Complicações



N/A: sem mais demoras, eis aí o capítulo.








Capítulo 11

Complicações






Mesmo faltando alguns dias para chegada do inverno em si, o clima frio já dominava, e os alunos já não podiam mais andar pela escola sem seus casacos, luvas e cachecóis. A semana, após o passeio em Hogsmeade, foi conturbada, como sempre. Alunos esquecendo trabalhos e fazendo em última hora; detenções sendo distribuídas - o que deixou o zelador Filch incrivelmente satisfeito, (a Diretora Minerva precisou lembrá-lo constantemente que métodos medievais não eram permitidos como castigo); e, claro, os ataques da Garota Misteriosa, que parecia muito feliz em comentar sobre todas as coisas que estavam havendo.

Apesar de todos os ataques e inconvenientes, o que mais incomodava os alunos naquele momento era que as primeiras provas estavam chegando. Só haveria mais uma semana pra estudar, antes que os primeiros exames começassem. Os mais preocupados, é claro, eram aqueles que estavam no 5º e no 7º ano. Os exames serviriam como “testes” para os NOM’s e NIEM’s que prestariam depois das férias de natal, e eles queriam estar preparados para não fazerem feio. Agora já era normal ver a biblioteca lotada todos os dias até tarde, e os salões comunais já não transbordavam em conversas improdutivas. Todos cooperavam e faziam silêncio, para transformarem suas casas em verdadeiros centros de estudo.

Rose, como era de se esperar, era a mais desesperada para as provas. Por mais que seu irmão, primos, amigos e namorado, dissessem que ela estava bem preparada e provavelmente sabia muito mais que alguns professores, a ruiva não se sentia segura, e sempre que podia sumia por trás das pilhas de livros, que agora insistia em carregar pra todos os lados. É claro que o mais incomodado com isso era Scorpius, que se sentia trocado e também explorado, já que Rose o obrigava a estudar com ela e também a tomar suas lições. O loiro já não agüentava mais ouvi-la discursando sobre conceitos e fórmulas, e por isso, sempre que tinha certeza que a ruiva não arrancaria sua cabeça fora, (coisa que ela parecia disposta a fazer com qualquer um que ousasse a contrariá-la), marcava treinos com o time da Sonserina, e descontava nos jogadores toda sua frustração.

- Você já parou ou ainda tem intenção de nos matar de cansaço hoje? – Vincent voou para perto do amigo, visivelmente exausto – Sabe como é, se ainda quiser acabar com a raça do time, só pra se sentir melhor pela Rosecreide estar acabando com a sua raça, vá em frente! Nós podemos morrer pelo bem maior!

- Cala a boca e dê mais 10 voltas pelo campo! – Scorpius retrucou nervoso.

- Como quiser, mas já aviso que se eu cair dessa vassoura, você não terá que enfrentar uma mulher a beira dos nervos, e sim duas! Não se esqueça que a Sophie pode ser bem má quando quer! – Vincent alertou e foi cumprir as ordens do capitão.

Scorpius observava os jogadores se empenhando ao máximo e não se importava muito por eles estarem ofegantes e irritados. Qualquer erro era motivo para ele gritar e mandá-los repetir as jogadas, e quando não conseguiam executar com perfeição, ele mesmo demonstrava suas habilidades, deixando todo o time boquiaberto com sua facilidade de se movimentar com a vassoura e marcar gols.

- Podem parar! – o loiro disse num tom de voz razoável, e ao ver que os jogadores não ouviram se irritou e gritou – EU MANDEI VOCÊS PARAREM! ESTÃO SURDOS?

No mesmo instante todos do time pararam suas jogadas e seus exercícios, e com cautela, voaram para perto do capitão.

- Eu já vi crianças jogarem melhor que vocês! – Scorpius disse seco – E...

- Ah qual é Scorpius! – Vincent se irritou – Tudo bem que você tá bravo com toda a irritação e implicância da sua namorada, mas isso não lhe dá o direito de nos comparar com crianças birrentas! Você sabe bem que todos aqui jogam excepcionalmente, caso contrário não teria nos colocado no time! Então pára com essa crise de avó de meia idade e vá descontar suas frustrações e raivinhas em outra pessoa!

- Williams, você está me enfrentando?

- Estou, por quê? Vai me azarar? Empurrar da vassoura? O que? Olha cara, eu já sou bem crescido pra ter medo de cara feia e ameaças, ainda mais suas!

- Está fora do próximo jogo! – Scorpius anunciou, e todos, exceto Vincent, arregalaram os olhos.

- É sua palavra final? – o moreno perguntou, sem demonstrar irritação.

- Sim!

- Certo, Capitão! – Vincent disse e foi em direção ao solo, com sua vassoura.

Vincent caminhou até o vestiário, tomou um rápido banho, trocou sua roupa e caminhou, lentamente, de volta ao castelo. Ainda pôde ouvir os jogadores reclamarem por sua saída, mas depois da ameaça de Scorpius, de tirar todos do time e fazer uma nova seleção, eles se calaram. O moreno apenas balançou a cabeça e seguiu seu caminho sem reclamar.

Estava se aproximando da porta do castelo, quando ouviu uma voz feminina, gritar por ele.

- Ei, você! – a menina gritou e correu até ele – É aluno do 7º ano, né?

Vincent analisou a pequena figura a sua frente, com uma expressão de desdém. Conhecia aquela menina, é claro. Estava sempre com a filha do sócio do pai de seu, talvez ex, melhor amigo. Só não recordava seu nome.

- Te conheço? – ele perguntou, sem demonstrar nenhuma emoção.

- Paola Gusmand, prazer! – Paola sorriu – Bom, você não respondeu minha pergunta!

- O prazer é todo seu! – Vincent respondeu – E nem vou responder, uma vez que é óbvio que sou aluno do 7º ano! O que quer?

- Uma ajuda!

- E por que não vai pedir pra um de seus amigos? Eu nem conheço você!

- Porque eles não estão por perto, e você foi o único aluno do 7º ano a passar por aqui! – ela sorriu angelicalmente, na tentativa de parecer casual – Pelo menos, o único que eu tinha 90% de certeza ser do último ano!

- Por acaso carrego uma placa dizendo: “ajuda gratuita aqui”? – Vincent perguntou sério – Se toca pirralha! Tenho mais o que fazer do que ficar bancando o santo protetor e nobre dos novatos! Agora faz o seguinte, pequena figura desconhecida e de faixinha, se tem alguma dificuldade no dever, corra pra um local grande, com estantes e livros, conhecido como biblioteca, e resolva tudo lá!

- Você é muito grosso, sabia?

- É claro que eu sabia, mas obrigado pelo elogio! – ele sorriu ironicamente – Agora se me der licença, vou atrás da minha noiva! – dizendo isso, ele se virou e seguiu seu caminho para dentro do castelo.

Paola apenas observou o rapaz ir embora, com um sorriso nos lábios. “Esse vai ser difícil”, ela pensou, “Mas nada que eu não possa enfrentar!”. Ainda sorrindo, ela foi atrás de sua amiga, para contar sobre o ocorrido.



***




Não demorou muito para Vincent encontrar sua namorada. Ela estava sentada no salão comunal com algumas amigas, aparentemente, estudando. Sem querer incomodá-la, ele seguiu para seu quarto, sem falar uma palavra.

A loira, ao observar sua expressão e o modo que ele ignorou completamente sua presença ali, pediu licença às meninas e o seguiu. Alguma coisa havia acontecido, disso ela tinha certeza.

Mal ele havia fechado a porta, ela abriu, sem pedir licença e novamente fechou atrás de si. O encarou, esperando que ele falasse algo, mas como não disse nada, decidiu puxar o assunto.

- Agora sou invisível pra você, é? – ela perguntou calma, embora não conseguisse esconder bem a curiosidade em sua voz.

- Desculpa, eu só não quis atrapalhar vocês! – Vincent respondeu e respirou fundo. Não iria descontar nela sua raiva.

- O que aconteceu? – Sophie caminhou até o local em que o moreno estava parado e acariciou seu rosto – E não me diga que isso é preocupação com as provas, porque eu não vou acreditar.

Ele deu uma risada curta e beijou sua testa.

- Briguei com Scorpius! Acho que ele pediu o divórcio! – ele zombou.

- Meu Merlin! Depois de todos esses anos? Eu não deixava! – a loira entrou na brincadeira e logo se recompôs, ao ver que a expressão do namorado tinha ficado triste novamente – O que aconteceu, exatamente?

- Aparentemente ele entrou em uma crise de nervos porque a Rose tem explorado seu intelecto e abusado de sua paciência, e resolveu detonar todo o time! Eu até tava levando na boa, mas quando ele começou a esculachar todos nós, interferi e pedi pra que ele maneirasse! Então, usando de sua autoridade como capitão e achando que eu estava o enfrentando, ele me cortou do time! Resumindo tudo, eu estou fora do próximo jogo! – Vincent suspirou.

- Que idiota! – Sophie disse irritada.

- Eu sei que eu sou, mas não podia ficar calado, e...

- Não você, o Scorpius que é idiota! Quer dizer que a Rose enche o saco nele e aquele loiro irritante desconta em você?

- Na verdade, foi no time inteiro!

- Que seja! Mas isso não dá a ele o direito de agir assim! – Sophie se virou pra sair, mas antes que desse dois passos, sentiu os braços de Vincent em volta de sua cintura, a prendendo no local que estava.

- Olha amor, obrigado pela sua demonstração de afeto e irritação! É bom saber que minha dor é a sua dor, e meus problemas são seus problemas, mas se você for lá azará-lo, ameaçá-lo, torturá-lo e matá-lo, o pessoal vai desconfiar da minha masculinidade, então, por favor, se contenha! Acho que ele está tendo problemas suficientes com os nervos da Rose, para aturar outra mulher histérica!

- Mas isso não é justo com você! – ela protestou.

- Não, e nem com o resto do time! Mas quer saber, não tô ligando! O próximo jogo é contra a Lufa-Lufa mesmo, e nem que eles façam promessa a Merlin, vão conseguir vencer! É sério, eles são patéticos! – os dois riram – E além do mais, é bom ter esse tempo livro, sabe... – ele sorriu e se aproximou mais do rosto da namorada.

- Ah é?! – Sophie fingiu-se de desentendida – E posso saber o por que?

- Porque assim, eu posso ficar mais tempo, com uma loira mandona e brava! – ele disse e antes que ela reclamasse, a beijou.




***





Lily caminhava apressada pelos corredores. Estava atrasada pra sua aula de poções, e pra completar sua “tragédia”, teria que entregar um trabalho, que julgava ter feito muito mal. Assim como os outros alunos de seu ano, a ruiva estava completamente alienada de tudo que acontecia a sua volta e se preocupava mais em estudar pras provas, do que fazer trabalhos ou exercícios. Pra sua sorte, e também dos outros que pensavam assim, a maioria dos professores os compreendiam, e maneiravam quando pediam alguma tarefa.

Lily estava virando em um corredor, quando deu de cara com Hugo conversando com uma menina que ela reconheceu ser do 4º ano da Grifinória. Ignorando completamente a voz em sua cabeça que pedia pra gritar e espernear ao ver aquela cena, a ruivinha caminhou até o namorado, com seu maior sorriso e antes que ele pudesse cumprimentá-la, o beijou rapidamente.

- Olá! – Lily disse, ainda sorrindo e encarando as duas pessoas a sua frente – Achei que estivesse na biblioteca! – ela olhou pra Hugo.

- Eu estava! Mas depois de umas três tentativas frustradas de fazer o trabalho de Slughorn, simplesmente desisti e vim procurar você! – ele respondeu simples.

- E você Terri, também estava na biblioteca? – Lily perguntou casualmente, tentando não parecer tão interessada.

- Não! Eu estava indo pra aula de Transfiguração, e quando cruzei com o Hugo, aproveitei pra perguntar o quão brava a Diretora Minerva estava! – a jovem sorriu – Soube que o Pirraça invadiu a aula de vocês, e ela sempre fica nervosa quando isso acontece!

- Ah claro! Mas acredite Terri, mais nervosa ela vai ficar se você se atrasar! – Lily sorriu amavelmente – E nós também vamos nos atrasar pra Poções, se continuarmos aqui conversando! – a ruiva pegou a mão do namorado e começou a puxá-lo – Até o almoço Terri!

- Até mais! – a menina respondeu e saiu correndo pelos corredores, na esperança de não levar uma bronca da professora. Já Lily e Hugo seguiram seu caminho em direção as masmorras, para a aula de Poções.

- Sabe, não estamos tão atrasados pra aula de Poções! – Hugo disse na tentativa de tranqüilizar Lily.

- Estamos 5 minutos atrasados, de acordo com meu relógio! – ela deu um meio sorriso e apontou para o pulso.

- Sim, mas seu relógio não sabe que Slughorn cruzou com o prof. Longbotton no corredor, e que agora os dois estão em uma longa conversa sobre os tempos que Neville estudava aqui!

- Ahhhh... – Lily relaxou um pouco e diminuiu o passo. Detestava esperar nas escadas com os outros alunos, até que o professor aparecesse e permitisse a entrada deles.

O silêncio enquanto eles caminhavam durou alguns instantes, até que Hugo, impaciente, resolveu quebrá-lo.

- Então... Vai me dizer por que está tão quieta?

- Não estou quieta!

- Ah, claro que não! O silêncio que reinou durante longos 5 minutos foi fruto da minha imaginação. – ele disse sarcástico – O que aconteceu?

- Nada!

- Se fosse mesmo “nada”, não estaríamos tendo essa conversa, e você estaria tagarelando, como sempre faz! – Hugo encarou a menina ao seu lado, sério.

Lily sustentou o olhar, e em seguida suspirou. Por mais que ela quisesse, não conseguia mentir para alguém que a conhecia tão bem.

- Ela gosta de você! – a ruiva finalmente disse.

- Quem?

- Minha mãe! – ela respondeu.

- Claro que sim, sou o sobrinho favorito da tia Gina, mas você não precisava ficar séria assim pra contar algo que eu sempre soube! – ele debochou – Está falando da Terri?

- Sim!

- E como sabe disso?

- Vejamos... Eu sempre fui sua melhor amiga, sempre escutei as lamentações das meninas da Grifinória e dei conselhos a elas de como se aproximarem de você, e adivinhe, Terri era uma das integrantes oficiais do clube “Apaixonadas pelo Hugo”. – Lily respirou fundo, para manter o controle e em seguida sorriu – Mas deixa isso pra lá, é bobagem minha e não temos porque ficar conversando sobre meu ciúme!

Enquanto ouvia todo discurso, Hugo encarava a ruiva com uma das sobrancelhas levantadas, e uma expressão que mesclava preocupação e curiosidade. Lily nunca foi o tipo de menina que deixava se levar por ciúmes, e mesmo que fosse, ela nunca enrolaria pra admitir isso. Havia mais alguma coisa que a incomodava, mas ele não conseguia descobrir o que.

- Deixe-me ver se eu entendi... Todo aquele silêncio constrangedor, era porque você estava com ciúmes de uma garota e não queria que eu soubesse? – ele perguntou.

- Exatamente!

- Interessante! Sabe, Lílian, eu acreditaria nesse discurso, se não soubesse que está mentindo pra mim! – Hugo a acusou – Mas tudo bem, não vou obrigá-la a me contar algo que não queira! Quando achar que deve falar ou que eu mereço sua confiança, me avise e teremos uma conversa verdadeira! – ele encerrou o assunto e voltou a andar em direção as masmorras, mas dessa vez, um pouco mais rápido que a menina, a deixando pra trás.

Lily suspirou e praticamente correu para alcançar o namorado, que estava bem a frente dela. Quando estavam novamente lado a lado, ela o encarou e viu que Hugo não estava disposto a ouvir ladainhas, que não o convenceriam.

- Me desculpe! – ela disse, enquanto subiam as escadas para a sala.

- Tudo bem! – ele respondeu.

Os alunos formavam uma pequena fila do lado de fora da sala, enquanto esperavam, impacientemente, o professor Slughorn aparecer. A aula deveria ter começado há 15 minutos, e até aquele momento o que eles escutaram mais próximo a matéria de poções, foi um aluno baixinho e gordinho, ler em voz alta o capítulo do livro.

- Ora, ora! – Slughorn apareceu com um sorriso no rosto – Me desculpem pelo atraso! Vamos rapazes, me dêem licença pra eu passar! Isso... Ui, desculpe pelo pisão minha jovem!... Assim... Precisa de uma dieta Sr. Banks, você sozinho ocupou metade do corredor da escada, Ho-ho!

- E o senhor precisa nascer de novo, velho sem graça! – o rapaz cujo sobrenome era Banks, respondeu por baixo fôlego, arrancando risadinhas dos amigos.

- Disse alguma coisa jovem? – Slughorn perguntou.

- Não professor! Disse apenas que começaria com meu novo programa de dieta, a partir da hora do almoço! – Banks sorriu.

- Ah, que bom! Vamos, vamos, entrem! Alguns de vocês precisam urgentemente de uma revisão antes dos exames, e darei a vocês esse presentinho! – Slughorn entrou na sala, sendo seguido pelos alunos.

Como sempre, Lily, Hugo e Alice, (que eles haviam encontrado quando chegaram à escada), sentaram ao fundo da sala, na tentativa de evitar toda atenção e bajulação do professor, que eles consideravam ser, mais puxa-saco de Hogwarts.

A aula seguiu sem maiores problemas. É claro que Lily e Hugo foram elogiados, e pela milésima vez, tiveram que escutar o discurso a respeito de como seus pais eram ótimos alunos e o enchiam de orgulho...

Quando estavam fora da sala e bem longe da vista do professor, Lily e Hugo puderam respirar aliviados. Já Alice, antes mesmo que a amiga pudesse dizer que precisava conversar com ela, informou ao casal que estava atrasada e que os veria no almoço.

- Ela está tão mudada! – Lily suspirou – Eu não achei que uma pessoa fosse capaz de mudar de personalidade tão rápido assim... Sempre achei que esse tipo de coisa acontecia com o tempo! Em menos de duas semanas, ela parece ter esquecido quem era, e que era, ou pelo menos costumava ser, minha melhor amiga!

- Ela está passando por uma fase difícil! – Hugo disse simples – Não que eu aprove essa mudança de comportamento ou coisa do tipo! Ela não sabe o que está fazendo, e uma hora ou outra vai acabar percebendo no que se tornou e voltará a ser o que era!

- Espero que isso não demore!... E eu realmente precisava conversar com ela!

- Algo muito urgente?

- Mais ou menos!

- Algo que tenha a ver com a nossa conversa anterior e que você se recusa a me contar? – Hugo perguntou descontraído, e sorriu ao ver a ruiva arregalar os olhos – É, definitivamente tem a ver com o que você não quer me contar!

- Hugo, deixa isso pra lá, é sério!

- Eu deixo, mas fico me perguntando, quando foi que começamos a ter segredos um com o outro... – ele deu um passo a frente e se virou para encarar a menina – Você sabe que pode confiar em mim, né?!

Lily respirou fundo e o encarou. O que a preocupava não tinha nada a ver com confiança ou coisa do tipo, e não era justo deixá-lo pensar isso.

- Não é questão de confiança!

- É o que então?

- Você vai achar que é bobagem...

- Nada que te preocupa é bobagem pra mim!

- Ok! Sabe... Hoje eu ouvi uns comentários, bom... Não me agradaram muito!

- E os comentários eram sobre o que?

- Nós dois!

- Lily, pára de enrolar e diz logo o que falaram! – Hugo disse impaciente.

- É que... É que mesmo depois de todo esse tempo, algumas pessoas não acreditam que somos namorados! – ela disse envergonhada.

- Como assim não acreditam? Por Merlin, vivemos juntos!

- Vivíamos juntos antes de namorar também!

- Há mais alguma coisa que queira me contar e tá escondendo Lílian? Essa conversa tá sem sentido pra mim, e sinceramente não tô captando a mensagem!

Lily o encarou e suspirou pesadamente. Era óbvio que havia algo que a incomodava, só não sabia a forma de contar isso a ele.

- Hugo, eu sei que isso vai parecer ridículo da minha parte... Aliás, isso não vai parecer, isso é ridículo!

- O que é tão ridículo?

- Hoje quando eu ouvi os comentários sobre nós... Bom, você me conhece e sabe que não costumo dar ouvidos aos comentários dos outros, mas dessa vez foi diferente! Me fez sentir... Insegura! Talvez essa não seja a palavra certa, mas no momento, é a que melhor se encaixa!

- Insegura por quê? – Hugo perguntou e deu um passo pra frente.

- Quando os escutei falando a respeito de nós, e que talvez essa coisa de romance não fosse durar, senti meu coração apertar... Tudo bem que nos conhecemos tão bem que muitas das vezes nem precisamos dizer nada pra saber o que o outro sente, mas...

- Mas...?

- Eu não gostaria que fosse apenas isso que nos unisse!

Hugo encarou a ruiva a sua frente com um misto de tristeza e raiva. Como Lily podia pensar que estava com ela só por que era sua melhor amiga? Ou pior, só porque os dois se davam bem e se entendiam? Ele respirou fundo e quando falou novamente, sua voz saiu pausada. Não queria que ela percebesse sua chateação.

- Você acha realmente que estamos juntos só porque nos entendemos como amigos?

- Não, não é isso! – ela apressou-se em dizer – É que... Sabe, e se o que as pessoas falam for meio que... Verdade?

Hugo a encarou novamente, ainda mais triste e irritado que antes. Para ele, nada do que ela dizia estava fazendo sentido.

- Verdade? Acha o que? Que nosso namoro é fogo de palha e que um dia vamos acordar pra vida e nos dar conta de que isso tudo não passou de uma aventura?

- Não Hugo! Pára de interpretar tudo que eu digo de forma errada! Por favor! É só que...

- Só que...?

- Só que eu acho que tô gostando de você... De verdade!

- E você acha que eu não gosto de você de verdade? – ele praticamente gritou a pergunta.

- Não, não! Eu sei que gosta de mim de verdade! – Lily disse rapidamente.

- Então QUAL É O PROBLEMA?

- O PROBLEMA é que eu te amo demais! Eu simplesmente não me imagino mais sem você comigo entende? E não é um amor de amigo apenas! Não é um simples gostar que me faz querer ficar contigo! É amor de verdade Hugo! – Lily despejou tudo isso rapidamente, sem parar pra respirar – Eu não te vejo ao meu lado mais como um simples melhor amigo! Eu te vejo como a pessoa que vai acompanhar minha vida daqui em diante, e só de imaginar que isso pode não acontecer, eu...

- Fica quieta, fica! – Hugo quebrou a distância que havia entre eles, puxou Lily pela cintura e capturou seus lábios rapidamente, em um beijo apaixonado e quente. Obviamente ele tentava demonstrar com sua atitude, que todos os medos e inseguranças dela não faziam sentido, já que sentia o mesmo que ela.

Hugo beijava a jovem de forma possessiva, sem dar espaço para que ela fugisse. Não que Lily tivesse essa intenção, mas ele não queria arriscar. A única coisa que passava pela cabeça do ruivo naquele instante, era mostrar pra ela, de uma vez por todas, que aquelas dúvidas não eram necessárias.

Quando finalmente encerrou o beijo, Hugo encostou sua testa na de Lily, e apenas esperou até que sua respiração voltasse ao normal, para que pudesse falar. Ambos estavam vermelhos e ofegantes, a essa altura.

- Eu te amo! – ele disse baixinho – Eu te amo como nunca amei outra garota! Como jamais amei alguém em toda minha vida!... Então, por favor, tire todas suas dúvidas e medos da cabeça, porque nada disso faz sentido! Se tivesse conversado comigo antes, não precisaria sofrer por isso, já que eu também quero ter uma vida ao seu lado e ficar com você pro resto da vida!

- Hugo...

- Você é minha vida agora Lily! Na verdade, eu acho que sempre foi, mas eu fui muito lerdo pra notar que quem eu sempre amei, estava ao meu lado o tempo todo!




***




Passava um pouco da hora do almoço, quando Rose finalmente saiu de seu quarto e foi até o de Scorpius, ver se ele estava por lá. Nos últimos dias, ela ficava impressionada com a quantidade de treinos que ele fazia com o time da Sonserina. Isso até seria normal, se o adversário da próxima semana não fosse a Lufa-Lufa, cuja fama é péssima!

A ruiva parou em frente ao quarto e bateu 3 vezes, esperando uma resposta para entrar. Quando finalmente o ouviu gritar um “entre”, girou a maçaneta e entrou, carregando consigo, é claro, um livro de Runas Antigas.

- Boa tarde! – ela cumprimentou – Sabe, você devia ir até a porta, pra saber quem tá batendo! Vai que é o senhor Filch, querendo te colocar em detenção, e você manda entrar assim, na boa! – brincou.

- Boa tarde! E pode ficar tranqüila, que nos últimos dias, até o próprio Filch anda com medo de mim! – o loiro respondeu.

- Uau, Scorpius Malfoy colocando medo em todos a sua frente! – Rose debochou – O que é isso? Reflexo do sobrenome batendo a sua porta?

- Não, é reflexo de dias de estudo e brigas, e é claro, da ausência da namorada, que parece mais preocupada com as provas, do que com o mundo!

Rose arregalou os olhos diante a fala do namorado. Não esperava que ele reagisse dessa forma quando ela aparecesse.

Scorpius apenas riu seco.

- Quer alguma coisa?

- Não! – ela respondeu, ainda chocada.

- Você não veio aqui pra nada! – ele disse, e em seguida olhou para o livro que ela segurava e ergueu uma das sobrancelhas – Sabe, eu não estudo Runas Antigas! – disse sarcástico.

- Não vim aqui te chamar pra estudar! – a voz de Rose saiu mais aguda do que ela esperava.

- Ah não? Nossa que milagre! Então o que quer?

- Na verdade não é o que quero e sim o que queria! Vim aqui te chamar pra almoçar comigo no quarto da monitoria e tinha a intenção de te pedir desculpas por estar tão ausente! Mas depois dessa grosseria, você não merece nada! – Rose estava furiosa.

- Ah claro! Eu aturo seus chiliques e grosserias por dias, e quando você me vê um pouco irritado, já acha que não mereço nada? – Scorpius perguntou no mesmo tom que a ruiva – Você é realmente muito justa!

- E você muito grosso!

- Chata!

- Irritante!

- CDF!

- Idiota!

- Mal humorada!

- Trasgo!

- Linda!

- Bobo! – ela finalmente riu – Eu te odeio Malfoy!

- E eu te amo, Weasley! – Scorpius também riu e se aproximou mais da ruiva – Me desculpa!

- Só se você me desculpar por ter sido tão ausente! – ela disse e o encarou com um olhar de culpa.

- Eu já esqueci isso! – ele sorriu e a beijou carinhosamente – Agora vamos almoçar, eu tô faminto! Sem contar que ainda preciso achar o Vincent e maquinar um grande pedido de desculpas!

Rose o encarou, confusa.

- Pedido de desculpas pra que?

- É uma longa história! Te conto enquanto almoçamos!

- Certo!

Depois de almoçarem e de Scorpius explicar tudo que aconteceu no treino, Rose e ele saíram em busca de Vincent e Sophie. O loiro agora se sentia culpado por ter sido tão idiota com o melhor amigo, e estava disposto a implorar seu perdão se fosse preciso. Mas é claro, que ele não faria isso na frente de todos, pois como um bom sonserino, pedidos de desculpas são coisas raras e eles detestam fazer em público.

Após procurarem pelo castelo, o casal decidiu fazer uma busca pelos jardins da escola – agora muito vazios o que era reflexo do inverno que se aproximava – atrás dos dois. Não demorou para encontrá-los, sentados embaixo de uma árvore, próxima ao lago negro.

- Boa tarde! – Rose cumprimentou os amigos e se sentou em frente a eles – Espero não estar atrapalhando!

- Boa tarde, Rosecreide! – Vincent respondeu divertido – Atrapalhando o que? Um casal de noivos aproveitando o silêncio que reina no pátio, para ficar a sós e namorar? Que isso, você realmente não atrapalhou!

Todos riram.

- Oi Sophie! – Scorpius sorriu pra amiga e em seguida encarou o amigo – Er... Vincent posso falar com você?

- Olha Capitão, você já me cortou do time! O que vai fazer agora? Pedir que eu me fantasie de cobra e vá bancar o mascote no próximo jogo? Desculpa, mas não vou atender seu pedido, porque vai que alguém me olha e confunde com um basilísco? Não quero ser o causador de pânico no colégio!

Novamente todos riram, e Scorpius encarou o amigo, levemente sem graça.

- Na verdade, eu queria pedir pra você voltar pro time! – o loiro falou.

- E aturar seu péssimo humor e seus ataques de homem solitário em busca de alguém pra atacar? Não, obrigado! – Vincent respondeu – Esse tempo de folga vai me fazer bem, e não se preocupe, o próximo jogo é contra Lufa-Lufa, e o time vai ficar bem!

- O time talvez, mas não vai ser nada legal jogar e não ter meu melhor amigo por perto! – Scorpius disse, se sentindo culpado – Eu fui um idiota!

- Idiota? Por favor, idiota sou eu! Você foi um completo imbecil, ridículo, egocêntrico e patife!

- Obrigado Vincent!

- Estamos aqui para servir! – Vincent disse, e logo sorriu – Isso é um pedido de desculpas, por acaso?

- Talvez... Você aceita?

- O que? Esquecer tudo isso e retomar o nosso casamento perfeito? – Vincent debochou – Claro que sim amor! Vamos fugir e deixar essas meninas a sós!

- Hei, eu fui trocada? – Rose encarou os dois, com uma incrível vontade de rir.

- Não se preocupa Rose, se eles nos deixarem, teremos uma à outra... E quer saber, eu sempre desconfiei dessa amizade toda...

- Ok, vamos parar com esse assunto antes que alguém nos ouça e conte tudo à garota misteriosa, que é claro, não vai perder tempo e publicar na hora a manchete: VINCENT E SCORPIUS ASSUMEM ROMANCE, E DESILUDIDAS, SOPHIE E ROSE DECIDEM TENTAR ALGO NOVO! – Vincent brincou e novamente todos caíram na gargalhada.

- Então, vai aceitar minhas desculpas?

- E eu tenho que te desculpar pelo que? Você não fez nada! – Vincent sorriu e se virou pra Rose – Ah propósito, minha ruiva favorita, comece a pegar leve com o loiro aí, porque se não, ele fica com um humor de mulher em TPM, e quem atura as frescuras sou eu!

- Nossa, eu sou tão chata assim quando estamos em semana de provas? – ela encarou os três. Scorpius desviou o olhar, Sophie fingiu estar brincando com o cabelo, e Vincent, por algum motivo, se interessou bastante pela grama verde do jardim – Certo, eu realmente sou chata!

- Pra ser sincero, você é insuportável, mas nós agüentamos porque te amamos!

- Hei, não fale com ela assim! – Alvo disse, enquanto se aproximava do quarteto – Só quem pode chamá-la de pentelha sou eu, afinal de contas, são 17 anos casado com essa criatura!

- Obrigada Al... Eu acho! – Rose riu – Onde estava? Fui até seu quarto e não te achei!

- Tava reservando o campo pra treinar com a Grifinória. Com Scorpius dominando todo o horário vago, tava difícil achar um dia em que pudéssemos usar!

- Foi mal cara! Você devia ter me falado que queria treinar! – Scorpius disse.

- E arriscar ter minha belíssima cabeça morena arrancada pelo seu olhar mortal? Não, obrigado!

- Você tá convivendo muito com o Vincent, alguém já te disse isso? Tá ficando debochado igual a ele! – Sophie brincou.

- Eu sou o máximo, é por isso que as pessoas se inspiram! – Vincent comentou.

- E convencido também, diga-se de passagem! – Sophie disse e todos riram.

Os cinco amigos continuaram conversando por mais um tempo, até que finalmente, o horário vago acabou e eles precisaram se encaminhar para a aula de Defesa Contra as Artes das Trevas.

Rose, Scorpius e Alvo tiveram que correr até seus quartos para buscarem seu material. Vincent e Sophie, que já estavam preparados, seguiram para a sala.

O casal caminhava abraçado em direção a sala e conversava sobre coisas bobas, que não tinham nenhuma importância real, mas que os faziam sorrir. O clima de paz entre eles durou somente até Paola passar por eles e parar em frente a Vincent, com um largo sorriso no rosto.

- Obrigada pela dica de hoje! – ela disse, e ignorando completamente a presença de Sophie, se aproximou mais do rapaz – Foi realmente muito... Útil! – a morena encarou Sophie por um segundo, e ainda sorrindo, saiu da frente de Vincent, que a encarava completamente confuso.

Sophie nem esperou os dois ficarem a sós e já olhou para o noivo, completamente furiosa.

- Posso saber o que foi isso? – ela perguntou entre dentes.

Vincent piscou confuso por um instante, e encarou a namorada.

- Eu não sei! – respondeu sincero – Realmente não entendi nada!

- Não sabe? Você tá me dizendo que essa garota parou bem a sua frente e agradeceu você por nada? – Sophie começava a se alterar.

- É o que parece! Mas... Por que estamos brigando por isso? Por Merlin! Sophie, eu tô tão perdido quanto você!

- Está tão perdido quanto eu é? – a voz da loira era histérica – Imagina se um cara me para em um corredor e me agradece por algo, ignorando completamente sua presença! Como você se sentiria hein, Vincent?

- Na verdade eu nem teria tempo de sentir, já que quebraria a cara dele antes que pudesse dizer “tchau”. – Vincent brincou, o que não ajudou em nada.

- Não acredito! Eu simplesmente não acredito!

- Não acredita em que? Amor, sem querer ser chato, mas você tá me confundindo!

- Não acredito que até em momentos como esse você faz brincadeiras! – Sophie disse furiosa.

- E queria que eu fizesse o que?

- Me explicasse o motivo que aquela lá estava cheia de insinuações pra você!

- Mas eu já disse que não sei! – Vincent disse cansado.

- Ótimo! Então vamos fazer assim, quando sua memória der sinal de vida e você se lembrar do motivo que ela possa ter feito isso, me procure! – Sophie disse e saiu em passos duros, em direção a sala de aula.

Vincent apenas observou a loira se afastar e balançou a cabeça negativamente.

- Você está encrencado Williams! – ele disse para si – E o mais legal, é que nem sabe o motivo!

Ele sacudiu a cabeça mais uma vez e caminhou lentamente para a sala de aula. Foi quase o último a entrar na sala e não se surpreendeu ao ver a namorada dividindo uma mesa com uma garota baixinha e pouco atraente da Sonserina.

Vincent suspirou e foi se sentar ao lado de Alvo.

- Mulheres! – ele resmungou.

- Qual o problema? – Alvo perguntou curioso.

- Pela primeira vez, amigo, eu não sei! – respondeu – Só o que eu sei, é que a Sophie tá zangada comigo, porque aquela garota baixinha e que vive de faixa no cabelo, da Corvinal, parou na minha frente e me agradeceu por algo que não tenho idéia do que seja!

Alvo segurou um riso e encarou o amigo.

- Explicou isso a ela?

- Eu tentei, mas ela me ouviu? Não! Mulheres não ouvem! Elas fazem suas próprias verdades e nos deixam aqui, com cara de idiotas, tentando solucionar um problema, que aparentemente não existe!

- É cara, eu sei bem o que é isso!

Os dois riram e se calaram assim que o professor entrou na sala.

Vincent, obviamente, decidiu que resolveria isso depois. Agora, a única coisa que lhe restava, era prestar atenção no que era dito em sala.




***





O professor mal dispensou os alunos, e Vincent foi o primeiro a correr para fora da sala. Estava decidido a encontrar o “projeto de gnomo” da Corvinal e entender o motivo daquela ceninha ridícula.

Não foi difícil para ele encontrá-la. A turma do 6º ano estava saindo da aula de Transfiguração, e ele não pensou duas vezes ao caminhar até ela e puxá-la pelo braço, obrigando a segui-lo.

- O que pensa estar fazendo? – ela perguntou, tentando soltar o braço da mão do rapaz.

- Eu realmente não sei, mas você vai falar com a minha noiva o motivo que me parou no meio do corredor e me agradeceu por algo, que sinceramente criança, eu não sei o que foi!

- E se eu não quiser? – Paola o desafiou.

Vincent parou e encarou a menina a sua frente com o mais profundo olhar de ameaça e desprezo. Essa, sem dúvida, era uma das expressões em seu olhar que poucas vezes apareciam. Pouquíssimas pessoas naquela escola poderiam dizer que já viram o moreno furioso. Paola, agora, fazia parte desse pequeno grupo.

- Escuta pirralha, porque eu só vou falar uma vez. – a voz de Vincent era fria e rude – Eu realmente não me importo com o que quer ou deixa de querer! Se estou dizendo que vai falar com Sophie, é porque vai. Você não tem opções aqui!

- Não pode me obrigar a fazer nada, sabia?!

- Eu, não só posso te obrigar, como vou! – ele a cortou – Acredite menina, eu posso parecer simpático e brincalhão, mas não me deixe furioso. Definitivamente você não vai gostar de ser apresentada a minha outra face.

Dizendo isso, Vincent a puxou e levou a jovem até onde Sophie se encontrava.

A loira, ao ver aquela cena, encarou os dois com um misto de confusão e raiva. O que estava acontecendo agora? Ela queria saber.

- Diga a ela! – Vincent falou.

- Dizer o que? – Paola se fez de desentendida.

- O porquê daquela ceninha, que apesar de pequena, causou um estrago gigante! – o moreno falou – Aliás, eu gostaria de saber o motivo que me agradeceu!

Paola riu e encarou Sophie. Ela sabia que não tinha escolha, a não ser dizer a verdade, mas é claro, que aproveitaria para zombar da situação.

- Nossa, sinceramente não sabia que um simples agradecimento ia causar tanta discórdia! – balançou a cabeça e sorriu – Quando agradeci seu namorado...

- Noivo! – Sophie a corrigiu automaticamente.

- Que seja! Essa coisa de relacionamento realmente não me importa! – Paola disse de forma debochada – Quando agradeci seu noivo, foi simplesmente porque ele me aconselhou a ir à biblioteca!

- O que? – Vincent e Sophie disseram juntos.

- Ah, claro, esqueci que estava lidando com um desmemoriado! – ela ironizou – Pelo visto, você se esqueceu que hoje mais cedo encontrou comigo perto da entrada do castelo, e quando te pedi uma ajuda no dever, de forma nada delicada, me aconselhou a ir para biblioteca! – disse de forma simples – Eu fui, e consegui resolver meu problema! Então o agradeci!

- Ah... – Vincent disse. Aparentemente havia se recordado da cena – Então, de nada! – ele respondeu – Agora, por favor, desaparece!

- Claro! – ela sorriu – Mas, se quer um conselho meu, acho que é melhor se preocupar com sua memória, fofinho! – Paola caminhou até Vincent – Fui boazinha em explicar o que houve, mas com certeza existem pessoas que não serão tão generosas quanto eu! – ela se virou para encarar Sophie – E você bonitinha deveria confiar mais nele, sabia? Armar um escândalo desse só por um agradecimento... Tsc, tsc... Não entendo de relacionamentos, mas pelo que sei, insegurança é algo que pode destruir uma relação!

- Saia.da.minha.frente! – Sophie disse entre os dentes, tentando manter o controle.

- Com prazer! – Paola sorriu mais uma vez e saiu do local.

Vincent e Sophie ficaram parados, encarando o nada. Talvez estivessem chocados com a história da biblioteca ou atormentados pela ironia da menina, que parecia não se intimidar com nada e ter resposta pra tudo.

O corredor estava vazio agora, então Vincent achou que seria seguro falar.

- Sophie, eu...

- Ainda estou zangada com você! – ela o interrompeu.

- O que eu fiz agora? – ele perguntou confuso.

- Nada, mas estou com ciúmes e isso me faz ficar zangada com você! – a loira disse nervosa.

- Ciúmes de que? Sophie, por favor, você sabe que não precisa disso! – Vincent deu um passo para frente e ficou cara a cara com a jovem, que encarava o chão – Eu te amo!

- Eu sei. Mas não é isso! – ela ainda encarava o chão, quando falou.

- Olhe pra mim! – ele pediu carinhosamente, e ergueu o queixo da menina com a mão – Está chorando...

- Sim! – Sophie disse e o abraçou.

Vincent retribui o abraço e afagou os cabelos da namorada.

- Me escute. – Vincent disse, ainda abraçado a ela – Você não tem que sentir ciúmes dela e nem de nenhuma outra garota. Todas não passam de figuras sem graças e horríveis pra mim. Você é única, sempre foi e sempre vai ser! Não importa quanto tempo passe, eu vou continuar te amando. E vai ser assim, até quando estivermos velhinhos e de bengalas. Terei o maior prazer em dizer a todos os outros velhotes, que a idosa mais linda é minha e que eles morrerão infelizes por não terem alguém como você!

Sophie riu e ergueu o rosto pra encará-lo.

- Eu sou uma boba! – ela disse.

- A boba mais linda do mundo! – Vincent beijou seu rosto.

- É só que... O jeito como ela olhou você e como falou de nós me incomodou!

- Incomodou a mim também, mas quer saber? Deixe-a falar ou pensar o que quiser! Isso não importa pra mim. O que importa é o que eu sinto.

- Eu te amo! – ela disse e ficou na ponta dos pés para beijá-lo. – Que droga, eu tô chorando de novo!

- É, você está! Mas tudo bem, TPM é assim mesmo!

- Hei! Como sabe que eu tô na TPM?

- Simples! Toda vez que está assim, você cria um instinto altamente assassino e chorão! Então, não resta dúvidas de que suas reações exageradas, são por causa da TPM! – ele explicou e os dois riram.

- Eu vou matar você! – ela disse entre risos.

- Ok, mas faça isso depois do jantar! Sabe como é, morrer de estômago vazio não é uma coisa legal.



***




Já passava da hora do jantar, quando Alvo saiu da biblioteca. Por algum tipo de milagre, o jovem Potter havia decidido não enrolar mais para fazer o trabalho de Herbologia, e achou conveniente aproveitar o único horário que o local ficava mais vazio, para fazer sua tarefa.

Herbologia não era uma de suas matérias favoritas, assim como Trato das Criaturas Mágicas, mas depois de prestar os NOM’s no 5º ano, decidiu se matricular nelas somente por consideração aos professores. Desapontar Hagrid e Neville estava fora de cogitação, e, seguindo o exemplo de Rose, o moreno decidiu somar mais essas duas matérias a sua grade escolar.

Caminhava distraído e cansado pelo corredor vazio, quando seu olhar encontrou o de outra pessoa. Já haviam se passado duas semanas, e aquela sensação de desconforto e perda ainda dominava seu peito toda vez que encontrava aquele par de íris azuis o observando. Alice podia estar fisicamente mudada, mas seus olhos ainda carregavam a mesma inocência e brilho que fizeram Alvo se descontrolar na primeira vez que olhou pra eles de verdade, quando se beijaram pela primeira vez naquele parque.

Alvo respirou fundo e tentou colocar seus pensamentos em ordem. Não havia nem notado que ao encontrar a menina parou no meio do corredor. Precisava controlar suas reações ao vê-la, se quisesse realmente passar uma imagem casual. Somente ele precisava saber o quanto sofria por não tê-la; somente ele precisava saber o quanto era difícil vê-la com outro e ter que controlar o desejo de acabar com o indivíduo... Somente ele precisava saber o quanto ainda a amava e a forma que seu coração gritava por ela cada vez que a via.

O moreno sacudiu levemente a cabeça e continuou caminhando. Torceu para que ela não tivesse percebido seu momento de reflexão.

Não era preciso que ela falasse alguma coisa para ele saber que havia algo errado. Alice tinha uma expressão estranha no rosto. Parecia enjoada e levemente zonza. Ignorando completamente a parte racional de seu cérebro que o implorava para seguir em frente e deixá-la ali, Alvo se aproximou da jovem e a encarou de perto.

- Você tá bem? – ele perguntou.

- Sim... – ela fez um grande esforço pra responder e manter sua voz uniforme – A Li... a Lily tá na biblioteca?

- Não, a Lily foi jantar! – Alvo analisou a jovem por mais alguns instantes – Venha comigo, você não tá nada bem!

- Eu não vou com você a lugar nenhum! – Alice protestou e bateu os pés no chão, numa atitude típica de menina mimada.

- Você tem duas opções Huntington. A primeira é vir comigo andando com seus próprios pés, como uma boa garota! – o moreno disse pausadamente – A segunda é ser carregada por mim, o que além de chato será humilhante pra você!

Era óbvio que a castanha não tinha opções. Então, depois de um suspiro resignado, ela concordou e o seguiu.

Alvo virou no corredor que dava acesso ao seu quarto, e antes que a menina pudesse fugir, puxou-a pelo capuz do casaco e obrigou a vir com ele.

Quando estavam dentro do quarto, ele respirou aliviado.

- Sente-se! – ordenou, apontando para poltrona.

- Não quero! – Alice respondeu, ainda fazendo pirraça.

- Ok, quem vai ficar cansada é você e não eu! – ele disse – Agora me diga o que bebeu!

Alice arregalou os olhos e encarou Alvo, chocada. Como ele sabia que ela havia bebido?

- Como sabe que eu bebi? – perguntou surpresa.

- Você tá lerda, com um olhar vago e levemente verde! Se não é bebida, só pode ser intoxicação alimentar, mas como não a vi no café e no almoço, creio que não tenha comido nada o dia inteiro, o que faz a minha teoria sobre a intoxicação cair por terra! – ele explicou – Agora me diga o que bebeu!

- E pra que você quer saber?

- Porque, Srta. Gênio, preciso saber que tipo de poção te dou! Se é para enjôo ou para uma possível ressaca e dor de cabeça. Agradeça a Merlin por minha mãe ter a mesma mania que a tia Hermione, e mandar pra mim todos os tipos de poções possíveis! – Alvo revirou os olhos – Mas já que não quer falar, tudo bem! Creio seu estado seja só porque bebeu Whisky de Fogo de estômago vazio! – ele caminhou até o armário e pegou um pequeno vidro de poção – Tome, isso fará seu estômago melhorar!

- Eu não vou beber isso! – a castanha processou.

Alvo perdeu a paciência e encarou a jovem completamente irritado.

- Escute Alice, estou tentando ser o mais razoável possível. Podia simplesmente pegar você e levar pra enfermaria, mas ao invés disso, tô aqui tentando te ajudar. Então vê se colabora com a minha pouca paciência e bebe logo a porcaria dessa poção! – ele disse, e não foi preciso outro discurso para a castanha pegar o frasquinho de poção e tomar. Fez uma careta ao sentir o gosto azedo do líquido, e suspirou.

- Satisfeito? – ela perguntou.

Alvo não respondeu. Apenas rolou os olhos e caminhou até o armário, para colocar seu material e a caixinha de medicamentos no lugar certo. Esperava que com essa atitude, Alice se tocasse que seu trabalho havia terminado, e que ela já podia ir.

Ela não notou.

- Alice, esperava que com meu silêncio você entendesse que já pode ir embora! – Alvo se virou para encará-la.

- Ahhhh... – a compreensão passou pelo rosto da castanha, que imediatamente se virou para sair. Mas, antes mesmo de chegar a porta, a curiosidade falou mais alto e ela se virou novamente, a fim de encarar Alvo – Por que me ajudou?

Alvo foi pego de surpresa pela pergunta da menina. Não esperava que ela decidisse saber qual era o motivo de sua generosidade. Aliás, não esperava nem que ela se importasse com isso, já que ao que todos sabiam, ela não se importava mais com nada.

- Não vai me responder? – Alice deu alguns passos para frente.

- Sinceramente, não sei! – ele suspirou derrotado. – Gostaria de saber por que ainda me importo, mas eu não sei...

- Não deveria se importar! – Alice deu mais alguns passos para se aproximar de Alvo – Deveria me odiar ou...

- Ou?

- Ou me querer, como todos os outros querem!

- Eu quero você... – Alvo disse em voz baixa – Mas não assim! Essa – ele apontou pra menina – não é a Alice que eu amo! Você não atrai a minha atenção sendo assim. Está linda, não posso negar, mas você nunca precisou de roupas ousadas e maquiagem pra me fazer te amar...

- E do que eu precisei?

- Apenas ser você mesma! – ele deu de ombros – Mas isso faz parte do passado.

- Essa sou eu! – ela protestou.

- Não, não é! Mas não vou discutir com você sobre isso. A vida é sua, faça o que quiser. – ele se virou de costas, para evitar aquela troca de olhar tão profunda e constrangedora. Fez menção de se afastar em direção ao guarda-roupa, mas sentiu a mão de Alice segurar seu braço. Respirou fundo – O que foi?

- Por que você me ignora? Por que simplesmente não aceita como eu sou e fica comigo mesmo assim? Você andava com garotas iguais a mim antes, e agora me ignora por quê?

- Porque, se for pra voltar com aquela vida de pegação, eu prefiro não seja com alguém que significou e ainda significa muito em minha vida! – Alvo disparou – Agora, saia, por favor! E de preferência vá direto pro Salão da Grifinória!

Alice o encarou durante alguns minutos sem saber o que dizer. Aquelas palavras de Alvo a feriram como jamais pensou que pudesse. Não esperava vê-lo reagir de forma tão magoada e triste. Sentiu-se culpada.

- Por favor, Alice! – Alvo pediu mais uma vez.

- Boa noite! – ela disse e finalmente saiu do quarto.

Alvo se jogou na cama e fechou os olhos. Aquilo tinha sido muito difícil pra ele. Alice estava tão próxima, que era praticamente impossível resistir a saudade e a voz que gritava em seu coração. Suspirou e finalmente disse, embora soubesse que estava sozinho no quarto:

- Boa noite, amor! Tenha bons sonhos...




***





Rose já havia terminado seu trabalho como Monitora Chefe aquele dia e estava exausta. A ronda dos monitores pelo castelo parecia não ter fim, e ela deu graças a Merlin quando os jovens apareceram e entregaram o relatório a ela. Já estava cansada de esperar.

Depois de arrumar toda a mesa, com o auxílio da varinha, a ruiva subiu e foi até seu quarto, a fim de tomar um longo banho e vestir uma roupa mais quente. Quando saiu do banheiro ela estava aquecida e satisfeita.

Caminhou até sua cama e se jogou nela sem pensar duas vezes. Enrolou-se em seu edredom e foi só então que se deu conta de que, apesar de cansada, não sentia sono. Rose rolou de um lado para outro na cama, impaciente. Brincou seu ursinho, tentou ler, e nada do sono chegar. Foi então, que vencida pela situação, ela se levantou da cama, calçou suas pantufas, pegou seu ursinho e desceu as escadas.



***




Scorpius estava se servindo de um copo d’água, quando ouviu alguém bater. Curioso, ele repousou o copo sobre a mesinha e caminhou até a porta. Ao abrir sorriu e deu passagem para que a pessoa entrasse.

- Eu não consigo dormir! – Rose reclamou, como uma criança de 3 anos, e Scorpius riu.

- E por que não consegue? Posso saber?

- Tá frio, tá ventando, eu tô cansada e o sono não vem! – ela reclamou novamente – Até o Ed tá sem sono!

- Ah claro, o Ed, meu grande amor! – Scorpius caminhou até a ruiva e pegou o ursinho das mãos dela – Ele pode dormir comigo se quiser. – disse entre risos – Ou então...

- Então o que?

- Ele pode dormir aqui na poltrona – o loiro colocou o ursinho sobre o local – E a dona dele, que por sinal também é minha dona, pode vir dormir comigo. Se ela quiser, é claro!

Sorrindo, Rose se aproximou de Scorpius e o beijou nos lábios.

- A dona dele quer sim! – ela sussurrou próximo ao seu ouvido.

Scorpius sorriu, e num movimento rápido, pegou Rose no colo e se jogou na cama com ela. Antes dela pensar em reclamar, ele a beijou apaixonadamente. Seus lábios exploraram cada centímetro dos de Rose, em um beijo quente e acolhedor. Lentamente, deslizou seus lábios em direção ao pescoço da ruiva, e começou a beijá-lo devagar, arrancando suspiros e causando arrepios da menina.

Sabia perfeitamente o quanto ela estava cansada e não iria abusar muito daquele momento. Só queria aproveitar um pouco, antes dos dois caírem no sono, afinal, aquele dia havia sido longo.

Scorpius capturou novamente os lábios da ruiva, mas dessa vez em um beijo mais calmo. Aos poucos, foram se afastando, até que por fim, se encararam.

- Eu amo você! – Scorpius disse, sem desviar o olhar da menina – Promete uma coisa pra mim?

- Uhum!

- Fica comigo pra sempre?

- Eu acho que já te fiz essa promessa no seu aniversário de 15 anos! – ela o lembrou.

- Sim! – concordou – Mas não custa nada repetir a promessa, só pra garantir! – disse com ar divertido.

- Está querendo me dizer, Scorpius Hyperion Malfoy, que não confia nas minhas promessas? – ela fingiu-se de indignada.

- É claro que não amor! Mas eu gosto de ouvir você dizer que me ama e que vai ficar comigo pra sempre... Mesmo depois desse tempo todo juntos, eu ainda sinto a mesma coisa que senti a primeira vez que disse que gostava de mim! – admitiu.

Rose sorriu abertamente e o beijou rapidamente.

- Eu te amo e vou ficar com você pra sempre! – ela sussurrou próximo aos lábios dele.

Scorpius beijou seu rosto e a encarou. Sorriu ao vê-la bocejar de sono.

- Acho que uma ruiva aqui precisa dormir! – ele disse divertido.

- Mas eu não tô com sono! – Rose protestou e novamente bocejou – Ok, talvez esteja só um pouquinho!

Scorpius riu e se levantou, para que ela pudesse entrar embaixo do edredom e se acomodar. Quando ela já estava pronta, ele se deitou ao seu lado e não precisou dizer nada, para que Rose deitasse a cabeça em seu peito.

- Boa noite! – ela disse sonolenta – E não esquece que te amo!

- Boa noite amor! – ele disse baixinho – Eu também te amo...



***



Quando Rose acordou na manhã seguinte, não se surpreendeu por ver Scorpius de pé e completamente vestido. Sorriu e se sentou na cama.

- Bom dia! – ela disse.

- Bom dia amor! – Scorpius caminhou até ela e beijou sua testa – Dormiu bem?

- Sim e você?

- Melhor impossível!

Rose sorriu e percebeu que Scorpius trazia consigo um envelope. Curiosa, ela o encarou e perguntou:
- O que é isso?

- É um convite. – ele respondeu – A empresa do meu pai tá comemorando 15 anos, e ele quer que compareça a festa. Vai ser amanhã e tô liberado pra levar quem eu quiser... – sorriu – A propósito, tem planos pra amanhã à noite?

- Depende, você quer que eu tenha planos pra amanhã à noite?

- Sim, quero que venha comigo a festa!

- Então estes são meus planos pra amanhã! – ela disse e sorriu – Preciso ir até meu quarto tomar banho e trocar de roupa...

- Não precisa! Dessa vez eu fui mais rápido que você e trouxe tudo pra cá!

- Uau, você escolheu minhas roupas? – Rose perguntou incrédula e se levantou para ver o que o loiro havia pegado – Você tem um ótimo gosto! Adoro essa calça e essas botas.

- Você fica bem sexy com esse estilo de roupa! – ele brincou.

- Tá, já entendi porque as escolheu então! – rindo, Rose pegou a toalha e as roupas e correu pro banheiro.

Algum tempo depois, saíram juntos do quarto e foram até o salão principal, onde seus amigos já os esperavam pro café.



***




Sábado – Salão comunal da Corvinal



- Hey, Paola! – Maris estava parada em frente a cama da amiga e a chamava, impaciente – Acorda vadia! Preciso te mostrar uma coisa!

- Maris, você tem noção de que hoje é sábado e que podemos dormir até um pouco mais tarde? – Paola resmungou e cobriu a cabeça com edredom.

Maris, irritada com a atitude da amiga, puxou a coberta com força e encarou a menina com um ar superior.

- Quando eu digo que preciso mostrar uma coisa, gosto que olhem pra mim! – ela disse.

- E quando digo que quero dormir, significa que não me importo com nada que tenha pra me mostrar! – Paola retrucou – Mas agora que já detonou minha manhã, diga o que quer! – ordenou.

Maris sorriu, sentou-se em cima da cama da amiga e entregou a ela um envelope fechado.

- É do papai! Chegou hoje de manhã!

Os olhos de Paola passaram do envelope para a amiga, e ela a encarou confusa.

- Você me acordou pra me mostrar uma carta do seu pai?

- Aff, você é lerda hein?! – Maris bufou e abriu o envelope – Leia! – ela estendeu o pergaminho para amiga.

Paola segurou o pergaminho e começou a ler tranquilamente. Enquanto seus olhos corriam pelas palavras que ali estavam escritas, um sorriso brotava em seu rosto.

- Quer dizer que amanhã, uma das empresas do Sr. Malfoy, cujo seu pai é sócio, comemora 15 anos de existência?

- Exatamente, e eu estou convidada pra festa! – Maris sorriu – E sabe qual é a melhor parte disso?

- Scorpius vai estar lá!

- Exatamente!

- E estará lá com a Rose! – Paola disse rapidamente – Ou você acha que o filho do dono não levará a noiva pra tal evento?

- Aham, é exatamente o que eu acho!

- Maris, qualquer idiota sabe que a Weasley irá nesse evento, nem que precise ser arrastada!

- Sim, mas qualquer idiota também sabe que a Weasley, quando se trata dos estudos, é capaz de largar qualquer coisa!

- Agora eu não tô entendendo!

Maris riu.

- Pah, minha querida amiga, amanhã a imbecil da Weasley não irá a festa, simplesmente, porque estará muito ocupada com o trabalho de Aritmancia!

- Agora eu fiquei mais perdida ainda!

- Você sabe que a Weasley e o Adam estão trabalhando juntos em Aritmancia, né? – Maris perguntou e ao ver a amiga consentir, prosseguiu – Pois bem, é graças a esse trabalho que ela não irá amanhã! Veja, mais tarde o Adam vai convencer a professora que precisa pedir que ele e a ruiva CDF apresentem parte do trabalho na segunda feira, e vai dar um jeito de que a Weasley só saiba amanhã de manhã.

- E como ele vai conseguir isso?

- Ah sei lá! Ele se vira! A questão é que com a Weasley sabendo do trabalho, ela vai precisar do domingo inteiro para fazê-lo...

- E não irá a festa!

- E eu terei o Scorpius só pra mim, a noite inteira!

As duas se encararam e sorriram.

- Você é cruel, Maris!

- Eu sei, e me amo por isso! – ela piscou para amiga – Então, soube que ontem você fez o segundo casal mais popular brigar! É verdade?

- Eu fiz Vincent e Sophie brigar? – Paola fingiu espanto – Nossa, eu apenas passei por eles e agradeci, humildemente, a ajuda que Vincent havia me dado... Que coisa! – ela riu.

- Você diz que eu sou cruel, mas você não é nada santa!

- Obrigada!

- De nada! Vamos descer pra tomar café?

- Não, vá na frente! Eu ainda tenho que me arrumar!

- Ok, te vejo no salão principal!

- Certo!

Maris saiu do quarto, e desceu as escadas em direção ao salão comunal. Com exceção de Adam, o local estava vazio. Ele, é claro, estava esperando que uma das meninas aparecesse.

- Encontrou a professora? – Maris perguntou em voz baixa, assim que se aproximou.

- Bom dia pra você também! – ele debochou – Ainda não! Procurei por ela, mas deve estar em seus aposentos ainda!

- Certo! Você precisa achá-la logo, se quisermos que tudo dê certo! Não quero ter que ir a uma festa e aturar a idiota da Weasley bancando a noivinha feliz ao lado do Scorpius!

Adam riu.

- Nossa, quanto ciúme! Achei que você não gostasse dele!

- E não gosto! Mas quando tenho um alvo, sou possessiva!

- Então, não precisa se preocupar, pois seu alvo amanhã não estará com a Rose! Nem que pra isso eu a prenda em um armário de vassouras.

Os dois riram.

Maris se virou para sair, quando sentiu a mão de Adam segurar seu braço.

- Aonde vai? – ele perguntou.

- Definitivamente, você precisa perder essa mania de ficar me segurando! – Maris puxou seu braço da mão do garoto – E eu não sabia que lhe devia satisfação!

- Não deve... Mas sabe, eu me lembrei de uma coisa!

- Que coisa?

- Você ainda não respondeu uma pergunta minha! – Adam disse.

- Que pergunta? – Maris o encarou, confusa.

- Na noite que te beijei, você disse que me diria o que achou!

- Ah, é isso? Não sabia que era tão inseguro a ponto de precisar de uma opinião feminina! – ela riu ao ver a expressão do rapaz – Mas infelizmente não posso responder, já que nem me lembrava daquele dia!

- Não lembrava? – Adam perguntou, enquanto se aproximava da menina – Então vou refrescar sua memória! – ele disse e em seguida puxou a morena para um beijo tão agressivo e quente quanto o primeiro. Ambos, enquanto se beijavam, sentiam como se uma corrente elétrica passasse por seus corpos, e os instigassem a continuar assim por um longo tempo.

Enquanto se beijavam, perdiam a noção do tempo e espaço, já que por algum motivo, aquele beijo era excitante e provocante.

Maris até se esqueceu que estava no salão comunal, e que podia ser vista por qualquer um, incluindo Paola. E, para o que seria seu desespero depois, a morena de faixa no cabelo, estava descendo as escadas, quando se deparou com aquela cena. Sorriu, e lentamente voltou ao dormitório, afinal de contas, descobrir que Maris e Adam, de certa forma ficavam juntos, era algo que podia servir...




***





Adam andava pelos corredores do castelo em busca da professora Carmack. Precisava encontrá-la rápido, se quisesse que Rose passasse o domingo inteiro ocupada.

Após uma longa procura, finalmente encontrou a professora saindo da sala dos professores. Correu até ela, antes que pudesse se afastar e sumir de sua vista.

- Olá professora! – ele a cumprimentou.

- Ah, olá Adam! O que faz aqui? – a professora o encarou e sorriu.

- Estava a procura da senhora!

- Ah, então diga meu jovem! – ela parou para ouvi-lo.

- Bom professora, creio que a senhora lembra daquela tabela que pediu para que Rose e eu fizéssemos. – ele disse e esperou que a mulher fizesse um sinal positivo para prosseguir – Pois bem, ela e eu estamos com alguns problemas em relação a isso. Organizamos algumas partes, mas creio que algumas coisas não estão muito... Corretas, pode-se assim dizer!

- Como não? Vocês dois são brilhantes, fazer a tabela não deveria dar trabalho!

- Eu sei professora, mas nós discordamos bastante em alguns pontos. Ela quer montar de uma forma, eu de outra... Eu queria misturar as duas idéias, mas ela se recusa! Então, não sei mais o que faço! – ele suspirou – Gostaria de apresentar parte da tabela para a senhora na aula de segunda, mas Rose não iria aceitar e...

- E por que não? Ora, vocês devem me mostrar o desenvolvimento do trabalho sempre que quiserem tirar uma dúvida, é pra isso que estou aqui!

- Eu sei, mas a senhora sabe como ela é orgulhosa... E bom, a não ser que amanhã nós trabalhemos duro na tabela, não haverá jeito de lhe mostrar! E ela só vai trabalhar comigo amanhã, se a senhora exigir o trabalho pra segunda!

A professora pareceu refletir por alguns instantes, até que por fim tomou sua decisão.

- Eu preciso sair agora para visitar uma tia no St. Mungus. Estarei de volta hoje à noite. Amanhã cedo, durante o café, avisarei a Rose que quero ver a tabela na segunda. Não se preocupe querido! Ela não pode deixar o orgulho interferir no trabalho. – disse decidida.

- Obrigado professora! – Adam sorriu.

- De nada meu jovem! – ela sorriu de volta – Agora eu vou andar rápido, se não perderei o horário pra visitas.

- Certo! Melhoras a sua tia!

- Obrigada! – dizendo isso, a professora disparou pelo corredor.

Adam, ao ver que estava sozinho sorriu. Definitivamente, ele era ótimo ator. Agora precisava encontrar Maris, pra dizer que tudo havia dado certo.




***





O sábado passou tão rápido que quando o domingo chegou os alunos mal acreditavam. Domingo era um bom dia, todos os alunos ficavam o dia inteiro livre. Mas ao mesmo tempo, aquele domingo era um dia ruim, pois significava que faltava pouco para o início das tão temidas provas.

O salão principal estava apinhado de alunos, que comiam e conversavam animadamente. Rose estava a caminho do local, quando foi surpreendida pela professora Carmack.

- Bom dia, querida! Posso falar com você um instante?

- Bom dia professora! É claro que sim. – Rose sorriu.

- Serei rápida para não atrapalhar seu café. Sei que pedi para que você e o Sr. Krum apresentarem parte da tabela apenas antes das férias de natal, mas resolvi mudar de idéia e antecipar a data!

- Ah, sem problemas professora! Pra quando a senhora quer?

- Amanhã!

- AMANHÃ? – ela gritou e logo se recompôs – Desculpe professora, é que, bom... Vai ser impossível lhe mostrar amanhã!

- Por quê? Que eu saiba você tem o domingo inteiro livre, o que não te impede de trabalhar!

- Mas...

- Srta. Weasley, ou apresenta parte do trabalho amanhã, ou a senhorita e o Sr. Krum perderão pontos! – a professora Carmack encarou a menina – E é minha palavra final!

Rose apenas suspirou e balançou a cabeça.

- Está bem então!

- Ótimo! Agora vamos tomar café querida!

Contrariada, Rose seguiu a professora até o Salão, e logo tratou de procurar o namorado. Não foi difícil achá-lo, já que ele estava sentando próximo a porta de entrada, junto com Vincent, Sophie e Chad.

- Bom dia! – ela os cumprimentou.

- Bom dia! – todos responderam em uníssono.

- Sente-se para comer amor! – Scorpius falou.

- Não sinto fome! – ela disse – Queria falar com você amor, tem um minuto?

- Tenho todo o dia se quiser! – sorrindo, ele se levantou e caminhou junto com a ruiva pra fora do salão – Então, o que foi? Parece preocupada...

- E estou! Bom Scorpius, eu nem sei como te falar isso, mas...

- Falar o que?

- Hoje à noite não vou poder ir à festa com você! – a ruiva disse triste.

- E posso saber por quê?

- Culpa da professora Carmack. Ela disse que amanhã quer ver parte da tabela que estou desenvolvendo com o Adam, e...

- Ah o Krum! Sempre ele! – Scorpius disse irritado – Por Merlin, será que você não pode fazer isso até a hora da festa?

- Eu queria, mas não dá! É enorme o trabalho. Nem que comece a trabalhar agora, vou conseguir chegar a metade antes de ir pra festa.

- Rose, eu não acredito que você não vai! Que droga, é a festa do meu pai!

- Eu sei, eu sei! Tô tão chateada quanto você, mas ela exigiu! Disse que se não entregasse amanhã, nós perderíamos pontos.

- Até onde eu saiba você não precisa de créditos extras!

- Não! Mas se não fizer o trabalho, o Adam também perde ponto. – ela tentou explicar, o que foi pior.

- Espera! Deixe-me ver se entendi. Você está preocupada que o Krum possa perder pontos? – ele perguntou incrédulo – Realmente não creio que ouvi isso!

- Scorpius, tenta entender! Seria injusto.

- Claro, é injusto ele perder ponto, mas não é nada injusto que eu vá para festa, sozinho! – ele disse furioso.

- Não foi isso que eu disse!

- Rose, quer saber? Faça o que quiser! Não vou ficar aqui discutindo com você! – ele finalizou o assunto, e saiu, deixando a ruiva para trás, visivelmente triste.




***





Rose e Scorpius não se falaram mais depois da briga. A ruiva seguiu para biblioteca com Adam, e passou o dia, como havia sido previsto pela professora, trabalhando na tabela. Os únicos intervalos que fizeram durante o trabalho, foram para lanchar e por exigência de Adam, que alegando a veracidade do ditado trouxa “saco vazio não pára em pé”, foi atrás de torradas e suco para eles.

A noite logo chegou e, a pedido da Diretora Minerva, Rose foi até seu quarto esperar que os convidados da festa oferecida por Draco aparecessem. Um deles, ela sabia ser Scorpius. O outro ou outros, ela não fazia idéia. Talvez fossem Vincent e Sophie, mas preferiu não arriscar.

Não demorou muito para que leves batidas fossem ouvidas em sua porta. Ela abriu rapidamente, e se surpreendeu ao ver que Scorpius estava acompanhado de ninguém mais, ninguém menos, que Maris.

- Boa noite! – Maris falou sorridente – Sinto muito você não poder ir à festa!

- Eu sei que sente! – Rose disse num tom falso – Você está lindo amor!

- Obrigado! – ele disse seco – Temos hora pra voltar?

- A diretora disse que até a 01h00min vocês deveriam estar de volta, mas entenderia se chegassem atrasados. Bom, os pais de vocês deram permissão, então creio que não vai haver problema.

- Certo! – Scorpius disse – Já terminou a tabela? – perguntou irônico.

- Ainda não! Estava apenas esperando vocês para que pudesse voltar à biblioteca.

- Ah, então não vamos mais te prender aqui! – Scorpius disse sarcástico – Vamos logo para lareira Maris, pois Rose tem uma longa noite pela frente!

Sem nenhum beijo de despedida, Scorpius entrou na lareira, seguido por Maris, e usando a rede de flu, foram para a festa.

Triste com a atitude, Rose enxugou as lágrimas e voltou à biblioteca. Agora mesmo que não havia motivos para parar com o trabalho. Scorpius havia lhe machucado, e então precisava de algo para se distrair.



***




Mal Maris e Scorpius apareceram no local e já foram recepcionados pelos pais, que os aguardavam.

Scorpius precisou pedir desculpa pela ausência da noiva e explicar o motivo que ela ficou no castelo.

Depois de cumprimentar a todos, o loiro seguiu para longe dos convidados mais velhos e foi para o outro lado do salão. Maris, é claro, o seguiu.

- Está linda a festa! – ela disse sincera.

- Eu sei! Garanto que tem dedo da minha mãe nisso! – ele sorriu e logo assumiu uma postura mais séria.

- Ah, por favor, não vai ficar com essa cara em plena comemoração né?!

- E queria que ficasse como? Minha namorada decidiu que prefere fazer um trabalho a me acompanhar, queria que estivesse sorrindo?

- Não. Mas você deveria tentar esquecer um pouco e aproveitar. Seus pais não vão ficar contentes em te ver assim.

Scorpius encarou a menina a sua frente por uns instantes e depois suspirou. Por mais difícil que fosse, precisava admitir que ela estava certa.

Scorpius pegou um copo de bebida e bebeu tudo em um gole só.

- Quer saber? Tem razão! Vou aproveitar se não me resta outra coisa a fazer!

- É assim que se fala!

Rindo, Scorpius se serviu de mais bebida e foi dançar, no outro ambiente do salão. Precisava esquecer sua chateação, e nada como música e bebida para fazer isso.




***





Rose estava sentada à mesa, revendo alguns relatórios entregues pelos monitores da semana. Já era tarde mas a ruiva procurava se distrair ao máximo, enquanto esperava o namorado e a Maris voltarem do evento produzido pelo seu sogro. Embora detestasse saber que Scorpius estaria em uma festa, acompanhado por uma das pessoas que ela menos gostava, a ruiva entendia o motivo pelo qual ele havia ido e não sentia raiva por isso. Talvez um pouco de ciúmes, mas isso ela podia controlar, afinal de contas, a culpa dessa situação era dela, que desistiu de ir com ele para terminar um trabalho.

Cansada de ler, e irritada pela demora, Rose juntou os relatórios em uma pilha mal feita, e se levantou, na intenção de ir até seu quarto. Ela nem teve chance de dar um passo, quando as chamas de sua lareira ficaram verdes e dois corpos se materializaram lá. A ruiva sorriu ao ver que o namorado havia chegado, mas esse sorriso logo desapareceu ao ver o estado que se encontrava. Scorpius estava bêbado e praticamente agarrado a Maris, que, por mais incrível que pudesse parecer para ruiva, parecia constrangida com a situação. Sacudindo a cabeça, Rose caminhou até eles, e os encarou confusa.

- O que aconteceu? – Rose perguntou, tentando manter seu tom de voz calmo.

- Não é óbvio? Ele bebeu demais! – Maris revirou os olhos – E antes que você comece a gritar ou me acusar, já aviso que não foi culpa minha! – a morena se defendeu, controlando sua enorme vontade de rir.

- É claro que não foi culpa sua! Ele é maior de idade, e isso o torna responsável por todos seus atos! – Rose respondeu ríspida e olhou para Scorpius – Vamos, sente-se aqui! – ela o ajudou a sentar-se no sofá.

- Você quer que eu vá buscar ajuda? – Maris perguntou.

- Não! Eu quero que você retorne a Corvinal e fique lá até amanhã cedo! – Rose respondeu, sem encará-la – E faça isso rápido, antes que o Sr. Filch encontre você nos corredores!

- Mas eu tive permissão pra sair essa noite! – a morena protestou.

- O que não vai impedi-lo de armar um escândalo e levá-la até a diretora! Agora vá, eu cuido disso sozinha!

Maris apenas acenou com a cabeça, e lançou um último olhar ao loiro que estava jogado no sofá. Sorriu internamente ao ver aquela cena. Definitivamente seus planos haviam saído melhor do que imaginava.

Assim que a menina saiu, Rose se aproximou de Scorpius e ajoelhou na frente dele, para observá-lo. Definitivamente estava péssimo, e um cheiro de bebida fortíssimo vinha de suas roupas. Ela balançou a cabeça tristemente e tentou tocar seu rosto. Ele se afastou.

- O que está fazendo? – ele perguntou, sua voz saiu estranhamente rude – Não deveria estar fazendo seu trabalho? Onde está seu parceiro? Krum, cadê você? KRUM? – Scorpius gritou, mas não obteve resposta – Ah, ele já foi, que legal!

Rose conteve sua vontade de chorar, e encarou o rapaz, séria. Mesmo estando bêbado, não deveria agir dessa forma.

- O que foi que você fez? – ela perguntou em voz baixa.

- Nada! Por quê? Pareço que fiz alguma coisa? – ele riu – Tolinha, eu estou perfeitamente bem!

- Não, você não está bem! Você está bêbado e totalmente desorientado! Deite-se, eu vou pegar algo pra você beber!

- EU NÃO QUERO BEBER NADA! – Scorpius gritou e sua voz ecoou por todo aposento.

- Pare de gritar! – ela ordenou.

- Por quê? Vai acordar alguém?

- Scorpius você enlouqueceu! Por Merlin, a única pessoa que me importo é você, e olhe as coisas que está dizendo!

- Estou dizendo a verdade! Você não quer que eu grite por que, Rose? Tá com medo de acordar o Krum? Ele tá dormindo no seu quarto? Se divertiram, foi?

Rose não agüentou as últimas perguntas e sem pensar, deu um tapa no rosto de Scorpius. Ele havia passado dos limites, e por mais bêbado que estivesse, nada justificava essas insinuações.

- Por que fez isso? – ele perguntou.

- Porque você mereceu! – ela respondeu e sem dar mais explicações, saiu do quarto em passos firmes. Não aguentaria toda aquela situação sozinha. Definitivamente precisava de ajuda.

Sem pensar duas vezes, Rose parou em frente ao quarto do Alvo e começou a esmurrar sua porta, na tentativa de acordá-lo o mais rápido possível. Não demorou muito para que ele, completamente mal humorado, abrisse a porta e a encarasse confuso.

- Você tem noção da hora, Rose?

- Eu preciso de ajuda! – ela respondeu.

- O que aconteceu? – Alvo perguntou assustado. Só agora foi notar o estado em que a prima se encontrava.

- Scorpius... Ele chegou bêbado da festa do pai, e parece um louco gritando e dizendo coisas sem sentido! – Rose falou e lágrimas escorreram por sua face.

- O que ele te disse? – Alvo perguntou sério. – Ele encostou em você Rose?

- Não, não! – ela apressou-se em dizer – Na verdade eu que bati nele, mas depois eu te explico! Agora, por favor, venha me ajudar!

- Claro! – Alvo saiu do quarto, e junto com a prima voltaram para o quarto da monitoria.

Scorpius, ao ver os dois entrarem pela porta, começou a rir e os encarou com um olhar superior. Estava fora de si.

- Ora, vamos ter uma reunião familiar? – riu – Ou ele veio me explicar seu comportamento, Rose?

Alvo, que ao contrário da prima não tinha paciência pra tamanha infantilidade, caminhou até o loiro e o segurou pela camisa, com uma expressão ameaçadora.

- Escute Malfoy, diferente da Rose eu não estou com saco para gracinhas, então é melhor ficar com essa boca fechada se não quiser acordar com o olho roxo amanhã! – o moreno disse de forma dura – Agora venha comigo, você precisa de um banho frio!

- Você vai dar um banho nele? – Rose arregalou os olhos.

- É claro que não! Vou jogá-lo de roupa e tudo dentro da água fria e ele que se vire pra fazer o resto! – Alvo respondeu – Acho melhor levá-lo pro próprio quarto!

- É... Acho que sim! – a ruiva concordou, e logo os dois levaram Scorpius para o aposento da Sonserina.

Depois da cena desastrosa que ocorreu na monitoria, o que se passou foi rápido e nada divertido. Scorpius, após tomar o banho, acabou vomitando no banheiro, e dando mais trabalho a Rose e Alvo, que ainda insistiam em ajudá-lo. Depois de um segundo banho e tudo limpo, o loiro, sem conseguir dizer mais nada, se jogou na própria cama e pegou no sono em questão de segundos.

Rose encarou o namorado por alguns instantes e depois virou para o primo. Seu olhar misturava tristeza e preocupação, e algo dentro de si lhe dizia que as coisas ruins só estavam começando.

- Você pode ir dormir agora! – ela sussurrou para Alvo – Eu fico aqui com ele!

- Acho que você também deve descansar! Mas não aqui. Volte pro seu quarto e tente dormir, amanhã é um novo dia! – Alvo disse.

- Mas e se ele...?

- Rose, ele não vai acordar até amanhã! Acredite em mim, sei o que estou dizendo! – ele segurou as mãos da prima carinhosamente – Não vai adiantar nada você ficar acordada aqui a noite toda! Isso só vai te deixar cansada!

Rose suspirou e vencida pelo cansaço, e também pelos argumentos do primo, saiu do quarto do namorado e voltou para o seu.

- Quer que eu fique aqui com você? – Alvo perguntou, parado a porta do quarto.

- Não precisa! Vá descansar, eu já atrapalhei demais a sua noite! – ela respondeu e sorriu timidamente.

- Se precisar, é só me chamar ok?! – ele disse e beijou a testa da prima carinhosamente – Use o espelho! O meu vai estar em cima da cômoda!

- Ok! Obrigada Al!

- De nada!



***




Quando acordou a única coisa que Scorpius teve consciência foi da maldita dor que martelava em sua cabeça. Mal conseguia se mexer graças a ela, e a claridade que invadia seu quarto não ajudava em nada para que melhorasse. Seu quarto... Aos poucos Scorpius começou a perceber que havia alguma coisa errada. Ele sabia que havia ido à festa, bebido demais, voltado pra escola, e... ROSE! As memórias da noite anterior apareceram como flash e ele se lembrou dos absurdos que tinha feito e das maluquices que havia dito.

- Parabéns Malfoy! Agora você está ferrado! – ele disse pra si mesmo, levantou-se da cama e foi até seu banheiro, em busca da caixa de medicamentos que sua mãe, assim como a maioria das mães de Hogwarts, costumava enviar junto com as suas roupas no malão. Ali, provavelmente encontraria algo que fizesse sua dor de cabeça passar.

Depois um longo banho e de colocar seus pensamentos no lugar, Scorpius finalmente saiu do quarto. Tinha intenção de procurar Rose e se desculpar por tudo, antes que as coisas ficassem piores.

Ao aproximar-se do quarto da ruiva, viu Alvo sair e encará-lo com um olhar avaliativo.

- Eu estava mesmo indo te chamar! – Alvo disse seco – Rose queria saber como está.

- Como ela está?

- Como você acha que ela está? – Alvo perguntou sério.

- Eu tô muito encrencado é?

- Vejamos... Você chegou aqui bêbado, gritou e falou um monte de merda... É meu caro amigo, acho que está sim! – o moreno respondeu sarcástico – Vou tomar café! E vê se controla esse seu gênio!

Scorpius apenas balançou a cabeça e aproximou-se da porta do quarto de Rose. Hesitou durante um breve instante, antes de abri-la. Respirou fundo, e então finalmente tomou coragem e entrou.

Rose não estava no salão da monitoria, então ele concluiu que estivesse em seu quarto. Hesitou novamente em subir as escadas, mas logo o fez. Precisava ver o estado que a ruiva se encontrava, e precisava, sem dúvidas, implorar perdão a ela. Coisa que não seria difícil, visto que ele estava arrependido.

A porta do quarto da ruiva estava entreaberta e Scorpius espiou pela abertura, para ver se a encontrava. Seu olhar logo recaiu sobre a menina, que estava em frente ao espelho, arrumando os cabelos. Scorpius não conseguiu deixar de sorrir vendo a sua ruiva tão linda e concentrada. Bateu uma vez na porta antes de entrar.

- Como você não estava lá embaixo, tomei a liberdade de subir! – ele se explicou, enquanto se aproximava dela.

- Não tem problema! – ela respondeu e continuou encarando o espelho.

- Então... Como você...?

- Eu vou tomar café! Acredito que você ainda queira descansar, então aconselho que vá para seu quarto! Tem sorte das provas só começarem amanhã! – Rose disse tudo sem encará-lo, e se virou para pegar seus livros e sua mochila que estava sobre a cama.

Scorpius a encarou completamente confuso. Esperava que ela brigasse, gritasse, mas não. Rose parecia reagir muito bem a tudo que havia acontecido, e aquilo, definitivamente, não era um bom sinal.

- Espera! Eu não quero descansar! – ele protestou e parou em frente à porta do aposento, impedindo que a ruiva saísse.

- Pois deveria! – ela disse, ainda sem encará-lo – Agora me dá licença?! Não quero me atrasar.

- Por que está agindo assim?

- Assim como?

- Como se nada tivesse acontecido? Como se não precisássemos conversar?

Finalmente Rose o encarou. Seus olhos estavam vermelhos e inchados, o que significava que havia chorado a noite inteira. Scorpius sentiu a culpa o invadir.

- Você quer conversar sobre o que? – ela perguntou, pausadamente.

- Eu queria me desculpar... Implorar seu perdão, na verdade! – Scorpius deu um passo para frente, na intenção de se aproximar da menina.

- Está tudo bem! Não tem que implorar... – a ruiva disse, ainda calma e indiferente.

- Mas que droga, Rose! – ele explodiu.

- O que foi agora? Por favor, fale baixo!

- Você e essa sua tranquilidade estão me dando nos nervos!

- O que queria que eu fizesse?

- Gritasse comigo, me acusasse, sei lá! Essa sua aceitação dos fatos me faz sentir um nada!

- Gritar e te acusar não vão me fazer sentir melhor!

- Mas vão me fazer sentir melhor! – ele explicou – Eu te machuquei, e te ver aceitando isso como se fosse uma coisa boa, me faz sentir um canalha!

- Sim, você me machucou! Mas gritar não vai mudar isso!

- Mas e se eu pedir desculpas, ajuda?

Rose respirou fundo antes de responder. Não queria começar a manhã com uma briga.

- Ajuda, é claro! – ela respondeu em voz baixa – Agora me dê licença, preciso entregar os relatórios dos monitores para Diretora. E, por favor, se você não for para aula, volte pro seu quarto. Não vai ser nada bom você ser pego matando aula.

Scorpius saiu da frente da porta, mas antes que a ruiva pudesse sair, ele se aproximou dela e depositou um breve beijo em seus lábios.

- Eu amo você! – ele sussurrou.

- Eu também... – ela disse e finalmente saiu, deixando o loiro para trás.



***




As duas primeiras aulas foram chatas e cheia de revisão para a prova. E assim parecia que seria o restante do dia. Os professores pareciam desesperados em fazer um último esforço para que alguns alunos absorverem, nem que fosse um pouquinho, da matéria. Mas a coisa estava difícil, já que o nervosismo parecia bloquear a mente de alguns.

A próxima aula que Rose enfrentaria, era a de Aritmancia, e com pesar se lembrou que foi graças a exigência da professora Carmack, que toda aquela cena deprimente da noite anterior havia ocorrido. Balançou a cabeça rapidamente, para espantar os pensamentos tristes, pegou seu material e rumou para outra aula.

Ela estava no corredor, quando ouviu uma voz masculina chamando seu nome.

- Rose! – era Adam.

Ela parou e se virou para encarar o rapaz.

- Ah... Oi Adam! – disse, tentando manter a voz uniforme – Pronto pra apresentação?

- Eu nasci pronto pra qualquer coisa! – Adam respondeu presunçoso – Mas você parece que não está!

Rose encarou o rapaz a sua frente e empinou o nariz, mostrando superioridade.

- Pro seu governo, eu nunca tive problemas com apresentações de trabalhos! Sempre fui muito bem!

- Que bom! Mas quando disse que não parecia pronta, não me referi ao nervosismo ou qualquer outra coisa!

- Se referiu a que? – Rose ficou confusa.

- Você, por acaso, reparou que está sem as tabelas? – Adam perguntou e sorriu ao ver a menina arregalar os olhos. Aparentemente não havia se dado conta de que tinha esquecido o trabalho de Aritmancia.

- Merlin, esqueci no meu quarto! – ela disse e se virou, na intenção de voltar ao outro corredor do castelo.

- Precisa de ajuda pra trazê-las?

- Acho que sim! Venha comigo, por favor!

Juntos, eles dispararam em direção ao corredor que dava acesso aos quartos dos capitães e da monitoria, sem se importar em cumprimentar ou retirar do caminho as pessoas que os atrapalhavam.

Rose parou em frente a porta de seu aposento, abriu e correu em direção a mesa, na intenção de procurar os grandes pergaminhos que continham metade do trabalho.

- Céus, eu tenho certeza que deixei aqui! – ela revirava as gavetas, enquanto Adam apenas a observava. – Você deveria me ajudar a procurar! – ela rosnou.

- Eu realmente achava que você era mais inteligente, sabia?! – ele riu e caminhou até ela – Por que simplesmente não convoca o trabalho com um feitiço?

- Ah... – Rose corou, levemente envergonhada por não ter pensado na idéia antes. Rapidamente, pegou sua varinha e mentalizou o feitiço, para que seu trabalho viesse em sua direção.

Convocar o trabalho até seria uma boa idéia, se ela não tivesse esquecido de jogar fora todos os rascunhos e projetos de tabela, que havia feito na noite anterior. A conseqüência do feitiço convocatório, foi que ao invés de 5 pergaminhos, vieram mais de 10 e todos na direção da ruiva, que desequilibrou e quase caiu no chão, com todos eles. A sorte foi que Adam acabou sendo mais rápido, e antes que caísse, ele a segurou pela cintura.

- Especificar o tipo de trabalho que você quer, também ajuda sabe?! – ele brincou e os dois riram. Adam parou para observar o sorriso de Rose, e uma vontade de beijá-la, o invadiu. Sem resistir a tal desejo, ele a beijou.

Nesse exato momento, a porta da monitoria se abriu e para o azar da ruiva, Scorpius entrou e os encontrou juntos. Antes que qualquer um dos dois pudesse explicar, o loiro concluiu o pior.

- Oh... Eu atrapalhei, me desculpem! – ele deu uma risada seca e saiu, batendo a porta com força ao passar.

Rose rapidamente se soltou dos braços de Adam, e quando fez menção de correr atrás do loiro, sentiu a mão do colega a segurar.

- Aonde vai?

- Aonde vou? Por sua culpa, a pessoa que mais amo está magoada! Preciso ir corrigir isso, antes que seja tarde demais! – Rose disse furiosa.

- Temos um trabalho pra apresentar! – ele protestou.

- Pro inferno esse trabalho! – ela o encarou com muito ódio – Eu te odeio! Nunca devia ter confiado em você, e por sua culpa, Scorpius está mal!

- Me desculpe, Rose, eu...

- Guarde suas desculpas e desapareça daqui! E acho bom, dizer a professora que não me sinto bem, se não quiser ter maiores problemas!

- Vou dizer a ela que não está bem, não se preocupe! – ele assentiu e rapidamente saiu, tentando, ao máximo, segurar a vontade de rir.

Rose não esperou nem dois minutos, e logo saiu atrás de Scorpius, que ela concluiu estar em seu quarto. Tentou abrir a porta, mas para sua surpresa, estava trancada.

- Scorpius, sou eu! Abra, por favor! – a ruiva batia na porta – Por favor! Não vou sair daqui, enquanto não me deixar entrar! – ela avisou, e antes que pudesse dar mais uma batida, ouviu a porta ser destrancada.

Scorpius se afastou rapidamente, deixando que ela mesma fechasse quando entrasse. Sentou-se na poltrona, de costas pra ela, de modo que a ruiva nem se quer teve oportunidade de analisar sua expressão.

- O que você viu, não foi...

- Ah, por favor, nem comece! – ele disse, e sua voz saiu dura e fria. Por um segundo, Rose se sentiu quando tinha 14 anos, e Scorpius estava sendo grosseiro com ela, graças a uma promessa feita ao pai – Não precisa me explicar o que vi, pois até onde eu saiba, minha visão está ótima!

- Mas você interpretou errado! – Rose se aproximava da poltrona com cautela – Adam e eu fomos buscar a tabela de Aritmancia, pra mostrar a Professora Carmack, e...

- E daí, vocês dois num gesto muito amigo, decidiram se agarrar quando encontraram o trabalho! E esse é o fim da história! – novamente Scorpius deu uma risada seca, mas não se virou para encarar a namorada – Se era essa a explicação, pode se retirar. Não quero outras versões para fatos tão... Óbvios!

- Eu usei um feitiço convocatório para trazer os trabalhos de Aritmancia até mim, e havia me esquecido que não tinha jogado os projetos e rascunhos no lixo, e todos eles vieram em minha direção... – Rose dizia em voz baixa e pausada – Então eu desequilibrei, e só não caí graças ao Adam, que me segurou, e do nada me beijou! Daí você entrou, e...

- E entendi tudo errado? – ele perguntou, mas não deixou que ela respondesse – Por favor, Rose! Não tente me fazer de idiota.

- Eu não estou tentando te fazer idiota! É a verdade! – ela protestou e sua voz saiu histérica.

Scorpius se levantou e caminhou até a janela. Encarou os jardins da escola por alguns minutos e então retomou a palavra.

- Noites e noites naquela biblioteca fazendo trabalho... Brigas estúpidas para levantar o ego... – ele dizia com uma voz baixa e arrastada – Ontem se recusou a ir comigo a festa... E hoje isso! Como eu não percebi isso antes? Tudo se encaixa agora!...

Rose estava ainda mais confusa, quando caminhou para mais perto do rapaz. Tentou encará-lo, mas ele desviou o olhar e se virou, para ficar novamente de costas para ela.

- Scorpius, do que você está falando?

- De você e do seu novo amigo! – ele respondeu.

- Eu ainda não entendo!

- Então serei mais claro! – Scorpius finalmente se virou para encarar a ruiva, e isso pareceu causar algum efeito na menina. O que antes era um azul acinzentado, capaz de transmitir a ela toda paz que necessitava, agora faiscava de ódio e mágoa. – Você não percebeu o quanto a presença dele te incomodava? E depois a amizade de vocês? E pra completar, a ceninha de trabalhos juntos e tropeços que os unem? Isso não lembra nada a você, Weasley? – Scorpius riu ao vê-la balançar a cabeça negativamente – Pois a mim lembra! E sabe o que? A nós!

- A... Nós?

- Sim, minha cara! Brigas, raiva, amizade... E isso! Interessante como você costuma atrair a atenção alheia, primeiramente com antipatia.

- Scorpius, por favor, eu ainda não entendi sobre o que estamos falando! – as lágrimas que Rose tanto tentava conter, agora rolavam pelo seu rosto. E para sua surpresa, isso não incomodava o loiro.

- O Krum está apaixonado por você! – ele praticamente cuspiu a frase – E você...

- Não diga isso, por favor, não diga tal coisa!

- Dizer o que? Que também está apaixonada por ele?

- Eu não estou apaixonada por ele! Scorpius você enlouqueceu? Por Merlin, você tá entendendo tudo errado! Eu nunca tive nada com Adam, não diga tais loucuras! – Rose tentou tocar o rosto do jovem, mas ele se afastou – O que você viu hoje não foi minha culpa!

- E como eu posso saber disso? Weasley, eu não leio mentes! – pela segunda vez, Scorpius a chamou pelo sobrenome, e a ruiva estava tão nervosa, que novamente não percebeu.

- Eu amo você! – ela disse, e sua voz saiu embargada pelo choro.

- Eu já não sei se acredito nisso! – Scorpius disse, e a encarou de forma profunda – Pra ser sincero, eu não acredito mais nisso!

- Scorpius... O que... Que novidade é essa? – Rose arregalou os olhos de espanto.

- Eu chamaria de fato, mas se prefere novidade, que assim seja!

Os dois se encararam por mais alguns minutos, sem dizer nada. O contraste de olhares nunca foi tão perceptivo como estava naquele momento. Um azul desesperado e banhado em lágrimas encarava um azul cinza, que estava tão frio que poderia ser confundido com uma barra de gelo.

- Você não pode estar falando sério! – Rose sussurrou. Não tinha forças para falar mais alto que aquilo.

- Ah... Mas eu estou! – Scorpius disse e se aproximou perigosamente da menina – E quer saber de mais uma novidade?

Rose hesitou por um momento e finalmente perguntou:
- Qual?

- Eu não me importo! Não mais... – ele lançou um olhar avaliador na menina. Parecia travar uma batalha interna, para saber se terminava ou não a frase. Finalmente prosseguiu, mais confiante e mais seco que antes – Acabou, e dessa vez é pra sempre!

Rose sentiu como seu corpo tivesse sido atingido por uma maldição de tortura. Uma não, várias... Era como se todos os alunos de Hogwarts tivessem apontado suas varinhas para ela, e juntos lançassem um Crucio. Não conseguia acreditar no que ouvia, não conseguia pensar, falar... E ela teve a impressão, que não conseguiria mais viver também!

- Vo... Você tem cert... Você tem certeza? – ela gaguejou.

- Eu nunca estive tão certo, em toda minha vida! – mentiu. Era óbvio, até para ele, que aquela afirmação era falsa. Mas não se importava. Scorpius julgava ser melhor assim, pelo menos agora as coisas poderiam voltar a se encaixar... Isso se sobrasse algo.

Rose não disse mais nada. Apenas se virou e caminhou em direção a porta do quarto, de cabeça baixa. Sua cabeça doía, assim como seu corpo. Novamente, as coisas pareciam ter perdido a cor... a graça... E ela não via mais porque continuar ali, se como ele mesmo havia dito, não tinha mais volta...

Quando tocou a maçaneta da porta, suspirou. Em seu dedo estava o anel de noivado que Scorpius havia lhe dado. Sem pensar duas vezes, o retirou e se virou novamente, para encará-lo.

- O que foi agora? – ele perguntou, achava que se a visse mais alguns minutos, voltaria atrás em sua decisão, e não queria isso.

- Acho que isso – ela mostrou o anel – é seu! Não vejo motivos pra continuar com ele... Não mais! – a ruiva colocou a jóia sobre a mesa e se virou pra sair.

Pela primeira vez, Rose Weasley e Scorpius Malfoy sentiam-se mortos.





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