Capítulo 3 - As Crianças Desap

Capítulo 3 - As Crianças Desap




Capítulo 3 - As Crianças Desaparecidas


'E como foi lá?' Perguntou uma voz feminina que Hermione reconheceu como sendo de Leslie. Parecia conversar com Rose.


'A gente foi bem, mas Hermione mais uma vez me salvou de Riddle, e por interferir no duelo, perdermos.' Comentou a monitora um pouco desapontada.


'Eu achei que realmente teríamos chances.' Falou a loira também desapontada. Hermione respirou fundo, mas fingiu continuar dormindo. Estava com os olhos fechados, e sua cabeça parecia girar sem fim. Seu corpo tremia ao se lembrar da voz de Tom Riddle em seu ouvido esquerdo. "É uma promessa!". Assim como a promessa que ela tinha feito com Harry.


'É, mas ainda estamos no meio do semestre, e tenho certeza que se Hermione ficar conosco por todo o ano letivo, podemos conseguir a Taça de Campeão.'


Ficar por todo ano letivo? Ela não podia ficar por todo o ano letivo, precisava voltar ao seu tempo, seu amigos! Hermione realmente considerava a possibilidade de falar com Dumbledore, e esperava que ele a ajudasse, ou ao menos a aconselhasse em algo, no que ela poderia fazer para cumprir aquela promessa. Ela não poderia matar Riddle ali em Hogwarts embaixo do nariz de Dumbledore e menos ainda de Dippet. Sem contar que o garoto passava o tempo todo junto a Malfoy. Como iria afastá-los?


'Tudo bem, Hermione, pode-se levantar, Leslie já foi.' Disse Rose de repente depois de alguns minutos.


Ela abriu os olhos e fitou a monitora curiosamente. 'Como sabe que eu estava acordada?'


'Porque sua respiração é diferente de quando está acordada e quando se está dormindo.'
Hermione piscou os olhos e respirou fundo. 'Desculpe por ontem'. Pediu honestamente Rose.


Hermione piscou os olhos sem entender. 'Por quê?'


'Ah, eu fiz você duelar com o Malfoy só por causa de pontos e quase coloco você e o Hugo na maior encrenca.'


Hermione sorriu e negou com a cabeça. 'Tá tudo bem, Rose. Já vivi coisas piores, e sei que não fez isso só por pontos, fez porque quer mostrar a eles que pode ser melhor mesmo sendo grifinória, não é?'


'É... Mas também porque você pareceu realmente mal por ter perdido o duelo. Desculpe pela pressão'.


Hermione abraçou o travesseiro fofo que estava em suas pernas. Mal? Não estava mal por ter perdido o duelo, estava horrorizada pelo que Tom Riddle poderia fazer com ela! E o pior de tudo isso é que não podia contar a ninguém! Tinha que viver com aquilo, e a cada dia que passava naquela época, Hermione ficava mais desesperada. Como ela conseguiria lançar um AvadaKedavra em Riddle, sem que ninguém visse? Além disso, Hermione não saberia dizer se ela retornaria á sua época depois de matá-lo. Precisava saber primeiramente como retornar ao presente e depois faria o que tinha de fazer. Só quando descobrisse a forma de voltar para casa poderia matar Riddle.


Então Hermione percebeu que Rose estava sentada em sua cama, terminando de amarrar as botas. 'Pra onde vai?' Perguntou ao ver que Rose estava arrumada pra um dia de sábado em Hogwarts.


'Ué, iremos conhecer o vilarejo.'. Falou como se fosse óbvio.


'Hogsmeade?'


'É. Você não escutou quando o diretor Dippet avisou?'


'Não.'


'Devia tá tendo seus devaneios.' Falou indo até o malão dela para pegar uma escova. ' Você não vai?'


'E já acabaram de construir?'


'Todo ainda não, mas já fizeram algumas lojas e bares por lá. Segundo professor Dumbledore é um bom local pra passear'.


Hermione respirou fundo ainda um pouco cansada. Não queria ir, já sabia como seria Hogsmeade, mas também não queria ficar sozinha em Hogwarts sem seus amigos. Não era tão seguro como costumava ser nos anos 90. 'Acho que sim. Será legal dar uma respirada.'


Hermione levantou-se da cama, tirou algumas roupas da caixa que Dumbledore lhe deu – que ela transformara num malão – e foi para o banheiro para tomar banho. Ao terminar, desceu para o Salão Comunal ao lado de Rose. Leslie e Presto estavam sentados no sofá vermelho conversando sobre Quadribol.


'Onde estão os outros?' Perguntou Rose curiosa para os grifinórios que ali estavam.


'Fox e Hugo não vão. ' Respondeu Eric ajeitando os óculos retangulares do rosto. 'Fox vai fazer os testes para os novos jogadores hoje à tarde, e o Hugo vai tentar a vaga de batedor.'


'Ele deve estar realmente enfezado'. Comentou Rose e Hermione percebeu que ela estava falando de Fox. 'O jogo foi ontem e ele já agendou testes. Então, saiu mesmo do time, hein, Presto?'


Eric pareceu um pouco desapontado por ter saído do time.


'Sim, mas até que ele está aliviado. Fox é meio cego quando se trata de Quadribol e ele prefere ter aquele idiota do Terry, porque é bom batedor, do que tirá-lo'. Disse Leslie com uma careta no rosto.


'Sim, estávamos falando sobre o Terry ontem. Ele foi horrível com o Hank e Andy. Alguém precisa fazer alguma coisa!' Eric disse sentido.


'Sugeri veneno'. Adicionou Leslie e o garoto riu também com Hermione.


'Acho melhor irmos para o Hall. Os professores devem estar nos esperando.' Falou Rose chamando a todos que ali estavam. Leslie e Presto levantaram-se do sofá onde estavam sentados e juntos, os quatro saíram do Salão Comunal da Grifinória em direção ao Great Hall do castelo.


Quando lá chegaram, Hermione se assustou com a pequena quantidade de alunos que decidiram visitar Hogsmeade. Em torno de 25 alunos. A maioria era da Grifinória e Lufa-Lufa. Pôde perceber que do sétimo ano da Sonserina, só iria Malfoy e Tom Riddle. Hermione engoliu em seco ao lembrar-se involuntariamente da 'promessa' que o garoto fez em seu ouvido. Professor Dumbledore estava no centro do Grande Salão, e parecendo um pouco desapontado com a quantidade de alunos. coçou a barba.


'Bem menos do que eu esperava...' Disse surpreso. 'Bom, iremos conhecer apenas alguns lugares de Hogsmeade. Há somente alguns lugares para vocês visitarem, embora os mais famosos sejam o bar chamado Três Vassouras, a loja de brincadeiras Zonko's e a Dedos de Mel. Peço que não se afastem de seus companheiros, pois poderão se perder. Nosso guarda-caça, Basil Ogg, irá acompanhá-los nesta agradável tarde de sábado. Desejo uma boa tarde e um bom passeio a todos vocês.'


Hermione sentiu uma profunda vontade de subir as escadas e voltar pra cama, mas Leslie parecia animadíssima com a Zonko's e Rose com a Dedos de Mel. Saíram em direção ao jardim onde Ogg já estava esperando pelos alunos com as carruagens devidamente preparadas.


Subiram na terceira carruagem e Hermione percebeu que não muito distante, estavam Malfoy e Riddle, dividindo uma carruagem com mais dois garotos da Sonserina que pareciam ser mais novos, talvez do quinto ano.


Estavam no meio de outubro e no meio do outono, as árvores já estavam com as folhas secas, e o caminho de Hogsmeade estava coberto por uma fina camada de névoa. Estava um pouco frio e por isso Hermione usava um cachecol e um par de luvas.


Leslie comentava mais uma vez sobre suas roupas para Rose, que mais uma vez não parecia gostar do estilo muito 'informal' da menina. Hermione também descobriu que Leslie morava com seus únicos tios paternos depois que os pais morreram na Guerra, e que ambos sempre deram apoio ao estilo da garota, e até pedia para a menina passar a fazer algumas apenas para vender. Pareciam que haviam feito uma loja de roupas perto onde moravam.


Ao chegarem em Hogsmeade, Hermione tomou um susto. Os alunos de Hogwarts que decidiram conhecer o vilarejo eram mínimos, verdade, mas ela ao mesmo tempo nunca viu Hogsmeade tão cheia de gente. Havia pessoas por todos os lugares. Idosos, crianças, mulheres...


'Fugitivos de guerra.' Avisou Rose com a voz baixa e Hermione piscou os olhos tristes em mais uma vez lembrar-se daquela guerra. Não sabia qual era a mais triste, aquela Guerra ou a Guerra criada por Voldemort.


Hermione, Rose, Leslie e Presto desceram da carruagem e passaram a caminharem entre os becos do vilarejo. Ao chegarem ao Três Vassouras, Hermione percebeu que estava realmente muito cheio e então, pediu desculpas aos amigos, e disse que ia ficar do lado de fora por ter tanta gente no bar. Mesmo assim, os três amigos quiseram conhecer e, por fim, entraram no bar. Hermione apenas disse que esperaria do lado de fora por eles.


Ela sentou-se num banco perto do bar e ficou a observar as pessoas que por ali passavam. Muitos pareciam aliviados por agora terem um local seguro onde ficar, sem serem alvo de bombas ou trincheiras.


'Ainda acho que você devia falar com ele.' Disse uma menina perto de Hermione e a castanha logo viu duas garotas sentarem-se ao seu lado naquele banco. Ah, conversas de garotas sobre garotos... Hermione revirou os olhos um pouco sem jeito. Era não ela de falar sobre aquelas coisas, até porque seus melhores amigos eram homens e ela não tinha como conversar sobre aquilo com eles. Além dela realmente não ser do tipo de garota que comenta sobre meninos o tempo inteiro. Ás vezes conversava com Gina, mas apenas quando a ruiva puxava o assunto porque ela ainda se sentia envergonhada.


'Acho que ele vai me dar um fora.' Rebateu a outra parecendo desapontada. Hermione respirou fundo. 'Ele é sempre frio conosco.'


'Mystin, não vai saber se não tentar. Você não disse que faria qualquer coisa para namorar com ele? Diga a ele que gosta dele, talvez assim ele possa mostrar seus sentimentos. Riddle sempr-'' Hermione sentiu uma contração em sua traquéia e tossiu forte involuntariamente ao lado das duas garotas. 'Você está bem?' Perguntou uma das meninas e Hermione não respondeu, por ainda estar tossindo, embora de forma mais leve.


A castanha então colocou a mão direita sobre o peito e respirou forte, sentindo-se ainda um pouco com dificuldade respiratória. 'Sim, estou bem. Acho que não me cobri o suficiente, posso sentir que estou a ficar resfriada'. Mentiu a garota um pouco sem jeito. As duas garotas então se levantaram do banco, talvez com medo de pegarem o resfriado que supostamente ela tinha, e foram embora, caminhando lado a lado em direção à Dedos de Mel. Hermione respirou fundo e mais uma vez seu coração se encheu de angústia. Talvez até pela garota aparentava gostar de Riddle, já que o garoto provavelmente não retribuiria o sentimento.


Ela mais uma vez puxou o ar para os pulmões e logo viu o Guarda-caça sentado em um banco sozinho, um pouco afastado de onde ela estava e Hermione decidiu ir até lá para falar com ele. Agora visto de frente, ele realmente não lembrava Hagrid. Era grande, mas magro, de nariz torto e feições um pouco bárbaras. Usava um chapéu marrom sobre a cabeça, fazendo-o parecer mais um dos fugitivos da guerra do que o Guarda-caça e Guarda-chave dos terrenos de Hogwarts.


'Huh, Sr. Ogg, por que está tão cheio de gente se ainda não acabaram de construir' Perguntou com uma voz triste já sabendo qual resposta poderia vir.'


'É para os fugitivos de guerra. Aqui em Hogsmeade, estão sendo construídas estalagens e pousadas. Até orfanatos. É apenas um local de segurança para os que chegam.'


Hermione sabia que aquilo era só durante a Guerra. Na sua época, não tinha conhecimento dessas estalagens, pousadas e orfanatos.


'Onde fica esse orfanato, senhor Ogg?'


'Ah, fica um pouco mais distante, mas é por ali. Dá pra ver daqui.' Disse apontando o dedo gordo pro lado oposto ao que Hermione estava. Hermione franziu a testa ao reconhecer a Casa dos Gritos.


Ela apontou para a casa. 'Aquele é o orfanato?'


'Sim. Ele pertencia à cidade de Glast Heim, que não é muito longe daqui, mas ela foi destruída pelos bombardeiros há alguns anos, então transformaram a casa em um orfanato. A partir de então, o Ministério teve a ideia de construir Hogsmeade.' Hermione piscou os olhos castanhos e mais uma vez fitou a Casa dos Gritos. 'É triste esta Guerra, não é? Mesmo sendo Trouxa, nos atinge como se fossemos vítimas. Acho que nem no mundo bruxo poderá surgir uma guerra tão triste como essa...'


Hermione não soube o que dizer ao homem e por isso entortou um pouco a boca. Ela logo reconheceu a voz de Rose que a chamava com dois copos que pareciam de ser cerveja amanteigada nas mãos.


'Vá se divertir. Está aqui pra isso.' Relembrou o guarda-caça dando um tapinha nas mãos de Hermione. A menina apenas sorriu e foi até a menina.


'Já bebeu isso?' Perguntou empurrando o copo de cerveja para Hermione. 'É muito bom!'


'Onde estão Eric e Leslie?' Ela perguntou curiosa ao perceber que os dois não estavam por ali.


'Leslie estava doida pra ir na Zonko's, enquanto Presto quis comprar alguns doces.' Respondeu a monitora terminando de beber a cerveja amanteigada.


Ao virar o rosto para a Zonko's, reconheceu Leslie sair da loja com sorriso no rosto. Nas mãos de Leslie, Hermione percebeu um potinho que parecia ser enchido com bolinhas coloridas.


'O que é isso?' Perguntou Rose com o cenho franzido.


'Bolinhas coloridas, ué.' Hermione notou que não eram só bolinhas coloridas. Eram algum tipo de bombinhas coloridas. Hermione se lembrou das Gemialidades Weasley. Se Leslie fosse da sua época seria uma boa amiga dos gêmeos.


'É melhor irmos para um lugar menos movimentado.' Disse a loira e logo Rose confirmou com a cabeça. Então as três meninas passaram a caminhar pelo vilarejo à procura de um local mais vazio.


'Não é melhor avisar ao Presto?' Perguntou Hermione insegura.


'Por quê?' Indagou Rose a Hermione curiosa. 'Ele não é burro, saberá que saímos e assim nos procurará.'


'É, mas não é legal sair sem se avisar. Ele pode ficar preocupado.' Tentou a castanha mais uma vez.


'Você avisa tudo pra todo mundo?' Continuou Rose dando de ombros.


'Não, é só que não legal você sair sem avisar.' Repetiu Hermione acompanhando a garota. Ela olhou para trás e viu mais pessoas chegarem à loja Dedos de Mel. 'Além disso, ele não ficará sozinho-'


Hermione parou de falar, pois algo bateu forte nas suas pernas fazendo-a cair. Ela fez uma careta de dor pelas mãos que arderam ao baterem no chão gélido, mas logo levantou, limpando-se. Virou-se e viu um garotinho que parecia ter menos de oito anos. Estava com as roupas mais compridas que seu próprio corpo e sujas.


'Quem é você?' Perguntou Hermione surpresa por aquele garoto estar ali. Parecia assustado. 'O que está fazendo aqui?'


'Precisam me ajudar.' Ele disse olhando para as três meninas. Ele era pálido, tinha algumas cicatrizes no rosto, finas e até discretas se não vista de muito perto. Os olhos eram castanhos escuros e possuía olheiras fortes e negras. Os cabelos estavam bagunçados e arrepiados, dando a ideia de que ele parecia pertencer a alguma daquelas estalagens.


'Ajudar?' O tom de voz de Leslie parecia ser de preocupação e Hermione trocou olhares com Rose que parecia não saber bem o que fazer.


'Sim, eles querem me pegar.. e eu não quero voltar pra lá!' Ele reclamou alto.


'Garoto, precisa voltar pra casa.' Falou Hermione um pouco insegura. 'É mais seguro.' O garoto soltou um gemido e abraçou as pernas de Hermione mais forte.


'Vamos, menino, precisa voltar pra casa.' Repetiu Hermione tentando ser o mais suave possível.


'Talvez ele não tenha casa.' Falou Leslie. 'Aqui não tem residências, tem?'


'Bom, mas ele precisa voltar onde estava.' Complementou Rose. 'Não pode ficar por aqui.'


O garoto soltou as pernas de Hermione e correu para o lado oeste, longe do vilarejo, das meninas e da Casa dos Gritos. Leslie coçou a cabeça confusa. Então, Hermione, Leslie e Rose subiram um pequeno morro que havia por ali e sentaram sobre o banco vago. Após alguns minutos, uma mulher chegou perto delas. Era velha, já com rugas, de olhos pequenos, e tinha cara de poucos amigos.


'Viram um garotinho passar por aqui?'


Hermione ia responder quando Leslie disse primeiro. 'Não.'


'Tem certeza?' Indagou a mulher parecendo desconfiada.


'Absoluta.' Disse Leslie tentando parecer firme. Hermione franziu a testa confusa quando viu a mulher sair e subir o morrinho para a direção noroeste, onde se encontrava a Casa dos Gritos. Segundo sr. Ogg, era um orfanato. Então o menino era órfão.


'Ele é órfão.' Disse Hermione baixinho.


'Ele é órfão?' Leslie pareceu triste ao saber disso. 'Bom, então acho que temos mesmo que avisar a mulher.'


'Pois é.'


'Mas ela nunca vai encontrá-lo!' Esbravejou Leslie batendo as mãos nas pernas.


'Nem vem, Leslie. Não vamos atrás dele!' Rebateu Rose cruzando os braços.


'Ah, tudo bem, então! Fiquem aí sem se importar com o menino órfão!' Falou a loira indignada caminhando para onde o menino havia ido outrora.


'Mas o que diabos... 'Começou Rose. 'Hermione, faça-a desistir dessa ideia maluca.'


Hermione levantou os ombros. 'Desculpe Rose, mas você é mais amiga de Leslie do que eu. E se ela não escuta você, a mim é que não escutará'. Rose fechou os olhos e respirou forte, parecendo com raiva, e Hermione levantou-se do banco pronta para seguir Leslie. 'E se não formos atrás dela, ela poderá se perder...'


'Ah que ótimo! Você e sua mania de salvar todo mundo... Vamos lá salvar um moleque que nem conhecemos...'


As três andavam uma atrás da outra, com Hermione em retaguarda, sendo a última das meninas. Costumava olhar para trás a todo momento para verificar onde estavam indo e a qual distância estavam tomando de Hogsmeade. Olhava pro céu e pro relógio a todo instante para não perderem a hora. Precisavam voltar antes que Basil Ogg partisse com as carruagens. Ele havia prometido que ás seis voltariam para Hogwarts. Eram quatro e quarenta dois.


O caminho, ao longo de mais ou menos quinze minutos, passou a se tornar pedroso e não demorou muito para depois começaram a ver alguns pilares de pedras caídos pelo chão. Hermione franziu as sobrancelhas quando atravessaram um arco de pedra. As luzes alaranjadas do Sol entravam pelas brechas entre as grandes e grossas árvores. Alguns bancos de madeira se tornaram visíveis, mas só estavam pela metade, estilhaços de vidros estavam espalhados pelo chão contracenando com as árvores. Uma torre caída logo chamou a atenção das meninas.


'Mas que lugar é esse?' Perguntou Leslie assustada.


'Glast Heim.' Respondeu Rose. 'Foi bombardeada há quase dois anos e nunca tentaram reconstruí-la. Então ficou abandonada se tornando uma cidade fantasma.'


Então aquela era a cidade que o sr. Ogg havia falado. Glast Heim.


Continuaram a andar, adentrando mais na tal cidade misteriosa. Estava realmente fantasma, não havia uma simples pessoa naquele lugar. Havia torres caídas, estilhaços de vidros, papéis, pergaminhos, ferro e vários outros. Hermione notou que deveriam estar em algo perto de um bosque, que pertencia à cidade, mas quase totalmente destruído, pois não era raro ver árvores caídas, com pedaços de concreto, vidros e pedras. Quando atravessaram mais um arco alto de pedras, viram uma névoa rodear o que parecia ser uma praça daquela cidade. Leslie diminuiu a névoa com um feitiço. Hermione sentiu os pêlos do corpo de arrepiarem quando pareceu sentir um vulto passar por trás. Ela virou-se e ficou aliviada em não ver ninguém. Olhou para o relógio em seu pulso esquerdo. Cinco e dez.


'Gente, ás seis, Ogg vai voltar para Hogwarts. São cinco horas. Precisamos voltar.' Avisou Hermione ansiosa.


'A gente procura ele até as cinco e meia.' Falou Leslie, mas a loira se encontrava nitidamente com medo.


'Por mim, a gente voltava agora.' Disse Rose coçando a cabeça. 'Aliás, por mim, nem aqui a gente estava.'


Estacaram de repente quando ouviram um uivo perto dali. Morcegos saíram de dentro de suas casas nas copas das árvores grossas. Hermione sentiu a respiração começar a falhar. O ar gélido e frio passou a acompanhar o local e a castanha sentiu a pulseira de prata em seu pulso direito gelar-se mais uma vez. Outra vez sentiu um vulto passar por ela. Seriam Poltergeists? Leslie soltou um gemido, o que chamou a atenção de Hermione. Ela olhou pra menina à sua frente e viu que estavam no que se parecia ser uma praça. Á frente tinha uma fonte d'água. Parecia ser a única coisa que estava inteira na cidade. A água jorrava do centro do chafariz como se nunca tivesse sido bombardeada. Então, Hermione viu acima, dementadores.


'Dementadores?' Indagou Hermione sentindo as pernas tremerem. 'O que eles estão fazendo aqui?'


'Dementadores são comuns em cidades fantasmas.' Respondeu Rose engolindo em seco. Ela recuou dois passos se colocando ao lado de Hermione. Leslie também recuou assustada.


Os dementadores pareciam ter visto as três meninas e passaram a descer. Hermione recuou mais passos e ela sentiu a respiração falhar quando um passou por cima de sua cabeça. Ela levantou a varinha e disse 'Expecto Patronum', mas nada aconteceu. "Vamos, funcione!" Pensou irritada. 'EXPECTO PATRON-' Hermione sentiu uma espécie de dor e seus ouvidos pareceram surdos. Sua cabeça girava e seu corpo tremia de frio.


'Preciso de ajuda! Vamos... Tentem.' Ela pediu para as duas meninas. Mas ambas pareciam tão mal quanto ela. Estavam caídas e tentavam se levantar sem sucesso. Hermione trancou os dentes e suas pernas amoleceram, fazendo-a cair no chão. "Harry..." Ela pensou. Harry sempre fora melhor naquele feitiço do que ela, e agora que precisava da ajuda dele, não poderia ter. "Harry...Ron.." Hermione abriu os olhos e apontou a varinha mais uma vez para os dementadores acima de sua cabeça. 'EXPECTO PATRONUM!'


A lontra de Hermione saiu de sua varinha e afastou os dois dementadores que estavam próxima a ela. Hermione, tremendo, levantou-se do chão e viu que havia mais dementadores, eles estavam próximos a Rose e Leslie. Ela apontou a varinha mais uma vez para os dementadores, disse 'Expecto Patronum', mas piscou os olhos castanhos ao ver que um patrono sem forma atingiu um dos dementadores. Ela correu para onde as meninas estavam deitadas no chão.


'Vocês estão bem?' Ela perguntou engolindo em seco. Ainda tremia de ansiedade, frio e angústia pelos dementadores.


Rose e Leslie respiravam fortes enquanto suavam frio. Hermione sentou ao lado das meninas quando percebeu que os dementadores haviam sido afastados completamente. A água que jorrava da fonte ainda continuava e Hermione olhou pro céu, percebendo a escuridão se arrastar pelo céu cinza e nublado da Inglaterra.


'Temos que sair daqui...' Ela disse para as duas meninas que já se encontravam sentadas. Rose estava pálida, mais do que o normal, os olhos azuis pareciam fixados em um ponto do chão enquanto a garota parecia ter deficiência respiratória. Leslie se encontrava mais desorientada ainda, com os olhos verdes um pouco fora de órbita e o rosto num tom próximo ao amarelo, como se tivesse náuseas. 'Você está bem, Leslie?'


Ouviram alguém tossir ali perto. O menino que haviam visto antes, em Hogsmeade, saiu dentre algumas árvores. Pulou uma pilastra de pedra caída e olhou para as meninas. Cambaleava, mostrando sinais de cansaço e dor. Os olhos castanhos escuros estavam um pouco vermelhos e Hermione se perguntou se ele estava bem. Ele aproximou das três garotas ansioso.


Alguns ruídos, próximos a chiados, fizeram com que Hermione sentisse um arrepio passar pela espinha. O que era aquele som? Quem poderia ser? Os sons ficavam cada vez mais altos e sonoros, deixando claros que não faltariam muito a aparecer naquela praça. Parecia de alguma forma como risadinhas, mas era finas e guturais. Hermione apoiou a mão direita no chão e levantou-se, um pouco desequilibrada, e apontou a varinha entre três árvores que faziam parte do antigo bosque.


'O que é aquilo?' Perguntou Rose franzindo a testa curiosa. Hermione olhou em volta e viu a garota apontar o dedo para algo ao oeste. Hermione engoliu em seco e sentiu as costas doerem ao perceber o que era. Eram marrons, magrelos e ossudos, com dentes grandes, tortos e amarelos pra fora da boca. Carregavam na mão direita, um machadinho. Eram Zenorcs, de acordo com Animais Fantásticos e Onde Habitam.


'O que vamos fazer?' Indagou o garoto nervoso. Os monstrinhos se aproximavam em bando e faziam uns grunhidos finos.


Hermione apontou a varinha para o monstrengo. 'Stupefy!' Disse Hermione. O feitiço atingiu um dos Zenorcs na altura do peito, mas nada aconteceu. Ela piscou os olhos um pouco apreensiva. O garotinho soltou um gemido e correu para trás das pernas de Hermione, que não se sentia muito bem em virar uma parede protetora.


'ASPERSIO!' Gritou mais uma vez Hermione fazendo um corte horizontal com a varinha. Uma luz de cor branca saiu da varinha e atingiu o Zenorc à frente, fazendo-o se desintegrar. Uma fumaça com cheiro de enxofre encobriu o que restara do monstro e Hermione passou a mão direita sobre a testa, limpando-a do suor. Rose e Leslie estavam de pé e tentavam lutar contra os outros Zenorcs utilizando-se de outros feitiços, mas que não pareciam das efeitos.


'ASPERSIO MAXIMA!'


Hermione cobriu o nariz com o braço esquerdo pelo cheiro de enxofre. Ela ouviu vozes por ali e pensou em gritar por ajuda, mas calou-se e arregalou os olhos castanhos ao ver que, por entre as árvores que formariam o bosque, saíra Tom Riddle e Lester Malfoy.


'O que estão fazendo aqui?' Perguntou a ele sentindo o coração apertar ainda mais dentro do peito ao vê-lo ali.


'Não é curioso, Granger? Nós a vimos se afastar de Hogsmeade e decidimos ver o que estav-'


'Cale a boca, Pó de Arroz!" Gritou Rose ao lado de Hermione para Malfoy, que mais parecia gostar de conversar do que de qualquer outra coisa. 'Nós aqui sendo atacadas por pequenos orcs e você vem querer se esnobar!'


'Não acho aqui um bom lugar para conversas em família, Rose, estão vindo mais monstros!' Avargou Leslie apontando para a varinha para um bando que vinha ás costas de Hermione. 'ASPERSIO!' Tentou a loira e mais um Zenorc se desintegrou.


'Eu odeio esse lugar!' Cuspiu a monitora da Grifinória recuando mais alguns passos.


'Malfoy, cuidado!' Gritou Hermione ao perceber um Zenorc se aproximar de Malfoy pelas costas. O loiro arregalou os olhos verdes e virou-se repentinamente, perplexo. O braço direito do monstrengo levantando com o machado no alto, quase por atacar Abraxas.


'Crucius!' Falou Tom Riddle de repente ao seu lado. Hermione arregalou os olhos castanhos ao ver o monstro se contorcer violentamente. Os olhos grandes do monstrengo ficaram esbugalhados e ele passou a grunhir irritantemente. O machado caíra no chão e quando o zenorc parou de se mexer Hermione soube que ele estava morto.


Ela olhou para Riddle e franziu a testa, de certa forma alarmada com o que ele fez. 'O que deu em você?' Ela indagou a ele e Riddle olhou pra ela curioso.


'Precisamos sair daqui!' Falou Rose enquanto enfrentava mais um bando de zenorcs.


'Sim, mas como?' Indagou Leslie ao estuporar um monstro.


Hermione apontou a varinha para o bando de zenorc que se aproximavam dela pelo lado leste. 'IMMOBILUS!' Ela gritou e os monstros ficaram paralisados. Rose e Leslie piscaram os olhos.


'Muito bom, Hermione!' Parabenizou Leslie à castanha.


'Sim, agora, CORRE!' Gritou Rose e as três meninas passaram a correr pelo caminho leste que ficara livre graças ao feitiço de Hermione. Malfoy e Riddle também passaram a seguir as meninas, bem como o garotinho.


Chegaram a uma outra praça da cidade. Esta, já mais inteira, embora ainda continha lojas e casas destruídas. Hermione ainda pôde perceber que os zenorcs se aproximavam, fazendo grunhidos, e ela decidiu entrar no que pareceu ser uma catedral. Os outros logo entraram atrás dela. Respiraram fundo e fecharam a porta. Hermione ainda conjurou o feitiço Colloportus, assim, os zenorcs não poderiam abrir as portas da catedral para atacá-los.


Rose e Leslie sentaram-se no chão sem se importarem com sujeira ou outras coisas, respirando forte e suadas. Hermione girou o corpo e percebeu que a catedral estava bem arrumada, com um tapete vermelho com bordas douradas acompanhando a extensão do corredor até o altar. O teto era como o teto de Hogwarts e a castanha pôde perceber que já estava escuro e sem nuvens. Já deveria ser perto das nove horas da noite.


'Estamos bem aqui, não estamos?' Perguntou o menino inseguro olhando para Hermione.


'Estamos... ' Disse Leslie aliviando a preocupação do garoto.


'Estamos nada!' Interrompeu Malfoy revoltado. 'Por pouco não morremos! E tenho a impressão que vai ficar pior!'


'Você passa muita confiança, Malfoy.' Ironizou Leslie para o loiro.


O garotinho ficou ao lado de Hermione e ela percebeu que ele estava assustado. Ela passou a mão no cabelo dele bagunçando um pouco.


'Vai ficar tudo bem, garoto.' Acalmou a castanha .'A gente vai cuidar de você.' Ele sorriu e abraçou Hermione pela cintura.


'Não sabia que você conseguia conjurar maldiçoes imperdoáveis, Riddle...' Comentou Leslie olhando para o sonserino. Hermione desviou os olhos para o garoto e o viu dar ás costas à Leslie, ignorando o que ela havia dito. Leslie pareceu ter ficado ofendida com o ato do menino e calou-se, apenas se deixando ficar pensativa no chão da catedral ao lado de Rose.


Malfoy comentou algo com Riddle que Hermione não foi capaz de escutar. Então o loiro se dirigiu a um dos bancos daquela catedral. 'Eu não sei vocês, mas vou dormir.' Terminou deitando-se sobre uma dos bancos da catedral e já fechando os olhos para dormir.


'É uma boa ideia.' Completou Leslie se ajeitando para se deitar ali mesmo sobre o chão.


Era realmente uma boa ideia. Hermione estava exausta. Seus pés latejavam como se tivesse chutado uma parede por meia hora. Ela logo percebeu o garotinho afastar-se dela e deitar-se ao lado de Rose e Leslie, que estavam também já deitadas dormindo. Hermione quis dormir, mas sentiu um aperto no coração quando lembrou-se que Riddle estava ali. Ele estava observando a catedral, de costas para Hermione, andando por entre o altar e alguns bancos.


'Por que fez aquilo?' Ela indagou a ele de repente. Riddle virou o rosto e fitou os olhos castanhos de Hermione. Ela engoliu em seco. 'Você se utilizou de uma Maldição Imperdoável... Se descobrirem, você vai pra Azkaban.'


'Foi para me defender. Quando se utiliza feitiços para proteção própria, não se é condenado a Azkaban, srta Granger.' Ele respondeu de forma simples.


'Sim, mas não precisava usar um Crucius. Havia outros feitiços a serem usados...'


'Qual a diferença?' Ele perguntou piscando os olhos que agora Hermione sabia serem grafites. Ele caminhou pela Catedral e calmamente, se colocou a frente dela. Ela não respondeu, suas tripas se reviravam dentro do corpo. Os pêlos se arrepiaram quando ela encarou o rosto do jovem Voldemort de tão perto. 'Qual a diferença entre meu Crucius e o seu Aspersio? Ambos foram feitiços para nos defender, ambos foram feitiços que mataram aqueles zenorcs.'


Hermione piscou os olhos e sentiu as pernas endurecerem. Seu cérebro parecia ter sido expurgado, pois não conseguia pensar em alguma resposta. Ela sentiu a pulseira de Rose, mais uma vez, causar-lhe um choque pelo frio que fazia. Então, se recuperando da súbita mudez, disse. 'Meu Aspersio não mataria um bruxo.'


Ele piscou os olhos e deu um sorriso sínico. 'Nem meu Crucius.' A traquéia de Hermione travou-se por um momento. 'Um bruxo poderia apenas morrer por um Avada Kedavra, no entanto, não foi este feitiço que utilizei. Foi apenas um que me veio a cabeça no primeiro momento. Posso ter sido um pouco impulsivo, mas ainda assim, não difere de seu feitiço.'


Hermione decidiu se afastar do garoto, dando-lhe as costas, e encarou a porta da catedral à sua frente. Avada Kedavra. Era aquele feitiço que teria que fazer para matar Tom Riddle Jr. Era aquele feitiço que teria que fazer para cumprir a promessa a Harry. Qual a diferença que teria de um Avada Kedavra para um Aspersio?


'Está assustada?' Ele indagou de repente e ela piscou os olhos, logo virando o rosto para fitá-lo.


'Claro que estou assustada, Riddle, se acaso não percebeu, fomos atacados por Zenorcs!'


Ele deu um sorriso torto, fino, no canto dos lábios. Hermione prendeu a respiração. 'Não me referi aos Zenorcs, mas sim à sua conclusão.'


'Conclusão?'


'Sim. Não há diferença entre feitiços imperdoáveis ou feitiços simples quando eles acarretam na mesma coisa. Se dois feitiços matam alguém, não interessa de foi uma maldição ou uma simples azaração, o fim é o mesmo.' Hermione arregalou os olhos e uma onda de desconforto a atingiu sobre os ombros.


'Está enganado.' Ela disse de forma um pouco rude. 'O meu Aspersio pode ter matado aquele zenorc, no entanto, fora pelo feitiço ter sido forte para o animal. Eu não pensei em matá-lo ou torturá-lo.' Riddle inclinou a cabeça um pouco para trás.


'Se eu, por exemplo, não tiver a intenção de matar seus amigos, mas se eu o fizer por um feitiço ter sido forte a eles, isso me fará com que não leve a culpa? Ou que ainda não precise me levar a julgamento?' Ele retrucou novamente e Hermione sentiu que a melhor coisa que poderia fazer era ignorar ao garoto. Ela negou com a cabeça e se afastou mais dele, aproximando das meninas que estavam dormindo encostadas na porta.


Ela sentou sobre o chão e ficou a tentar controlar as emoções corporais. Ela sentiu os calcanhares doerem, as costas arderem e a cabeça doer numa fina enxaqueca. Ela realmente precisava dormir...


'Você não vai dormir?' Ele perguntou e ela levantou os olhos.


'Não estou com sono.' Ela respondeu sem jeito. Na verdade, estava com sono. Estava exausta e seus olhos se mantinham abertos pela força que fazia em não dormir e se deixar tão vulnerável a Tom Marvolo Riddle. 'Preciso ficar em alerta.' Ela complementou.


'Você não tem com quem se preocupar. Lançaste um Colloportus e os zenorcs não poderão entrar aqui. Além disso, embora diga que não, você aparenta bastante cansada.' Ele comentou levantando as sobrancelhas negras.


'Eu não estou cansada.' Ela repetiu ainda olhando para ele. Ela não podia dormir. Iria dormir e deixar que ele fizesse algo a ela enquanto estivesse num estado de inconsciência? Não, ela não podia. Precisava se manter acordada.


'Eu estou um pouco.' Ele complementou simples colocando os braços por trás das costas.


'E por que não dorme?' Hermione perguntou franzindo as sobrancelhas.


'Assim como você, estou um pouco inseguro.'


'Eu não estou insegura.' Disse mentindo.


'Está insegura de que eu faça algo com seus amigos enquanto estiver dormindo, não é?' Ele indagou a ela e Hermione se deixou apenas a trancar os dentes. 'Estou inseguro de que poderá fazer algo a mim enquanto eu estiver dormindo.'


A pressão sanguínea em seu corpo aumentara e ela foi capaz de senti-la na ponta dos dedos. 'Eu não vou machucá-lo, Riddle.' Ela disse abaixando os olhos. Seria uma oportunidade? Seria aquela a oportunidade que teria?


'Quisera eu acreditar em você, srta Granger, mas seus olhos sempre estão a esconder algo.' Ele comentou de forma simplória. Hermione começava a sentir suas pernas tremerem, mesmo estando sentada sobre o chão.


'Então, o que faremos?' Ela perguntou curiosa. 'Como faremos para dormir sem que nós desconfiamos um do outro?'


'Suponho que teremos que confiar.' Ele disse levantando as sobrancelhas grossas. Confiar? Ela não confiaria naquele garoto. Não tinha como ela confiar naquele garoto. 'Ou então nos forçamos para ficarmos acordados até o sol raiar. Caso escolha a segunda opção, sei um feitiço útil que nos impedirá dormir.'


Hermione respirou forte e apoiou a cabeça na porta atrás de si. Sentia-se estranha, informal e um pouco boba à frente de Riddle. E aquilo era desagradável a ela. Hermione jamais se sentira boba ou idiota à frente de alguém, muito menos de alguém da sua idade. Um incômodo quente tomou o seu estômago e ela sentiu certa dor por ali.


'Acho que chegamos em um impasse.' Ela disse piscando os olhos. 'Eu não confio em você, quero dormir, mas estou insegura com você acordado, não quero ficar acordada até o sol raiar e muito menos por um feitiço lançado por você.'


'Então nos resta a primeira opção.' Ele terminou levantando os ombros. Hermione franziu a testa sem entender o que ele quis dizer. Riddle caminhou em passos lentos até Hermione ficando à frente da menina. A castanha engoliu em seco ao vê-lo ali, em pé, à sua frente. Parecia que estava encarando Grope mais uma vez. Então, ele se postou ao lado de Hermione, sentando-se sobre o chão. 'Iremos dormir sem termos que nos preocupar se um irá machucar o outro. E só poderemos fazer isso se confiarmos.'


Hermione encarou o rosto limpo do rapaz ali ao seu lado. De tão perto, Hermione pôde perceber mais as linhas do nariz, queixo, e do rosto em perfil. Ela fechou os olhos apreensiva e respirou fundo. 'Como?' Ela indagou abrindo os olhos.


'Nós nos deitamos. Damos as costas um ao outro. Fechamos os olhos e prometemos não nos machucarmos.' A voz dele saíra simples e melodiosa e a Hermione sentiu um calafrio, mas foi capaz de ocultá-lo. Ela mais vez engoliu duro e negou com a cabeça. Dar as costas? Não mesmo.


'Não. Acho que não dará certo.' Ela respondeu ainda negando com a cabeça. Fazia aquilo ao mesmo tempo para tirar o peso em cima dos olhos.


'Nós nos deitamos. De frente para o outro. Ficamos com os olhos abertos, atentos, com as varinhas apontadas para o coração.' Ele aumentou com um tom estranho na voz. Hermione se perguntou se ele estava falando sério ou sendo sarcástico. O coração da menina batia estrondosamente fora de ritmo. 'Srta. Granger?' Ele chamou e Hermione levantou os olhos para encará-lo. 'Eu não vou soltar um Crucius em você enquanto estiver dormindo. Tampouco machucá-la. Eu prometo.' Ele terminou firme.


Ela quis acreditar nele, mas aquele era Tom Riddle Jr, o Voldemort. Hermione não poderia se deixar ficar vulnerável perto dele. Ela não poderia confiar no que ele dizia. Eram apenas palavras. Ela tentou rebater, mas calou-se ao ver o garoto dar-lhe as costas e deitar-se no chão de pedra da catedral. 'Boa noite, srta Granger.' Ele disse simples.


Hermione respirou fundo e sentiu os olhos ficarem mais pesados. Ela novamente negou com a cabeça, tentando tirar o sono. Ela o observou dormir e percebeu que os ombros do garoto subiam e desciam em um ritmo não coordenado.


'Você não está dormindo.' Ela comentou com a voz baixa. Riddle virou o corpo, ainda deitado no chão, e encarou os olhos castanhos da menina curioso. 'A respiração é diferente de quando se está dormindo...'


'Boa noite, srta Granger.' Ele repetiu com um sorriso torto e voltou a dar-lhe as costas. Hermione sentiu o estômago se esfriar. Ela olhou para o teto da catedral e viu o céu preto, sem nuvens e sem lua. Olhou mais uma vez para o garoto ao seu lado e então, devagar, deitou sobre o chão, ficando de costas para ele. Então era isso. Iria confiar. 'Boa noite, Riddle.' Ela respondeu baixinho, quase num sussurro, enquanto fechava os olhos.


Ela sentiu uma luz forte no rosto e abriu os olhos castanhos, piscando várias vezes. Viu o sol no teto da catedral que estavam e se lembrou de onde estavam. Assustada ela levantou-se do chão e soltou um muxoxo ao fazer isso tão rapidamente, causando certa tontura. 'Bom dia.' Disse alguém à sua frente e ela arregalou os olhos. Viu Tom Riddle sentado de perna cruzadas sobre a mesa do altar da catedral. Hermione sentiu-se um pouco desconfortável ao ver a imagem da cruz de Cristo um pouco acima de Voldemort. 'Hm, não acha melhor sair daí?' Ela indagou a ele sem jeito. Riddle respirou e apoiou as mãos na mesa do altar, então, desceu de onde estava, colocando as mãos nos bolsos e passando a caminhar por ali.


Olhou em volta do local e viu que os outros ainda estavam dormindo. Hermione respirou forte. 'Temos que voltar a Hogwarts! Podemos ser expulsos se descobrirem que não estamos lá.'


'Eles já sabem que não estamos lá.' Adicionou Riddle seco. 'Há cinco alunos desaparecidos, srta Granger, sendo dois deles monitores. Obviamente, a escola já sabe que não retornamos a Hogwarts com o sr. Ogg.' Hermione engoliu em seco e sentiu o estômago doer novamente. Ela iria ser expulsa? 'O que pode fazer é acordar seus amigos para que assim nós possamos voltar ao menos à Hogsmeade.' Ele completou. Hermione percebeu Malfoy se mexendo sobre o banco em que estava deitado, sabendo já que iria acordar.


Ela se aproximou de Rose, Leslie e o garoto que salvaram no dia anterior. Ela puxou a mão do garoto devagar, para acordá-lo sem lhe assustar, e logo viu o garotinho abrir os olhos castanhos. Ele respirou forte e pareceu sorrir alegre. 'Você tem cheiro bom.' Ele disse e Hermione piscou os olhos. "É, Ron também achava." Pensou lembrando mais uma vez de seus amigos. Ela negou com a cabeça e acordou as duas meninas.


'Onde estamos? ' Perguntou Rose confusa.


'Glast Heim.'


Rose passou a mão no rosto tentando tirar a cara de sono. Respirou pesadamente.


'Temos que voltar pra Hogwarts. Se descobrirem que não dormimos lá, seremos expulsas.' Hermione decidiu ignorar o comentário da garota. Leslie acordara e se espreguiçava com os braços. Percebeu o garoto acordado e sorriu aliviada.


'Oi, garoto, você está bem?' Perguntou preocupada. Rose revirou os olhos e o garoto balançou a cabeça de forma afirmativa com força, fazendo a loira rir.


'Certo, vamos embora, logo daqui.' Quem dissera isso fora Malfoy e Hermione se perguntou porque ele não podia passar a viagem inteira dormindo.


Rose e Hermione abriram a porta da catedral e eles saíram da catedral. Passando pela cidade, agora já em claro pelo sol, não viram mais os monstros com machados, nem os dementadores. Devem aparecer somente á noite. Passaram pela pracinha destruída. Hermione viu o monstro em que Riddle havia conjurado o Crucius. Morto. O feitiço foi forte pra ele. Lembrou-se da conversa que tivera com Riddle na noite anterior. Qual era a diferença? Ela engoliu em seco e decidiu ignorar. Leslie conversava com o garoto que segurava sua mão.


'Leslie, leva o menino pro orfanato.' Falou baixinho Hermione para a menina. 'Rose e eu vamos com Riddle e Malfoy até o vilarejo. A gente te encontra lá.'


'Certo.' Ela respondeu caminhando com o garoto ainda de mãos dadas com ela.


'Onde ela está indo?' Perguntou Malfoy contrariado.


'Não interessa, pó de arroz. Por que não se cala? Não percebe a paz que se respira quando você fica quieto?' Indagou Rose com raiva para o menino e Hermione negou com a cabeça, passando a caminhar à frente ignorando os dois.


Quando chegaram a Hogsmeade, após mais ou menos vinte minutos, Hermione reconheceu Hugo e a monitora da Sonserina, que assim como Riddle, era Monitora-chefe.


'Ei, vocês estão bem?' Perguntou Hugo correndo até as meninas quando as viu. 'Estamos procurando vocês há horas! Quase nos mataram de susto!'


'Ah, tivemos problemas...'


'Cadê a Leslie? ' Perguntou preocupado a perceber que ela não estava ali. Rose e Hermione se entreolharam.


'Ah, pois é, né? Acho... que... ela... deve... ter ido... pra... algum... lugar.' Falou Rose fazendo uma careta. Hermione sentiu muita vontade de rir. Hugo olhou estranho para a monitora.


'Você mente de uma maneira terrível, Rose. ' Falou o grifinório.


'Mas eu não to mentindo! Você está vendo ela aqui?'


Hugo coçou a cabeça confuso. 'Ah, vocês só não querem dizer onde ela está. Tudo bem, a gente a espera...'


'Vamos logo embora!' Falou nervosa a monitora da Sonserina. Era bem alta e tinha os cabelos compridos e castanhos escuros. Os olhos era verdes cor de oliva. Hermione não a conhecia.


'Está faltando a srta Burke.' Respondeu Tom Riddle pacientemente olhando a vitrine da Zonko's.


'Onde ela está? Era pra estar com vocês não era?' Indagou impaciente.


'Você devia tomar um pouco de panacéia, Eileen, é muito bom para diminuir o estresse'.


Comentou Tom levantando os ombros.


'Acho que você precisa um pouco disso também, Rose. ' Falou Hugo. Ela fez uma careta pro garoto, e Hermione riu. Leslie desceu o morrinho e logo se juntou a eles. Ogg veio falar com elas.


'Vocês estão bem? Não sabem o susto que nos deram!'


'Desculpe, sr. Ogg'.


'Estão realmente encrencados! Diretor Dippet está uma fera.'


Rose, Hermione, Leslie, Malfoy e Riddle subiram na carruagem que estavam ali para eles enquanto sr. Ogg, Hugo e a monitora sonserina estavam na carruagem de trás. Malfoy de vez em quando soltava uns comentários irritantes e Hermione pensou se Draco realmente chegava a ser tão intragável quanto Lethar. Chegaram a Hogwarts depois de uns vinte minutos. Hermione estava com fome, e precisando urgentemente de um banho.


Ao entrarem no castelo, Professor Dumbledore estava esperando por eles ao centro do Grande do Salão. Ele pediu para que eles o seguissem. Rose fechou os olhos com força. Provavelmente rezava para que não fosse expulsa, já que seria mais uma desonra para sua família. Malfoy apenas torceu o nariz. Riddle se postou normal, como se nada tivesse acontecido. Os cinco alunos entraram na sala do diretor. Ele estava sentado na cadeira atrás da mesa com as mãos sobre o rosto, parecendo preocupado. Ele conjurou cinco cadeiras para os alunos ali à frente.


'Vocês cinco sumiram de Hogsmeade, não voltaram como planejado com o Basil Ogg e ainda por cima dormiram fora do castelo, num local totalmente desconhecido e sem vestígios de magia! Têm noção do perigo que correram?'


Hermione franziu a testa confusa. 'Sem vestígio de magia? Quer dizer, o Ministério não consegue saber de execuções de feitiços em Glast Heim?'


'Não, senhorita Granger. Glast Heim foi bombardeada há mais de um ano e ninguém tentou reconstruí-la. Como a cidade virou fantasma, o Ministério não achou necessário ter vestígios de magia.'


Hermione olhou para Riddle que não moveu um músculo. "Maldito sortudo". Ela pensou consigo.


'Mas devo dizer que vocês desobedeceram às regras da escola de forma abusiva. Por isso, vocês estão expulsos!'


'O QUÊ?' Perguntaram as três de uma vez em uníssono.


'Não posso ser expulsa, senhor diretor, minha família ficará mais desonrosa do que já está...'


'Sinto muito, mas não posso fazer nada, vocês estão expulsos!'


'Armando, se me permite...' Interrompeu Dumbledore educadamente. 'Esses garotos nunca fizeram nada de errado todos esses anos, muito menos senhorita Granger que acaba de chegar de Durmstrang. Não vejo isto como uma solução correta. Desobedeceram às regras da escola, sim, é verdade, mas vejo que todos precisam de uma segunda chance.'


Diretor Dippet respirou fundo e encarou os cinco alunos ali presentes. Ele olhou para Tom Riddle, o que fez Hermione juntar as sobrancelhas curiosa. Então ele pareceu concordar com Dumbledore. 'Certo, Alvo, vou lhe dar este credito, eles não são serão expulsas desta vez...'


'Obrigada!' Falou Leslie sorrindo de repente. Ela levantou da cadeira e abraçou o diretor de forma apertada. Hermione e Rose se entreolharam se perguntando se ela podia fazer aquilo. Dippet franziu a testa e deu um tapinha nas costas da garota.


'Não há de quê, srta Burke, dar aos alunos uma segunda chance faz parte dos axiomas desta escola.'


Leslie olhou confusa para o diretor. 'Dos quê?'


'Axiomas. Você não sabe o que significa axiomas?'


Leslie ficou pensativa por um tempo. 'Não tem a ver com axilas não é?'


'Axiomas significam princípios. Faz parte dos princípios de Hogwarts, dar uma segunda chance para todos os alunos!'


'Ah, então não fale em outra idioma. Não que não entendamos Francês, mas e Hermione?'


Disse um pouco desconcertada. Hermione riu do comentário da menina.


'Vocês devem estar morrendo de fome.' Comentou Dippet ignorando o comentário de Leslie, estalando os dedos . Ele conjurou uma bandeja com frutas, torradas, sucos, waffles e bolos para os cinco estudantes – Podem levar para seus dormitórios, mais tarde os elfos passarão para limpar.


As três acenaram, Leslie pegou a bandeja – o que fez Malfoy reclamar já que também estava com fome- e saiu da sala do diretor, Rose e Hermione se levantaram das cadeiras em que estavam, agradecendo ao diretor pela consideração. Hermione estancou quando elas passaram por Dumbledore. Rose piscou os olhos e saiu do escritório, seguindo os passos de Leslie. Hermione esperou que Malfoy e Riddle também saíssem da sala, não deixando de encarar as costas de Riddle quando ele o fez.


'Obrigada, professor Dumbledore!' Agradeceu Hermione com respeito ao professor. Se não fosse ele, ela teria sido expulsa sem cumprir o que deveria.


'Não há de quê, senhorita Granger. Não gosto de ver alunos sendo expulsos, por isso peço para que não faça algo desse tipo novamente.'


Hermione assentiu. 'Sim, obrigada mais uma vez.'


'Tubo bem.' Falou mostrando um sorriso. 'Gostaste das roupas?'


Hermione fez um aceno positivo. 'Sim, ficaram boas.'


'Fiquei com medo de não serem do seu estilo. Mas por sorte, conheci uma garota parecida com você... 'Hermione soltou um sorriso amarelo. 'Como era o nome dela? Helen, Hally, algo assim...'


'Bom, já vou.' Ela disse um pouco insegura.


'Ah sim, vá! Té logo. Srta Granger.' Ele acenou sorridente.


Hermione desceu as escadas da sala do diretor aliviada. Leslie e Rose estavam esperando-a no corredor. Juntas, as três foram para o salão comunal. Hermione viu Tom Riddle passar pelo corredor na direção oposta. Estava sozinho. Hermione acompanhou o garoto com o olhar. Riddle parou e encarou o olhar de Hermione. Penetrantemente. E mais vez Hermione não conseguia desviar. Pareciam que estavam brincando pra vê quem pisca primeiro novamente.


Hermione perdeu. Ela piscou. Tom sorriu parecendo divertido. Deu as costas e foi embora. Hermione olhou para o chão e logo para Tom novamente, com os olhos castanhos focados nas costas largas do garoto.


'Eu ainda mato você... Voldemort!'


Continua no próximo capítulo.




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