O TROUXA




Desde que colocara os pés em Alfeneiros ele sabia que seria pela última vez.
Dezesseis anos de maus tratos e ele voltara para aquele lugar mais uma vez, mas o único motivo era o pedido de Dumbledore. Pouco antes de tira-lo de lá da última vez ele fizera aqueles dois prometerem deixar o sobrinho voltar uma última vez. Mas seria nada mais que isso, um último pedido.
Eles o olhavam diferente agora, pareciam ansiosos e até temerosos.
Duda o tratava como uma bomba relógio e agora era crítica a posição de Harry dentro daquela casa.
Harry sabia o motivo de tanta comoção, dentro de alguns dias seria seu aniversário de dezessete anos e ele se tornaria maior de idade no mundo bruxo, teria a permissão para usar magia. Eles temiam isso.
Na sua primeira semana em Alfeneiros tia Petûnia parecia muito propensa a deixar cair o que quer que fosse que estivesse em suas mão à simples aparição do garoto na cozinha, Tio Valter ficava roxo toda vez que olhava para o garoto, e Duda corria do primo toda vez que ele entrava em um cômodo.
Os pesadelos agora eram freqüentes e a todas as noites assolavam a mente do rapaz.
Sempre o mesmo pesadelo:
Harry revia a cena da morte de seu tutor e mestre.

__ Severo... por favor...".
Snape elevou a varinha e apontou diretamente para Dumbledore.
__ Avada Kedavra!'”
O corpo de Dumbledore ali, no chão, o semblante calmo, os olhos fechados...
Então Snape se virava para harry rindo e dizia:
__ Enganei um dos bruxos mais poderosos do mundo durante treze anos, acha mesmo que você pode me vencer?

Harry acordou calmamente, pois estes pesadelos não o afrontavam mais, já não tinha mais esses medos que o enfraqueciam durante os anos passados.
O sol batia em seu rosto e mais um dia começara, mas esse dia teria uma surpresa.
Petûnia estava cantando na cozinha durante o café e Duda não estava, teria Valter o mandado para a casa de Tia Guida para passar uma ou duas semanas, Harry não tinha certeza.
Harry entrou e deu de cara com tio Valter ainda lendo o seu jornal matutino, ainda de pijamas.
Petûnia passara a Harry um prato de aveia quando este sentou-se à mesa sem dizer nenhuma palavra.
Valter tossiu brevemente e mexeu com o jornal a fim de mostrar que queria falar com o rapaz, e este o encarou.
__ Amanhã é seu aniversário – disse ele, em um tom duvidoso.
__ Sim – respondeu o rapaz.
__ Eu não estava perguntando... – esbravejou o tio. – eu estava afirmando que sei que amanhã é seu aniversário...
__ Ah – resmungou o rapaz e continuou a tomar sua aveia.
Outra tossida e o rapaz encarou o tio mais uma vez, dessa vez ele sorria.
Harry ficou realmente abismado com isso, seu tio sorrir para ele era algo no mínimo estranho.
__ Você vai ser maior de idade amanhã...
Harry sentiu o perigo do rumo que aquela conversa estava tomando.
__ Sim, os bruxos se tornam maiores aos dezessete...
Valter pareceu que iria explodir quando Harry acabou a frase, mas segurou no peito, respirou fundo.
__ O senhor quer me dizer alguma coisa? – perguntou o rapaz.
Petûnia deixou cair um prato, fato ao que Valter pareceu disfarçar.
__ Na verdade eu quero pirralho. – disse ele sorrindo mais ainda, e levantando da mesa imperioso ele trovejou:
__ Amanhã de manhã será expulso dessa casa seu maníaco... desajeitado... – a veia da cabeça de Dursley pulsava e parecia que ia explodir. – não o quero dentro da minha casa, embaixo do meu teto...
__ Valter – murmurou Petûnia em tom de censura, o que fez Harry virar-se em sua direção, mas então ela completou – os vizinhos podem ouvir...
Valter Dursley parecia muito feliz com o rumo que as coisas tomavam àquela manhã, pois ele estava expurgando, em sua opinião, o maior estorvo de sua vida simples e pacata.
__ Agora garoto suba para o quarto e aproveite para arrumar suas tralhas esquisitas, pois amanhã de manhã, vou atira-lo na rua da amargura sem nenhuma pena...
Dito isso ele sentou novamente, um pouco alarmado, um pouco arfante.
Harry ficara estático, ao ver seu tio exultante no ato de desmoraliza-lo e humilha-lo, o que fazia, às vezes, com requintes de crueldade, e não pronunciara palavra alguma. Ficara ali ouvindo o que parecia uma esparrela, um logro, sabia ele que sairia dali para nunca mais voltar, mas não pensava que teria que sair daquela maneira intempestiva e tão desabridamente.
Hostilizado e humilhado não coube a ele outro ato, a não ser sair dali e fazer o que tinha de fazer.
Petûnia pareceu não tomar ciência do acontecido e continuou a lavar a louça enquanto o sobrinho saia da cozinha em direção ao menor quarto da casa, no segundo pavimento.
Por mais incrível que pareça, Harry não estava com raiva do acontecido há pouco, parecia que este tipo de coisa não mais o atingia e dessa maneira ele sentou-se em sua cama mirando a janela aberta, liberdade...
O quarto há tempos não era arrumado e ele não iria arrumar, não carecia de arrumação nesse momento, não mais que precisava de ajuda. Há um ano atrás seu primeiro pensamento seria mandar uma carta a Dumbledore, ele saberia o que fazer. Mas não havia mais o mago divertido para ajudá-lo nessas horas, e não sabia o que a Ordem fazia nesse momento, pois a última carta que recebera de Lupin não dizia nada de importante, a não ser o fato de ele não poder sair dali até que fosse contatado.
Isso não era nenhuma novidade, já estava acostumado a ficar atolado naquela casa o verão inteiro e dessa vez não seria diferente.
Passou o resto do dia recordando enquanto arrumava o malão com todas as coisas que tinha, o que ao contrário do que ele pensara, agora eram bem numerosas. Primeiro foram suas roupas, as quais ele deu preferência para as vestes bruxas, escolhendo poucas roupas trouxas, muito poucas, somente os blusões que o rapaz havia ganho da Sra Weasley estavam dentro do malão, juntamente com algumas calças e camisas, as meias ele deixara por último.Meias lembravam o velho Dobby, ainda lembrava do segundo ano quando o elfo tentara engana-lo para não ir para Hogwarts, mas mesmo assim ele fora, e mais uma vez triunfara sobre Voldemort, um Horcrux, um pedaço da alma despedaçada do assassino.
Pegou sua Firebolt, sua inseparável vassoura de corrida, ainda considerada a melhor do mundo, colocou-a ao lado do malão, mas não sem se lembrar de Sirius mais uma vez, lembrou de como o padrinho parecera feliz quando Harry aceitara viver com ele, mas mais uma vez o destino falhara com a felicidade, escapara pelos dedos, como água, e agora Sirius estava morto. Não havia como trazer os mortos de volta.
Harry sentou na cama, um pouco cansado dessa vez, mas com uma idéia na cabeça, ainda por lapidar, mas algo estava se formando. Não iria mandar carta alguma para a Ordem, não pediria mais ajuda quando sabia o que fazer... e desta vez ele sabia.
Não desceu para o jantar, ao contrário, trancou a porta do seu quarto para que não fosse incomodado por seu tio ou qualquer outra coisa. Dessa maneira ele pôs seu pequeno plano em prática.
Harry estava vestido totalmente quando levantou a tábua em baixo de sua cama em busca dos pergaminhos que guardava todos esses anos, suas vestes eram totalmente negras, ali viu cartas antigas dos amigos, assim como cartas de pouco tempo atrás.
Rony e Mione pareciam muito preocupados com ele, a coruja minúscula de Rony já estava cansada de fazer e refazer o mesmo trajeto quase todos os dias até a casa de Harry. Hermione por sua vez enviara um grande pergaminho preocupada com a saúde de Harry, ele respondera em um pequeno bilhete que ela estava parecendo muito com a Sra Weasley.
Gina estava respeitando Harry e havia mandado um pequeno bilhete mandando lembranças, mas nada muito afetuoso, ela sabia que ele não faria nada enquanto Voldemort ainda respirasse.
Agora não faltava muito para o momento fatídico, faltavam trinta minutos para a meia noite e ele não sabia o que poderia acontecer quando a barreira terminasse, o encanto se quebrasse. Poderia ser atacado por comensais no momento em que o feitiço fosse quebrado, e ele teria apenas sua magia para se defender, só teria a si desta vez, pois Dumbledore estava morto.
ONZE E QUARENTA...
Levantou devagar e foi até a janela, Alfeneiros calma e deserta. Os Durley’s dormiam, isso era certeza, não se importaram com o fato de ele estar naquele quarto, pois pela manhã o colocariam para fora, mas ele também não se importava mais também. O malão estava no meio do cômodo como se a espera de algo, sentimento muito familiar a Harry que com certeza esperava algo.
ONZE E QUARENTA E CINCO...
Se acontecesse alguma coisa, sabia o que fazer... olhou para a escrivaninha e lá estava um exemplar do Profeta Diário. Havia recebido pela manhã, agora todos os dias estavam estampadas fotos de conhecidos comensais da morte ainda fora de controle, e agora se juntavam os rostos de Severo Snape e Draco Malfoy, a foto de Draco sorria imponente e a de Snape encarava somente piscando as vezes olhando para os lados e voltando a olhar para a frente, desde a morte de Dumbledore, caso que ainda repercutia entre os bruxos, Voldemort agia livremente fazendo toda a sorte de pânico e terror que poderia causar, agora não havia mais Alvo Dumbledore para acabar com seus planos, e o Ministério da Magia não era muito eficiente, mesmo agora com Scringeur no poder.
ONZE E CINQUENTA...
Foi até a janela novamente, a luz da lua predominava no céu, sem sinais de Dementadores, nem mesmo comensais da morte montados em vassouras, nem mesmo dragões com gigantes montados... olhou para a rua mal iluminada, nada de inferis pululando pela travessa, estava tudo como devia estar, tudo na mais perfeita ordem.
Escutou um ronco alto, mas era nada mais que seu tio Valter que dormia naquela hora, na verdade o que acabava com ele era essa espera infernal, não poderia fazer magia antes da meia noite, sendo assim não podia fazer nada até lá.
ONZE E CINQUENTA E CINCO...
Apertou um pouco mais a varinha em seu punho, nunca a espera de um aniversário havia sido tão sofrida... havia despachado Hedwiges a alguns minutos quando...
MEIA NOITE...
Harry olhou para a rua com nervosismo, ainda continuava a mesma Alfeneiros de sempre.
Harry era agora um bruxo adulto, alarmado com o fato de nada ter acontecido até aquele momento.
Silêncio total.
Continuou parado ali a espera de algo, mas nada além de um modorrento silêncio, nada mais.
Passada meia hora ele resolveu que nada aconteceria, resolveu que era hora de se despedir de tudo aquilo.
Na escrivaninha onde nos anos passados ficava a foto emoldurada de seus pais ele escreveu um bilhete se despedindo dos parentes, se perguntando se eles sentiriam alguma falta.
As paredes não tinham mais pôsteres de quadribol, algumas roupas muito largas aparecendo pelas portas entreabertas de um armário surrado denunciavam que alguém morava naquele quarto, que alguém habitava aquele lugar. Mas o menor quarto da casa não pertencia ao garoto maluco, sobrinho dos Dursley’s, nem mesmo o quarto de Harry Potter o-menino-que-sobreviveu. Aquele era somente o antigo segundo quarto de Dudley Dursley, e nada naquele lugar dizia o contrário.
Naquela noite o trouxa Harry Potter deixou de existir.


(N.A: é pequeno, mas tem conteúdo)

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