E o dia dessa vez não amanhece

E o dia dessa vez não amanhece



O reverso da medalha



E o dia dessa vez não amanhecerá para ele.

Ora mais quem estamos querendo enganar? Lucius nem ao menos podia ter a confortante idéia de que não iria precisar levantar esse dia. O cheiro da ressaca moral e do arrependimento ainda pairavam no ar de seu quarto. A lembrança estava tão perto de seu rosto que às vezes sentia que poderia agarrá-la, mas faltava força para conseguir erguer o braço.
Mais uma noite havia perdido, mais um dia havia ganho. E com ele algumas horas de tortura com o homem que obedecia e seguia.
Não era exatamente o destino que havia planejado para si quando criança em uma de suas brincadeiras, e nem o melhor que podia ter. Mas dessa vez ele estava conformado.
E desde quando Lucius Malfoy se conforma com alguma coisa? Desde o dia que perdeu o seu orgulho junto com o seu brio e essência. Não podia mais exigir nada, não era a época disso infelizmente.
E para que levantaria da cama? Para mais um dia de batalhas incessantes, e humilhações inacabáveis? Sim, era para isso que agora colocava o pe descalço no chão frio e ia para o banheiro. Não para tomar um banho e tirar o sangue do seu corpo. Pois essa era uma guerra limpa, e o seu lado nunca sujava as suas vestes reluzentes a brilha cobre. Era para quem sabe conseguir tirar o remorso saturado no seu corpo.
Uma mulher dormia ainda na sua cama, uma mulher. Uma mulher que não era qualquer mulher. Sua esposa também estava envolvida ate o ultimo fio de cabelo loiro naquele suicídio. E Deus sabia com é que ela estava conseguindo suportar isso, uma vez que desde o começo dessa loucura ela o avisou, chorou, pediu, implorou para desistir de ser marcado. E a marca não era só a tatuagem de cobra com uma caveira tão prepotente em seu braço, e sim o acordo que seu marido faria.
Ela sabia, e no fundo ele também, que não teria volta. Mas quem se importava quando tudo parecia tão seguro? Tudo parecia sempre tão... É seguro não era a palavra, talvez sublime se encaixaria melhor. Já que tudo na vida de um Malfoy poderoso era ilustre e altivo. Sem defeitos, sem problemas, sem nada que pudesse atrapalhá-lo a seguir com a sua vida anormalmente perfeita.
Onde estaria o seu filho? Ou os restos mortais da sua consciência que foi levada com o seu estima de adolescente?
Ele jogou uma criança sob a caixa de pandora e o mandou escolher se deveria abri-la ou não. Errou e fez seu filho errar junto, típico de um Malfoy sempre egoísta visando mais uma vez à aparência.
Só que estava tudo bem, sua família inteira, os bonecos que continuavam seguindo o Mestre das trevas não paravam para descansar ou dormir, mesmo que sua mente obsecrasse os flash’s de cada segundo dos anos antecedentes permaneciam colados em suas pálpebras.
E isso era atípico em uma mente egoísta de uma família egocêntrica.
O animo não havia meio de melhorar, e aquela droga de café amargo não descia na sua garganta como também nenhuma outra coisa que fosse relacionada com comida dando a um homem austero e imponente um ar tìsico e cansado.
Não sabia ao certo onde que podia se reconhecer, no reflexo do espelho trincado no meio da sua sala ou da fotografia velha de um garoto quase completamente inocente dos pecados do mundo onde conseguirá mergulhar de cabeça.
A vontade não era repentina, não a de quebrar o espelho em mil pedaços. Poderia conseguir sete anos de azar se a simetria exata de sua mão quebrasse em 7 partes o grande espelho. E sete anos de azar faria muita diferença para ele?
Quem teria coragem de afirmar isso? Nem mesmo alguém da família das videntes dos Trelawney a fim de obter mais uma famosa profecia.
A essa palavra já o trouxera tanto problema, mas não tinha tempo de pensar mais. O dia clareando mostrava que já era o tempo de sair de casa com a incerteza de voltar, de ter a sua vida de volta que a tanto já havia perdido espaço para o arremate certo de que não voltaria mais.
E os passos lentos e ecos faziam contraste com os gritos ao fundo, gritos que eram ignorados por todos ate pelo homem que agora se mostrava tão sensível a sua circunstância atual. Mas os olhos frios congelavam aquela paisagem mórbida criada por seus amigos e companheiros no trabalho.
Sua cunhada a frente gélida com as palavras duras de seu mestre sempre tão nervoso, que parecia ver seu mundo afundar segundo após segundo, fazendo questão de levar todos consigo.
E o confronto final parecia estar tão longe. Anos acreditando que ele chegaria a galope e o que chegou na sua frente foi o fracasso com punições e por que? Por tentar fazer o melhor, e por medo, ou insegurança talvez ate despreparo o erro foi inevitável. Mas aquele vento cortava o seu rosto e não queria ajudar com o padecimento aparente de todos. E as arvores não mais balançavas ritmicamente em sintonia com o luto constante.
Outra melhor obra de Deus caia sem vida no chão, e dessa vez não era um pai de família, só mais um homem tentando honrar o principio de um velho que planejava tudo há tanto tempo por interesse próprio. Ele não estava do lado certo. Porque também o lado certo sempre vencia e Deus protegia. Lucius não estava do lado certo.

O último chamado. Todos deveriam estar no lugar ordenado imediatamente. O Senhor das trevas mandava, exigia decretava. E na mesma hora todos estavam, horas na floresta fria, uns distantes um do outro, famílias separadas e amigos de lados opostos agora lado a lado como sempre obedecendo...
E a decisão final com sua mulher a última voz seria dela. Saber se teriam ganho e finalizado com tudo sairia da boca dela, mas uns movimentos estranhos perceptíveis só a Lucius vieram antes da sua voz fina se sobressair. Mas a resposta veio como ele queria. O senhor as trevas havia ganho. Como se não bastasse o seu inimigo morto ele deveria ser vexado. O que era uma vitória sem glamour lá Voldemort?
É não seria vitória alguma.

Mas dentro do castelo, a verdade apontou um dedo podre para Narcissa que como seu marido temia o seu destino agora. Seriam mortos a não ser que perdessem, e assim rezaram, e dessa vez sem sono e com um fervor jamais visto por comensais. E a luta travada já não importava mais. O seu filho estava vivo, sua cunhada morta junto com o seu mestre. E foi um gol contra. O homem que buscava a imortalidade causou a sua própria. A ironia parecia responder a oração no lugar das palavras de Deus.

“E ao longo dos corredores entre as mesas, ele caminhou e viu os três Malfoy juntinhos, como se não soubessem se deviam ou não estar ali, mas ninguém lhes dava a menor atenção.”

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