Minha Estrelinha



Harry e Hermione acabavam de fazer a curva numa rua muito bem iluminada. Estavam em silêncio há alguns minutos, como se ambos refletissem sobre todos os acontecimentos do dia. Após percorrerem mais alguns poucos metros, Harry parou o carro em frente a uma casa de muros rosa-queimado, com portão branco amplo. Hermione olhou para sua casa, estranhando as luzes acesas.

- Estranho... – Disse ela – Rony odeia claridade, parece um morcego... E veja, tem uns quatro cômodos com as luzes acesas.
- Vai ver ele está te procurando até agora... – Harry deu uma risadinha.
- Não duvido nada, Rony tem problemas... Enfim, Harry... Tenha uma boa noite, amanhã passaremos o que soubemos para Draco, certo?
- Certo. E pensamos no que poderemos fazer quanto a menina em Hogwarts. Temos que nos certificar de que o tal diretor da Sonserina mantenha distância dela.
- OK... Quer entrar um pouco? – Hermione falou, abrindo a porta do carro.
- Não, Gina deve estar batendo o pé em casa com a minha demora...
- Ah, é verdade... Ô gênio difícil... – Ela balançou a cabeça, risonha.
- Boa noite, Mimi... – Harry sorriu.

Hermione saiu do carro, carregando suas pastas e bolsa. Andou rapidamente até o portão, mas subitamente olhou para a porta. Estava entreaberta. Gelou com o que viu.

- HARRY!!! – Ela gritou, jogando as pastas no chão.

Saiu correndo atrás do carro, que acabara de dar partida. Harry a viu pelo retrovisor, parando subitamente. Estacionou o carro de qualquer jeito, saindo apressado. Hermione estava gelada ao encontrá-lo, pegando-o pela mão.

- RONY! RONY! Vem!!! – Ela mal conseguia falar, saiu puxando Harry até o portão.

Harry a seguiu, nervoso. Quando chegou na porta de entrada, viu o amigo caído no chão da sala, pela porta entreaberta, dava para ver seus pés imóveis. Hermione abriu o portão estupidamente, correndo para seu marido, chorando alto.

- Rony! Fala comigo, meu amor! RONY!!! – Ela se abaixou, erguendo a cabeça ruiva de Rony e recostando-a em seu colo.

Harry sentiu o pulso de Rony, respirou mais aliviado ao certificar-se que ele não estava morto. Estava apenas desacordado. Tirou sua varinha do bolso interno do blazer e apontou para Rony, que fez um curto movimento com a cabeça, abrindo os olhos em seguida, lentamente. Hermione o fitava, preocupada e lacrimejante.

- Rony... Meu amor... – Sussurrou – Está tudo bem?
- Hermione... – Rony piscou várias vezes como se tentasse se orientar. – O que houve?
- Eu que te pergunto! Eu cheguei e você estava aqui, caído!
- Que susto nós levamos! – Harry sentiu como se um grande peso estivesse o deixando.
- Mas... Mas... Eu não sei... – Rony levou a mão à cabeça, olhando para os lados.
- Alguém esteve aqui? – A mulher o mirou.
- Não... Acho que não... Mas... Sei lá...
- As luzes ligadas... – Harry olhou para Hermione.

Sem dizer mais nenhuma palavra, ele se levantou, com a varinha ainda em punho. Tentando não fazer barulho, sentia-se um idiota por ter dado um mole daqueles: entrado na casa fazendo barulho, sem antes verificar o território. Onde estava o senso de Auror naquele momento? Se houvesse de fato alguém por ali, com certeza, após os gritos de Hermione, essa pessoa no mínimo já tinha desaparatado há tempos. Ainda assim, foi andando por cada cômodo iluminado, observando atentamente cada centímetro, enquanto Hermione amparava o marido.

- Onde vocês estavam? – Rony perguntou, sentando-se no sofá.
- Ué? Não te avisaram no Ministério? – Hermione o olhou, confusa – Fomos até a casa da Tia do Harry.
- Visitas à uma tia que ele não vê há dezenove anos? – O homem ruivo arregalou os olhos.
- Rony... Está louco? Nós fomos seguir aquela pista que falamos! A Claire, conhecia os Dursleys... Lembra? – Hermione falou enquanto pegava a bolsa de Rony, que estava jogada ao lado do sofá.

Rony fez cara de paisagem.

- Meu amor... Você está estressado... Tem que relaxar... Acho que o caso Vasseur está te deixando maluco mesmo, mas temos ótimas notícias! Não foi Draco mesmo! Isso foi coisa do Minis...
- Do que você está falando, Hermione? – Rony a interrompeu, com cara de “não estou entendendo patalhofas”
- Como do quê? Do caso da morte do Lucas Vasseur! Não foi acidente trouxa, foi coisa mandada! E não foi o Draco, agora nós temos certeza absoluta.

- Hermione... – Harry voltou à sala, pálido – Acho que você precisa ver uma coisa.

Hermione olhou apreensiva para Harry, mas não hesitou, levantou-se rapidamente, indo atrás dele. Harry a guiou até seu próprio quarto. Quando chegou à porta, a mulher deu um gritinho abafado, levando a mão à boca pela sua surpresa. O quarto estava completamente revirado.

- Merlin! Então, alguém realmente esteve aqui!
- O que foi isso? Furacão? – Rony chegou no local, olhando desorientado para a confusão.
- Rony... Onde estão seus relatórios? – Hermione tremia.
- Meus relatórios? Quais deles?
- Do caso Vasseur!
- Que caso é esse, droga! Eu não sei do que você está falando!

Harry e Hermione se entreolharam. Ela entrou decidida no quarto, olhando para a escrivaninha revirada. Papéis estavam caídos pelo chão. Ela começou a revirá-los, mas em vão, não tinham qualquer valor. Logo depois, saiu do quarto, em direção à sala, onde lembrou da bolsa de Rony que estivera caída no chão. Abriu a bolsa, procurando algum conteúdo.

- Ah, essa não! – Ela gemeu.
- Que houve, Mione? – Harry e Rony voltavam à sala.
- Obliviaram Rony e sumiram com as informações do caso Vasseur...
- Hã? – Rony fez uma careta.
- Acho que você descobriu algo realmente importante, Rony... Só que agora vamos ter que imaginar do que se trata... – Harry olhou para o amigo, pesaroso.
- Algo tão importante que você não poderia saber. – Hermione suspirou. – E nem nós.
- Ou algo que eles acham que ainda não sabemos... – Harry concluiu, sabiamente.


***

Diana sentia suas pernas tremerem, ao ver o homem acenar para segui-lo para um pequeno barzinho no final da rua. Era um lugar muito bem conhecido por Diana, ela gastava horas trocando idéias com os amigos naquele bar, na época da sua especialização em jornalismo. O homem puxou uma cadeira para ela sentar-se, logo em seguida um garçom muito sorridente entregou a eles um cardápio. O homem agradeceu em francês, voltando o olhar para Diana.

- Bem, acho que te assustei, mas não sei como contá-la isso de modo menos agressivo.
- Não tem problema... – A mulher loira tentou parecer bem – Pode me dizer logo, estou meio curiosa...
- Certo... Primeiramente, eu queria te contar que eu sou o pai da Claire Cavendish. – Falou sem rodeios.

Diana arregalou os olhos, mirando-o como se ele tivesse falado um grande absurdo.

- Mas, então você se lembra dela! A menina disse que a família havia se esquecido dela!
- Escuta... É uma longa história... – Túlio Cavendish fechou os olhos, balançando a cabeça lentamente.
- Eu não tenho pressa. – Diana falou amigavelmente.
- Desde que Claire entrou nas nossas vidas... – Começou ele, meio incerto – Eu sabia que ela era especial. Não era como nós. Mas, de alguma forma, eu sabia que não deveria contar isso a ninguém, como se a proteção dela dependesse disso. Minha filha morreu logo após o parto, sabe?

- Ah, sinto muito! – Diana lamentou.
- Mas colocaram Claire no lugar... Na verdade, Claire era o nome da nossa criança morta. Minha esposa não sabe disso, ela acredita que é realmente nossa filha.
- Então, foi você quem a adotou?
- Não... Eu também achava que ela era nossa criança! Até que... – Ele parou de falar.
- Até que...?
- Quando Claire fez cinco anos, ela estava brincando no balanço, no parque perto da nossa casa, no Surrey... – Túlio sorria melancolicamente, fazendo Diana acreditar que ele ia começar uma história que não tinha nada a ver com o papo inicial – Eu a observava de longe. Só que teve uma hora que ela começou a elevar mais o balanço, e começou a girar. Eu entrei em pânico, com medo que ela se machucasse... E fui em sua direção. Quando a gritei, para que ela parasse de se balançar, ela se assustou e voou para fora do balanço, caindo longe dali. Eu saí desesperado ao seu encontro, e ela tinha se ferido feio. Quando eu comecei a chorar, a pegando para levar a um hospital...

Ele parou novamente de falar, e Diana percebeu que ele estava emocionado. Ficou meio constrangida, mas fingiu não ter percebido. Então, ele continuou.

- Aí, minha estrelinha me disse, sorridente... Me olhando com aquele jeitinho meigo dela, e me disse: “não chora papai, olha o que eu sei fazer...” e colocou a mãozinha por cima do osso quebrado da perna, e se curou sozinha. Foi então que eu entendi que Claire era especial.

- Nossa...! – Diana não conseguiu esconder a surpresa – Mas... Um bruxo com cinco anos não é capaz de auto-cura! Isso leva anos para se desenvolver, e precisa de uma varinha... Como ela fez isso? Eu não sei fazê-lo!
- Bom, eu não sei como, não sou bruxo... Mas foi incrível. Claire sempre foi uma criança perfeita, sempre recebia elogio dos professores, vivia cercada de amigos, era encantadora e doce como nenhuma criança o era. Em casa, sempre que ela via alguém triste, ela fazia de tudo para alegrar, quando brigávamos com Gabriel, nosso filho mais novo, que é um espoleta, ela se metia, dizendo que era pra brigar com ela, não com ele. E aí, já viu, não é? Não tinha como brigar com aquele anjo... Ela amava tanto o irmão... Era uma filha perfeita, eu tinha tanto orgulho dela...
- Por que está usando os verbos no passado? – Diana questionou, curiosa – Claire está viva e precisa de vocês! Por que estão fugindo dela? Meu filho é amigo dela em Hogwarts, fala coisas maravilhosas dessa criatura linda que é Claire...

Túlio secou discretamente suas lágrimas, no mesmo momento que o garçom voltava com duas xícaras de chá fumegantes, depositando-as delicadamente na mesa e saindo de perto dos dois, como se não tivesse percebido nada.

- E aí que a história começa, Diana. Claire tem uma missão a cumprir, e nós, minha esposa e eu, já cumprimos a nossa. Não podemos nos meter, temos que deixar Claire seguir o caminho dela.
- Poderia ser mais claro? E, desculpa, mas... Onde eu entro nisso?
- Bom... – Túlio bebeu um pouco do chá – Seu marido.
- Sim? – Diana tentava seguir o raciocínio, que estava cada vez mais confuso.
- Ele alguma vez te contou de Jeremy Wright?
- Sim... Lucas tinha uma certa obsessão por esse homem, dizia que ele era um bruxo incrível, mas estava internado como louco no St. Mungus, pelos irmãos... Acho que Lucas estava redigindo uma biografia dele, sempre ia ao hospital falar com esse homem, mas nunca me contava muitos detalhes... Queria fazer suspense do livro.

Túlio abriu um sorriso, bebendo em seguida mais um gole de chá. Secou os lábios com um guardanapo, enquanto Diana parecia estar assimilando as informações.

- Espera... – A mulher disse num relance – Esse homem, Jeremy, tem algo a ver com sua Claire?
- Ele tem tudo a ver com Claire. Ele me devolveu as lembranças, me fez entender que Claire não era minha filha, e me contou tudo sobre quem era ela.
- Mas, como ele fez isso?
- Ah... Isso eu não sei... Mas em uma coisa seu marido estava certo: Ele é excepcionalmente poderoso, até eu que não sou bruxo o sei. – Túlio terminou seu chá, olhando para Diana com um sorriso leve – Tem certeza que tem tempo?
- Claro que tenho...
- Então, vamos ao que interessa: seu marido não morreu por acaso. Ele desafiou o Ministro da Magia com esse tal livro sobre Jeremy. Era para ele manter segredo, mas parece que seu marido era um homem cabeça dura...
- Oh, se era...
- Então... Agora, todas as informações que ele recolhera de Jeremy estão perdidas com sua morte. Entende? Era uma verdadeira bomba a tal biografia, ia tirar Adrian Wright do poder num piscar de olhos.
- Ah... – Diana parecia pensativa – Não se perderam, não...! Lucas tinha um diretório on-line! Ele odiava essas engenhocas trouxas, mas eu consegui o convencer que era super seguro! Ele digitava todas as informações, armazenava numa pasta virtual que...
- Era protegida por senha... – Túlio arriscou, quando viu que Diana desfizera o sorriso de empolgação.
- Pois é... Eu devia ter omitido a parte da senha, não é? Erro meu...

Túlio deu uma gargalhada. Diana o olhou, assustada. Sua piada não tinha sido tão boa assim.

- Sabe qual é minha profissão? – Ele perguntou, batucando na mesa.
- Não...?
- Analista de sistema e criptógrafo. E hacker de primeira quando tenho tempo e bons motivos... – Ele piscou para a mulher, que agora entendia o motivo da gargalhada.


***

Draco chegara no aeroporto há uma hora. Esperava algum vôo para Paris, já que não conseguira saber qual foi o vôo que Diana tomara mais cedo. “Ela devia ter me avisado que ia sair da Inglaterra!” Ele pensava, irritado pela falta de comunicação da mulher. Olhava aflitamente para seu relógio. “Odeio esses métodos trouxas...” Ele suspirou, com raiva. Afinal, o que estava fazendo ali? Era um bruxo, por que esperar um avião, quando se podia aparatar, usar Rede de Flu e tantos outros meios mais rápidos e seguros? Sentiu-se um idiota por estar perdendo tempo.

- Oras, Diana está me deixando louco! – Resmungou ao levantar-se do assento.

Seguiu rumo à saída, mas estava tão distraído que não reparou que estava sendo seguido. Havia começado a chover, e ele deu uma boa corrida até o carro estacionado há alguns poucos metros dali. Passos pesados o acompanhavam. Sua atenção foi desviada para os tais passos, parando no meio do caminho, não acreditando no que via.

- Mas veja só... – Falou com tom de deboche – O que foi? Veio me matar no meio dos trouxas?
- Não, não... Só vim te alertar, Malfoy...
- Alertar sobre o quê? Que você é perigoso? Não precisa, eu não tenho medo de você...
- Não tem? Sabe... Deveria ter, Malfoy... Afinal, as más notícias são as primeiras a chegarem, mas só chegam depois que acontecem... Por tanto, muito cuidado com o que você diz e faz.
- O que você quer dizer com isso? – Draco olhou o homem confuso.
- Seus filhos, Malfoy... Estão seguros em Hogwarts? – Paul Wright deu um riso maléfico. – E sua namoradinha? Será que Paris é muito longe daqui?

Draco tateou a varinha por entre a roupa, cerrando os dentes, mas seu braço resolveu não mais obedecer. Ficou imóvel. Paul o fitou com olhar maquiavélico.

- Escuta, Malfoy... Isso é só pra você saber com quem vocês andam mexendo... É só uma demonstração... Se eu fosse você, repensava sua vida... – Paul apontou para o braço imóvel de Draco.

Draco olhou para o braço, vendo parte da marca negra aparecendo. Lembrou-se de seu passado como Comensal da Morte, passado esse que preferia esquecer que existiu.

- O Lord das Trevas só abençoava os melhores com essa marca, Draco... – Paul ergueu a manga de seu próprio paletó, fazendo enxergar sua própria Marca Negra – Mesmo achando que você não era um deles, pense bem a quem prefere se aliar. Sua família agradeceria... Muito mesmo... Estamos entendidos?

***

Já era noite, quando Tiago e Justin caminhavam lentamente pelos corredores, rumando a Clareira. Os dois amigos estavam até aquele momento na biblioteca, para estranheza da bibliotecária, que quase nunca os vira por ali. Tiago estava aparentemente inquieto, ao passo que Justin estava apreensivo.

- Tiago, cara... Esquece isso! Acho que você está neurótico!
- JC, me faz um favor... – Tiago olhou com cara de tédio para o amigo – Não me pede para esquecer, falou? É questão de honra!
- Meu! Não é mais fácil perguntar pro seu pai? Sabe que não tem nada na biblio...
- Putz, Justin... Você está brincando, não é? Acha que meu pai ia mesmo me contar algo? Se liga!
- Você já tentou perguntar?
- Ah, claro... – Tiago falou em tom irônico – foi assim: “Pai, tipo... Eu preciso saber se aquele lance de horcrux... Aqueles bagulinhos pelos quais o Sr morreu, ou quase morreu, sei lá... Como se faz mesmo um troço daqueles? Só em nível de conhecimento...” Aí ele me disse: “Tiago, meu filho, claro que eu te digo... Assim que você fizer 140 anos” Aí eu disse “mas será que eu vou estar vivo até lá?” E ele disse “Vamos esperar para ver?”
- Nossa, essa sua ironia me mata... – Justin deu um guincho de impaciência.

Os dois amigos pararam em frente à entrada da Clareira, mas quando Justin deu mais um passo para entrar, Tiago fez sinal para que ele esperasse.

- Eu não quero que Zac saiba disso, falou? Ele já tem problemas demais...
- Eu não ia mesmo incomodá-lo com essa sua loucura... – Justin ignorou o amigo, entrando no recinto.

Ao entrarem, viram Claire e Zac juntos, conversando alegremente sobre qualquer coisa. Os dois se entreolharam, alegres: finalmente Zac parara de chorar. Quando Zac os viu, abriu um sorrisão.

- Puxa, como vocês demoraram! – O loiro falou.
- Ah, estávamos distraídos... – Tiago sorriu, olhando para Claire – Mas vejo que você estava em ótima companhia, não é mesmo?
- Claire é um anjo... – Zac deu um beijinho na testa da menina, que corou na hora.
- Imagina... Só estava dando uns conselhos para Zac.
- Conselhos? – Zac arregalou os olhos – Claire, você foi a única a conseguir me fazer enxergar as coisas boas!
- Uh, me senti um trasgo agora... – Justin riu.
- Somos dois... – Tiago balançou a cabeça.
- Não fiquem assim... Mas Claire é iluminada! É minha estrelinha!

Claire, ao ouvir Zac, foi fechando vagarosamente seu sorriso. Os três meninos a olharam, curiosos.

- Que foi, Claire? – Zac parecia preocupado.
- Ah, desculpa... – Claire balançou a cabeça – É que meu pai... Ele me chamava assim, de estrelinha...
- Claro, por que ele sabe que você é especial e maravilhosa... – Tiago piscou simpaticamente para a menina.
- Não, não... – Claire ficou meio sem graça com os elogios – Não é exatamente por isso, é porque eu tenho uma marca de nascença...
- Marca de nascença? – Os três falaram quase juntos.
- Isso, é nas costas... Tem forma de uma estrela... Não dá pra mostrar agora, mas depois eu mostro... E por isso que ele me chamava de “minha estrelinha”.

Um pouco distante dali, quem ainda continuava observando em silêncio era Jullie, que ao ouvir Claire, deu um ligeiro gemido. “Para salvar o mundo, deixe a estrela brilhar.” Lembrou-se imediatamente da profecia que ouvira da Professora Lilá Brown. Seria loucura, mas sentiu um súbito arrepio lhe percorrer a nuca ao pensar que tal estrela poderia ser Claire. A emoção foi tanta, que Jullie se denunciara. Tiago olhou para Justin, com um leve sorrisinho. Ambos já sabiam da presença da menina ali. Nada fugia ao conhecimento do Mapa do Maroto.

- Acho que não estamos a sós... – Falou ele, em alto som.
- Quem está aí? Nós não mordemos... Ou se mordermos, já fomos vacinados... – Justin falou cantorolando.

Jullie deu um tapa na testa. “Burra, estúpida...” pensou sobre si mesma. Se ergueu, sentindo dores nas pernas, pois estava há muito tempo na mesma posição. Sentiu uma dormência que quase a impossibilitava de andar, dando outro gemido, mas agora de dor. Tiago foi a sua direção, com o coração saltando no peito.

- Jullie? – Falou, tentando parecer surpreso.
- Não... A Rainha Elizabeth... – Jullie esfregava as pernas, como se tentasse parar a dor.
- Nossa, descobriu a pedra filosofal, majestade? Está incrivelmente nova! – O garoto ironizou.
- Me poupa das suas gracinhas, Potter...
- Me poupa do seu mau humor, Watson...

- Ju! – Claire saltou de onde estava ao ouvir a voz da garota – Oi, Ju! Que bom que você...
- Eu não lembro de ter dirigido a palavra a você, sua sangue... – Jullie começou, mas não conseguiu terminar de falar.

Claire havia a envolvido num abraço apertado, como se Jullie tivesse acabado de declarar seu amor por ela. Ficou sem reação. Claire acariciou seus cabelos, dando um beijo em sua bochecha, depois sorrindo amigavelmente para ela.

- Eu sinto tanto sua falta, amiga! – Claire tinha os olhos lacrimejantes.

Jullie ficou imóvel. Os três amigos também estavam sem entender nada. Como Claire conseguia ser tão amável assim, ninguém conseguia explicar, mas que Jullie estava perturbada, estava. Ela olhou dentro dos olhos de Claire, sentindo suas pernas tremerem, mas agora não era devido à dor ou formigação, era de emoção. Não dava para ficar imune ao seu amor. Mesmo sem expressar qualquer sentimento, Jullie deixou uma lágrima rolar por sua bochecha. Claire, imediatamente secou aquela lágrima, ainda sorrindo.

- “O mundo pode até fazer você chorar, mas Deus te quer sorrindo...” – Claire cantarolou.

Jullie não resistiu. Começou a chorar mais, abraçando Claire, apertando a menina contra si. Os que as assistiam, se emocionaram discretamente. Era uma cena linda de se ver. Principalmente para Tiago. Sua vontade era abraçar Jullie também, mesmo que isso rendesse uma azaração da menina. Jullie e Claire não pareciam querer se largar. A menina de cabelos castanhos não falava nada, só chorava, chorava e abraçava Claire. Até que de soltou do abraço, olhando atentamente para a loirinha.

- Eu te amo tanto, Claire... Eu não posso te machucar!
- Eu não me importo em me machucar, Ju, se for para te ver sorrir! Seu sorriso vale muito mais que qualquer dor que eu possa sentir!

Jullie abriu um sorriso sincero, voltando a chorar mais intensamente e abraçando Claire novamente. Tiago, Justin e Zac se entreolharam, escondendo as lágrimas uns dos outros.

- Ih... Eu acho que a gente está ficando meio sensível demais... – Tiago comentou, secando discretamente os olhos.
- Cuidado, Tiago... – Justin fez o mesmo gesto do amigo – Isso não é legal para sua reputação...
- Por que só para a minha? – Tiago ficou confuso.
- Eu digo por que sou seu amigo... O patrono do seu avô, que é o mesmo do seu pai... Ele pode ser o seu também... E não pega nada bem um veado sensível demais.
- É um cervo, Justin, seu ridículo! – Tiago ficou vermelho de raiva, mas Zac e Justin caíram no riso.

***

A passagem secreta da sala de Poções, também diretoria da Sonserina, abriu-se lentamente, deixando um homem bem vestido passar graciosamente por entre o túnel, alcançando o chão de mármore polido. Ele tinha uma ligeira expressão de vitória no rosto. Ia tirando o paletó, enquanto pensava no quanto era esperto: saía e entrava em Hogwarts quando bem entendesse, e ninguém desconfiava. Caminhou até o cabideiro, pendurando o belo terno.

- Passeios vespertinos, Wright? – Ouviu-se uma voz vinda de um canto da sala.

Paul se virou imediatamente, assustado por não ter percebido antes que havia alguém em sua sala. Deparou-se com Neville Longbottom, de braços cruzados, olhando para ele com um sorriso irônico no rosto.

- Quem lhe deu permissão para entrar na minha sala em minha ausência?
- A mesma pessoa que deu a você a permissão de sair de Hogwarts quando bem entendesse... – Neville riu-se debochadamente – Ora, ora... Será que Minerva vai gostar de saber que há uma passagem secreta que não é de seu conhecimento?
- Não se atreva, Longbottom! – Paul sacou sua varinha, mas alguém foi mais rápido que ele.

Ernesto McMillan acabara de imobilizá-lo. Estava ali, parado, com a varinha em punho, sentindo-se um idiota: Como pode se deixar ver assim? Logo ele, que pressentia de longe a presença de qualquer pessoa? Logo ele, que nunca deixara qualquer pessoa brincar consigo. Pela primeira vez na vida, Paul se odiou por ser tão egocêntrico. Tanto, que ele mesmo se deixou pegar. Falha sua.

- Você tinha razão, Neville! – Ernesto comentou, risonho – Não é que ele anda fazendo passeios além das muralhas de Hogwarts?
- Que feio... – Neville balançava a cabeça, fingindo decepção – Um aluninho da Sonserina veio procurar o Titio e ele não estava aqui... Que decepção! Da próxima vez, Paul, peça pros seus aluninhos puro-sangue não ficarem comentando suas ausências por aí... As paredes têm ouvidos, sabe? E existe gente tão ou mais esperta que você, por mais incrível que isso possa parecer a você... Senhor “eu sou o melhor”!

Paul não conseguia se mexer, mas o ódio fervia em seu interior. Mais raiva de si mesmo do que de Ernesto e Neville. Como foi estúpido! Conseguira enganar Minerva e agora se deixara pegar pelos dois que achava serem os menos perigosos.

- E agora, Neville? – Ernesto perguntou, balançando a varinha.
- Agora, a gente espera Padma voltar com Minerva... E vamos ter uma festinha!

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