Isso ninguém vai me tirar!



18. Isso ninguém vai me tirar!


Ali, à sua frente, estava o garoto da sua vida. O garoto lindo como um deus, o garoto que ela havia ajudado a conquistar para a sua melhor amiga. O garoto por quem ela sofrerá mais do que imaginava poder agüentar. O garoto por quem derramara mais lágrimas do que pensava ser capaz de produzir.
Todo o sofrimento acabara finalmente. Agora ele estava ali, amando-a como ela o havia amado em segredo, durante tanto tempo.
Havia, porém, alguma coisa que parecia não se encaixar perfeitamente. Se Hermione fechasse os olhos e deixasse vir à mente as recordações daquele beijo no jardim, quando se sentiu mulher pela primeira vez, e daquele beijo no sofá, quando sentiu quase morrer de amor, a paixão explodia dentro dela, como ela mesma havia escrito: um, dois, três, sangue! E, dentro do peito, seu coraçãozinho disparava como a corrida de um coelho em busca da cenoura.
De olhos abertos, o sonho não parecia o mesmo. Draco estava ali, lindo — ah, como ele era lindo! — amando-a, querendo-a... O que mais ela poderia desejar?
Draco ajoelhou-se no chão, ao lado da cama, e tomou a mão de Hermione.
— Meu amor, minha prima querida! Você sobreviveu para mim!
— Draco!
Por que ela se sentia assim? Por que não conseguia esquecer a expressão de derrota no rosto de Harry? Remorso, talvez. Ela jamais teria querido magoar aquele amigo. Mas o que fazer?
— Ah, Hermione, eu sempre te amei e não sabia disso... Eu te amo e quase te perdi. Mas agora tudo vai ser diferente, não é, meu amor? Agora, só teremos felicidade pela frente...
— Felicidade sim, Draco...
— Eu não sei dizer as coisas certas, minha querida. Eu nunca soube. Mas eu sinto como qualquer outra pessoa. E você... você consegue dizer tudo direitinho como eu sinto! Eu fui um tolo. Nas cartas que você escreveu para Gina estava eu, inteirinho lá. Nas cartas que você escreveu para mim, estava você, inteirinha, me amando... E eu não via!
— Draco, eu...
— Você vai ter de perdoar minha cegueira, minhas tolices... Eu nem sei como dizer agora quanto eu te amo. Acho que só digo o que sinto realmente quando você me dita as palavras... Quando eu digo o que você escreve, é como se eu dissesse realmente o que sinto!
Hermione olhou aquele rapaz bonito bem nos olhos. E sorriu.
— Você quer que eu lhe dite, neste momento, uma declaração de amor para mim mesma?
— Como, Hermione?
— Hum... deixe ver... poderia ser uma declaração arrebatada, como: meu amor por você, Hermione, é capaz de arrancar a lua de sua órbita! Ou submissa: eu me entrego a você, sou escravo do seu amor...
— Ora, Hermione...
— Pode também ser possessiva: com meus lábios, farei uma jaula de beijos para te aprisionar! Ou pode ser uma declaração ecológica: meu amor é um lago, venha banhar-se nele!
— Hermione, você está brincando comigo?
— Pode ser exagerada: beberei o mar, se você for o sal! Ou pretensiosa: minha paixão destrói a dor, constrói a esperança!
— Chega, Hermione!
— Chega sim, Draco. Chega de sofrer. Você pertence a Gina. Amaram-se quando se viram e depois se deixaram perder em minhas mãos. Vocês dois viraram meus personagens. Chegou a hora de vocês se libertarem de mim e eu me libertar de vocês. Por acaso você deve se apaixonar pelo compositor se a música dele o ajuda a conquistar a namorada? Ou pelo pôr-do-sol, quando as cores criam o clima certo para que ela diga sim?
— Hermione, você não compreende...
— É verdade, Draco, eu custei a compreender. Compreender que eu sou uma artista. Uma artista que criou os dois lados de uma paixão que só existia na minha cabeça. Mas o amor de você e Gina é real. Vocês se amam, apesar e não por causa das minhas palavras. Se não sabem se amar sem elas, amem-se calados!
— O que você está dizendo, Hermione?
— Ou façam como todo mundo e busque inspiração em qualquer poeta, em qualquer músico, em qualquer pôr-do-sol, em qualquer lua. De preferência, procurem um poeta que não tenha sido beijado por você em nenhum jardim e de quem você não tenha salvo a vida em nenhum sofá!
— Mas eu não...
— Deixe-me, Draco. Vá procurar Gina. Eu sei que há uma grande verdade no meu amor por você. Uma verdade que não fui eu que escrevi. Uma verdade que foi escrita sem palavras, com um beijo, em um jardim de sonhos. Sei que jamais esquecerei aquele beijo, mas tenho de tentar. Devo minha vida a você. Duas vezes. Devo minha paixão a você. Para sempre. Mas eu não agüento mais. Tenho de esquecer o beijo. Tenho de esquecer você. Ou passar a vida tentando.
Draco não entendia nada. Levantou-se num repente e segurou a menina pelos ombros.
— Esqueça tudo isso, Hermione. Esqueça as cartas, esqueça tudo! O que importa é que nós dois nos amamos... Vamos começar tudo de novo, meu amor...
Debruçou-se sobre ela, com os lábios ávidos por beijá-la. Hermione desviou o rosto e, com as mãos, tentou afastar o rapaz.
— Não, Draco, por favor... eu não quero mais sofrer.
As mãos de Hermione espalmaram-se no peito de Draco. A camisa afastou-se, revelando o peito nu.
— Draco! A correntinha! Onde está a correntinha?
— Que correntinha, meu amor? Eu não uso correntinha... - Hermione livrou-se do abraço e, a custo, levantou-se da cama.
— Você... você não usa correntinha!
— Por que deveria usar? De que está falando, Hermione? Eu não entendo...
— Pois agora eu entendo!
Com o corpo mal coberto pela minúscula camisola do hospital, tonta pelos restos do veneno que ainda circulava em suas veias, Hermione estava com o rosto em fogo.
— Eu vi tudo errado! Eu criei a fábula falsa! O beijo no jardim, não era você!
— No jardim? Que jardim?
— O beijo no sofá, não era você! O frasco de sangue, arrebentando-se neste quarto e me salvando da morte, não era você! A correntinha, não era você!
— Hermione, você enlouqueceu?
Como louca, Hermione ria. Às gargalhadas, cambaleando.
— Como eu fui cega! Só enxerguei a fábula que eu mesma estava criando! Eu não preciso esquecer aquele beijo, Draco. Eu disse que ninguém haveria de me tirar aquele beijo, e isso ninguém vai me tirar. Ele é meu!
Cambaleou tonta até a janela. Uma chuva miúda enregelava o jardim do hospital. E ela enxergou quem queria enxergar.
— Me espere, meu amor...
Arrastou-se como bêbada para a porta do quarto.
— Não, Hermione! Você está muito fraca. Não pode sair da cama!
— Volte para Gina, Draco. Ela o ama. Você a ama. Agora eu tenho de consertar todos os enganos que eu mesma criei. Tenho de encontrar a pessoa que me amou como eu sou, sem fábulas, sem versos, sem cartas, com todos os meus problemas e as minhas loucuras. Adeus, primo querido. Volte para Gina!
Enfraquecida, seminua, abriu a porta e correu pelos corredores do hospital. Suas pernas mal obedeciam e o frio do pavimento penetrava-lhe as solas dos pés.
— Meu amor, espere por mim!
Livrou-se de um atendente que tentou detê-la e chegou vermelha, ardendo em febre, à porta do hospital.
No meio do jardim, um rapaz levantou o olhar para ela.
— Hermione!
— Harry!
Tropeçando, escorregando, Hermione correu pelas alamedas molhadas do jardim em direção aos braços que a aguardavam.
A chuva colava sua camisolinha ao corpo quando Harry a abraçou.
— Harry, meu querido! Eu preciso dizer...
— Quietinha, meu amor! Você já falou demais...
E os lábios de Harry procuraram a boquinha trêmula de Hermione, calando, com um beijo apaixonado, tudo aquilo que não mais precisava ser dito...
A chuva apertou, encharcando os dois, como se quisesse dissolvê-los em um só corpo, num abraço eterno...


***


N/A Final: Acabou!!! espero que vocês teham gostado dessa adaptação!!
Agradeço a todos os comentarios e me perdoem a demora da ATT

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