente asquerosa a acariciar a cabeça.



O garoto ergueu os olhos preenchidos de rancor para fitar Lílian, mas ao encontrar as esmeraldas reluzentes que substituíam as íris dos olhos da ruiva, aquele sentimento foi expulso não só de seu olhar em questão de poucos segundos.



- Sem problemas, Evans. – disse o garoto, levantando-se e tentando se livrar da poeira que agora cobria algumas partes de suas vestes. – Apenas olhe por onde anda da próxima vez.



- Me desculpe, Snape. – disse a menina. – É que estou realmente atrasada para a aula de poções e... – a menina parou de falar por um instante. – Você tem aula de poções comigo! Por quê não está na aula, Snape?



- Porque hoje não tem aula, Evans. – respondeu o garoto com voz mansa.



- Como ‘hoje não tem aula’? – perguntou Lílian, desconcertada, parando de engatinhar chão afora para pegar seus pertences espalhados pelo corredor.



- O professor de poções não está passando bem, Evans. – respondeu Snape rispidamente.



- Ah, certo, certo... – e voltou a se perder em seus pensamentos.



A menina só voltou a realidade quando, logo após de ter terminado de recolher suas coisas, viu a mão do Sonserino estendida em sua direção para ajuda-la a se levantar. Lílian estava fitando a mão do colega quando ouviu vozes no corredor e, para não ser vista caída no chão, num gesto rápido estendeu a mão para receber a ajuda de Snape.



Tiago, à frente de seus amigos, virou o corredor e não acreditando no que via, parou de chofre, com a boca aberta. O ato imediato fez com que Sirius se chocasse com as costas de Tiago e cambaleasse uns dois passos para o lado.



- Ae Pontas, o que... – Sirius calou-se de repente – Não preciso nem terminar. Aluado, vem cá ver.



Remo aproximou-se do amigo bem no momento que Tiago abriu a boca para falar:



- Evans! Snape! O que vocês pensam que estão fazendo!? – gritou o menino, perplexo em ver Lílian e Snape de mãos dadas, apesar da menina estar sentada no chão. – Larga ela agora, Snape, se você não quiser sofrer as conseqüências. – ameaçou Tiago, apontando a varinha para o garoto.



- Está com ciúmes, Potter? – provocou Snape.



- Largue-a agora. – repetiu Tiago, a voz levemente trêmula.



- Ótimo. – respondeu Snape, largando a mão de Lílian e limpando-a em suas vestes. Virou-se e foi embora pelo corredor lateral.



- E então, Evans? O que vocês estavam fazendo? – perguntou Tiago, lívido. Os belos olhos do garoto apresentavam a fúria diluída em suas íris enquanto eram fitados pela garota que estava sentada no meio do corredor, imponente.



- O que eu faço ou deixo de fazer não é da sua conta, Potter. – começou Lílian, enquanto se levantava. O olhar penetrante de Tiago estava começando a deixa-la mal, com um sentimento de culpa, então, rompeu o contato entre seus próprios olhos e os tão belos e convidativos olhos castanho do garoto. – E eu não preciso da sua arrogância pra me defender!



- Oras, Evans, isso foi um favor. – disse Tiago.



- Um favor desnecessário. – replicou Lily. Limpou suas vestes e passou rasante por Tiago e pelos outros Marotos, que continuaram a observá-la por cima de seus ombros.



- Mal, Pontas – disse Sirius. – Você, mais do que ninguém, conhece a Evans. Ela distribui patadas todos os dias e, calculando, você é o que mais leva.



- Esquece, Almofadinhas. – disse Tiago, virando-se para os amigos e passando a mão nos cabelos, arrepiando-os. Um sorriso traiçoeiro surgiu em seus lábios. – Ela está se rendendo... Um dia, ela será minha...



- Antes, ela tem que aceitar sair com você! – acrescentou Pedro, animado.



- Nem mais uma palavra, Rabicho, se não quiser levar coices do veadão galanteador! – brincou Sirius, apontando Tiago com a cabeça.



- Vambora galera, aula de poções agora! – disse Tiago alegremente. – Hei, a Evans cursa poções conosco! Se a sala de poções é no fim do corredor, por quê ela foi pra lá!? – perguntou Tiago, apontando para o corredor que Lílian usara para se distanciar deles.



Não precisaram caminhar muito para conseguirem ler o aviso pregado na porta da sala de poções: NÃO HAVERÁ AULA DE POÇÕES DURANTE O DIA INTEIRO.



- E aqui esta a nossa resposta, Pontas. – disse Remo, arrumando a mochila nas costas. – Então temos a manhã livre...o que querem fazer?



- A resposta não é óbvia, Aluado!? – disse Sirius, os olhos negros preenchidos de uma coisa que ninguém conseguiria explicar detalhadamente, mas que apenas uma palavra resumia tudo: travessura.



Uma rápida troca de olhares entre Tiago e Sirius e Remo disse:



- Deixem-me adivinhar a próxima vítima: Snape.



- De fato Aluado, você é muito inteligente, um monitor exemplar – começou Tiago. – A nossa sorte é que você não se espelha na Evans ou simplesmente já desistiu de tentar nos controlar, como o velho Dumbledore quer.



- Ah, Pontas, creio que nenhuma das duas opções estão certas. – respondeu Remo, alegremente. – Acho que a resposta correta seria dizer que eu não os impeço pelo simples fato de me divertir com as brincadeiras de vocês.



- Ah se a Evans te pega falando isso, Aluado! – brincou Sirius.



*~*~*



Lílian andava com passos largos pelo corredor. Instantes depois, subia as escadas de dois em dois degraus. Pisava forte como se estivesse pisando em suas dúvidas, querendo esmagá-las, se livrar delas... mas Lily sempre andava com muitas dúvidas na cabeça e sabia lidar particularmente bem com elas, então, por quê essas dúvidas Lily queria esmagar?



‘Maldito Potter! Sempre ele. Sempre o arrogante menino Potter. O Brilhante Potter, apanhador da Grifinória. O Potter galanteador, que tem o coração de qualquer menina ao seu alcance. O metido Potter, que vive a atazanar a minha vida!’



Lílian parou repentinamente, ao pé da enorme escadaria que ligava os corredores e menores escadas às masmorras e o saguão de entrada. Ajeitou os livros que levava abraçados em seus peitos pelos dois braços apenas no esquerdo, e quando sentiu que daquela maneira eles estavam seguros, deu um forte tapa em sua testa.



- Pare já de pensar nele, Lílian Evans! – disse à si mesma, embora num tom de voz alto.



- Nele quem, Lily? – uma bela garota de cabelos castanhos claros e olhos de um negro aveludado parou ao seu lado e encarou-a.



- Ah, olá, Roxanne. – disse a ruiva. – Tudo bom?



- Tudo ótimo, mas vejo que para você as coisas devem estar um pouco embaraçadas para tentar mudar o rumo da conversa não? – perguntou Roxanne, erguendo uma das sobrancelhas como alguém que duvida de algo. Não deixou que Lílian respondesse. – E então, quem ser ‘nele’?



- Ah Rox...- começou a menina. – É uma longa história...



- Presumo que seja, mas você vai economizar sua saliva se me disser apenas a palavra chave em vez de contar a história inteira.



- E que ‘palavra-chave’ é essa? – perguntou Lily, fingindo curiosidade inimaginável.



- Em quem você estava pensando? – perguntou Roxanne, como se a própria vida dependesse daquela resposta.



- Ah, Rox... – hesitou Lily, abaixando os olhos para os livros que carregava.



- ‘Ah’, pelo que eu saiba, não é nome de ninguém. Pelo menos aqui em Hogwarts nunca soube de alguém que se chame ‘Ah’. – disse Rox, o sarcasmo não se dando ao trabalho de se esconder entre as palavras da menina.



- Ok, ok, com você não dá pra criar nem o clima de rodeio né? – Roxanne afirmou com a cabeça. – Puf...era o...Potter. – declarou Lily, como se acabasse te ter perdido uma coisa valiosa.



- Haa, como eu sou burra! – disse a morena, imitando o gesto da amiga e batendo a mão na testa.



- Quê!? Você, burra!? Por quê? – surpreendeu-se Lílian.



- Tá escrito na sua testa que só podia ser o Potter, Lily! – começou Roxanne – Nem vem que num tem! – disse a garota, quando viu a boca de Lílian se abrir para responder e, pelo jeito, uma resposta das boas, como só ela sabia dar. – Nem vem! Você diz que detesta o Potter mas ta ai na tua cara que você ama ele! E nem grinalda vai esconder isso no dia do casamento de vocês!



- Fique quieta, Roxanne! Você, mais do que ninguém, deveria acreditar no que eu digo! – respondeu rispidamente a ruiva, corando um pouco.



- Ah, e quem disse que eu num acredito!? Bom, é...em algumas coisas que você fala eu não acredito, realmente, porque a resposta verdadeira brilha nessas jóias de olhos que não mentem, Lily! – disse Rox – Bom, calculei errado, a palavra chave não me dava resposta completa, só meio caminho andado, então pode começar a gastar a sua saliva me contando a história! Ah claro, a não ser que você queira guardá-la para trocar com o Potter! – um ar travesso emanou sobre a menina, apesar do olhar de reprovação de Lílian.



- Só te conto se não fizer mais nenhum comentário engraçadinho. – respondeu Lily, ríspida.



- Ok, ok, a curiosidade venceu! Conte, não vou fazer nenhum ‘comentário engraçadinho’ , prometo. – disse Roxanne


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