Prólogo



Prólogo


Morte linda morte

Virás de negro?

Nua ou acompanhada?

Morte virás sem medo

E me levarás na madrugada?

Me contarás teu segredo?

E farás de mim tua namorada?


– Ora, Bella! O que está acontecendo com você, priminha? Enferrujou, foi?

– Você me subestima, priminho... Crucio!

– Protego! Creio que não, Bellatrix... Já provei muito do seu veneno e conheço o sabor...

– Então deve saber que ele entorpece... Enlouquece...Vicia... Petrificus Totalus!

– Reducto! Ah, sim... Se beber em grandes doces, certamente... Já fui viciado nele e sei o quanto dói se livrar do vício...

– Se livrar do vício? Ahhhhhhhh, Sirius, meu querido... Você não entendeu ainda não é?

– Não entendi o que, Bella? Impedimenta!

– Protego! Ninguém é capaz de se livrar do meu veneno, Black... Ninguém... É fatal, mortal... Depois de experimentar uma gota que seja é impossível se livrar dele... Ele vicia, ele te faz querer mais... Mais e mais... E quando você se dá conta, está rastejando aos meus pés, implorando...

– Tsk, tsk, tsk... Bellinha, Bellinha, querida... Se eu te subestimo, você se superestima, com toda a certeza... Você definitivamente não está em condições de se gabar. Afinal, está perdendo feio para o “Amante de trouxas, vergonha da família, traidor do nobre sangue dos Black...”. E ainda por cima na sua área favorita: As Imperdoáveis.

– O duelo não acabou ainda, Sirius. E você, com essa sua arrogância toda, vai acabar se dando mal. Estupefaça!

– Há! Vamos, você sabe fazer melhor que isso...

Morte linda morte

Carregue meu corpo sem pressa

Transforme minha voz em passo de dança

Quebre em tua mão minha promessa

E me prometa ser como criança

E de repente o silêncio. O mais profundo e cruel silêncio. E o vazio. O mais profundo e cruel vazio. Sentiu-se cair sem parar, afundando no nada, saboreando as sensações arrasadoras do toque cálido dos lábios dos guardiões. Guardiões do Purgatório, ele sabia. Sugavam sua alma, impregnando o perfume podre em seu cangote. Sussurros roucos e murmúrios ecoavam numa embriagante melodia. Seus olhos pesavam e um sono profundo arrebatava-lhe em espirais. Não enxergava nada. Só a escuridão. Nada além da imensa escuridão. Ele tentava gritar, mas não ouvia a própria voz. Lamentos e gemidos fracos escapavam de seus lábios, como num agouro. O pior deles: agouro de morte. O Sinistro novamente...

Recitarás tuas poesias roucas?

Murmurarás nos meus ouvidos?

Morte linda morte

Que sejam tuas minhas loucuras

Que sejam teus os meus gemidos

- SIRIUS! SIRIUS!

- Não há nada que você possa fazer, Harry...

- Apanha-lo, salva-lo, ele só atravessou o véu!

- ...é tarde demais, Harry.

- Ainda podemos alcança-lo...

- Não há nada que você possa fazer, Harry... nada... ele se foi.

- Não se foi, não! SIRIUS! SIRIUS!

- Ele não pode voltar, Harry. Ele não pode voltar porque está m...

- ELE – NÃO – ESTÁ – MORTO!

Morte linda morte

Trarás teu desejo?

Ao som de um realejo

E roubarás minha sorte?

“Sinto muito, Harry, mas acho que estou... Estou morto. Como Remo disse. Ouça o que ele fala, ele sempre está certo... Remo, meu amigo, sinto muito se um dia desconfiei de você. Lamento por ter te feito sofrer, por ter lhe arrancado a esperança. Desculpe por ter sido intransigente, preconceituoso. Quando o preconceito fora o sentimento que mais repudiei em minha vida inteira. Preconceito por ser um Black. Preconceito por ser um Grifinório. Preconceito por ser eu mesmo... Eu lamento muito, Aluado... Eu lamento tanto...”

“Lamento por você ser crescido sem pais, Harry. E lamento mais ainda por ter sido o culpado por isso. Foi minha culpa e convivi com ela por longos quatorze anos. E agora estou, sem querer, repassando-a a você. Sei que não sou o mais indicado para lhe dizer isso, mas: Você não é o culpado. Nunca foi e nunca será. A culpa é única e essencialmente minha. Admito. Eu queria morrer. Queria reencontrar meus velhos amigos. Mas, por ser tão tremendamente egoísta, não percebi que o faria sofrer. Que o faria chorar por mim... Você já chorou tanto, Harry. Não quero ser mais um motivo para o seu choro... Eu te amo demais, meu afilhado...”.


Deixarás que eu diga adeus

E tenha um último orgasmo?

Mostrarás os filhos teus

E me beijarás nos teus braços?

Subitamente, ouviu passos vindos de muito longe, mas que, aos poucos, se aproximavam. À medida que o ruído incômodo aumentava, uma fagulha de luz iluminava o negro ao seu redor. Negro, negro como ele mesmo. Negro como um verdadeiro Black. Sua queda estacou. Sentindo-se trêmulo pela parada repentina, Sirius gemeu longamente. Sentia terra firme embaixo do corpo. Apoiando os cotovelos no chão, ele ergueu a cabeça. A luz tornou-se mais intensa, quase chegando a cegá-lo. Apertando os olhos contra a claridade, ele conseguiu enxergar apenas uma mão estendida. Engolindo em seco, aceitou a ajuda para se erguer novamente. E quando o fez, arregalou os olhos, não podia ser...


Com teu poros molharás de suor minha cama

Estancarás no teu véu o resto da minha sorte

Gritarás pelo meu nome que te chama

Serás minha Morte Linda Morte

- Ti... Tiago? – gaguejou, recebendo uma risada em resposta.

- E aí, amigão, como tem passado? Você está como uma cara péssima, sabia?

- Meu... Meu Deus... – Sirius disse arfante, olhando embasbacado para o amigo que sorria-lhe.

- Oh, assim! Deus está aqui conosco, não se preocupe – Tiago piscou-lhe o olho quando os braços de Lílian o envolveram pela cintura. O casal sorriu para o recém-chegado que somente conseguiu perguntar numa voz sufocada:

- E se... E se tudo... Tudo fosse diferente, Tiago? Lílian? E se...

- Acho que nunca saberemos, Sirius... – Lílian suspirou, seus olhos verdes assumindo um tom mais escuro.

- Pois eu discordo... – Tiago abriu um sorriso maroto – Espere até o próximo capítulo...

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