O Roubo



 


A noite já ia longe, a rua estava completamente deserta e não havia luzes acesas nas casas. Um estalo quebrou o silêncio da praça, e dois homens se materializaram na porta do número doze no Largo Grimmauld.


Harry destrancou a porta de sua casa com a varinha, abriu-a com muito cuidado, evitando ao máximo fazer barulho, e entrou.


- Vem Rony, shh. Devem estar dormindo. – sussurrou.


Ele e Rony subiram as escadas íngremes e antigas, da maneira mais silenciosa que conseguiram, sem acender as luzes, dirigindo-se cada um ao seu próprio quarto. Os dois haviam passado o resto da tarde e a noite comprando itens de decoração e mobília no Beco Diagonal e em seguida, montando tudo no quarto do bebê que o casal Weasley esperava. Rony insistia na idéia de que ele e Hermione deveriam continuar dormindo na casa de Harry e Gina para não estragar a surpresa que lhe faria com a decoração do quarto. Mas, na verdade, Harry desconfiava que aquilo fosse só um pretexto para que eles pudessem voltar a passar alguns dias juntos.


- Boa noite cara. – disse Rony, reprimindo um bocejo, assim que alcançou a porta do quarto de hóspedes – Valeu pela ajuda.


- Sem problemas. – disse Harry se dirigindo para o próprio quarto, esfregando os olhos para melhorar a vista, que apesar dos óculos estava embaçada. Os olhos ardiam de sono.


Não era surpresa para ele encontrar Gina acordada, mesmo àquela hora da noite. Lá estava ela sentada na cama com a luz do abajur acesa, um livro em mãos, sem sinal de sono.


- Terminaram?


- Sim, tudo pronto – respondeu Harry tirando a jaqueta e o tênis e se preparando para deitar.


- Vai me contar qual foi a idéia brilhante que o Rony teve?


- Não posso. Me desculpe. Prometi ao Rony que não contaria nem pra você.


Ele levantou as cobertas e se deitou embaixo delas, aconchegando-se perto da esposa, que guardou o livro na gaveta ao lado da cama e o abraçou pela cintura.


- James e Teddy estão dormindo? – perguntou Harry.


- Há bastante tempo. Também... Brincaram o dia inteiro. Praticamente desmaiaram quando chegaram aqui.


- E porque você não está dormindo?


Gina hesitou por um momento, então respondeu:


- Eu queria conversar com você.


- Sobre o que? – perguntou Harry intrigado, olhando para esposa com olhos curiosos.


- Sobre meu sonho de ontem – disse ela séria – E essas coisas que nós dois sentimos.


Uma ruga de preocupação surgiu entre as sobrancelhas de Harry.


- O que foi?


Gina suspirou profundamente e contou, da maneira mais completa e cuidadosa que pôde, tudo que Hermione havia lhe dito naquela tarde sobre as Almas Gêmeas. Quando ela terminou, Harry permaneceu calado durante muito tempo, olhando para lugar nenhum , pensando. Ela esperou paciente pela reação dele. Então, finalmente, ele perguntou em voz baixa:


- Você acredita nisso?


Dessa vez foi ela quem pensou, antes de responder:


- Se outra pessoa tivesse me contado, provavelmente eu não acreditaria. Mas foi Hermione. Todas as evidências apontam pra essa conclusão, você não acha?


- Eu... Não sei. Uma ligação como a de Voldemort...


- Não, Harry. Nossa conexão é boa... – disse ela com doçura – Foi feita através do amor, não através da morte.


O silêncio se instalou entre eles mais uma vez, e mais uma vez Gina esperou ansiosa, dando tempo para o marido processar aquelas informações. Harry ergueu os ombros, se recostou melhor na cama e clareou a garganta antes de tornar a dizer em uma voz ainda mais baixa.


- Eu tinha muitos sonhos também. Com Voldemort, eu quero dizer. E eu também sabia o que ele estava sentindo de vez em quando. Eu tentei de todas as formas não pensar nisso... Mas eu sempre soube que era muito parecido com o que acontece entre você e eu.


- Eu sei. – disse Gina, hesitante.


 - Você disse que isso foi... Que isso aconteceu... Quando nós fizemos amor pela primeira vez? – mesmo depois de tanto tempo de casados, Harry ainda parecia um pouco envergonhado ao dizer isso.


Os dois se encararam com calma, lembrando-se daquele primeiro momento de intimidade e entrega, e uma compreensão mútua se fez entre eles.  Os olhos de Gina brilharam e ela assentiu de leve com a cabeça. Ele disse:


- Então eu acredito.


Gina ergueu o rosto e o beijou com carinho. Eles se olharam novamente, em silêncio, incapazes de assustar um ao outro com as dúvidas e medos que tomavam conta de suas mentes, ambos sem saber o que aquilo poderia significar ou vir a provocar. Assim, juntos, procurando alívio e conforto um no outro, dormiram abraçados.


 


 ~~~~ §§ ~~~~


 


Rony abriu a porta com todo o cuidado que conseguiu reunir, caindo de sono. Para sua surpresa, no entanto, Hermione estava sentada na cama, abraçando os joelhos, e mordendo o lábio. Ela se assustou quando ele entrou, e tentou disfarçar a expressão de preocupação com um pequeno sorriso.


- Vocês demoraram.


- Pensei que você estivesse dormindo. Fiquei com medo de te acordar. O quarto do bebê já está pronto! – disse ele aprumando os ombros e estufando um pouco o peito – A gente pode voltar pra casa amanhã se você quiser.


- Quero sim. – respondeu ela, com o mesmo esforço para parecer entusiasmada. - Estou curiosa pra ver.


Eles se encararam satisfeitos por alguns segundos, mas logo, um silêncio incômodo, incomum entre os dois, instalou-se no quarto. Ambos queriam iniciar uma conversa, mas nenhum deles sabia como.


Mais empenhado em concertar o mal entendido que tinha causado, foi Rony quem tomou a iniciativa de falar. Enfiou as mãos nos bolsos da calça e disse, encarando o pé da cama:


- Eu quero conversar com você.


Hermione se espantou com a coincidência.


– Eu também.


Ele atravessou o quarto e sentou –se em uma poltrona confortável e nova, cor de vinho, que ficava ao lado da cama, mais perto de Hermione, enquanto decidia como dizer o que sabia que devia dizer.


- Deixa eu falar primeiro. – disse ele, e depois respirou fundo tomando coragem – Me desculpa,  Mione. Me desculpa de verdade. Eu continuo sendo um idiota. Eu tenho deixado você confusa por causa do bebê, não tenho?


Ele levantou os olhos para encará-la, e Hermione viu receio naqueles olhos azuis. Ela mal acreditava no que via e ouvia. Será que ele estava falando mesmo o que ela estava pensando que ele estava falando?


- Eu não devia ter ficado falando tanto em menino, menino, menino. Mas eu só conseguia pensar no bebê assim, não sei por que, foi a primeira coisa que me surgiu na cabeça e eu me empolguei e não consegui parar, e...


Um alívio imenso desatou o nó que estivera amarrado na garganta de Hermione há semanas. Mesmo que ela lutasse contra, seus olhos se encheram de água, e ela estendeu uma mão para empurrar os cabelos avermelhados do marido para longe do rosto dele. Aquele era realmente Rony, o ruivo que sempre a surpreendia, mesmo depois de tantos anos. Como ele conseguia ser tão insensível e desatento, e logo depois ser a mais ingênua e boa das pessoas nesse mundo, ela não sabia, mas sabia que era o que mais amava nele.


- Se for uma menina, Mione, eu vou ficar muito feliz, eu juro. Acredite em mim. Me desculpe, por favor, eu não quis confundir você. – disse ele, pegando a mão que ela havia estendido e apertando entre as dele. 


- Não precisa dizer mais nada. – disse ela, puxando-o para que ele se sentasse perto dela, na beirada da cama, abraçando-o apertado - Não tem o que desculpar, Rony. Eu é que fui boba, eu é que tenho que pedir desculpas por ter pensado tão pouco de você.


- Se for menina, Mione – disse ele com um sorriso sincero – Ela vai ser bonita e inteligente como você, e pode apostar que eu vou ser um pai muito ciumento. Nenhum folgado vai encostar um dedo sequer na minha filha!


Os dois riram. Ele a apertou ainda mais nos braços, e a lágrima que vinha ameaçando escapar dos olhos dela rolou solitária por uma de suas bochechas, caindo na blusa de Rony. Uma lágrima de alívio e de contentamento.


- O que você tinha pra me falar? – perguntou ele, sentindo-se mais leve também.


- Nada. Absolutamente nada. Já está tudo certo agora.


 


 ~~~~ §§ ~~~~


 


Na manhã seguinte, logo cedo, Hermione ajudava Monstro a colocar o café da manhã sobre a comprida mesa da cozinha, enquanto Gina dava uma mamadeira de suco de abóbora a James, sentada em uma cadeira. Ambas distraídas com suas tarefas. Hermione percebeu, pelo canto do olho, quando o fogo que crepitava baixo na lareira se esverdeou e ganhou força, e uma cabeça de pele negra, cabelos crespos e curtos, apareceu entre as chamas, tossindo um pouco com a fuligem


- Dino! – exclamou ela, surpresa.


- Oi Hermione. – respondeu o amigo, com uma expressão aflita – Que bom que você também está aí. Tenho um recado pro Harry. É Urgente.


- O que aconteceu?! – perguntou ela ansiosa, aproximando-se da lareira.


- Preciso falar com Harry. Preciso falar com ele agora. – disse ele num tom mais sério.


Sem se demorar nem mais um minuto, Hermione disparou para fora da cozinha, escadas acima. Para Dino interromper as férias, devia ser algo muito sério. Gina se aproximou da lareira com o filho nos braços e perguntou, com um pouco de desespero na voz:


- O que aconteceu Dino?!


- Uma emergência. – o tom dele era grave – O Harry precisa vir pra cá agora. O Rony está aí também? Eu ia à lareira dele logo que saísse daqui...


- Sim, ele está aqui.


- Chame ele também, Gina. Rápido.


Ela se apressou a fazer o que Dino pedia, mas não foi necessário. Assim que Gina se direcionou para a porta da cozinha, Harry e Rony, ainda descabelados e com as caras amassadas, entraram correndo, alarmados, e passaram por ela como foguetes, freando diante da lareira.


- O que aconteceu Dino?! – Harry demandou, enquanto tentava colocar os óculos no rosto e focalizar melhor o colega.


Dino pareceu hesitar para responder, com medo da reação de Harry. Durante os segundos de hesitação, o silêncio se instalou na cozinha. Todos o encaravam, prendendo a respiração para ouvir.


- Invadiram o Departamento de Mistérios, Harry. Invadiram-no essa noite. Ninguém sabe como. Ninguém sabe quem, nem quantos. Ninguém viu nada.


Os maxilares de Harry enrijeceram e os olhos verdes dele brilharam de choque e raiva. Ele respirou fundo e perguntou, da maneira mais controlada que conseguiu:


- Alguém foi ferido?


- Não. O vigia, Eric, diz que deve ter cochilado porque não se lembra de ter visto nem escutado nada suspeito.


- Ele pode ter sido enfeitiçado, Harry – disse Hermione em um sussurro amedrontado. Mas Harry não respondeu, e nem deu sinal algum de ter escutado a amiga.


- Eu vou trocar de roupa. Chego aí em um minuto – disse ele, virando-se e marchando com passos largos e determinados para fora da cozinha.


- Espera! – disse Rony antes que o amigo alcançasse a porta, e em seguida, virou-se para Dino, perguntando com a voz áspera – Se eles não machucaram ninguém, o que eles queriam?


A expressão de Dino endureceu ainda mais e ele respondeu com seriedade:


- Eles roubaram o Arco da Morte.


Rony, Hermione e Gina, com expressões de horror no rosto, viraram-se imediatamente para Harry, que havia congelado em frente à porta.


 


~~~~ §§ ~~~~


 


Trajando suas vestes roxas de trabalho, Harry pegou o Pó de Flú, derramou um pouco na lareira da cozinha e entrou nas chamas verde-esmeralda. Encarou com pesar o rosto aflito de Gina, que ainda segurava James nos braços – o menino brincava com os cabelos da mãe, alheio a toda a movimentação -, e o de Teddy, que acordara com a confusão toda e parecia amedrontado, ainda usando pijama e olhando para o padrinho com olhos arregalados. Respirou fundo e disse com determinação:


- Ministério da Magia!


Assim que começou a rodopiar pela chaminé, ele sentiu saudade da boa e velha aparatação, mas esse era o meio que tinha que utilizar para ir trabalhar, já que desde que a casa se tornara sede da Ordem da Fênix, há muitos anos, era necessário sair pela porta e pisar no primeiro degrau que levava até a rua para aparatar, e não era muito apropriado que seus vizinhos o vissem, em plena luz no dia, em vestes roxas, desmaterializando na porta de casa.


Bateu os pés em chão firme e parou de girar finalmente. Limpou as cinzas dos ombros, sacudiu o cabelo e saiu da lareira, para um Ministério anormalmente movimentado, com bruxos e bruxas andando apressados e conversando em sussurros horrorizados sobre o acontecimento da última noite. Fazia muito tempo que nenhum crime tão grande e misterioso acontecia no mundo mágico, e as pessoas já se preocupavam. Obviamente ninguém sabia nada sobre o Arco da Morte, mas todos deviam ter ouvido falar dos intrusos que invadiram o Ministério na noite passada. Vários olhavam para ele com curiosidade, o que mal percebeu em sua pressa.


Tudo que ele achara que havia acabado para sempre, voltava agora para atormentá-lo. A vida tranqüila que ele havia construído estava comprometida. E ele que pensava que conseguiria um mês de férias... Um suspiro longo lhe escapou dos lábios e ele apressou o passo com determinação. Rony e Hermione que tiveram de ir para casa para colocar suas próprias roupas de trabalho, apareceram logo atrás dele, quase correndo para alcançá-lo. Em um silêncio determinado, os três foram juntos para a fila que se formava em frente a um dos elevadores do Átrio. Na mente de cada um deles, uma velha conhecida sensação de ameaça e perigo iminente os incomodava e alarmava.


Assim que o elevador chegou ao Átrio, várias pessoas saíram. Harry avistou entre elas uma moça baixa, de olhos puxados, cabelos lisos e negros, presos em um rabo de cavalo. Então, gritou pelo nome da auror que treinava.


- Chang!


Ela avistou o chefe e se direcionou diretamente ao local onde ele estava, aflita.


- Robards está esperando você e Rony na sala dele, Harry. Ele quer dar a instruções a vocês.


- Quem está no local do crime? – perguntou Rony.


- Todos, menos Dawlish.


- Então volte para lá – disse Harry – E não deixe nada escapar.


Cho acenou com a cabeça e disparou em direção a um elevador que estava descendo, enquanto Harry, Rony e Hermione eram os últimos a entrar no elevador do qual ela acabara de sair. As pessoas olhavam para eles, curiosas e amedrontadas. Hermione apertou o botão de número dois, e as grades douradas do elevador se fecharam.


- Já acabaram com suas férias? – perguntou Angelina Johnson que havia entrado no elevador junto deles, e trabalhava no Departamento de Jogos e Esportes Mágicos.


- Emergência – respondeu Rony mal humorado.


- FiqUei sabendo – disse ela em voz mais baixa.


O elevador parou no nível sete, e ela saiu junto com alguns outros, desejando boa sorte aos três enquanto vários memorandos entraram voando e ficaram sobrevoando no teto. O elevador voltou a subir.


Harry, Rony e Hermione esperavam pela chegada do nível dois, Departamento de Execução das Leis da Magia, do qual Mafalda Hopkirk agora era chefe. Harry e Rony trabalhavam nesse departamento, na subdivisão do Quartel-General dos Aurores, que era comandado por Gawain Robards, desde que o falecido Scrimgeour deixara o cargo para se tornar Ministro, na época da guerra. Hermione era auxiliar de Mafalda no comando do Departamento.


A voz feminina e impessoal, tão conhecida daqueles que utilizavam os elevadores, finalmente anunciou o nível dois, e as grades se abriram novamente. Os três dispararam pela porta, Harry e Rony em direção à sala de Robards e Hermione à de Mafalda.


O chefe já os esperava, sentado atrás de sua escrivaninha na pequena sala de móveis antigos e gastos, com uma expressão de quem não estava para brincadeiras. Os cabelos grisalhos e as rugas nunca o haviam deixado com uma aparência tão velha antes. Além dele, para surpresa dos dois, encontrava-se na sala o Ministro da Magia, o velho conhecido, Quim Shacklebolt com a mesma expressão de simplicidade e eficiência. Dawlish também estava lá. Ele e Robards eram os únicos do velho regime que haviam permanecido, e assim como Rony e Harry, era também subordinado a Robards. Cada um deles liderava uma equipe com outros três aurores ainda em treinamento. A equipe de Harry era formada por Cho Chang, Dênis Creevey e uma auror russa que viera à Inglaterra em intercâmbio para estudar as técnicas dos bruxos ingleses, agora famosos no mundo inteiro por terem derrotado Voldemort. O nome dela era Anya Semyonova. A equipe de Rony também tinha uma intercambista, Gabriele Delacour, além de Simas Finnegan e Dino Thomas. A equipe de Dawlish era formada pelo trio de amigos Terêncio Boot, Antônio Goldstein e Miguel Corner.


- Quim – Harry cumprimentou o Ministro com um aceno de cabeça – Robards – mais um aceno.


Rony, que entrava logo atrás, acompanhou o amigo nos cumprimentos. Os dois ignoraram a presença de Dawlish, o que já era um costume. O auror experiente e estúpido se limitou a olhá-los com desdém.


- Sentem-se, por favor. – pediu Robards com urgência – Acho que vocês já sabem o que aconteceu, e agradeço por terem vindo.


- Vou repassar a vocês três todas as informações que o chefe do Departamento de Mistérios, Croaker, me passou mais cedo, o que, infelizmente, não é muita coisa. – disse Quim – E vocês já devem saber que Robards tomou a liberdade de enviar suas equipes para a investigação.


Os três acenaram com a cabeça em entendimento, então Quim continuou.


- Na noite passada, certamente depois das dez horas, quando todos os funcionários já haviam saído, alguém entrou aqui. Parece que essa pessoa dominou o nosso porteiro Eric, e lançou-lhe um feitiço de memória, conseguindo assim, passar por ele e chegar até o nível nove. Deveria ter um ótimo conhecimento sobre o local, porque além de entrar e encontrar a Câmara da Morte, foi capaz de, de alguma maneira, tirar o arco da morte dali e sair sem deixar nenhum vestígio. E, aparentemente, sem ter entrado em qualquer outro lugar, ou tocado em qualquer outra coisa. Ainda não sabemos também, se tudo isso foi obra de um único indivíduo ou se ele teve companhia.


Enquanto o Ministro falava, Harry congelava na cadeira, apertando seus braços com tanta força, que suas mãos já estavam brancas. A imagem de Sirius e do Véu da Morte pareciam estar pregadas em sua retina. Será que aquilo tinha alguma conexão com a visão que teve do padrinho parado em frente à sua casa? Ainda estava em choque, não conseguia raciocinar e nem acreditar no que estava acontecendo. Graças a Merlim, Robards não parecia precisar de ajuda para lidar com a situação, pois já havia começado a distribuir tarefas.


- Dawlish, você vai descer até lá e supervisionar os outros aurores na investigação e depois, fazer um relatório detalhado sobre a cena do crime e as possíveis pistas.


O auror se levantou e deixou a sala, aparentemente satisfeito por sair dali. Assim que saiu, Robards se dirigiu aos dois.


- Shackebolt tem uma tarefa especial para vocês.


O Ministro tomou a palavra mais uma vez, e sua expressão parecia mais séria do que nunca.


- Sim. Prestem atenção. Havia uma pessoa encarregada pela Câmara da Morte e pelas pesquisas desenvolvidas lá. Essa pessoa já foi detida para interrogatório. Ele está na sala de interrogações esperando por vocês – um brilho estranho passou pelos olhos negros do Ministro – É um dos suspeitos, mas também é a nossa maior fonte de informações sobre o local e sobre o Arco. Portanto, eu tenho que pedir que sejam impessoais.


- Quem é? – perguntou Rony, alarmado por essas últimas palavras.


- Draco Malfoy – respondeu Robards instantaneamente.


- O QUE?! – exclamou Harry incrédulo.


- Tinha que ser! – resmungou Rony.


- Eu espero profissionalismo de vocês – cortou Quim – São nossos melhores homens, e eu estou confiando a tarefa mais importante aos dois.


Harry engoliu em seco mais uma das surpresas daquele dia e assentiu. Rony fez uma careta de desagrado e disse:


– Sim, senhor.


Os dois se levantaram e saíram da sala sem dizer mais nada. Assim que chegaram ao corredor e não podiam mais ser ouvidos pelos chefes, Rony começou a sussurrar indignado.


- É óbvio que isso tem dedo do Malfoy! Tinha que ter! Desgraçado filho da mãe!


Mas a raiva que borbulhava em Harry era grande demais para qualquer xingamento. Os dois chegaram à porta da sala de interrogações rosnando como leões. Harry segurou a maçaneta e respirou fundo, tentando se controlar. Mesmo que Draco Malfoy fosse um verme maldoso, não podia arruinar uma investigação por conta de antigos ressentimentos, tinha que agir como profissional! Como Quim pedira que fosse. Tinha que descobrir tudo que podia. Tinha que acabar com aquilo. Precisava acordar desse pesadelo.


- Vamos com calma, Rony! Nós precisamos descobrir exatamente o que aconteceu. – disse ele, segurando o ombro do amigo para impedi-lo de se aproximar da porta – Concentre-se na investigação, ok?


Rony olhou para ele, incrédulo. Empurrou a mão que segurava seu ombro e abriu a porta impaciente. Os dois entraram e tiveram uma visão nauseante. Draco Malfoy, arrogante em suas vestes de Inominável, estava sentado em uma das cadeiras que rodeavam uma pequena mesa, com cara de quem tinha engolido algo muito amargo. Os cabelos loiros lambidos para trás no mesmo estilo almofadinha, os olhos cinzentos parecendo duas frias esferas de aço. Assim que viu quem havia entrado na sala, uma risada cínica escapou de seus lábios.


- Só me faltava essa.


- Isso mesmo, Malfoy. Agora você está realmente encrencado. – disse Rony de maneira ríspida – Dessa você não se safa.


- Eu não tenho que me safar de nada Weasley. – respondeu Draco, com a voz cheia de raiva – Eu não fiz nada errado.


- HAHA! E eu acredito no coelhinho da páscoa! – Rony soltou uma risada sarcástica e sem graça - COMECE A SE EXPLICAR! – exclamou batendo com as duas mãos na mesa.


Sem se assustar, nem se intimidar, Malfoy  virou-se lentamente na direção de Rony, encarou-o diretamente nos olhos e disse simplesmente:


- Não tenho nada para explicar.


Rony já havia enfiado uma das mãos no bolso das vestes a procura da varinha, quando Harry o deteve. Era melhor tomar as rédeas da situação antes que perdessem o controle. Que ironia do destino, Harry impedindo Rony de acabar com Draco. Prioridades. Era nisso que ele pensava. Estava muito mais interessado em desvendar aquele crime e descobrir aquele mistério de uma vez por todas, do que dar uma surra em um idiota insignificante como Malfoy.


- Comece nos contando onde esteve entre as dez horas da noite de ontem e as seis da manhã de hoje – ele ordenou.


Draco odiava, do fundo de seu coração sonserino, ter de obedecer a Harry, mas nesse caso não tinha nenhuma alternativa.


- Eu estava em casa, Potter. Minha esposa e meus pais podem confirmar isso.


- Muito conveniente! – zombou Rony – "Mamãe e papai podem me acobertar!"


- Onde mais eu poderia estar durante a noite se não em casa, dormindo, Weasley?!


- Sem provocações. – Harry tomou a atenção de Draco novamente – Vamos com calma, e por partes. – ele puxou uma das cadeiras e sentou-se,  encarando o sonserino através da mesa, com um olhar penetrante – A que horas você saiu do Ministério ontem?


- No horário de sempre. – a má vontade de Draco tornava tudo ainda mais irritante – Às seis horas.


- Alguém pode confirmar isso?


- Zabine, que trabalha comigo no departamento. Sempre saímos juntos. E provavelmente outras dezenas de pessoas que estavam no Átrio.


- Você foi direto pra casa?


- Claro que fui! Olha Potter, isso é ridículo! – disse ele indignado, inclinando-se para frente e vociferando para Harry – Minha esposa está grávida, eu trabalho aqui honestamente, e vocês não têm motivo algum pra desconfiar de mim!


- Exceto, é claro, que você e seus pais eram Comensais da Morte – ironizou Rony, que se encostara à parede atrás de Harry e cruzara os braços.


- E não devemos mais nada a justiça desde então! Vocês mesmos nos liberaram! – exclamou Malfoy apontando o dedo para Rony.


- Abaixe essa voz Malfoy! E abaixe esse dedo. Você não tem nenhuma autoridade aqui dentro e é melhor se comportar! – a raiva de Harry finalmente estourou – Um artefato mágico importante some da sala pela qual você é responsável, e nós devemos desconfiar de quem? – sua voz ia ficando cada vez mais ameaçadora. A vontade que ele tinha era de pular em Draco e sacudi-lo até que ele contasse a verdade.


- Não. Fui. Eu. – disse Malfoy entre dentes.


- Você nos deve no mínimo uma explicação. – disse Harry esforçando-se para se acalmar – Ajude-nos então, se não foi você! Diga alguma coisa que possa provar sua inocência ou apontar outro culpado, alguma coisa importante.


Malfoy calou-se. Talvez essa fosse realmente a única saída: ajudá-los a encontrar outro suspeito, direcionar as atenções para outras pessoas. Estava encurralado nessa situação, e essa era a maneira mais rápida que via para sair dela. 


- Certo então. – disse ele ainda encarando Harry – Eu ajudo vocês.


 


 ~~~~ §§ ~~~~


 


N/A: Olá!


Depois de muito tempo... É eu sei, infelizmente.


Gostaria de dizer que sinto muito mesmo, mas minha prioridade continua sendo o estudo pro vestibular, pois, pra quem ainda não sabe, não consegui passar...


Junto disso, a falta de ânimo e a falta de inspiração para escrever me fizeram parar por todo esse tempo, mas eu espero que isso não aconteça mais. Gostaria de contar com a ajuda de vocês, comentando, dando suas opiniões, fazendo suas críticas, pois essa é minha única recompensa e meu único estímulo, além do prazer de escrever.


Mais desculpas não vão adiantar, eu sei, mas para quem ainda está aí lendo, e continua querendo acompanhar essa estória, eu agradeço muito, e espero que tenham gostado do capítulo!


Muitos ingredientes novos nesse caldeirão de mistérios... Arco da Morte, Departamento de Mistérios, Dino, Cho, Gabrielle, Quim, Dawlish, Malfoy, etc... E ainda tem muito mais por vir! Podem apostar! Essa foi só a ponta do iceberg! Vocês iram se familiarizar com a estória e com os personagens.


Já tenho tudo montado no caderno e na cabeça, continuem comentando e me ajudando a escrever!


Beijos enormes!


Morrendo de vergonha, eu peço desculpas de verdade novamente!




Ana Fuchs


 


P.S.: Essa nova configuração da F&B deixou meu espaçamento louco, tá tudo separado demais. Não consegui mudar, se alguém souber e puder me ajudar eu fico grata.


 


 


 

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