Único



Pode até ser que seja eterno


 


O relógio tocava. Meia-noite. Remus Lupin já havia perdido o sono há muito tempo, e se não tinha recuperado-o até ali, não era agora que recuperaria. Levantou da cama e caminhou em direção à porta do quarto. Era realmente estranho ficar sozinho numa casa que não é sua. Ele ia descendo a escada numa escuridão absurda, totalmente aéreo em seus pensamentos, até que uma luz foi disparada em sua face deixando-o cego momentaneamente.


- Mas que..?


- Ah, é você, Lupin. Me assustou.


- Desculpe. – “Tonks! Como pude não notá-la?” Tinha esquecido completamente que ela estava ali n’A Toca sozinha com ele. Sozinha sim, porque os Weasleys mudaram-se para a casa de Muriel, pois A Toca já havia sido invadida e vigiada. Mas já havia um tempo que não se via mais nenhum comensal rondando a casa dos ruivos. Mesmo assim foi decidido que seria mais seguro eles permanecerem na casa da tia de Rony, e, assim feito, Lupin passou a ficar na casa para relatar qualquer movimento estranho por ali.


A casa de Tonks havia sido invadida mais cedo neste mesmo dia e ela não podia ir à casa de seus pais, pois o pai, trouxa, estava sendo caçado pelo Ministério, agora comandado pelo Lorde das Trevas.


Ele acendeu as poucas velas que tinham na sala e mal iluminavam, mas ainda assim conseguiu perceber que ela, sentada na poltrona mais próxima, estava soluçando, os olhos marejados e os cabelos castanhos e escorridos, sem a freqüente alegria que deles emanavam.


- Tonks? O que você tem?


Era verdade que ele queria manter uma relação apenas profissional com a colega nesse momento de guerra, ao invés de atender seu desejo real de abraçá-la, mas não podia deixá-la ali naquele estado: chorando abandonada. E foi só ele sentar ao lado dela e tocar-lhe o ombro que ela desabafou.


- Sabe, tá difícil agüentar tudo isso e ter que se fingir de inabalável na frente de todos.. e ainda tentar levar um pouco de alegria e descontração num momento de tanta tensão.. mas tá ficando cada vez mais difícil...


- Tonks, você sabe que não podemos ficar junt...


- Lupin, dessa vez, eu não to falando de nós dois.


- Ah, claro.. eu..


- Deixa pra lá, eu vou subir e tentar não te perturbar mais, viu? – ela até tentou forçar um sorriso, mas a tentativa foi fracassada.


- Não... – ele a segurou pelo braço enquanto ela levantava – você nunca me perturba. Eu quero poder te ajudar... Senta aí.


Ela parou de andar e não se desvencilhou da mão dele também. Mas não sentou novamente.


- É sério, Lupin. Eu só precisava ficar um pouco sozinha. Já tá passando. Ainda tô sentindo muito pela perda de Mo... Moody... –A voz dela falhou nessa parte, e o rapaz percebeu que era hora de mudar de assunto.


- Bom, pelo menos você entende porque não podemos ficar juntos...


Ela se soltou energicamente do braço dele e bufou, e ele percebeu que mudara para um assunto igualmente incômodo. Ou talvez pior.


- NÃO, LUPIN! EU REALMENTE NÃO ENTENDO! – disparou ela, que parecia só estar precisando extravasar um pouco a mágoa contida, pois logo parou de gritar e arfou umas duas vezes, como se tivesse corrido muito. – Eu sei que estamos no meio de uma guerra – ela continuou mais calma – mas, por quê? Porque temos que ficar distantes? Separados... por quê? A guerra não pode parar nossas vidas... – a última frase foi em apenas um fio de voz, e Lupin teve que se esforçar para ouvi-la.


Ele não queria ter começado outra discussão como essa. Não era a primeira, nem a segunda e nem a décima vez que falavam disso. Ele também estava sofrendo longe dela, a dona dos cabelos rosa que ele sempre observava ao longe, aquela que tinha o dom de espalhar alegria onde quer que fosse, aquela que fazia seu coração saltitar apenas quando sentia seu perfume... Mas ele devia se manter firme, não podia expor ainda mais perigos a ela. É, a estadia de Tonks n’A Toca com ele seria uma tortura, que ele torcia para que não durasse muito.


- Tonks... – ele começou com um ar cansado - A gente já falou sobre isso.. Eu sou muito velho para você, muito perigoso... Você merece alguém mais jovem, com quem você possa formar uma família...


- Pra quê alguém mais jovem se eu quero você? Só você.. Outro não serve..


- Mas não podemos, sou um lobisomem e...


- NÃO ME IMPORTO! Não me importo se você é velho, se você é perigoso, se é um lobisomem, se é pobre ou qualquer outra desculpa que você pode inventar ou... – ela bufou de novo e recomeçou mais devagar – Eu só me pergunto se, depois de tudo isso que você diz para ficarmos longe um do outro, você gosta mesmo de mim como você diz. Porque, acredite, não parece.


- Por Merlin! Eu te mantenho longe de mim para que você possa ser feliz! Eu quero te ver feliz! E quero isso porque gosto de você, e estou disposto a sentir sua falta para que você possa encontrar alguém melhor, que te faça conhecer a felicidade...


- Eu já conheci a felicidade. E foi quando estava junto de você. Foi quando estávamos juntos sem que você falasse dessas bobagens que diz hoje. Foi em tardes de primavera debaixo do carvalho que fica ao lado do lago, em Hogwarts, que eu conheci a felicidade. Mas ela foi embora, e a única coisa que eu quero é ela de volta.


- Tonks, por favor... – ele começava a dizer antes de ser novamente interrompido pela moça.


- ‘Por favor’ digo eu, Senhor Lupin! AINDA NÃO PERCEBEU QUE SÓ SEREI FELIZ AO SEU LADO?! Eu só serei feliz com você porque eu te amo! EU TE AMO! Tá difícil entender? – ela baixou o rosto para que ele não pudesse ver uma teimosa e grossa lágrima rolar por sua face, mas a tentativa foi em vão.


Ela nunca tinha dito isso, e pegou Lupin de surpresa. Foi um golpe baixo, mas ele sabia que era sincero. E o pior, ele estava na mesma situação. Então ele não pôde mais resistir, foi algo mais forte do que sua razão. Foi a emoção, e era realmente raro que Remus John Lupin fosse guiado pela emoção. Mas não impossível.


O licântropo segurou o rosto da metamorfomaga entre suas mãos de uma maneira delicada, mas fazendo com que ela olhasse para ele e pôde perceber o enorme esforço que ela fazia para que mais lágrimas não caíssem. Então ele não conseguiu mais pensar em nada: não havia mais guerra, não havia Voldemort e nem Comensais.


Ele selou seus lábios junto aos dela e provocou uma reação de surpresa, mas que Tonks não deixou por menos, e logo envolveu o pescoço dele entre seus braços, aprofundando um beijo de enorme significado.


Lupin não respondia mais pelos seus atos e desceu as mãos segurando-a pela cintura e puxando-a para mais perto de seu próprio corpo. Se beijaram como se o mundo não existisse, nem o tempo e nem a gravidade, pois sentiram como se estivessem levitando.


O beijo já não era apenas um encontro de lábios, mas sim algo além. Não era ‘caliente’ e nem vulgar, mas apaixonado e desejado pelos dois. Tonks passou os dedos entre os cabelos dele, que retribuiu o carinho fazendo um caminho de beijos que saía da boca da moça para chegar até o pescoço de pele lisa e macia.


Foi então que batidas na porta foram ouvidas e eles pularam para trás ficando à quase dois metros de distância um do outro.


- Quem é?


- Sou eu, Lupin! Gui!


- Identifique-se!


- Guilherme Arthur Weasley, casado com Fleur Isabelle Delacour Weasley, mordido por Fenrir Greyback em Hogwarts e fiel do segredo do Chalé das Conchas... Dá pra me deixar entrar? Tá chovendo!


 Lupin abre a porta com um aceno da varinha e encontra um ruivo já tirando uma capa encharcada e pendurando no cabide.


- Arree! Estavam fazendo o quê que demoraram tanto para abrir? Já era a terceira vez que eu batia! Tá bom que a chuva não tá silenciosa, mas eu esmurrei a porta!


Se Lupin tivesse olhado para a moça ao seu lado teria visto que ela corara. Gui estava mais longe, e com a luz fraca não notou.


- E a que se deve a honra de sua visita a essa hora da noite? – ironizou Lupin.


- Ainda bem que você ainda não foi embora. – falou Gui se dirigindo à Tonks e deixando Lupin intrigado – você não poderá voltar para a sua casa... por um tempo indeterminado.


- Mas por quê?


- O disfarce da casa não funcionou. Nem todos os Comensais são tão idiotas quanto o Goyle e o Crabbe. Principalmente aquela Lestrange. Não sei se é porque tem seu sangue, mas logo percebeu que a casa era mesmo sua.


- Ah, nem diga que aquela... aquela criatura é irmã de minha mãe.


- Graças a Merlin que vocês não são nem um pouco parecidas.


- Mas porque não posso voltar?


- Como eu dizia, a Lestrange logo percebeu que eles tinham seguido a pista certa e que a casa era sua sim. Montaram guarda. Estão vigiando sua casa o tempo todo. E aumentaram a busca por seu pai. Acham que assim você se entregará, ou algo parecido.


Desta vez, Gui estava mais perto e notou que a expressão de Tonks se tornou preocupada. “O meu pai! Como pude me esquecer dele enquanto estava com Lupin?!” Não era muito agradável perceber isso, e Gui também notou que, mesmo preocupada, ela corou violentamente.


- Eu só vim avisar isso mesmo. Você não pode voltar para sua casa e nem ir para a casa de seus pais. Acho melhor eu voltar, Fleur deve estar preocupada.


- Vou me deitar também. Obrigada Gui, e boa noite. Mande lembranças à Fleur.


Dito isso Gui aparatou e a dona dos cabelos rosa já ia subindo a escada quando seguraram sua mão.


- Boa noite, Nymphadora.


Era verdade que ela não gostava do nome de ‘Nymphadora’. Mas ser chamada pelo primeiro nome por Lupin, depois do que aconteceu esta a noite, era significativo. Ela parou de subir e virou-se para ele. Olhou fundo naqueles olhos dourados da cor do mel e decidiu que não seria tão ruim respondê-lo.


- Boa noite... Remus.


E depois disso soltou um daqueles sorrisos que, de acordo com Lupin, ‘só ela consegue’. Os cabelos se tornaram novamente de uma cor rosa forte, acompanhados pelo lilás dos olhos. E subiu, deixando um Lupin felicíssimo ao pé da escada acompanhando-a com o olhar até não poder mais vê-la e perder-se em seus pensamentos.


Talvez, ter a companhia dela aqui n’A Toca não seja uma tortura. E nem quero que dure pouco... Pode até ser que seja eterno.” E sorriu, para então apagar as luzes e subir para dormir, o que conseguiu fazer sem dificuldade.

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