Único



Our Game, My Loss






Assisti tudo de camarote.

Logo que comecei a ter alguma consciência do que acontecia ao meu redor, ela sempre esteve presente na maioria das minhas lembranças. Na nossa infância conturbada e nos bailes cheios de bebida. Só nunca esteve apenas comigo; sempre rodeada de outras pessoas. Ela nunca estava sozinha, sempre estava jogando com alguém.

Nunca fomos uma família unida, apenas nos suportávamos e tentávamos não nos matar naquele caos que Grimmauld Place se tornava com o decorrer dos anos.

Assisti tudo de camarote.

Bellatrix, no auge dos seus vinte e cinco anos, tinha o mundo em suas mãos. Os dedos longos e brancos brincando com cada um de seus fantoches, movendo-os da maneira que lhe fosse melhor; as suas longas unhas pintadas de vermelho divertiam-se em machucar o maior número possível de vítimas.

De um lado ela tinha ele, que desde sempre estivera ali, apenas para lembrar a ela que, querendo ou não, ele continuaria ali com o passar do tempo. Nunca gostei de Rodolphus Lestrange, e acho que o principal motivo disso sempre foi o fato de ele representar tudo aquilo que o futuro nos guardava; a família Black sempre arranjaria casamentos decadentes para as suas mais belas jovens.

Como alguém poderia lutar contra aquilo? Foi o que eu sempre me perguntei, em minhas mudas manifestações de afeto. Apenas um tolo seria capaz de tentar vencer o invencível. Pois foi exatamente isso que o outro lado fez.

Era apenas um adolescente, um adolescente ridículo que conseguia cativar todos que tivessem alguma coisa no coração; eu conseguia ser mais ridícula que ele e, dessa forma, sempre mantive uma grande afeição por ele. Mas então, quando tudo já estava tão enterrado dentro de mim, eu presenciei os beijos, eu ouvi os gemidos e eu senti o chão sumir.

Ele era apenas um adolescente.




Enfim, depois de anos, eu pude ver tudo amplamente. Os dois lados da mesma moeda, e apenas ela no meio de tudo aquilo; enquanto eu continuava mantendo uma distância razoavelmente segura de toda aquela insanidade. Mas as cartas já estavam na mesa, restava apenas saber quem ganharia o jogo.

O doce ou o amargo.

Por incrível que pareça, o doce era representado por um Black – mas nunca um de nós. Ele, o menininho que ousou brincar com a mulher malvada, lutando eternamente pela salvação dela, da família e do mundo.

Lestrange, em toda a sua indiferença e nicotina, não poderia ser mais bem representado. O amargo. Mas Bellatrix nunca o considerou um jogador, e talvez tenha sido este o erro dela – mais um dos seus intermináveis erros e desastres.

Considerando todos os fatos, fica tão claro que Bellatrix nunca os viu como jogadores! Eles nunca foram uma ameaça para ela. Eles eram as cartas, os dados, as peças do jogo que ela jogava e transformava a vida de todos que não mantinham distância.

O meu carinho por Sirius não conseguia ultrapassar a minha obsessão por Bellatrix, então tudo o que eu desejava era que ele quebrasse logo o seu belo rosto e fosse descartado do jogo. Mas então eu deveria escolher um combatente, para desta forma lutar contra aquilo. Não foi o próprio Sirius que me fez perceber que aquela situação poderia ser mudada?

Eu nunca ousaria lutar contra a nossa família, ou o que ela representava. Se eu o fizesse, eu estaria lutando contra a própria Bellatrix, e encará-la como uma adversária fazia parte do final do jogo; eu ainda não estava lá, eu ainda precisava entrar no jogo. Então me decidi por Sirius.

O garoto nunca seria parte de nós, ele era uma espécie de falha de continuidade. Sem ele, a família Black seria mais próspera e teria atravessado muitos séculos, a falta dele não nos afetaria em nada. Mas ele não seria nada sem o nosso nome, sem a nossa doutrina, sem a nossa loucura.

Esta contradição lembrava-me da contradição ambulante que eu era. De um lado a garota quieta e doce, do outro a obsessão. Sem Bellatrix eu teria sido uma pessoa melhor – ou pior, dependendo do ponto de vista de cada observador. Mas com Bellatrix eu me completava. E acreditem: ela já era a parte que faltava no meu corpo, muito antes de eu perceber o quão literal isto era.




Ele fez um pouco de barulho do outro lado da porta e, logo depois, entrou no quarto, distraído com os seus pensamentos. Distraído demais para perceber a minha presença rapidamente. Demorou algum tempo, em que simplesmente ficou olhando para o chão, até levantar o olhar e se dar conta de que eu estava sentada em sua cama, o encarando.

Acho que sabia; na verdade seria burrice demais da parte dele não perceber que eu já sabia de tudo aquilo há muito tempo. Afinal, o que a sua doce prima Andromeda faria em seu quarto, minutos antes do horário em que Bellatrix costumava aparecer por ali?

- Andie. – Mostrou os dentes, em um sorriso completamente falso. Aquilo não combinava nenhum pouco com ele.

Cheguei a ter um pouco de pena dele, já que nos primeiros instantes eu percebi que ele iria começar um longo discurso, onde declararia saber que tudo aquilo era uma loucura. Compartilhava da mesma opinião que ele, mas eu nunca pude falar da loucura de ninguém. Não quando a minha loucura sempre atendeu pelo nome de Bellatrix Black.

- Eu sei de toda essa brincadeira que você tem mantido com a minha irmã. – Parei um momento, decidindo-me se deveria ou não alertá-lo do perigo que ele corria, mas, no fim, optei por simplesmente ignorar esta piedade repentina e tirá-lo do jogo.

- Você sempre foi uma das pessoas mais legais comigo nesta casa – Começou ele, sentando-se ao meu lado e abandonando o ar preocupado que mantinha até aquele momento; voltou a sorrir displicentemente, como o adolescente rebelde que ele era. – Talvez eu devesse ter te contado, mas tudo aconteceu muito rápido.

Como se eu quisesse ouvir detalhes sobre como ele havia levado a minha irmã para a cama; sobre como eram os seus beijos, ou sobre como a pele dela pegava fogo ao ser tocada. Eu não queria ouvi-lo falar sobre nenhuma daquelas experiências, eu queria apenas vivê-las. Eu queria isso mais do que tudo.

- Sim, você deveria ter me contado. – Respondi com simplicidade, ao mesmo tempo em que deixava com que um ar triste tomasse conta do meu olhar.

Não havia nascido naquela família por um acaso do destino. Eu podia ter os olhos mais doces daquela casa, podia até mesmo discordar daquela matança trouxa que eles tanto desejavam, mas isto não significava que eu deixaria de ter a ambição e a maldade deles.

Assim formei o meu teatro, apenas um ator contracenando comigo naquela única cena. E apenas uma espectadora. Eu seria a dona do jogo, por pequenos e quase insignificantes minutos, aquele era o meu teatro.

Quando Sirius percebeu a tristeza no meu rosto, logo postou uma de suas mãos sobre o meu ombro. Não podia dizer que não eram reconfortantes e, se eu realmente estivesse na situação em que a minha personagem estava, eu teria finalmente encontrado um bom lugar para ficar.

- O que houve com você, Andie? – A sua voz demonstrou uma preocupação que me surpreendeu por sua veracidade. – Foi alguma coisa que ela fez?

“Sempre.”

Ela sempre seria a culpada de toda a desgraça da minha vida e, pelo o que eu começava a perceber, esta regra começava a se aplicar a ele também. Percebi que Bellatrix já havia vencido Sirius Black.

Pelo menos desta forma eu não teria tanto trabalho em tirá-lo de uma vez neste jogo e ocupar o seu lugar.

- Foi você, Sirius. – Ouvi a minha voz e ela parecia pertencer a outra pessoa, não sei como ele não percebeu tanta falsidade.

Quando percebi que o momento de dar à minha peça o seu grande final havia chegado, eu agi o mais rápido que pude. Terminei com a distância entre nós e grudei os meus lábios nos dele. Ao primeiro momento relutou, assustado, até que percebeu que eu não desistiria tão facilmente. E então cedeu, deixando com que as nossas línguas se encontrassem, me fazendo perceber que, ao menos para mim, ele não tinha gosto.

Experimentaria mil lábios e, mesmo assim, o gosto de nenhum deles permaneceria gravado em mim. Não conseguia perceber porque achei que com ele seria diferente... talvez eu estivesse esperando pelo gosto da vitória, mas este gosto nunca veio.

Continuei a beijá-lo, mesmo que percebe-se que ele tentava sutilmente se afastar. Fiz exatamente o contrário, contornando o seu pescoço com os meus braços, para poder trazê-lo para mais perto e assim aprofundar o nosso beijo. Não sei dizer quanto tempo passou desde que eu começara com tudo aquilo, já que eu estava apenas cumprindo o meu próprio roteiro e não sentia nada com clareza; mas, após algum tempo, ouvi uma nova agitação do lado de fora da porta.

Seria uma grande mentira dizer que, naquele momento, o meu coração não disparou. Mas ao mesmo tempo em que isso acontecia, um sorriso invadia os meus lábios que ainda estavam colados nos lábios dele. Sempre achei que homens eram tolos e tive a prova de que quando estamos falando de garotos adolescentes, esta tolice fica ainda maior. Parecia ter se esquecido que mantinha um relacionamento secreto com a minha irmã, parecia ter esquecido até mesmo que no inicio havia tentado me repelir.

Encontrava-me de frente para a porta e tive que usar todo o autocontrole que eu possuía para não abrir os olhos e observar o desfecho da peça. Só pude finalmente olhar para a figura imponente que Bellatrix formava quando a sua voz chegou aos meus ouvidos e eu me afastei de Sirius fingindo surpresa.

- Tão apaixonados. – Falou, com a voz fina e infantil.

Por mais que conhecesse Bellatrix tão bem, eu não teria adivinhado que o seu tom de voz seria tão frio. Tinha esperado ao menos um pouco de raiva, por ver o seu passatempo se divertindo com outra pessoa. Mas eu me enganei. A sua voz era fria e livre de qualquer ressentimento; parecia até mesmo divertida com tudo aquilo.

Sirius se afastou rapidamente de mim e se levantou, aproximando-se dela.

- Bella... – A sua voz falhou quando Bellatrix o encarou.

- Poupe-me das desculpas, garoto. – Cortou-o displicentemente e então o seu olhar recaiu sob mim.

Pude encará-la, sem medo de parecer infantilmente apaixonada ou obcecada. Bellatrix estava me avaliando, tentando enxergar o que realmente significava tudo aquilo. Devo dizer que sempre consegui ser uma boa atriz. Ela jamais percebeu que eu, mais do que qualquer um, almejava por ser usada por ela; eu esperava há mais tempo do que todos os outros.

Sempre tive plena certeza de que, assim que ela percebesse, ela partiria para cima de mim tão sutilmente como uma aranha que se prepara para usar o seu veneno. E então ainda mais suavemente eu já estaria presa na sua teia e nada mais me salvaria. Mas nunca foi aquilo que eu quis. Ser apenas mais um banquete de desgraça não estava nos meus planos; eu queria ser o jogo principal, o jogo final.

No fim eu já estava tão afundada em jogos e fingimentos como ela.

O olhar dela ainda estava pregado em mim quando decidi falar. Mesmo que ainda estivesse perdida em seus olhos negros, a minha voz saiu do jeito que eu havia planejado.

- Eu vou deixar vocês sozinhos. – Falei com inocência, me levantando da cama de Sirius.

Ela riu, da forma como ela sempre fazia: cortante e estridente.

- Andie. – Disse, os lábios curvados em um sorriso malicioso. – Como nunca lhe dei atenção antes?

Não estava realmente impressionada com a questão que havia levantado, mas precisava ao menos fingir. Tinha entrado no meu teatro e estava roubando a cena.

- Bellatrix – Sirius, que continuava entre nós duas, tinha um olhar angustiado. – Não a culpe pelo o que você viu, a culpa é toda minha.

Tão grifinório. Tentando proteger a doce prima que havia errado apenas em se apaixonar por ele. Tão tolo.

Finalmente ela desgrudou os olhos de mim e pôs-se a encará-lo.

- Seria ótimo usar isto como desculpa – Ergueu a mão e nos indicou, as longas unhas cortando o ar conforme ela balançava a mão. – Mas seria injusto com você, Six. Seria injusto demais considerá-lo um tolo tão grande.

Da mesma forma que eu já imaginava. Sirius já era um jogador derrotado.

- Tenha uma boa noite, primo. – Sussurrou falsamente, se virando para ir embora e tocando a maçaneta da porta. – Apesar de eu saber que, a partir de agora, as suas noites serão longas demais sem mim.

Ela fechou a porta, nos deixando sozinhos no silêncio. Deixou Sirius com aquela perspectiva de noites solitárias; me deixou com a expectativa dos dias em que as minhas noites finalmente passariam a conter toques e jogos.




Como já era de se esperar, ele tentou de todas as formas resolver aquela situação. Eu me sentia tão decadente ao sentir-me vitoriosa a cada vez em que eu via o olhar perdido dele. Sirius era um garotinho perdido sem os toques de Bellatrix.

Ele não me culpou, apenas tirou todas as minhas esperanças de ter qualquer coisa com ele. Quando recebi a triste notícia o meu olhar voltou a ser triste e eu deixei com que a atriz dentro de mim demonstrasse o tamanho da minha decepção.

Voltei a ser a Andie amiga e compreensiva no momento certo. Ele ainda tinha algumas semanas de férias e não tinha mais esperanças de reatar com Bellatrix. Fui uma boa prima e amiga e lhe sugeri a melhor opção no momento.

Não demorou muito para que ele arrumasse a sua mala e fosse embora para sempre. Para comemoração de titia Walburga, para fofoca de minha mãe e indiferença de Bellatrix. Consegui sentir-me segura pela primeira vez desde que aquela relação entre eles havia começado.

Enfim eu teria apenas mais um adversário para derrotar, eu havia tomado o lugar de Sirius e agora representava o doce daquela contradição. Apenas um venceria, apenas o doce ou o amargo.

Ainda não havia decidido quem deveria ganhar aquela batalha quando ela, de fato, começou.

Sentada em uma poltrona do seu quarto, olhando para as suas unhas e aparentemente alheia ao que acontecia ao seu redor. Mas havia deixado a porta do seu quarto aberta e me viu passando pelo corredor, rumo ao meu.

- Andie. – Chamou com a voz alta o bastante para que eu a ouvisse, mas baixa o bastante para parecer o sibilo de uma cobra.

Parei no meio do corredor e fechei os meus olhos. Agora não seria mais um teatro e eu não precisaria mais fingir, ou pelo menos assim eu achei que seria.

- Sim? – Perguntei, voltando alguns passos e parando em frente à porta aberta.

Bellatrix se levantou, sempre com um sorriso malicioso no rosto. Longos cabelos negros, profundos olhos negros e esmalte negro descascando. Percebi que era isso que ela fazia displicentemente antes de eu aparecer.

- Feche a porta. – Ordenou.

Obedeci.

Quando já havia fechado a porta eu percebi que ela havia dado alguns passos na minha direção.

- O que você quer? – Perguntei diretamente, da forma que eu havia ensaiado tantas vezes. – Quer apenas provar a teoria de que eu finalmente tornei-me digna do meu nome?

Encarou-me atônita, não estava esperando que eu falasse aquelas coisas. Provavelmente esperava que eu calasse-me pela simples presença dela e me deixasse ser envenenada; mas eu esperei por muito tempo para deixar tudo acontecer tão rápido, tão fácil.

- Ora, Andie – Sussurrou, e eu senti uma enorme vontade de lhe implorar para que ela parasse de me chamar daquela forma que agora soava tão suja. – Você sabe que eu só falei aquelas tolices para o Sirius não insistir por muito tempo.

Por um momento eu quase comuniquei que ele só havia parado de insistir e ido embora por minha causa, por culpa da minha manipulação, mas me contive. Estávamos ali para discutirmos coisas muito maiores do que ele.

- Se isto que você diz é verdade – Procurei os olhos dela e, assim que os encontrei, percebi a curiosidade escondida no negro. – Por que demorou tanto para me procurar?

Queria que ela se intrigasse, que quisesse resolver o quebra-cabeça. Sabia que aquela era a única forma de prendê-la a mim.

- Cada coisa ao seu tempo, Andie. – O seu sorriso desapareceu e ela me olhou com seriedade. – Mas agora você está pronta, irmãzinha.

Em nenhum momento aquilo teve o tom de uma pergunta, pois Bellatrix já sabia. Ela havia finalmente descoberto o meu maior segredo e estava pronta para se aproveitar disto.

- Me coloque logo no seu jogo, Bellatrix. – Murmurei ao ver a distância entre nós ficar ainda menor.

Sorriu brevemente e deu um último passo. Era mais alta que eu, mas nada que mudasse muita coisa. Não quando alem de mais alta, ela também tivesse cabelos mais brilhantes, as unhas mais longas e os olhos mais cruéis. Quando todos estes fatores se uniam, nada mais importava.

- Você já está nele, irmãzinha. E já começou em um lugar de honra.

Ao contrário do que os meus lábios desejavam, ela não beijou-me. Pelo menos não na boca, ao invés disso ela rumou os seus lábios até o meu pescoço, enquanto as suas mãos puxavam-me pela cintura.

Tinha lábios quentes e macios, que ao que seus atos indicavam, desejavam sentir cada parte do meu pescoço; e logo depois o meu colo exposto pela roupa de verão que eu usava. Já havia me acostumado com a textura dos lábios dela e o nervosismo inicial começou a ir embora, dando lugar apenas ao desejo de que ela não parasse nunca mais com aqueles beijos.

Mas ela parou rápido demais com os beijos e logo eu senti os seus dentes contra a minha pele. No inicio poderia ter sido apenas um esbarrão, mas logo a sua intenção ficou clara. Mordeu-me com força, e não teria sido típico de Bellatrix se ela não tivesse usado tal força. Os meus dedos, que anteriormente passeavam pela raiz de seus cabelos, apertaram a pele de sua nuca com quase tanta força como ela me mordia.

E ela continuou com a mordida até que eu deixasse com que um pequeno gemido saísse pelos meus lábios, e só então ela parou. Uma das primeiras armadilhas dela, e eu, ingenuamente, havia seguido exatamente o que ela esperava de mim.

Beijou com leveza o lugar em que havia me mordido e eu senti uma ardência no local. Mas o desconforto foi esquecido assim que eu senti que ela me puxava e me levava para a sua cama.

Ao chegarmos à cama, ela parou e, ainda em pé, pôs-se a tirar as minhas vestes; o mais rapidamente que conseguiu, parando em alguns pontos e me lançando um olhar malicioso. E então, com uma lentidão tão grande como a sua rapidez, ela começou a se despir. Tão sensualmente, como se ainda precisasse me seduzir, como se ainda precisasse daquele jogo para me manter interessada. Mas, na realidade, acho que ela desejava apenas me deixar mais louca do que já era.

Louca por ela.

Então me empurrou bruscamente e logo eu senti o corpo dela desabar sobre o meu, cada centímetro de mim arrepiando-se por causa do contato com o corpo dela.

Finalmente ela me beijou. Os nossos lábios se encontraram e logo eu senti o gosto dela. Enfim encontrei lábios com algum sabor e, enfim, apreciei aquele gosto.

E então eu simplesmente soube: depois de tanto anos de espera, eu finalmente havia entrado no jogo, e afundaria nele da mesma forma que, naquele momento, eu afundava as minhas mãos pelos cabelos de Bellatrix, imprimindo mais força a cada onda de prazer.




Foi com um assombro tão grande que eu vivi os dias seguintes; era tão surreal a forma como eu havia deixado de assistir tudo de camarote e agora vivia tudo aquilo. Mas as coisas aconteceram rápido, quando me dei conta, os convites para o noivado dela já haviam sido entregues para toda a alta sociedade.

A noite estava estrelada, mas Bellatrix não se dava ao direito de admirá-la; então, como sempre, as cortinas de seu quarto estavam fechadas, cobrindo o brilho das estrelas. Talvez, no jogo insano que Bellatrix traçava em sua mente, ela achasse que apenas ela poderia brilhar naquele local. Apenas ela brilhava.

- Eu estive pensando. – Anunciou depois de um tempo, levantando-se da sua cama e cobrindo-se com um manto negro, tão transparente que quase não fazia diferença ela usá-lo ou não.

Movi a minha cabeça até que pudesse enxergá-la, agora sentada na poltrona que havia perto da janela.

- Você não é tão manipulável como Sirius, vai ser mais difícil lhe mandar embora.

Poderia estar falando consigo mesma, apenas arquitetando os próximos passos do seu plano. Mas eu sabia que ela fazia questão de que eu ouvisse aquilo, apenas para mais uma vez ter certeza de que aquele era o jogo dela e apenas o que ela quisesse iria acontecer.

- Então eu acho que a única solução é não dar um fim nisso. – Fiz de tudo para aquilo não soar como um pedido, mas pelo olhar divertido que ela me lançou, eu fracassei.

- Pobre Andie. – Murmurou, balançando a cabeça. – Como você consegue se manter inocente?

No início pareceu apenas divertida com a minha ingenuidade, mas após repetir aquela pergunta algumas vezes, em murmúrios desconexos, ela passou a realmente se interessar na minha resposta. Na resposta que nunca chegou. Eu não sabia a resposta para a sua pergunta, pois jamais havia parado para pensar no quanto eu conseguira manter a minha integridade após tanto tempo com aquela família.

- Como, Andie? Como conseguiu se proteger? – Seus olhos se cravaram nos meus e, pela primeira vez, eu me senti constrangida por estar nua.

Mexeu-se incomodamente na poltrona em que se encontrava, ao mesmo tempo em que eu envolvi o lençol pelo meu corpo e me sentei na cama. Admirei-a por algum tempo, vendo o jogo mudar. Percebi que aquilo não era, e nunca seria, uma luta entre mim e Rodolphus.

Bellatrix representava o amargo e era apenas contra ela que eu lutava.

- Responda, Andromeda! – Disse entre os dentes, para logo depois se levantar.

Levantei-me também, mas não rumei até ela. Fui até a janela, sentindo o olhar dela seguir-me por todo o percurso.

Toquei o tecido grosso das cortinas e afastei-as num ato rápido, deixando com que um pouco da luz da noite entrasse no quarto. Ela, como sempre, não entendeu o que eu fiz. Não imaginei que ela pudesse entender, não sem ter uma explicação; ela nunca entenderia atos poéticos ou teatrais. Bellatrix era fascinada pela arte de atuar e de fingir, mas era apenas isto: uma atriz. Ela nunca seria a autora da peça.

- Você não percebe, Bellatrix? – Acenei para a janela impacientemente. – Você se protegeu demais dos outros.

Abriu a boca para me contradizer, mas antes que ela falasse alguma coisa eu voltei a lhe explicar.

- Mas, no meio do caminho – Larguei as cortinas e mais uma vez a noite estrelada foi escondida, desta vez para sempre. – Você se esqueceu de proteger-se de si mesma.

Mais uma vez acenei para a janela, agora completamente fechada para o mundo exterior.

- Você mesma se sufocou.

Nunca pretendia ter tido aquela conversa com ela. Nunca havia feito parte dos meus planos ensinar a Bellatrix uma coisa sobre ela mesma. Aquela cena nunca foi ensaiada, mas eu posso dizer que foi uma das melhores.

Comecei a procurar as minhas roupas e vesti-las, pronta para deixar Bellatrix sozinha com os seus pensamentos. Mas ela me impediu. Não suportava perder nenhuma batalha.

- E o que seria de você sem mim para te asfixiar, Andiezinha? – Perguntou zombeteira, me dando vontade de lhe mandar calar a boca.

Já estava quase em frente a porta quando a ouvi falar, e demorei um pouco para me virar e encará-la mais uma vez. O ar assustado tinha sumido de seus olhos e a maldade já havia voltado ao lugar que nunca deveria ser abandonado.

- A mesma coisa que você seria sem os seus jogos, Bellatrix. – Respondi com simplicidade, lutando para não parar de olhá-la até ter certeza que ela havia entendido as minhas palavras.

Me virei para ir embora e quando toquei a maçaneta da porta eu senti as mãos dela segurarem os meus pulsos, me virando e me obrigando a encará-la novamente.

- Então somos duas partes completas de essências dilaceradas. – Falou antes de dirigir as suas mãos para os meus seios, o seu corpo me prensando contra a porta de madeira.

Nunca entendi o que ela quis dizer com aquilo. As nossas essências eram completas, mas nossos corpos jamais estariam completos sem o outro. Como ela não percebia isso?

Mas eu não tive tempo para dar o meu ponto de vista, porque quando ainda estava formulando a minha resposta eu senti que, novamente, ela me despia. Depois de sentir as longas unhas dela me arranharem com força, eu percebi que ela fazia aquilo de propósito. Assim como as suas constantes mordidas, aquela era mais uma forma de me causar dor física.

Beijou toda a extensão entre o meu pescoço e o meu umbigo, deixando em minha pele um rastro que eu assemelhava a um rastro de morte e destruição. Com as minhas mãos – sempre enterradas em seus cabelos – eu a puxei de volta, a obrigando a me beijar nos lábios. Retribuiu o beijo com selvageria e continuou a me prensar contra a parede, as minhas costas nuas começando a doer por causa dos seus atos tão rudes.

Então eu senti os seus dedos frios percorrendo todo o meu corpo e não pude fazer nada contra o amargo, apenas render-me. O amargo mais uma vez ganhando do doce.




Os vestidos impecáveis, as gravatas bem postas e os sorrisos falsos. Assim começou a grande festa de noivado de Bellatrix.

Bellatrix, linda e sedutora, ao lado de Rodolphus. Pronta para se tornar uma Lestrange depois de um tempo. Que combinação dispensável. Dois amargos.

Rodolphus não veio falar comigo em nenhum momento. Parecia achar que eu era apenas uma irmã inútil e completamente dispensável. Também não quis falar com ele, já que não era mais contra ele que eu lutava.

Estava perdida em meus pensamentos e em meu cuidado de esconder as marcas da noite anterior. Tão perdida, tão perdida que nem conseguia perceber que já havia sido derrotada.

- Andromeda Black, enfim nos reencontramos! – Ouvi uma voz suave e acolhedora.

Mesmo antes de virar-me e reconhecê-lo, já havia sentido uma vontade enorme de abraçá-lo e conseguir um pouco de calor, um pouco de afeto, um pouco de todo o carinho que havia na sua voz.

- Ted! – Murmurei antes de realizar parte dos meus desejos.

Como uma boa e educada dama da sociedade, evitei manifestações públicas de afeto com estranhos, e limitei-me a sorrir e lhe saudar rapidamente com singelos beijos nas bochechas. Só percebi depois de um tempo que ele estava vestido da mesma forma que muitos outros ali; estava com o uniforme dos serviçais. Por um momento tive vontade de rir.

- Vejo que o tempo lhe fez bem, Andie. – Comentou sorrindo e apoiando uma das mãos sobre a mesa ao nosso lado.

- Obrigada, Ted. Pelo visto não mudou nadinha. – Abri um grande sorriso e, até hoje, não sei o real motivo de ter feito isso.

Talvez tenha sido o fato de, por sete anos, Ted ter sido um bom amigo em Hogwarts. Tudo sempre às escondidas, pois uma Black nunca poderia ter um amigo sangue-ruim; pelo menos ele havia tido a sorte de não cair na Lufa-Lufa e foi acolhido na Corvinal. Como a maioria das amizades, estas que não são as mais verdadeiras, nós havíamos acabado nos envolvendo. Não que isto tenha acabado com o contato, mas após enjoar dele – e neste momento eu percebo mais um motivo por ter o sobrenome que tenho – nós simplesmente voltamos a ser conhecidos que se falavam durante os intervalos das aulas.

- Nossa, Andie, faz tanto tempo!

- Desde a nossa formatura. – Mesmo que não sentisse falta daquela época, um sorriso nostálgico brotou nos meus lábios.

A algumas mesas de distância o olhar de Bellatrix fuzilou Ted, o que me deu ainda mais vontade de continuar conversando com ele. Olhei de um para outro durante alguns segundos, passando dos olhos tão escuros de Bellatrix até os olhos cor de mel de Ted; depois para o sorriso cheio de maldade da minha irmã até a doçura nos lábios de Ted. Eram tão diferentes. Tão diferentes que naquele momento eu os classifiquei como doce e amargo.

Merlin, estava ficando cada vez mais insana.

- Eu perguntaria o que faz aqui, se não soubesse que pertence a uma família como essa. – Falou, obviamente se referindo ao grande número de Comensais da Morte que havia na festa.

Dei-lhe uma resposta simpática e desta forma decorreu o nosso reencontro. Senti o olhar de minha mãe e dos meus tios acompanharem cada gesto que eu fazia ao lado do rapaz. Estava claro que eles haviam o reconhecido como um dos garçons e, logo após uma longa observação, tinham percebido que ele era o garoto que, vez ou outra, estava presente nas minhas fotos em Hogwarts.

Mãos frias e magras tocaram o meu ombro, no que eu me virei rapidamente.

- Andie, vamos tirar fotos da família. – Anunciou, sem sequer olhar duas vezes para Ted.

Ele entendeu. Não havia como não entender, depois de tantos anos convivendo comigo. Entendeu que toda a minha família desejava a sua morte naquele instante. E o que ele fez foi apenas sorrir.

- Eu vou continuar servindo os seus convidados. Até mais, Andie – virou-se para Bella, em um sorriso tão simpático que ela cravou as suas unhas no meu ombro. – Até mais, Srta. Black, bom casamento.

Quase tive uma crise de risos ao ver o olhar tão irritado de Bellatrix e a única coisa que realmente me impediu foi o fato de ela se afastar de mim bruscamente. Onde eu estava com a cabeça? Nunca poderia preferir o carinho; não quando a tinha.




Acho que foi a bebida. Só pode ter sido a bebida. Bom, talvez tenha sido o ódio que eu senti por ela, enquanto dançava tão esplendorosamente ao lado de Rodolphus. Sim, com certeza foi o ódio misturado ao álcool.

Somente estes elementos conseguiriam fazer com que eu o procurasse no final da festa, quando a noite já estava quase indo embora. E a culpa por eu lembrar de tão poucas frases é do álcool.

“Vamos nos sentar”

“Mais vinho, Ted! Até parece que você não sabe beber!”

“Não seria melhor te levar ao seu quarto?”

“Não seria melhor ficar lá?”

Tão tola.

Estava claro para mim que, se alguém soubesse, eu poderia me considerar uma pessoa morta. Mas, mais claro do que isto, era a certeza de que se ela soubesse, eu seria uma pessoa sem nada. Se ela soubesse, ela iria tirar tudo de mim, menos a vida, apenas para ter certeza de que eu passaria a eternidade a pensar nela e nos meus erros.

Uma semana depois de tudo o que aconteceu, eu ainda sentia que uma estranha havia tomado conta do meu corpo; ainda queria que aquilo fosse uma realidade alternativa.

Deixei com que a água caísse sobre o meu corpo por mais algum tempo. Teria ficado ali por muito tempo, com as costas encostadas na parede gelada, os cabelos molhados grudados na minha pele, os olhos fechados, a sensação de pureza que eu nunca mais havia tido.

Mas a pureza foi embora logo. Assim que ela chegou e pôs-se a admirar-me.

- E então a doce Andie perde a sua pureza. – Sussurrou em um tom que beirava o divertimento.

Abri os olhos o mais lentamente que pude, tentando adiar o momento de encará-la.

- Vá embora, Bellatrix. – Pedi, sem vê-la direito por causa da água que caia sob os meus olhos. – Apenas por hoje, vá embora.

Riu estridentemente. As minhas palavras ainda ecoavam pelo banheiro. Ela sabia que não seria apenas por um dia, pois eu já a evitava por uma semana inteira. Encarei-a e logo o seu riso foi diminuindo; no início achei que ela fosse começar um discurso sobre a minha tolice por me chatear pelo seu noivado, mas logo percebi que ela tinha outras intenções. Percebi o que ela havia dito sobre a perda da minha pureza.

- Eu sempre soube que a sua mente doentia considerava isto um jogo. – Falou, enquanto começava a andar de um lado para o outro. – Perdeu a graça quando passou a ser apenas nós duas, não é? Perdeu a graça quando você tinha apenas que me vencer.

A água, que antes estava tão quente, pareceu congelar conforme ela falava.

- É tão pateticamente óbvia essa sua obsessão. – Parou de frente para mim, mas mesmo assim mantendo uma pequena distância que a impedia de se molhar. – Acorde, Andie!

Estendeu os braços, me puxando pelos ombros e me aproximando de seu corpo. Balançou-me tão freneticamente que achei que fosse cair no momento em que ela parasse. Mas quando parou as suas mãos continuaram em mim, me segurando com firmeza.

- Isto é um jogo. Mas, ao contrário do que você sempre achou, o mundo não divide-se em doces e amargos, Andromeda.

Abri a boca algumas vezes, tentando a qualquer custo lhe dar uma resposta razoável. Mas o meu choque era tão grande que eu não conseguia pensar em nada realmente bom para ser dito; duvido que se tivesse pensado, alguma coisa teria conseguido ser dita.

- Você não é o doce. – E com isso afastou-se de mim.

Olhou-me longamente, esperando que eu dissesse alguma coisa. Alguma coisa que jamais foi dita. Então restou apenas ela ir embora. Caminhou até a porta do banheiro e não olhou para trás nenhuma vez.

Depois daquilo eu achei que seria o fim. E, com este fim, eu tentava enxergar quem havia sido a ganhadora; se é que havia uma.

Mas, afinal, não foi o fim. O fim foi muito pior e veio logo depois.




Bellatrix ficou ainda mais agressiva, sádica e rude depois da conversa que tivemos no banheiro. Mesmo que negasse continuar a me querer, continuava a sentir um prazer inexplicável em me arranhar e em me morder. Foram poucas as vezes em que ela desistiu de negar e me aceitou novamente em seu quarto.

A proximidade do seu casamento a deixava cada vez mais atarefada, e ela adorava mostrar-se empenhada nos preparativos, apenas para me machucar.

Algumas cartas, mordidas e separações depois do pouco tempo que ocorreu entre o seu noivado e a minha partida, eu tive a certeza. A certeza de que naquela noite eu havia me tornado uma pessoa estranha, que nem eu mesma conseguia reconhecer.

- Grávida de um sangue-ruim. – Disse, com um papel amassado nas mãos.

Já fazia algum tempo que eu tinha a certeza de que ela lia todas as correspondências que eu trocava com Ted. Bellatrix passou a acompanhar de camarote o desfecho daquela história, exatamente da forma que eu tinha feito havia tão pouco tempo. Mas, ao contrário de mim, ela não parecia ter nenhuma vontade de intervir; não tinha vontade de se meter e me conquistar. As suas intenções eram outras.

- Você não deveria ler as minhas cartas. – Falei aborrecida, caminhando até ela e tirando a carta de suas mãos.

Reparei que naquele dia o seu esmalte preto descascava nas pontas.

- E você não deveria dormir com sangues-ruins. – Revidou infantilmente.

Grávida de Ted Tonks. Eu realmente nunca teria previsto isto. Passado o choque inicial até que não era tão mal. Ele me reconfortava nos momentos em que eu me sentia inebriada demais, nos momentos em que eu tinha overdoses dela.

Sugeriu que eu contasse para a minha família, mas ele não a conhecia tão bem como eu. Só Deus sabe o que seriam capazes de fazer comigo e com o bebê.

- Você sabe o que fazer.

Fiquei alguns segundos em silêncio, tentando perceber as suas verdadeiras intenções por trás daquelas palavras. Ela não poderia estar sugerindo que aquela seria a nossa última cena juntas.

Aproveitando-se do meu silêncio ela continuou a falar, confirmando os meus temores.

- Fuja, Andie. Fuja para bem longe e nunca mais volte. – Se aproximou de mim e tocou o meu rosto com a ponta dos seus dedos. – Não cause mais confusões para a nossa família. Fuja, Andie.

O seu tom de voz, o seu toque, o seu olhar; tudo fazia parte de um demônio que tentava me convencer a lhe dar a minha alma.

- Bella... – Murmurei em seu ouvido, ao mesmo tempo em que sentia uma ardência invadir os meus olhos.

Mais uma vez, perdida nos encantos dela. Tão perdida a ponto de comportar-me como qualquer um.

- Bellatrix. – Corrigiu ela.

As mãos afastando os meus cabelos, enquanto os lábios esbarravam pelo meu pescoço. Senti a sua respiração na minha orelha, me arrepiando.

- Bellatrix, por favor. – Aos poucos as lágrimas manchavam o meu rosto.

Mesmo que não pudesse ver o seu rosto, eu era capaz de ver nitidamente o sorriso que havia se formado em seus lábios. O sorriso da vitória.

- Fuja, Andie. Fuja! – Continuou a sussurrar no meu ouvido, a sua voz oscilando entre o infantil e o malicioso.

Procurei apoiar o meu rosto em seu ombro, mas logo que o fiz ela se afastou. Nunca estaria ali para me amparar.

- Você irá até o escritório da mansão e se comunicará com o seu namorado através da rede de flú. Conte a Tonks o quanto a sua família é cruel, lhe diga que o filho de vocês não pode crescer perto de nós. Nós duas sabemos que você é uma grande atriz.

Os olhos de Bellatrix brilhavam enquanto ela me dava aquelas ordens, os lábios sem nenhum sorriso, tão grande era o seu êxtase.

- Planejem uma fuga – Parou por um momento, o olhar vagando pelo quarto. – Hoje à noite.

Sorriu ao concluir o plano e me olhou como se eu fosse uma criada que está ouvindo as ordens para a arrumação da casa.

- Ao amanhecer todos perceberão a sua ausência, você será tirada da árvore da família e todos sairão ganhando!

- Bellatrix, eu não posso... – Eu não conseguia admitir que aquilo estava acontecendo, ela estava sendo cruel comigo da mesma forma que era com os outros.

Ela ergueu a mão para me calar, o olhar tão negro como deveria ser.

- Fuja, Andie. – Repetiu. – Você pode, você deve.

Viu que eu ainda estava olhando-a incrédula. As lágrimas deixando os meus olhos vermelhos, as mãos tremendo levemente, a respiração pesada. Voltou a se aproximar de mim, abaixou-se um pouco para ficar no mesmo nível que eu.

- É a última cartada do jogo, Andromeda. – Sussurrou com os lábios roçando nos meus. – Jogue direito.

Continuou roçando os lábios nos meus por um tempo, e depois rumou para as minhas bochechas, para o meu pescoço. Senti os dentes dela contra a minha pele e fechei os olhos para impedir que novas lágrimas, agora de dor física, caíssem.

Depois de me morder ela beijou o local várias vezes, como se aquilo fizesse a dor passar. Mas ardia; e talvez ela soubesse disso e essa fosse a sua vontade. Admirou rapidamente a minha pele vermelha e voltou-se para os meus lábios.

- Fuja.

Foi a última coisa que ela falou. Após isto apenas se afastou, o sorriso vitorioso mais uma vez tomando conta de si. Fechou a porta e me deixou com uma missão, com um roteiro, com uma cartada final.

Eu não tinha nenhuma alternativa a não ser obedecê-la. Eu sempre soube, mas mesmo assim decidi entrar naquilo; sempre soube que ela era a vencedora de todos os jogos, que ela nunca entrava em um jogo para perder. Sempre soube que ela jogava sujo.

Voltei a ser a melhor atriz que aquela casa já havia conhecido e deixei com que o amargo tomasse conta de mim. O amargo sempre destruindo o doce, sempre vencendo.



(N/A):
Nem achei que essa fic fosse ganhar alguma coisa, maaas. Enfim. Isso foi um surto, essa fic não tem pé nem cabeça e é muito idiota. Agradecimentos à Anne, por ter feito esse challenge lindo, e à Mari, que betou a fic - apesar de ela nem entrar mais nisso daqui.
Comentem, beeijos
Lisi Black

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