PRÓLOGO



Hogwarts
Reino Unido, 1992


Hermione Jane Granger desceu voando as escadarias que levavam ao Salão Comunal da Grifinória até o Saguão de Entrada de Hogwarts no andar térreo. Afobada, abriu uma das folhas da porta principal com força, empurrando-a drasticamente. Trazia um livro da biblioteca embaixo do braço.

_ Não saia correndo deste jeito, Srta. Granger! – advertiu a professora Minerva que entrava no mesmo momento que Hermione tentava sair. _ Não fica bem uma aluna da Grifinória correndo feito louca, ainda mais com o seu conceito. – Minerva olhava Hermione inquisidoramente, mas falava de modo calmo com sua voz levemente rouca. E continuou._ Espero não me decepcionar com a senhorita. Posso saber aonde vai com tanta pressa?

_ Desculpe, professora Minerva. - replicou Hermione adotando um passo bem lento, parando em seguida. _ Estou indo procurar o Rony para... para apanhar umas ervas que vamos precisar na aula de Herbologia.- Hermione disse isso abaixando a cabeça e desviando o olhar, pois não gostava de mentir, principalmente para a professora McGonagall. Não podia dizer a ela que tinha informações a respeito da pedra filosofal e estava apressada para contar ao amigo, já que não veria Harry tão cedo, pois ele estava em detenção. Não podia contar a verdade para a professora. Os adultos não levavam em conta a opinião das crianças. E Hermione só tinha doze anos e ainda era uma bruxa trouxa.

_ O Sr. Weasley?- Minerva fez a pergunta com uma sobrancelha arqueada. _ Pois bem, Srta. Granger. Só não faça nenhuma besteira. - dizendo isto, Minerva entrou.

Assim que saiu da vista arguta da professora, Hermione disparou novamente. Tinha de encontrar Rony. Ele deveria estar perto da cabana de Hagrid ou no lago, onde gostava de brincar com pedras e treinar vôos absurdos em sua vassoura. Quase perto da cabana de Hagrid, junto a alguns arbustos, ela tropeçou e se viu despencando para frente. Caiu de joelhos sobre um pequeno fardo de feno desamarrado. Voou palha pra todo lado. Tirando feno do rosto, voltou-se e viu uma perna atravessada em seu caminho, que causara sua queda.
_ Aha, te peguei! – Rony pulou do esconderijo atrás da moita e olhou-a de cima. _ Aposto como não viu que eu estava ali!

_ Para adivinhar que você estava ali, Ronald Weasley, só se fosse pelo seu mau cheiro! – Hermione levantou-se extraindo talos dourados da trança. Fingiu farejar o ar. _ Estava correndo demais para captar o odor, mas sinto agora. – agitou as mãos na frente dele, tampou o nariz e recuou._ Credo, como você fede! – falou fanhosamente e pegou seu livro.

_ Mentira! Está com raiva, porque levou a pior. – respondeu Rony irritado, mas cheirando-se disfarçadamente.

_ Penas de um dos chapéus extravagantes da Madame Pince tomarão o rumo sul no dia em que levar a melhor sobre mim, Ronald!

_ Já levei! – o garoto cruzou os braços ao peito e a encarou erguendo o queixo. _ Sempre levo!

Mais alto do que Hermione, olhava-a com ar superior. Ela mal podia esperar para crescer mais dez centímetros e alcançá-lo. Então poderia fitá-lo diretamente nos olhos azuis, destemida, igual em tamanho, pois já se achava mais corajosa e capaz. O problema era que, à medida que crescia, Rony se espichava na mesma proporção, ou mais. Isso não lhe parecia justo, nem um pouco, pois Rony era quase seis meses mais novo que ela.

_ Leva nada!

_ Levo.

_ Não leva. – ela já falava com os dentes cerrados de raiva.

_ Levo. Vamos ver quem chega primeiro ao lago. – ele desafiou.

Hermione levou a mão ao abdome. Ultimamente dera pra sentir um nó nas tripas sempre que estava sozinha com Rony. Fitar o rosto sardento, reparar em seus cabelos vermelhos causava-lhe o maior alvoroço nas entranhas. Como agora. Não entendia o que se passava, mas não podia recusar uma disputa com ele, com ou sem nó nas tripas.

_ Já estou cansada de bater você sempre. – declarou, desdenhosa.

_ Eu deixo você ganhar.

_ Mentira.

Ele se aproximou e arrebitou o nariz em cima dela.

_ Deixo sim.

Hermione sentiu um alvoroço por dentro outra vez. Rony não cheirava mal, de fato. Na verdade, quando ele chegava pertinho assim, gostava do cheiro dele, mistura de alfazema e terra.

_ Rony, não estou com vontade de correr hoje. Vim aqui lhe mostrar algo. - e esticou o livro para ele, marotamente.

_ Está com medo de perder desta vez? – ele pegou o livro, mas ignorou-o.

_ De jeito nenhum! – ela respondeu com ar superior.

_ Então... Ei!

Hermione largara na dianteira, voando pelos fundos da cabana de Hagrid. Ao descer o morro verde e contornar as árvores frondosas, já sentia os pulmões em chamas, os cabelos castanhos e armados se soltando da trança. Ria alto, correndo em disparada. Sentia-se viva e incrivelmente livre.

_ Vamos sua lesma! – provocou-o, cônscia de que Rony se aproximava rapidamente. Já podia ouvir seu resfolegar.

Já se avistava a lagoa cerca de cem metros: a gigantesca pedra cinza, o marco de chegada, erguia-se bem em frente. Hermione tinha de chegar primeiro. Tinha de vencer. Não podia deixar Rony batê-la. Olhou por sobre o ombro e o viu a um passo de distância. Com o peito e as pernas ardendo, fez um último esforço.

_ Ganhei! – gritou, em júbilo, ao dar o chute na pedra. Rony chegou um segundo depois. _ Levei a melhor! – gabou-se, curvando-se para recuperar o fôlego.

Rony apoiou as mãos nos joelhos e deixou pender a cabeça, tragando o ar com força.

_ Levou, mas vou à forra – prometeu ele. _ Logo, nunca mais vai ganhar de mim.

Hermione escorregou para o chão, pernas esticadas, inclinou-se pra trás apoiada nas mãos e contemplou o lago. A água era profunda, azul e convidativa. Desta vez, acreditou nas palavras de Rony. A cada disputa ganhava a corrida por uma margem menor. Ele quase a batera desta vez, e logo a faria comer pó.

Ficou triste, mas não o deixaria saber de seu medo. Viu-o sentar a seu lado, largar o livro e pegar uma folha morta, manuseando-a. Ambos concentraram-se na folha marrom.

_ Não tem nada de mais perder de vez em quando, Mione.

_ Você já deve estar acostumado. – irritou-o.

_Ganho de todos os meninos da escola. – ele retrucou.

Ela sorriu.

_ Mas não de mim.

_ Isso não tem importância. - assegurou Rony, empunhando sua varinha e fazendo gestos no ar. _ Logo, logo eu te vencerei e serei mais rápido e mais forte também. E mais corajoso. Serei um auror brilhante.

_ Eu é que vou ser auror, Rony. Não você.

O garoto expressou desdém.

_ Mione, mulher não pode ser auror.

_ Pode sim. Mamãe diz que mulher pode ser o que quiser. Nenhum homem tem direito de dizer o que uma mulher pode ou não fazer na vida.

_Não tenho nada contra sua mãe, Mione, mas lugar de mulher é em casa. – com um brilho lascivo nos olhos e erguendo as sobrancelhas, completou: _ Tendo bebês. As mulheres trouxas têm idéias muito avançadas.

Hermione ficou nervosa. Lembrar que vinha de família trouxa a fazia lembrar de que não era uma bruxa sangue-puro. E isso a deixava numa posição desconfortável.

_ É isso que você quer, Rony?

_Acho que sim. Depois que me tornar auror, quero dizer. Quero um monte de filhos. E a minha mulher terá que ficar em casa para cuidar deles e de mim, lógico. Você não quer ter filhos, Mione?

_ Não sei, Rony. Nunca pensei nisso. Gosto mais de estudar, ler. E serei auror.- respondeu convicta. _ Como poderei fazer isso com um monte de filhos na barra da saia?

_ Por que você não tem amigas, Mione? – ele arriscou a perguntar, já que o clima entre eles estava ameno.

_ Não preciso de amigas, Rony. Tenho você... E o Harry, e um dia, serei auror do Ministério. _ Hermione o esmurrou no braço e sorriu, determinada a mudar de assunto. Não se importava com o fato de não ter amigas, não de verdade, mas gostaria que Rony não falasse mais disso. _ Deixo você ser meu assistente.

_ Está dizendo tudo ao contrário, Mione. Eu vou ser o auror e talvez, se você for muito boa em Arte das Trevas e tudo o mais, talvez eu a deixe ser minha assistente.

Hermione formou um amplo círculo com os braços e bateu as mãos no chão coberto de folhas.

_ Ai! – gritou, com lágrimas nos olhos à dor súbita.

Rony aproximou-se de joelhos.

_ O que foi?

Hermione ergueu a mão esquerda. Tinha um enorme espinho encravado na palma.

_ Que inferno, Mione! – Rony examinou o espinho. _ Calma. Não vai doer nada. – antes que ela pudesse pensar, arrancou o espinho.

_ Aaaaiiii, Rony! Doeu, viu? – ela reclamou, os olhos banhados em lágrimas.

Fitou a mão no ponto machucado. Sangue se derramava do corte, tingindo a pele de vermelho e empapando a manga da blusa que usava.

_ Desculpe, Mione,mas não tinha outro jeito. _ Ele puxou a camisa para fora da calça, rasgou uma tira e improvisou uma atadura. _ Aperte com força, para estancar o sangue.

Hermione reprimia as lágrimas. Nunca chorava. Somente uma vez em Hogwarts, e foi porque Rony a magoara chamando-a de “pesadelo”, mas agora estava sentindo muita dor.

_ Está bem...

_ Deixe que eu faço isso. – Rony lhe tomou a mão e, concentrado, passou a pressionar o ferimento.

Hermione sentiu aquele nó nas tripas outra vez, e sabia que não era por causa do ferimento, mas devido à proximidade do ruivo.

_ Acho que vai ficar cicatriz – opinou ele. _ É bem profundo.

_ Não faz mal _ murmurou ela, lutando contra a ternura que a dominava por dentro. Não podia evitar reparar nos cílios claríssimos de Rony, nos olhos tão azuis, no carinho com que ele cuidava dela.

Era seu único verdadeiro amigo, além de Harry, claro. Ele não se importava com o fato de seus pais serem trouxas e de ela ser uma bruxa sangue-ruim. Nem quando os colegas o provocavam por andar com ela. Ronald Weasley era seu amigo de verdade.

_ A dor diminuiu?

_ Diminuiu.- afirmou Hermione, tentando não mergulhar nos olhos dele. _ Espero que sejamos sempre amigos, Rony.

Rony a fitou e assentiu.

_ Seremos sim.

_ Como pode saber?

_ Ah, Mione. Sei lá. Só sei e pronto.

_ Promete? – a voz dela continha medo. Medo de perder o melhor amigo que fizera em seus doze anos de existência. Os olhos ainda brilhavam em lágrimas.

_ Se isso te deixa melhor, ok. Prometo – Com um novo brilho nos olhos, Rony a encarou e perguntou. _ Quer ver?

Nesse momento, Hermione sentiu que ele tramava algo perigoso. Acreditando que Rony iria se ferir também e fazer algo nobre como selar a amizade deles com sangue, ela gritou: _ Rony, não!

E, então, Rony cuspiu na palma da mão direita e estendeu a mão para ela. Hermione não acreditou no que via e o olhou com cara de nojo.

_ Que foi? – ele perguntou fazendo uma careta. _ É assim que cavalheiros selam seus acordos. Vamos, Mione, coragem. Cuspa na sua mão também. Depois selamos nossa amizade com um aperto de mãos e ela durará para sempre.

Hermione hesitou por um instante, mas fez o que ele pediu. Ele pegou a mão que ela lhe estendia e apertou. Ao espalmar a mão, ela notou que a mão dele era maior e mais áspera.

_ Amigos para sempre – declarou Rony, solene, enquanto seus cuspes se misturavam. Em seguida, puxou a mão e a limpou na lateral da calça que usava. Hermione fez o mesmo. Mas já não sorriam. Ambos estavam envergonhados e ruborizados.

Hermione sentiu o coração retumbando nos ouvidos. Experimentava aquela sensação esquisita outra vez, misto de enjôo e tremor agradável pelo corpo. Ousou fitá-lo nos olhos. Rony engoliu em seco, o pomo-de-adão se agitando na garganta, e Hermione pensou que o tinha visto tremer.

Rony, então, levantou-se e falou:

_ Vamos, você precisa ir até a enfermaria. Madame Pomfrey irá dar um jeito na sua mão rapidinho, e já está quase na hora do jantar. Minha barriga está roncando. Parece que tem um monstro aqui dentro.

Rony saiu, caminhando à frente, e Hermione seguiu-o. Então, ela se lembrou do que fora lhe mostrar. Correu para alcançá-lo.

_ Espere, Rony. Ainda não lhe mostrei o que achei neste livro. É sobre a pedra filosofal...


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Esta fic é uma comédia romântica envolvendo o casal Rony/Hermione. Nela vocês pouco ouvirão falar de Harry e Gina. É minha segunda fic, mais curta, mais doce, menos certinha e sem aventuras... Espero que gostem e que eu consiga arrancar algum riso de vocês leitores. A primeira é “A Irresistível Força do Amor”, ainda inacabada que, por problemas pessoais deixei de escrever, mas estou tentando retomar a inspiração para terminá-la. Mas tenham a certeza de que todas terão um final.
Não gosto de chamar o Rony de Ron e o cuspe veio de um filme que assisti, mas não me lembro o nome. rs
Abraços aos meus fiéis leitores, aos novos leitores, e a minha amiga e revisora Beth.
Peço desculpas também pela ansiedade causada.
Aeshma
Em 30/03/2008
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