A velha do cais_Capítulo Único

A velha do cais



-Ei gente...Vocês estão vendo aquela velha ali?Eu ouvi falar que ela enlouqueceu...Desde que eu nasci eu vejo ela ali no cais,olhando para água.



-O meu avô me disse que tem cinquenta anos que ela apareceu aqui no cais pela primeira vez,e que ela só veste esse vestido de noiva e sempre traz flores e joga pro mar...



A tal senhora ouviu o que os garotas disseram sobre ela,afinal ainda sabia alguns “truques mágicos”.Então ela se virou para os garotos e gritou:



-Ei...Querem ouvir uma história?



Eles chegaram mais perto de onde ela estava e se sentaram na areia.



-É um conto-de-fadas,tia?



-Talvez seja...É uma história de bruxos...



-E eles são maus,tia?



-Bem...Alguns são...Vocês vão ter de ouvir a história primeiro para descobrir.



Eles assentiram.



-Era uma vez um lugar muito distante,onde morava uma garotinha de cabelos crespos e olhos castanhos.E um belo dia ela recebeu uma cartinha contando que ela era uma bruxinha e a convidando para estudar em uma Escola de Magia e Bruxaria..



-E ela foi para lá?Eles ensinavam como fazer poções com rabos de ratos,patinhas de rã e tudo mais?



-Sim,ela foi para lá...Bem...Eles ensinavam a fazer poções sim...Com tudo isso e muito mais..Bem...Ela tinha dois melhores amigos.Um era muito atrapalhado e brincalhão,este se chamava Ronald..E o outro –sua voz falhou,mas ela continuou – bem,ele era mais sério e era um pouquinho ousado.Este se chamava Harry.Os três juntos acreditavam que poderiam ser invencíveis.Mas tinha um bruxo muito mau,que todo mundo achava que tinha morrido.Mas ele ressurgiu provocando medo e pavor em todo o reino bruxo.



-Por que ele era tão mau?



-Bem...Ele não teve quem o amasse...E por isso não sabia amar..Ele matou muitas pessoas.Mas Harry,Ronald e a nossa protagonista achavam que podiam vencê-lo.

Mas o bruxo era muito forte.Ele tinha feito um feitiço muito poderoso,dividindo sua alma em sete pedaços.Então os nossos três protagonistas acharam,com muito custo,cada uma dessas partes e destruiram-as.Só faltava matá-lo.Mas a nossa pequena princesa era muito apaixonada pelo belo príncipe Harry de armadura reluzente..E eles iriam se casar antes da última missão.Mas horas antes da cerimônia,o príncipe Harry descobriu que o feiticeiro malvado planejava atacar e destruir um grande vilarejo bruxo.Então o nobre príncipe resolveu tomar uma decisão...



Agora,Hermione não mais contava a história.Agora ela ouvia o vento soprar-lhe as palavras que um dia ele lhe dissera.Aquele dia parecia tão perto,mas remotamente impossível de ser alcançado.A cena se desenrolava na mesma água límpida que havia engolida seu amor em sua vastidão...





-Eu preciso ir,Mione...Eu não posso deixar ele matar mais inocentes por minha causa..Ele me quer..E sou eu que ele terá!

Ela apenas o fitou.Queria poder abraçá-lo,segurar em suas vestes e não o deixar partir.Seu véu de noiva esvoaçava na maresia constante.





Ela sentia as mesma lágrimas descendo,e se fundindo ao mar.



Podia sentir novamente a mão dele tocando-lhe o rosto.Aquele toque quente,macia. Ela sentiu as linhas das mãos deles se entrelaçarem com as linhas de suas próprias mãos.E a mão dele foi escorregando e as linhas foram se desfazendo,uma a uma.

-Eu te juro que eu vou voltar,Mione.

-Eu vou sempre te esperar,não importa o tempo que for necessário.Eu vou estar aqui no cais,esperando o mar te trazer de volta para mim.



Ela fechou os olhos e viu uma vez mais o verde faiscante dos olhos dele.Uma lágrima perfeita se formava no canto direito dos olhos.Percorria o rosto perfeito em que ela tantas vezes mergulhou sem pressa de voltar.E agora algo parecia empurra-la para fora dali.E a gota cristalina atingiu finalmente a boca,em que ela afogara tantos medos e que agora pedia-lhe tamanho sacrifício.



Ela tocou as areias,procurando com urgência as pegadas dele,as marcas de que um dia ele estivera lá.Mas elas tinham desaparecido.



Ela viu a imagem dele se distanciando,entrando em um barquinho no cais.Ele preferiu não aparatar,pois o ministério controlava todos que aparatavam e desaparatavam,e Voldemort dominava o ministério.Então ele foi se distanciando num barquinho até a outra margem,onde lutou firmemente.



Ver o barquinho se ir,se rendendo aos caprichos do mar, aumentava ainda mais sua agonia.Abriu os braços na imensidão do cais,mas não alcançaria o barquinho.



Ela se mudou pro cais,dormia sobre as estrelas que ela conheceu com ele e acordava sob o sol que enxugara as lágrimas que derramara sem ele.



Até que recebeu a noticia:



“Batalha Final

A última batalha foi travada no amanhecer.Aquele-que-não-deve-ser-nomeado escondia um última horcrux,que era justamente a cicatriz do menino prodígio.Harry Potter sacrificou sua vida,matando também o Lorde das Trevas.A guerra no mundo bruxo acabou.Os aurores já prenderam todos os comensais.

Aguardem mais notícias no Porfeta Diário de amanhã.”









Ela sequer chorou ao ler a noticia.Ele jurou que voltaria.O mar o traria de volta e nada no mundo faria com que ela se esquecesse disso.



Milhares de luas se passaram e ela ficou ali.Milhares de sóis vieram e ela permaneceu ali.Estava enraizada no cais,e ele estava engolido mar adentro.Mas voltaria.



Durante as noites intermináveis ela o tinha de novo,vestido em sua armadura reluzente a protegendo.Ela estava de novo em seus braços.E não queria acordar.Nunca.



As promessas que ele fez...Eram músicas em seus ouvidos.E ela as cantava no cais.Uma velha que cantava músicas sobre liberdade,felicidade e grassas meias de lãs nos pés.Sim,esse era seu pequeno desejo interno.Ele voltaria e eles envelheceriam juntos,calçando grossas meias de lãs,no cais.



Ela usava o mesmo vestido.Seu vestido de casamento que era para ele não se enganar quando voltasse.

O vestido já não era tão bonito,estava encardido e rasgado.Mas tinha partes dele e ela sentia o cheiro dele,mais em suas lembranças do que no vestido propriamente dito.



Tinha um olhar triste,mas sempre alerto,esperando o barquinho apontar.As lágrimas lhe lavavam os olhos a cada vez que se decepcionava vendo pescadores,e não o seu cavaleiro de armadura reluzente descer dos barcos azul e branco.



Ela vivia uma ilusão,olhando o álbum de fotos.Uma foto dela e dele em Hogwarts.Sem tantas preocupações,sem medos...Acariciava o rosto dele no papel duro buscando as feições dele.Se desesperava por qualquer migalha dele.Um velho sapato que deixara,os óculos antigos,fotografias de jornais.Se agarrava às paredes em que ele havia tocado pedindo à madeira podre um pouco do sabor dele.Se enfiava mar adentro implorando pelo perfume que ele deixara nas águas.



O tempo passava com a pressa de um menino.E ela tentava segura-lo nas mãos querendo os tempos passados em tinha a atenção dele,seus braços nos seus,sua boca desesperada prensada à dele.



Já que não detinha o tempo,enchia os olhos com os amanheceres saudosos do cais,tentando buscar um vestígio qualquer dele.Então se apaixonou pelo mar,porque se ele o havia engolido,ele estaria para sempre naquelas águas calmas e azuis.E se banhava para tê-lo dentro de si,já que não poderia tê-lo junto de si.



Seu corpo se enraizou no cais,nas lembranças que ficaram com ela.Já não poderia sair dali,havia se tornado essencialmente o porto que o esperava e aquilo bastava.



Sentiu os cabelos branquearem,o corpo fadigar,a mente procurar um descanso.Desejava internamente acabar com tudo aquilo,com toda aquela ilusão.Mas não podia,o tempo só conseguiria embranquecer seus cabelos e enrugar sua pele, o amor a manteria jovem para sempre.Eternamente jovem.O paraíso poderia esperar por ela,ela estava apenas olhando o mar.

Ela não tinha o poder de trazê-lo de volta,mas nunca deixaria de o esperar.

Sentada na praia ela pensava que quando essa maldita guerra acabasse ele voltaria para os seus braços.E o sol derreteria seus corpos nus em um cais deserto.E ela se lembrava da voz dele lhe dizendo:

-A vida é uma aventura e nós vamos vive-la,seguiremos os acordes da musica que estiver tocando,não pararemos,talvez não ganharemos sempre,mas lutaremos,faremos planos para o futuro mesmo que ele não venha,e deixaremos que nossos sonhos virem realidade...



O vento lhe soprava delicadamente as palavras dele,as conchas lhe revelavam a voz dele,o balanço do mar lhe contava os segredos de seu amor..Mas nenhum deles o traria de volta.



Uma vez tentaram a levar para o manicômio porque ela havia roubado papeis e tintas para escrever uma carta para o seu cavaleiro reluzente.Mas ninguém a arrancou do lado do mar.Ela tinha que ficar lá para esperar a resposta de sua carta que o mar traria para ela.



E ela ficou sozinha no esquecimento.Virou lenda,“a louca do cais”.Contavam histórias sobre ela.Mas nada disso importava...Não poderiam reescrever o final de sua história e criar um “felizes para sempre”.Nada mudaria o fato de que ela estava sozinha com seu próprio espírito. Sozinha,entre o céu e o mar.Sozinha no cais.



As crianças olharam para ela assustados.Subitamente ela havia parado de contar a historia e apenas olhava o mar.



-Qual foi a decisão que ele tomou?Eles viveram felizes para sempre?



-Como eu posso saber?!As pessoas se preocupam tanto em guerrear que se esquecem das historias de amor.Talvez eles tenham se casado e tido um monte de filhos...Talvez não...Mas uma coisa é certa:Mesmo que ele tenha ido embora,ele jamais sairia do coração dela.É como um velho amigo me disse:As pessoas que mais amamos nunca nos deixam realmente,estão sempre em nossos corações...Ou algo parecido... –era a primeira vez em 50 anos que ela tinha lucidez do que falava.



-Mas...Quem se importa?Vamos nadar? –ela correu para junto do mar e mergulhou.



Mergulhou,e quando abriu os olhos debaixo da água soube que ele sempre estivera ali,ela só não estava preparada para reencontra-lo.Mas agora estava.



Depois de um tempo o corpo da velha emergiu.Ela havia morrido.Mas sorria,serenamente.Como se finalmente tivesse encontrado aquilo que lhe faltava.





***Eii queridos leitoress

espero q tenham gostado...

a fic é baseada em uma música do Maná chamada en el Muelle de San Blás...

então..agradecimentos ao Maná...



beijos beijos



e....comentem!

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