Acertos de Conta



Capítulo 10 – Acertos de conta.


 


Hermione deixou o Profeta Diário cair no chão. E depois precisou sentar-se no sofá, pois estava zonza. Esperava por uma notícia ruim, mas não aquela.


Ela controlou a respiração, espremeu os olhos para que não lacrimejassem e em seguida apanhou de novo o jornal. A foto de Malfoy, vestido com o pijama de Azkaban, estava na primeira página e em baixo, a notícia fatídica:


“Draco Malfoy condenado à execução por AVADA QUEDAVRA.... por Rita Skeeter


Depois de um conturbado julgamento à pressas no Departamento de Mistérios, Draco Malfoy foi condenado a pena de morte por formação de quadrilha, conspiração e assassinato. Um dos integrantes mais conhecidos e importantes da Rússia, o Sr. Paschenko também foi julgado e auferido com a mesma pena. O Sr. Paschenko foi executado hoje pela manhã nas dependências do Ministério da Magia da Rússia, embora não tenhamos mais informações a respeito. O Sr. Draco Malfoy, importante e proeminente bruxo da nossa época, foi responsável pela morte de 567 bruxos ao todo contaminados pela Praga de Dracon, lembrando que o Profeta Diário foi o primeiro a publicar a formula da cura temporária a quinze dias atrás. A execução de Malfoy está agendada para hoje, à meia noite, em audiência pública no Departamento de Justiça do Ministério da Magia. O Ministro Quim Schakelbolt anunciou hoje que o bruxo escolhido para proferir o feitiço que tirará a vida de Draco foi o auror responsável pela sua captura, chefe do Departamento de Aurores, Harry Potter...”


 


Hermione deixou o jornal escorregar de sua mão novamente, mas dessa vez não o pegou. Saber que Draco Malfoy tinha pouco mais que doze horas de vida abalou-a profundamente.


Havia quinze dias que Malfoy fora preso, quinze dias que ela não o via. Ela tentou, implorou para Harry para que ele a deixasse ver Draco uma única vez, precisava de uma explicação dele, mas Harry não deixou.


A campainha do apartamento tocou tirando Hermione de seus pensamentos. Ela automaticamente levantou-se e abriu a porta, sem pensar direito no que estava fazendo. Era Rony.


- Você está pálida! Tudo bem, com você? – perguntou ele, preocupado.


Hermione não respondeu e voltou a se sentar no sofá. Rony sentou-se defronte a ela segundos depois.


- Achei que a esta altura você teria voltado para casa. – falou ele, olhando em volta. - Eu tenho dado as mensagens que você tem mandado aos nossos filhos, mas eles sentem a falta da mãe. E esse apartamento de trouxa não é para você.


Hermione não respondeu e abaixou a cabeça, seus olhos encontraram os de Malfoy na foto do jornal que estava jogado no chão. Malfoy parecia tão calmo e tão firme naquela foto.


- Ah... então já sabe? – perguntou Rony, como se fosse uma notícia casual. – Por isso está tão pálida?


- Não posso acreditar que ele vai ser executado...e  por Harry. – falou Hermione, num tom de voz distante, quase inaudível.


- Ele foi julgado e condenado e Harry foi escolhido por Quim. Só vai fazer o dever dele, Hermione. Eu não sei qual é o seu problema. Draco Malfoy conspirou contra nós, quase nos matou, foi responsável pela morte de quinhentas pessoas, quantas outras sofreram com a perda, com o desespero. Ele te usou o tempo todo, brincou com os seus sentimentos. Eu realmente não sei porque você ainda se afetou com essa notícia. Você deveria estar comemorando agora...!


Hermione esfregou as duas mãos nervosamente. Rony talvez tivesse toda a razão, Rony tinha toda a razão, mas porque seu coração parecia tão esmagado, tão dolorido, porque o ar parecia pesado em seus pulmões, porque todo o seu ser ardia numa dor intangível?


- Vamos acabar com isso tudo, Mione. O que passou, passou, volta pra casa... Volta pro nosso casamento... você sabe que eu te perdoei por tudo. Só quero você de volta.


Hermione ergueu a cabeça e encarou Rony com raiva.


- E o que você tinha para me perdoar, hein Rony?


- Bem, Harry me contou que você e Draco tiveram um relacionamento... mas eu te perdôo por essa traição.


- Ora, Rony Weasley... o que eu tive com Draco não é problema seu, nem de Harry, uma vez que vocês dois me mandaram para Azkaban. Você não foi me visitar nem uma só vez, Rony. Naquela época ainda estávamos juntos, embora nosso casamento já tenha se deteriorado há muitos anos atrás.


- Não diga isso, Mione. Eu te amo. Sempre te amei, meu amor...


- Então porque não me visitou em Azkaban, porque não me deu apoio... ?


- Tudo apontava contra você...


Hermione olhou para seu marido com uma certa mágoa. Talvez seu casamento tivesse ido por um outro rumo se ele ao mesmo ficasse do seu lado. Se ele a tratasse com um mínimo de consideração.


- Rony... eu sinto muito. Não quero te culpar das coisas que aconteceram e nem você deve me culpar. Eu sempre te respeitei, nunca te traí até o momento em que te pedi divórcio, e para ser sincera, nem mesmo depois, embora eu e Malfoy tenhamos tido mesmo um relacionamento. Não é por isso que o nosso casamento fracassou. Você sabe que somos muito diferentes um do outro... e afinal, Harry...


- Mas Draco vai morrer hoje, Mione. e ele não te ama... – falou Rony, às pressas, interrompendo Hermione.  – E Harry também não.


- Espera, Rony. Deixa eu terminar... o que eu estava querendo dizer é que não importa o que possa acontecer comigo e com Harry ou com Draco, o que importa é que não posso mais continuar casada com você sem te amar... Rony. Eu não quero mais. Simplesmente não quero mais.


- E nossos filhos? Quem vai cuidar dos nossos filhos? – perguntou Rony.


- EU VOU! – falou Hermione, aborrecida. – Estar separada de você não quer dizer estar separada de nossos filhos. Eles sempre terão a mãe deles. Quando eles não estiverem em Azkaban, nós vamos dividir o tempo com eles, meio a meio, Rony. Justo para todo mundo.


- Eu não posso aceitar isso. Se você não quiser ficar comigo, também não vou deixar que fique com eles.


- Imaginei que disse isso! – disse Hermione, com um tom grave. – Já entrei com processo de litígio no Ministério da Magia, Rony. Eu vou lhe dar uma gorda pensão, não lhe faltará nada, mas teremos que dividir a guarda de nossos filhos.


- Você já entrou com um processo? Sua, sua...!!


Rony partiu para cima de Hermione, agarrou pelos braços e a chacoalhou com violência.


- Não vou deixar que acabe com nosso casamento, assim, Mione... não vou deixar, está ouvindo.


- Para com isso, Rony, pára!!! – gritou Hermione, tentando afastá-lo. No mesmo instante apareceram duas mãos e jogaram Rony para o outro sofá.


- O que está acontecendo aqui? – falou Harry. - Eu ia bater a porta, mas como escutei você gritando resolvei entrar. O que é isso, Rony, o que está acontecendo aqui!


Rony chorava. Hermione tinha pena dele, gostaria de poder consolá-lo, mas aquilo só pioraria as coisas.


-Mione está me matando, ela está matando o nosso casamento e me matando junto, eu não posso viver sem ela.


- Rony, sinceramente... – falou Harry, num tom sério. – O casamento de vocês já está morto há muito tempo. Refaça sua vida, Rony.


- Pra você ficar com ela??? – falou Rony, olhando com raiva para Harry. – Pensa que eu não sei o que está acontecendo entre vocês.


- Independente do que aconteça entre mim e Hermione, acho que não há mais lugar para você como marido dela, Rony.


Hermione levantou-se, ainda abalada pelo comportamento de Rony.


- Tivemos uma grande história juntos, Rony. Mas essa história acabou por aqui. Espero que um dia possamos ser amigos... Agora saia do meu apartamento!


 


Rony levantou-se, aborrecido, lavado em lágrimas e saiu do apartamento. Aquilo foi muito pior do que Hermione imaginou que poderia ter sido, mas já era mais do que na hora de acabar com aquela relação. Quando Harry sentou-se no lugar de Rony a sua frente, Hermione desabou novamente no sofá.


- Eu não queria que fosse assim... – falou Hermione. – Eu sinto tanto por Rony.


- Eu sei o que você está sofrendo. – revelou Harry, parecendo tão abatido quanto Mione. – Meu casamento com Gina também está acabado. Eu pedi o divórcio, fui visitá-la algumas vezes em Azkaban. Não foi nada fácil para ela aceitar. Mas não podia continuar com ela depois de tudo o que ela fez. Principalmente, a você, Mione...


Hermione respirou fundo. Agora tinha uma conversa com Harry que também não prometia ser nada fácil.


- Harry eu...


- Mione antes que você diga qualquer coisa, eu preciso lhe dizer que tenho pensado muito a respeito de tudo. Tenho pensado sobre o que você me disse naquele hospital, quando eu estava quase morrendo. E eu pensei em toda a nossa história. Todos os momentos que passamos juntos. Eu percebi que você é mais importante pra mim do que eu imaginava... Hermione... eu acho que estou apaixonado por você. Eu acho que a amo. Acho que sempre a amei. E talvez agora seja o momento de ficarmos juntos, agora que nossos casamentos acabaram...


Hermione olhou para Harry espantada. Quanto havia sonhado com aquilo. Quanto havia esperado por aquelas palavras. Se aquelas palavras tivessem vindo antes... tudo seria diferente... mas não haviam. A verdade é que, entre a foto de Malfoy no jornal jogado a seus pés e o rosto de Harry a sua frente, em carne e em osso, Hermione preferiu abaixar a cabeça. Na foto, Malfoy dava um pequeno sorriso. Aquele sorriso sarcástico e tão encantador que ele costumava dar.


- Não vai falar nada, Hermione...? – perguntou Harry, num tom confuso e ansioso.


- Muita coisa aconteceu desde então... – respondeu ela, somente, sem olhar para ele. – Draco aconteceu...


- Ah, Hermione. Você sempre foi uma mulher racional, sensata. Não acredito que tenha se envolvido dessa forma com Malfoy. Não acredito que mesmo sabendo de todas as tramóias que ele fez, você continua apaixonada por ele.


- Não podemos mandar no nosso próprio coração... – falou Hermione. – Eu sei que estou sendo uma idiota. Sei que Draco foi o vilão dessa história toda. Sei que ele me usou e brincou com meus sentimentos, mas...- Hermione sentiu os olhos lacrimejando. Tentou espremê-los, mas algumas lágrimas pesadas rolaram pelo rosto. – A verdade é que não consigo pensar noutra coisa que não seja ele. E não posso acreditar que ele vai morrer hoje. Não posso acreditar que você o irá matar hoje. Não posso acreditar que nunca mais verei o seu rosto. Isso tudo está acabando comigo. E está difícil para segurar...


- Hermione... – Harry levantou-se e aproximou dela, tentando abraçá-la, mas ela se levantou.


- Não, Harry.... se eu ficar com você hoje, nunca saberei se é porque eu realmente te amo, ou só porque você me deu apoio. Vá embora. Nós dois precisamos rever nossos sentimentos. Nós dois fomos enganados. Se o destino quiser que fiquemos juntos, será no futuro, quando os fantasmas de Gina e Malfoy não estiverem mais entre nós. Agora vá!


 


Harry tentou protestar ainda, mas como um homem sensato, resolveu ceder aos apelos de Hermione. Quando ela ficou sozinha no apartamento, Hermione não segurou mais e chorou. Chorou até que não tinha mais lágrimas. Não poderia acreditar que Malfoy iria morrer. E não conseguia acreditar porque se sentia tão completamente arrasada com aquilo. “Ele te enganou, Hermione, Malfoy te usou esse tempo todo. Te manipulou. Ele e Gina são os vilões. Porque você não o esquece”, dizia a si mesma, mas era inútil. Na sua memória, vinha a lembrança do toque suave das mãos de Malfoy. Do seu abraço carinhoso no dia que saíra completamente arrasada de Azkaban. Dos momentos que passaram juntos na Mansão Malfoy. De todos os cafés da manhã e jantares que conversavam a respeito de magia, ou de qualquer outro assunto, dos livros que os discutiam, dos beijos que trocaram...   


- Eu não posso deixá-lo morrer... simplesmente não posso... – disse ela, em voz alta, sentindo algo que nunca, jamais imaginou que pudesse sentir... – Eu amo Draco... Deus... eu o amo...


Hermione olhou no relógio. Era exatamente meio-dia. Doze horas para o último suspiro de Malfoy.


 

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