Luz no fim do túnel



Já era fim da tarde, aproximadamente 17:00h. O movimento no Hospital de Acidentes Mágicos St. Mungus estava baixo. Tudo parecia realmente normal, até que ouviu-se um som não muito comum por ali.

- Hospital St. Mungus, boa tarde!

A jovem enfermeira de plantão, Edna Sullivan, atendeu prontamente ao telefone, assim que ele tocou. Era um método trouxa, verdade, mas era necessário ali. Isso por que se um bruxo tivesse algum problemas entre os povoados trouxas, era esse número que carregava consigo, para os casos de emergência. St. Mungus era equipado com uma ambulância estilo trouxa, com sirenes alucinantes e cruz vermelha, mas em sua caçamba, na verdade, havia uma chave de portal, que levava o paciente e os enfermeiros direto para dentro do hospital, ao passo que o motorista encenava correr para socorrerem a vítima o mais depressa possível.

- Boa tarde... – Falou uma voz masculina do outro lado da linha – Temos um pedido a fazer...
- Sim, em que posso ajudar? – A enfermeira loira arregalou os olhos. Um pedido? Não era algo muito normal, aquele telefone pouco tocava.
- O Ministro da Magia, Adrian Wright, quer uma hora exclusiva para visitar seu irmão. – a voz falava decididamente. – E hoje.
- Hoje? Mas não temos horário de visitas hoje e...
- Hoje – Repetiu, impacientemente.
- Desculpe, Senhor... – A enfermeira insistiu – A ala de psiquiatria não fica aberta à visitas após às...
- Acho que você não entendeu, queridinha... – A voz a cortou como a lâmina de uma espada afiada – Estamos falando do Ministro da Magia. Hoje, às 19:00h. Ninguém pode estar de visitante na ala de psiquiatria. E de preferência, leve Jeremy Wright para uma sala particular. Entendeu? Às 19:00h... Fui claro?
- Acho que tenho que falar com...
- Então, as 19:00h. Nenhum minuto a mais. Passar bem. – E a enfermeira ouviu o sinal de ocupado do outro lado da linha.

- Oras, só faltava essa! – Recolocou o telefone no gancho, irritada
- Que foi, Edna? – Uma mulher, com cabelos loiros platinados a mirava, tranquilamente.
- Luna! – A enfermeira sorriu, esquecendo que estava zangada – Que bons ventos a trazem!
- Ah... – Luna Longbottom arrumou o embrulho que trazia nos braços – Fiz minha receita de ambrosia, e sei que a Sra. Longbottom adora... Resolvi trazer um pouco...
- Ah, Alice vai ficar tão feliz!
- Mas me conta... Que houve? Telefonema? Era um trouxa? Engano?
- Nada... Agora o Ministério deu pra ligar para cá e o Ministro acha que só porque o irmão dele é um paciente internado, ele tem direito de aparecer quando quer e na hora que quer... – Edna revirou os olhos – Esquece... Ele pode, ele é “o” Ministro... Venha, vamos ver os Longbottom!

Edna estendeu a mão para Luna, dirigindo-se com ela para a ala norte do St. Mungus. Nas paredes por onde passavam, setas indicavam a Unidade de Pronto Atendimento à Vítimas Acidentes Mágicos, onde vez ou outra passavam bruxos vestidos de branco, macas com pessoas repletas de furúnculos ou com outras anomalias derivadas de feitiços frustrados e pessoas nervosas, por toda a extensão do corredor.

- Ui... Detesto a emergência... – Edna comentou, ao ver um garotinho vomitar lesmas nos pés da mãe.
- Ah, eu sempre digo que temos que estar preparados para os acidentes... Eu mesma já tive vários... – Luna comentou, distraída, como se fosse completamente normal se acidentar.
- Eu odeio quando me colocam na emergência...

Edna e Luna viraram num outro corredor, onde se via a placa de “Ala Psiquiátrica – Entrada somente com autorização” acima de um portão de ferro, onde, do outro lado estava sentado, lendo tranquilamente um exemplar de “O Profeta Diário”, o robusto vigia da tarde. Edna se aproximou, chamando a atenção do grande homem, que se levantou prontamente, sorridente ao ver as mulheres, abrindo o portão sem nenhuma interrogação.

-Luninha! – O grandalhão tinha brilho nos olhos – Que bom vê-la! Estava sumida... Aposto que O Pasquim tem lhe tomado um bom tempo...
- Pois é, Tim... – Luna sorriu para o homem – Eu estou realmente atarefada com as últimas edições, depois que eu comecei a falar dos Empiriospectros, nunca mais tive um momento de descanso... Mas estou feliz de abrir os olhos do mundo para esse mal...
- Ah, eu estou acompanhando as matérias! – Tim apontou para seu exemplar de “O Pasquim” sob móvel da sua guarita – Nossa, você é tão inteligente, Luninha! Seu pai ficaria tão orgulhoso!
- Claro que sim... – Edna piscou – E está! Vamos, Luna? Temos que desocupar a área até as 19:00h... – E revirou os olhos castanhos, depois fitou Tim – O Sr Excelentíssimo Ministro da Magia quer ver o irmão numa sala particular às 19:00h... Blá, blá, blá...
- Oras, virou bagunça? – Tim parecia ofendido
- Virou, não é? E o Ministro... – Edna deu de ombros
- Como se ele realmente se importasse com o irmão... – Tim murmurou entre os dentes
- Ah, falando no Jerry... Trouxe ambrosia para ele também! Adoro conversar com ele... É tão inteligente...

Edna e Tim se entreolharam. Só a Luna ocorria que Jeremy Wright, um dos pacientes mais calados, fosse inteligente. Mas era melhor não contrariar. Edna só riu e indicou a Luna que passasse para o interior da Ala. As duas cortaram a sala até a extremidade onde estavam Alice e Franco Longbottom. O casal sempre estava junto, como jovens namoradinhos, mas agora, estavam bastante velhos. Alice tinha os cabelos muito curtos, como quase todas as mulheres dali, e grisalhos, mas ainda mantinha uma feição fina e bonita, denunciando que fora uma bela garota quando mais jovem. Franco, também tomado pelas rugas, lembrava muito Neville. Tinha um nariz um pouco grande, rosto comprido e olhos um pouco caídos. Edna parou no meio do caminho e Luna se aproximou delicadamente do casal.

- Boa tarde, Sr e Sra Longbottom! Trouxe uma gostosura para vocês...
- E... m... m... e! – Alice balbuciou, com um sorriso bobo no rosto.
- Não é Emme, é Luna... Esposa do Neville! – Luna falou docemente, sentando-se com eles.- Olha que gostoso que eu trouxe... – E tirou da bolsinha um pote com seu doce.

Edna cortou novamente o salão da área de psiquiatria, parando diante de um homem cujos cabelos escuros estavam caídos pela testa, de modo displicente. Tinha o olhar perdido, como se não olhasse para lugar nenhum e para todos os lados ao mesmo tempo. A enfermeira abaixou-se lentamente, sorrindo para ele, evitando reparar na cicatriz que lhe cortava o rosto, transversalmente, passando exatamente entre os olhos claros e brilhantes de Jeremy.

- É, caro Jerry... Não sei por que, mas seu irmãozinho vem te visitar... Estou com pena de você... – E levantou-se, passando a mão pelos cabelos do rapaz, indo embora em seguida.
- Que venha, Adrian... – Jeremy falou consigo mesmo, abrindo um sorriso debochado.

***
Harry ainda estava abraçado com sua tia, quando uma menina gordinha e corada entrou porta adentro. Ela olhou para Hermione, confusa, depois olhou para Harry e sua avó. Abriu um grande sorriso.

- Ele é o Harry Potter? – Ela perguntou para Hermione.
- É sim... – Hermione arregalou os olhos – Conhece ele?
- Claro! Vovó conta histórias incríveis dele! Ele é meu herói! Ela disse que um dia ele voltaria... – Caroline Dursley parecia ser uma garota muito doce, e estendeu a mão para Hermione – Eu sou neta dela, meu nome é Caroline Petunia Dursley! E você?
- olá, Caroline... – Hermione sorriu, gentilmente, apertando a mão gorducha da menina – Eu sou Hermione Jane Weasley! Amiga do Harry...
- Amiga dele! – A menina deixou o queixo cair – Nossa! Que massa!

A menina andou até a avó e Harry, com brilho nos olhos. Harry acabara de se reerguer, retirando os óculos e os limpando nas roupas. Recolocou os óculos, com os olhos ainda meio embaçados pelas lágrimas que derramara, olhando curioso para a menina.

- Olá, Harry Potter! – Disse ela, empolgada.
- Olha! Você sabe quem eu sou! – Ele fez cara de surpresa.
- Carol? – Tia Petúnia sorriu, secando as lágrimas dos olhos cegos – Ela é sua maior fã!
- Fã?
- Claro! Você é um herói! – A menina se lançou nos braços de Harry, prendendo o homem num abraço apertado.
- Herói? – Harry a abraçou, mas estava confuso.

- Eu conto a Carol suas proezas, Harry... – a velha se explicou – Eu a ensinei a admirar os corajosos...
- Minhas proezas...
- Suas proezas... – Ela reafirmou – Como você dissipou as trevas do seu mundo, como hoje os bruxos são muito mais felizes e como você se tornou um homem de bem.

Harry franziu a testa. “hã?” pensou, olhando para Hermione, que parecia tão confusa quanto ele.

- Vovó me contou tudo que sabia sobre os bruxos! – Carol quebrou o momento de silêncio, se largando de Harry, fitando-o com empolgação – Pena que eu não sou bruxa como a Tia-avó Lilian...
- Lily era uma flor tão linda... – Tia Petúnia suspirou, tristemente – Eu era uma tola por sentir inveja dela... Eu queria ser ela...
- Tia... A Sra. contou tudo sobre o mundo bruxo para sua neta? – Harry não podia assimilar tal absurdo. “logo tia Petúnia? Céus!”
- Claro... Harry... – A velha tateou o ar até pegar na mão dele – Depois que você foi embora... Naquela hora que eu me virei para olhar você pela última vez... Eu queria dizer “sinto muito” mas não conseguia... Eu passei minha vida inteira me culpando por ter deixado você ir sem dizer “adeus, vá com Deus e boa sorte... Eu te amo”

Harry engoliu seco. Sentou-se numa poltrona, a mesma da época que morava ali, impecavelmente bem conservada. Olhou Hermione. Ela se aproximou, para sentar-se ao seu lado. Carol, a pedido da avó, se dirigiu correndo até a cozinha, para trazer um lanche para os visitantes. Ao ouvir os passos da neta se distanciando, ela continuou.

- Eu fiz coisas horríveis para você, querido...
- Passado é passado, tia...
- Não, não é... – Ela o cortou – Eu sabia que ainda teria a chance de me desculpar com você. Eu não tinha coragem de te procurar... Sou uma covarde... Mas você veio! Sua mãe me garantiu que você viria!
- Minha...? – Harry pensou que a tia estava começando a caducar – Minha mãe?
- Lilian... Ela fala comigo em sonhos... Desde que você se foi daqui... Ela me conforta, ela me pediu para contar a Carol sobre os bruxos...

Nesse momento, Harry sentiu uma ligeira compreensão. “Minha mãe... Será que...?” Olhou de relance para Hermione, e viu que a amiga estava ofegante, como se estivesse prestes a chorar. Agora, Carol voltava lentamente, tentando não derramar o chá que continha nas duas xícaras. A menina mordia a língua de lado, se concentrando, assim como Duda o fazia, lembrava Harry. Serviu o chá para Harry e Hermione, sorridente e simpática, como Duda nunca o fora. Depois, deixou a bandeja com alguns bolinhos sob uma mesinha de centro e correu para sentar-se, num pulo, em outra poltrona, de frente para os dois visitantes.

- Lilian disse que Carol o ajudaria, Harry... – A velha tia concluiu.
- Ela disse? – Harry arregalou os olhos – Nossa... Que loucura...
- Quem está com você, mesmo?
- Sou... Hermione Weasley! Desculpe, nem me apresentei! Sou amiga do Harry...
- Claro, a que nasceu trouxa, como Lilian... Eu sei quem você é. Mas pelo visto, casou com o ruivo, não? Seu sobrenome não era esse...
- Ah, foi mesmo... – Hermione corou.
- E você, Harry? E seus filhos?
- Como...? – Harry não acreditava – Ah, estão bem... São lindos... Maravilhosos, crianças encantadoras... E minha esposa é a mais linda das bruxas...
- Não, desculpa... – Carol cortou a conversa – A mais linda das bruxas é a Diana Vasseur! Ela é muito, muito, muito linda! – A menina levantou num pulo, pegando um livro na estante, abrindo a contra capa, deixando que Harry e Hermione vissem Diana, estampada numa foto trouxa, realmente linda e loira – Ela é perfeita! Amo os livros dela! Vovó me deu todos!

- Nós a conhecemos... – Hermione sorriu – Ela é um amor...
- Você a conhece? – Carol parecia não caber em si de tão feliz – Oh! Que sonho!
- Tia... – Harry virou-se para a velha mulher – Eu realmente vim com um objetivo, e acho que só vocês poderiam me ajudar...

- Pois então, querido... Eu adoraria poder ajudá-lo...
- Por acaso vocês já ouviram falar da família Cavendish? Que morou aqui há...
- CAVENDISH? – Carol deu um gritinho eufórico – Onde eles estão? Diz!
- Você os conhece, princesinha? – Hermione deixou um sorriso de vitória estampar seu rosto.
- Claro! Mas eles sumiram! Estou morta de saudades de Claire! Era minha melhor amiga, até que se mudaram para Notting Hill... E ela não deu mais sinal de vida... Nunca mais respondeu minhas cartas, meus e-mails, deletou o perfil do Orkut...

Harry sentiu vontade de gritar de emoção. Olhou para Hermione e a mulher estava resplandecente, com um sorriso brilhante. Enfim, Claire Cavendish fora lembrada por alguém. Havia uma luz que insistia em brilhar no fim do túnel de escuridão, chamado “Caso Cavendish”.


***
Escórpio chegou sozinho às Masmorras. Estava feliz por Minerva o ter dispensado das aulas do dia. Sua cabeça estava processando os acontecimentos recentes. Era informação demais para um garoto de onze anos. Ele sentia-se exausto. Jogou-se na cama, assim que alcançou o Dormitório Masculino da Sonserina. Fechou os olhos, entregando-se ao cansaço físico. Adormeceu como estava.

Enquanto isso, no Dormitório Masculino da Grifinória, Zac estava agarrado a uma foto. Nela, Ele, Diana e seu pai apontavam para a Torre Eiffel, sorridentes, felizes... Férias na França. Zac achava que tinha os pais perfeitos. Até agora. Seu pai morrera, sem nem ao menos ter um motivo aparente; sua mãe diz que ele não era filho daquele que o criara e seu pai... Era um ex-comensal da morte. Em um piscar de olhos, a vida perfeita de Zac virara um filme de terror.

Jullie ainda fitava Jessie com certa raiva. Estava sentada à mesa da Sonserina, mas não se serviu de nada no almoço. Estava nitidamente aborrecida pelo sorriso cínico estampado no rosto da prima.

- Jullinha... É melhor comer para agüentar o tranco... – A garota loira comentou maldosamente, num sussurro.
- Qual? O de te encher de porrada? – Jullie revidou, com raiva – Eu não preciso, meu ódio por você vai me dar forças...
- Uau! Tio Paul tinha que estar aqui para ouvir isso! Parece até que você se ligou em quem você é!

Jullie explodiu. Só se ligou que sua mão fechada havia atingido brutalmente o nariz arrebitado de Jessie, quando sentiu o sangue da garota esquentar seus dedos, e viu que todos na mesa olhavam para a garota soberba, que agora estava caída, chorando com a mão comprimindo o nariz quebrado.

- Ferrou... – Disse Jullie para si mesma.
- JULLIE ANNE WATSON!

A garota fechou os olhos ao ouvir aquele grito muito conhecido de Paul Wright.

- Meu nariz! - Jessie chorava, desesperada – Eu te pego, Jullie! Você me paga!
- Levem-na para a Ala hospitalar... – Paul ordenou aos monitores da Sonserina que ali estavam – E você... – Virou-se para Jullie com certo brilho nos olhos – Venha comigo, agora!

A essa altura, todos os alunos estava rindo. Parecia que Jullie havia vingado todos com aquele belo gancho de direita em Jessie. A mesa da Grifinória era só alegria, exceto por Claire e Alvo. Ela, balançava a cabeça, incrédula, pensando “como Jullie pôde fazer isso!”; ele pensava “Eu não acredito que Claire está de amizades com aquele...” E sentia um nó na garganta, que lhe dava vontade de chorar.

- Meu! Ela é boa! Aí, marmanjos... Aprendam com a Watson! – Fred ria freneticamente.
- Deveria se dedicar ao boxe, não é, Fredinho? – Lucy cutucou o primo, fraca de tanto rir.
- Bem feito pra aquela engomada, insuportável... – Rosa falou entre os dentes.
- Rosa! Até você! – Claire deixou o queixo cair.
- Ah, fala sério, Claire... – Justin olhou para Rosa, que estava vermelha – Aquela sua cópia do mal mereceu!
- Nada justifica a violência... – A loirinha redargüiu, sabiamente.
- Ah, mas justifica a vingança! – Tiago sorriu maleficamente, vendo Justin levantar a mão para cumprimentá-lo.
- Vocês dois deveriam sentir vergonha! – Claire parecia revoltada – Ao invés de incentivarem isso, deveriam pensar que a violência tirou o pai de Zac! E agora ele está lá, no Salão Comunal, chorando porque o pai dele não vai mais voltar!

Justin e Tiago pararam de rir na mesma hora. Claire conseguia fazê-los sentir dois idiotas.

- Claire... Você tem razão. – Tiago baixou os olhos.
- Nossa, caraca, Tiago... Somos tão maus... – Justin sentiu-se um trasgo.
- Vocês não são maus! – Claire voltou ao seu tom de voz amoroso – Só que... Eu... Ai, me desculpem, eu falei sem querer...
- Não, Claire... Você está certa... – Rosa disse, ainda corada de vergonha.
- Nós não deveríamos pensar assim... – Tiago completou.
- Eu... – Claire ficou sem jeito – Com licença...

A menina levantou-se rapidamente. Saiu da mesa, deixando seu prato quase intacto, praticamente cheio. Alvo, que até agora estava quieto, só observando tudo, não pensou duas vezes e seguiu a garota. Claire corria, Alvo ia atrás, tentando decifrar para onde ela ia. Assim que os cabelos compridos da garota desenharam no ar uma curva à direita, Alvo entendeu que ela estava a caminho dos jardins. “Claro, Claire adora as flores...” Pensou o garoto, ao chegar na entrada dos Jardins. Parou um instante, observando a menina, que se dirigia a um banco. Ele a viu sentar, com a cabeça baixa. Em seguida, levou a mão ao rosto delicado, deixando os cabelos caírem por entre a face, tampando o que Alvo sabia que era um choro de remorso. Claire era tão doce, que até quando estava certa, achava que magoar os outros era um absurdo. Alvo se aproximou dela.

- Claire... – Ele passou a mão pelos cabelos dourados da garota – Não fica assim...
- Alvo... – Claire levantou a cabeça – Eu... Eu não devia ter falado daquele jeito com Tiago e Justin...
- Eles entendem, Claire! – Alvo sorriu, passando a mão pelo rosto de Claire, secando uma lágrima que rolava por sua bochecha - Você só falou a verdade...
- Meu pai fala sempre isso, “nada justifica a violência” – A menina deu um breve suspiro.
- Seu pai está certo... Ele é um grande homem, com certeza.
- É mesmo... – Os olhos azuis da menina, mareados de lágrimas, olharam dentro dos verdes de Alvo – Assim como o seu...
- Claire... – Ele se abaixou, até ficar no mesmo nível dos olhos da menina – Você é a garota mais especial do mundo...
- Ah, pára...
- Não, escuta! – Alvo sorriu – Você é linda... Meiga, doce, gentil, inteligente...
- Pára, Alvo! Eu vou ficar sem graça!
- Acho que todos os elogios do mundo não seriam o bastante para definir você...

Claire sorriu mais abertamente para o menino. Abriu os braços para abraçá-lo, e o apertou contra si. Alvo sentiu uma vontade de chorar de emoção, mas segurou. Era tão perfeito estar ali com ela...

- Eu te amo, Claire... Muito...
- Eu também, Alvinho...
- Mas... Claire...? Eu não...
- O quê?
- Eu não... – Alvo pensou duas vezes no que ia dizer - Err... Não quero te ver chorar...
- Ah, está bem!

“Alvo, que idiota! Que covardia a sua...” Ele pensava, enquanto abraçava Claire. Mais uma vez, ele não conseguira expressar tudo que realmente sentia pela garota. Apesar da pouca idade, Alvo sabia que o que sentia por Claire não era bobagem. “Mamãe contou que amava meu pai desde que o vira...” sempre pensava. Mas Claire... Era meiga demais para entender, talvez.

Jullie seguia Paul como se carregasse uma pesada bolsa nas costas. Estava se preparando para mais um sermão. Já estava começando a acostumar-se com isso. Paul parou na entrada da sala, deixando que ela passasse primeiro. Ela passou, se jogou numa cadeira e abaixou a cabeça. Mas não ouviu Paul por alguns momentos. Então, levantou a cabeça, e segurou um gritinho. Não foi Paul quem vira ali.

- Pai...?
- Olá, queridinha... – Thomas Watson mirava a filha com um sorriso enigmático no rosto.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.