Capítulo 3



Capítulo 3





- Pronto. Isso vai manter seu braço imobilizado até o ombro ficar
totalmente curado.


- Eu nem sei como agradecer... - falou Ronald observando a bandagem - Mas
como vou conseguir cavalgar com isso?


- Cavalgar? Você não pode andar a cavalo em hipótese alguma! - falou
admirada Luna, sua enfermeira por acidente.


- Como não posso? Eu preciso!


Ronald tinha pensando muito na situação enquanto estava deitado naquela
cama. Seu ombro ainda doía, mas já apresentava sinais de melhora. Ele tinha a
sensação que Camelot não tinha idéia da horda de saxões que se movia pelas
terras inglesas. Não deixaram sobreviventes além dele para contar o que estava
acontecendo. Seu dever era avisar o rei. Ronald se levantou da cama indo em
direção de sua camisa, colocada em uma cadeira junto com suas botas, cinto e
espada.


- Onde você pensa que vai? - disse Luna. Também se levantando.


- Eu preciso avisar Camelot. - ele falou pegando sua camisa e tentando, com
dificuldade, vesti-la. O curativo o impedia de mexer o braço.


- Avisar...Camelot? - continuou Luna, perdida - Mas Camelot está a quatro
dias daqui e isso cavalgando! E os saxões? E se você encontrar com eles?


Ronald já tinha pensando nessa possibilidade:


- Eles foram para o oeste não foram? Camelot não é para lá. E além disso
já devem ter atingido as terras do Lorde Uriens. Estão dias a minha frente...E
é por isso que preciso partir agora. - disse continuando a fracassar na
tentativa de se vestir - Maldita camisa!


Luna se levantou e foi ajudar:


- Fique quieto, eu faço isso - ela falou enquanto ajeitava a camisa na
posição certa para passar pelo pescoço.


Depois de algum tempo a camisa estava vestida:


- Obrigado. - agradeceu Ronald enquanto colocava suas botas. - Que incomodo
que eu sou, não? - ele continuou, abrindo um sorriso. Mas o sorriso era
forçado, na verdade ele estava se sentindo impotente e fracassado. Não podia
segurar nem sua espada direito.


Luna não respondeu. Estava concentrada em seus próprios pensamentos. Ronald
terminou de calçar suas botas e colocou seu cinto, ainda com certa dificuldade.


Luna voltou se a se sentar na cadeira do lado da cama, soltou um suspiro:


- Suponho que não vou conseguir te convencer a ficar, não é?


- Não posso ficar.


- Então me deixe te ajudar...


- Ajudar me? Como?


Luna levantou e saiu do quarto dizendo:


- Espere aqui.


Ronald colocou seu cinto e logo após ela tinha voltado segurando um escudo:


- Meu pai não conseguiu achar o seu então eu resolvi te trazer esse.


Ela lhe passou o grande pedaço de aço. Ronald examinou o escudo de perto,
possuía um brasão bem no certo com uma imagem de um leão. De repente ele
abriu a boca e soltou um rugido. Ronald olhou para Luna com olhos arregalados:


- Magia...Bruxaria...


- Erm...Não se assuste, não faz nada. Só ruge...Eu queria colocar uma
cobra para representar os saxões mas não deu tempo.


- Não..Eu conheço magia. O que me surpreende é você conhecer. - respondeu
sinceramente Ronald - E belo leão.


Luna ficou ligeiramente rubra:


- Meu pai me ensinou alguns truques. Mas como você conhece?


- Todos os meus irmãos usam magia...Fomos ensinados quando crianças. Se bem
que eu não sou muito bom.


- É bom conhecer alguém que não tem medo de magia...O povo daquela vila
nunca gostou de mim e de meu pai, falavam que nós éramos criaturas do Mal e se
recusavam a comprar o leite que produzimos. - ela disse, sem se mostrar afetada
pelo assunto.


- "O homem sempre teme aquilo que não conhece e anseia por aquilo que
não possui."


- Palavras sábias.


Ronald abriu um pequeno sorriso:


- Por isso não são minhas. Quem as disse foi o grande mago Albus
Dumbledore, conselheiro e amigo do rei.


- Por tudo o que me disse, só posso deduzir que seja um dos cavaleiros do
rei. Estou certa?


Quando respondeu, a expressão de Ronald era grave:


- Por muitos motivos e razões não sou. Mas ele tem minha lealdade e amizade
até meu dia de morte.


Luna percebeu que tinha tocado em um assunto delicado e logo procurou outro:


- Devo preparar então o seu cavalo?


- Agradeço muito, espero um dia poder retribuir.


***


Hermione levantou cedo aquela manhã, estava tão contente que mal conseguia
ficar parada.


Ela e Harry tinham combinado de dar um longo passeio pela floresta negra que
rodeava Camelot. Apenas os dois, aproveitando a paisagem. Ela queria mostrar
tudo o que tinha aprendido com Dumbledore, e quem sabe, com sorte, o convencer a
deixa-la ir junto com os outros cavaleiros.


Ninguém na corte parecia entender a vontade de Hermione em ir para o campo
de batalha, apenas sua amiga Virginia a apoiava. Todo o resto da corte,
incluindo Harry e Dumbledore, achava que ficar ao lado do rei sorrindo e
acenando bastava.


Mas Hermione queria mais, se sentia inútil e presa. Uma vez, acreditava que
como rainha poderia fazer algo que realmente importava. Agora sabia que a rainha
não passava de uma estatua, e um meio de se ter um herdeiro para o trono.


Mas isso não significava que ela tinha que ser daquele jeito.


Caminhando animadamente pelo seu quarto ela murmurava em voz baixa todos os
feitiços que tinha aprendido, tentando garantir que iria impressionar Harry.


Estava tão concentrada que nem reparou quando a porta de seu quarto se
abriu, e Virginia Weasley entrou.


Ainda preocupada em conseguir pronunciar corretamente um feitiço, Hermione
se virou e encontrou Virginia parada ao lado da porta:


Hermione parou imediatamente de falar para si mesma:


- Ah minha amiga, não te vi entrar. Está tudo bem?


Ela tinha perguntado mas já sabia a resposta. É claro que Virginia não
estava bem, seu irmão tinha sido enterrado há quatro dias atrás:


- Estou bem, Hermione. Desculpe entrar assim, mas o rei me mandou chamá-la.


Hermione olhou para o rosto de Virginia e soube na hora que seus planos não
iriam acontecer:


- Sinto muito, Hermione, ele não vai. Parece que vai ter que me acompanhar
no bordado.


- Bordar? Não, Gina, não obrigada. O fato que ele não irá me acompanhar
não necessariamente quer dizer que eu não irei cavalgar.


- Nessa corte, minha amiga, quer dizer sim. O próprio Rei me pediu que te
acompanhasse durante o dia no castelo, para não se sentir sozinha.


Hermione cruzou os braços, irritada. Não era o fato dele não poder ir que
a deixava incomodada.Não, isso ela compreendia, afinal ele era o rei e tinha
responsabilidades. O que lhe deixava furiosa era que não podia sair sem ele.
Era ela a futura rainha ou uma prisioneira?


Hermione imediatamente desceu a escadaria da torre onde se encontrava seu
quarto. Passou pelos corredores solitários do castelo até finalmente chegar ao
Grande Hall. Lá estava Harry conversando calmamente com o chefe da Guarda, ao
lado do trono.


Ao ver que Hermione se aproximava, Harry dispensou o homem e se virou para
ela:


- Posso perguntar qual a razão para que não possa ir cavalgar sem você? -
começou ela com firmeza, não perdendo tempo.


O rosto de Harry mostrava claramente que a reação da noiva já era
esperada:


- Você sabe bem a razão, Hermione. - ele disse simplesmente. - Sinto muito,
sei como isso a incomoda, mas certas liberdade não existem quando se é noiva
do rei.


- Talvez eu não queira ser mais a noiva rei. - ela disse em fúria, sem
pensar bem no que dizia. - Talvez eu não queira ser mais a prisioneira do rei.


Segundos após ter dito aquilo, ela se arrependeu. Estava sendo infantil,
parecia uma menina mimada gritando contra o pai. Viu tristeza estampada no rosto
de Harry:


- Sinto muito...Não queria -


Mas sua desculpa foi interrompida:


- Você queria, Hermione. Disse porque queria. - ele suspirou antes de
continuar - Eu só me preocupo com você, Hermione. Não quero te perder. Nos
conhecemos desde pequenos, e sempre fomos amigos. Mesmo se eu não fosse rei e
você não fosse minha noiva, isso não mudaria. Nunca foi, ou irá ser minha
intenção mantê-la em uma prisão...Só quero o teu bem.


- Eu comporto como uma criança mimada e você mesmo assim só me mostra
afeição. Desculpe-me. - Hermione falou, envergonhada por sua atitude anterior.
Estava sendo injusta com ele - Eu entendo sua preocupação, Harry...Mas peço
que confie em minhas habilidades. Há muito tempo suspeito que você esqueceu de
como treinávamos juntos a lutar com espadas e eu - Hermione abriu um pequeno
sorriso - ganhava várias vezes?


Harry sorriu também:


- Talvez eu tenha esquecido... - falou Harry, depois acrescentou em voz baixa
- Talvez eu tenha esquecido que você já tem um pai. - Hermione mal pôde ouvir
ou entender o que ele dizia, e então ele continuou em uma voz mais alta - Por
mais que ainda não goste da idéia, não vou mais impedir que você cavalgue,
mas apenas se você for acompanhada por alguns soldados...Minha preocupação
será menor.


- Obrigada, Harry. - ela respondeu.


Harry abriu finalmente um grande sorriso, e ela o retribuiu com um pequeno.


Algumas horas depois Hermione estava se preparando para sair. Seu cavalo,
Shanks, tinha ficado no estábulo fechado por muito tempo e vários servos
comentavam o quanto ele estava abatido e nervoso, e ao ver a dona se aproximar,
não havia dúvida que esses sentimentos se dispersaram.


Hermione se aproximou dele e falou em seu ouvido:


- Me desculpe Shanks...Sei que você não gosta de ficar preso. - o cavalo
relinchou em retorno - Se alegre, porque hoje...Pelo menos por hoje, não somos
prisioneiros.


Os olhos do cavalo mostravam que ele compreendia mais do que qualquer humano
o que ela sentia.


Quando ambos deixaram os portões de Camelot, acompanhados de longe por dois
soldados, não havia dúvida do alivio que sentiram ao sair da prisão de pedra
que era Camelot.


***

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