Quando tudo começou'



Era uma bela tarde de frio gélido habitual na Toscana, durante o inverno
europeu.Os cabelos negros da menina, lisos, esvoaçavam como que por magia.Os
olhos ora negros, ora cinzentos refletiam o que era um belo pôr-do-sol
italiano.
-Love, love me do…You know I love you…I always be true. So, pleeeeeeease,
love me do.Oh, oh, oh, love me do.- cantava a jovem, de apenas treze anos,
enquanto colhia uma rosa vermelha, delicada, cujo perfume a deixou mais
leve.
Aquela fora a última lembrança feliz que teve do dia...
Quando chegou em casa, encontrou manchas no tapete.O habitual “Bem-vindo”
estava sujo de algo que lembrava desagradavelmente sangue.A escada
apresentava as mesmas manchas, o que chamou sua atenção.Os perfumes do
quarto de sua mãe haviam sido espalhados pela casa, o que gerava um
desagradável odor.Com seus treze anos, Lindsay, a garota mais estudiosa da
Escola de Artes Mágicas de Siena, teve sua primeira concepção do que era a
morte.
O corpo da mãe estava caído no corredor do segundo andar, junto com o do
pai.Ambos tinham os olhos vidrados, mirando o vazio, imóveis.O corpo gélido
e a vida que lhes fora tirada, fê-la cair levemente, e o baque inaudível de
seu corpo inerte não alterou a aparência do local.Algo terrível ali
acontecera.
-Corram!Levem-na para o Hospital di Toscana, signores!Ainda está viva,
corram!-dizia uma voz feminina de autoridade, enquanto a garota só via uma
luz dourada, e os olhos da moça que parecia observá-la com desespero.
-Chequem o estoque de bezoar, raízes de australophoretis e uma dose de
acônito.-a mesma voz, com o desespero.-Agora!
Os sentidos lhe faltaram de novo.
Acordou em uma sala quieta, vazia.A enfermaria do Hospital di Toscana era
magnificamente entediada, com os biombos mais brancos e limpos de toda a
sociedade bruxa italiana, o cheiro de limpeza exagerada, o rigor imposto
pelo governo.
A primeira coisa que seus olhos conseguiram focalizar foi um quadro muito
belo em plena enfermaria.Um mero equívoco, porém, muito útil para o tédio
daquele hospital.Mostrava com toda a certeza as tropas de Napoleão Bonaparte
ao invadirem a Rússia e morrer de frio e fome.
-Realmente, quem colocou isso aqui devia ter muito senso de humor...É
realmente reconfortante ver que meu querido Napoleão voltou desonrado e eu
estou em uma cama desconfortável e limpa demais, sem companhia alguma.-disse
de si para si mesma.
Na assinatura do quadro, uma surpresa: Da Vinci!Obviamente, para chamar
a atenção de quem estivesse ali e desviá-la das incômodas embalagens de
remédios.
-Observando a decadência de Napoleão?-perguntou uma voz feminina e
autoritária, a mesma que ela ouvira ao perder quase que por completo os
sentidos.
-Onde está a MINHA família?-perguntou a jovem, pálida como a própria
morte, enquanto observava a moça de cabelos encaracolados e olhos
cor-de-mel.
-Acalme-se, lhe explicarei tudo.
-Onde está a MINHA família?-tornou Lindsay, aumentando seu tom de voz.
-Lamento dizer isso a você, minha jovem, mas a verdade muitas vezes
machuca mais do que a mais afiada lâmina de espadas.Seus pais estão mortos,
querida.
A notícia pareceu acertar a garota no peito, perfurando seu coração com
frieza, sem se importar com a dor.Lágrimas cheias de uma mistura de ódio,
medo, tristeza e, essencialmente, um desejo tão profundo de que aquilo fosse
apenas uma brincadeira feita com muito mau gosto.
-Seu pai era um auror muito importante, e um dos Clãs criminosos da Itália
o matou, assim como a sua mãe, com o feitiço Corpus Apelus.
-Não!Não pode ter sido isso.Meu pai sabia se defender!É cruel
demais!NÃO!-os olhos verdes se encheram de lágrimas.
O choro e a dor mais fortes duraram duas horas seguidas, em que o que
ocorrera lhe fora narrado friamente pela enfermeira.
A morte doía tanto.
Sua mãe, uma professora de música trouxa tão calma e inatingível aos olhos
dela, agora jazia num cemitério perto da Piazza Del Campo, e seu pai, um
auror inglês, que trabalhava havia mais de 10 anos na Itália.Eram eles dois
tão inatingíveis que havia sido algo tão chocante para todos que os
conheciam.
Depois de se acalmar e respirar fundo mais de uma vez, Lindsay observou
com seus olhos negros como a noite, sem deixar um detalhe escapar, aquela
mulher que tentava acalmá-la, sem se dar conta de que naquelas horas, seu
olhar penetrante muitas vezes assustava.
-O que houve, srta.Blackmore?-perguntou a enfermeira, parecendo surpresa
com o olhar penetrante e calmo.Parecia uma águia, à espreita de uma boa
vítima fraca, indefesa.Perfurava a alma da enfermeira como se fosse apenas
uma bolha de sabão que as crianças estrangeiras adoravam fazer em plena
Piazza...Frágil, inconstante.A alma da mulher parecia fácil demais para
aquela garota de treze anos.
-Olá, srta. Sharapova.-cumprimentou subitamente um velho de barbas e
cabelos longos e prateados, que esvoaçavam à medida em que andava pela
enfermaria.
Vestia roupas em tom ameixa-forte, tinha oclinhos de meia-lua e olhos
azuis.
-Olá, Profº Dumbledore.-cumprimentou a enfermeira, calmamente.
-Essa deve ser a srta.Blackmore, suponho.-disse o velhinho simpático.
-É sim, professor.Vou deixá-los a sós...-informou a mulher, levantando-se
e adando depressa na direção da porta.
Um silêncio sem fim se seguiu, com olhares de Lindsay que custava a
acreditar de Alvo Dumbledore, o próprio, estava ao vivo e em cores para
falar com ela!Poderia ser um bruxo das trevas disfarçado, era uma
hipótese.Nunca deixe de suspeitar e nem ponha a mão no fogo por alguém, era
o que James Gillan Blackmore, seu pai, sempre dizia, talvez porque a
profissão de auror exigisse certo cuidado.
-Não se preocupe, srta. Blackmore, sou mesmo Alvo Dumbledore, e vim
anunciar a sua transferência para Hogwarts.-informou o homem, calmamente.
-Como assim?Por quê?-a garota de quase treze anos se sentia perdida.
-Por uma questão de segurança...Como já deve saber, seus pais faleceram há
três dias, e agora sua avó Magnólia cuidará da senhorita.Se me permite
dizer, Hogwarts está de portas abertas.
Lindsay pensou ter ouvido errado.Era impossível!Ela, a garota com as
maiores notas da escola de magia em que estudara, seria transferida para
Hogwarts?Era, no mínimo, estranho.
-Não tenha medo.Foram Comensais da Morte.Lamento por sua família, conheci
seu pai e sua mãe há muito tempo, e éramos muito amigos.
-Não precisa se lamentar, senhor.Os fracos choram por seus mortos, os
fortes os vingam.-disse a garota, que a essa altura já planejava uma
vingança.
-Não deixe que a vingança a envenene, srta.Blackmore.A propósito, seu
material já está na casa de sua...-pigarreou- adorável avó.
Lindsay riu.Magnólia Blackmore estava longe de ser apenas adorável.Usava
vestes sempre coloridas, tinha o péssimo hábito de cantar "New
York...New York" sempre que podia e em plenos pulmões, o cabelo mais
branco e farto que Lind (assim chamada pelos amigos) já vira e era
simplesmente...encantadora.
-Vovó deve estar arrasada.Precisa de mim.E todos da família...
-Não se preocupe, acabei de falar com sua família e eles, sempre
preocupados em cuidar da senhorita, enviaram-lhe presentes.
-Presentes?
-Sim, presentes.-mudou de assunto, como se falassem de um simples jogo do
Chudley Cannons.-Sua passagem para Hogwarts está na casa de Magnólia, e no
dia em que sair desse hospital, que aliás não me parece muito animado,
realizaremos uma Seleção com o auxílio do Chapéu Seletor.
-Espero que Hogwarts seja amigável com uma aluna como eu.
-Hogwarts sempre foi e sempre será amigável.E alunas como a senhorita
sempre serão bem vindas.
O homem levantou-se e observou a enfermaria, com os penetrantes olhos
azuis.
-Eu a espero em Hogwarts, srta.Blackmore.Uma das professoras que ensinam
em Hogwarts a ajudará no que for preciso.
Naquele mesmo instante, o velho desaparatou, deixando-a intrigada.Será que
Hogwarts aceitaria uma garota como ela?

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