Talkin in your sleep



'Cause you've been talking in your sleep
(porque você tem falado durante o sono)

Sleeping in your dreams
(dormindo em seus sonhos)

With one sweet lover
(com uma doce amante)

Holding on so tight
(a abraçando tão forte)

Loving her the way
(a amando do jeito)

You used to love me
(que você antes me amava)

Talking in your sleep with loving on your mind...
(falando durante o sono com amor nos seus pensamentos...)


Virara-se para o outro lado. Simplesmente não suportava vê-lo daquele jeito, mas então, que noiva suportaria? Sem sombra de dúvida, ela era a única exceção. Tantas outras já teriam desmanchado o noivado logo na primeira noite, enquanto ela continuava, firme e forte com as esperanças. Esperando, sempre, que uma noite acordaria e tudo seria diferente. As palavras teriam cessado, os sonhos teriam sumido. E tudo seria real, enfim.

Milagres não aconteciam. Não para Pansy Parkinson, pelo menos. Afinal, ela era uma garota, não, uma mulher, má. Era assim que as ex-sonserinas eram definidas: elas são as ex-alunas da classe alta, aquelas que fazem de tudo e ferem a todos apenas para conseguir o que almejam. Ela havia feito isso, e não se arrependia nem um pouco de suas ações. O arrependimento eram por estas não serem tão perfeitas quanto esperava-se. Bem, nem tudo é perfeito.

Novos sussurros fizeram lágrimas secas surgirem. Um soluço foi abafado assim como a mulher aconchegou-se mais na sua parte da cama. Não iria chorar, o tempo para o choro já passara há muito tempo atrás. A última vez havia sido a quantos anos atrás? Não lembrava, também não fazia questão.

E daí, se ele murmurava todas aquelas palavras em seus sonhos? Ela certamente não daria extrema importância àquilo. Ele mantinha-se junto dela, não? Isto era tudo que importava: Draco Malfoy, o grande empresário do mundo mágico, estava ao seu lado, lhe dando jóias, festas, status. O que mais ela poderia pedir? Amor? Não, o amor era para os fracos, ele mesmo lhe dissera as mesmas palavras na noite do noivado.

O loiro deitado ao seu lado não a amava, e sempre fizera questão de deixar o fato bem claro. O amor era para aqueles que não conseguem seguir sozinhos, em outras palavras, para os não-sonserinos. Um sonserino apaixonado era sinônimo de sofrimento. Seria por isso que o ex-sonserino passava tantas noites sofrendo?

Mas não importava a dor, o sofrimento, o que importava era que, para todo o resto do mundo mágico, os dois formavam o que poderia ser considerado um casal perfeito. Ambos de famílias de sangue-puros, ambos ricos, ambos tão belos quanto qualquer outro bruxo ou bruxa. Draco Malfoy ainda continuava com o olhar frio e ao mesmo tempo misterioso, seu charme natural, e ela continuava com o mesmo sorriso, que era artificial mas parecia perfeitamente verdadeiro para todos os outros. E isso era o importante.

Ela não ligaria a mínima para as palavras que ouvia noite após noite, muito menos sentiria remorso quando as ouvisse. Ele estava noivo DELA, e de mais ninguém. Tudo bem que o homem mal a olhara nos olhos quando a propôs, e que o pedido não fora selado com nenhum beijo apaixonado, como deveria ser feito na ocasião. Mas isso não mudava quem usava o anel de diamantes. Ela, e não uma outra qualquer. Ela, Pansy Pankinson, futura Pansy Malfoy. Soava certo.

Pansy sabia que nunca veria os olhos dele se iluminarem, para ela eles seriam eternamente frios. Os abraços seriam duros e os sorrisos, falsos e incompletos. Nunca ouviria sussurros amorosos ao pé do ouvido, muito menos compartilharia momentos carinhosos com seu futuro marido. Mas era por causa, tudo, por causa do jeito de seu parceiro. Afinal, ele não era assim com ninguém. Palavras de amor vindas dos lábios de Draco Malfoy? Ah, quem seria louco para acreditar que tal coisa aconteceria algum dia? Ela viveria sem isso. Viveria sem os momentos de total felicidade que tais pequenos gestos proporcionavam. Porque ele estava com ela e ela, com ele. Isso já causava felicidade de chega, não?

Precisou se retirar da cama quando novamente ouviu aquelas três palavras. Não, aquela simples frase nunca conseguiria machuca-la. Da mesma maneira que a mesma frase nunca deixaria sua mente, por mais esforços que a bruxa fizesse. Toda noite se deitava, na maioria das vezes com ele ao seu lado, e as palavras ecoavam pelos seus pensamentos. Aquilo a enojava. Era ridículo. Tão ridículo, mas ao mesmo tempo...

Ao mesmo tempo, era tudo que ela mais desejava ouvir. As palavras nunca eram para ela, e nunca, provavelmente, iriam ser. Se fossem ditas, seriam ditas superficialmente. E tais palavras jamais deveriam ser ditas assim.

De pé em frente ao parapeito da janela, a bruxa observava sem interesse o enorme jardim do lado de fora. Fechou os olhos, e começou a repetir a frase que todas as noites repetia. Não precisava de amor, não precisava de amor. Ela não podia precisar, pois seria o inferno precisar de uma coisa impossível de se ter.

Mais murmúrios. Eram tantas coisas que Draco dizia enquanto sonhava. Pansy duvidava que ele sabia o quanto falava durante o sono. Bem, não seria por ela que ele descobriria. Às vezes, quando sentia-se completamente vazia, a mulher gostava de abraçar o bruxo ao seu lado. Chegava mais perto, e ele, ainda dormindo, a abraçava. E então, por alguns momentos, fechava seus olhos e pretendia que todas aquelas palavras estavam sendo ditas para ela. Claro, quando ela se separava, ou quando, nas poucas vezes que acordava ainda tão perto dele e realizava que tudo aquilo era irreal, sentia-se até pior. Mas ainda assim, aqueles poucos momento de felicidade, de fingimento, lhe bastavam. Até agora havia bastado, pelo menos.

Nomes nunca eram ditos. Não que fossem precisos, mas era bom não precisar ouvi-los. Ouvi-lo.

- Eu te amo...

Sentiu seu coração apertar. A quem ela estava enganando? Apenas a si mesma. Se nem mesmo Draco Malfoy conseguia viver sem amor, como ela, que não possuía nem a metade da força do empresário bruxo, conseguiria? Ele estava morrendo por dentro por, pela talvez primeira vez na vida, não ter o desejado. Melhor dizendo, a desejada. E Pansy estava seguindo esse rumo rapidamente.

Isso que fazia a diferença. Ela tinha tudo, menos o básico. O principal. Amor. Se um dia chegasse realmente a casar e ter Malfoy como sobrenome, saberia desde já que casara-se apenas com uma casca. Ela não o possuiria, não o dominaria, e não o faria feliz por sequer um segundo. Ele não tinha sentimento algum por ela. Talvez nem mesmo desprezo sentisse, apesar de tudo.

Uma foto fora esquecida aquela noite, sobre o criado mudo, mas a bruxa nunca se atreveu a tocar no pedaço de papel mágico. Ela era obviamente mais bonita, mais refinada, do que a mulher da foto. Mas o amor não via a beleza, ou qualquer outra coisa do tipo. O amor acontecia, e pronto. Simples assim. Para o amor, aquela jovem bruxa, de vestes baratas, com os olhos castanhos tão sem graça, de cabelo ruivo... era aquela jovem que importava. Para os olhos do amor, aquela jovem seria mais em tudo.

Como queria queimar a foto, que mostrava a bruxa abraçada ao seu noivo. Eles estavam felizes, ele sorria, de um jeito que Pansy nunca o vira sorrir antes. Draco nunca seria assim ao lado dela.

Era provável que ele nem mesmo se importaria em esconder a foto pela manhã.

Olhou para a cama, onde o loiro deitava-se, agora em um sono tranqüilo. Ele sorria, não um sorriso falso, forçado, mas um real sorriso. Um que fora dado apenas para uma pessoa, e que continuaria assim pela eternidade. O sorriso que nunca seria de Pansy, mas da outra.

- Gin...

Naquele momento, o nome Pansy Malfoy não soou tão bem como antes...

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