Capítulo único



Capítulo Único

Lá estava eu, Lily Evans, monitora-chefe e no 7º ano da Grifinória, caminhando tranquilamente pelos corredores do quinto andar, carregando meus livros e minha lição recentemente feita de Poções, indo da Sala dos Monitores para o Salão Comunal, quando tudo aconteceu. Quer dizer, eu senti aquele frio passando pelas minhas costas e jurei que alguém me seguia, mas quando eu virei para trás, não vi ninguém. Eu estou ficando louca ou o quê?
Passei pela estátua de uma armadura de latão, terrivelmente enferrujada, que mantinha um dos braços erguidos sem ao menos ter alguma arma em sua mão. Aquela armadura idiota que eu nunca entendi porque ainda continuava ali. Então eu me lembrei, com um frio na barriga, onde exatamente eu estava. Mas aí, já era tarde demais.
Senti meu braço sendo puxado com força e logo quando eu ia me esborrachar na parede, fechei os olhos em pânico. Me senti uma idiota completa quando meu corpo se lembrou que ali havia uma maldita passagem secreta, uma das inúmeras do castelo que eu havia descoberto em situações bem parecidas com aquela. E meu estômago deu um pulo desconfortável quando o meu cérebro lento lembrou-se quem sempre era o culpado desses sustos constantes.
Quando meus olhos voltaram a responder meu pedido desesperado para se abrirem “maldito cérebro lento!” me vi encarando aqueles olhos de avelã atrás de um óculos de aros redondos, brilhando e combinando com o sorriso sarcástico que brotava nos lábios de James Potter. Aquele maroto idiota que me roubava beijos sempre que podia. Bom, eu devo acrescentar, com um certo desgosto, que hoje não seria muito diferente.
Ele capturou meus lábios com pressa e passou os braços em volta do meu corpo, me abraçando de uma forma quase carinhosa. Meu cérebro idiota não conseguiu formular nenhuma reação no início, mas eu sabia que depois de alguns segundos eu reuniria forças suficientes para me soltar do seu abraço e meter-lhe um tapa bem dado na cara. Mas minhas pernas, no momento, estavam meio bambas e eu não sei se conseguiria parar em pé se me soltasse do Potter.
O arrogante, percebendo que eu não correspondia aos seus agarros, afastou sua boca alguns milímetros, o suficiente para poder me olhar nos olhos. Eu, que ainda estava com as minhas vistas em sua boca, que não tinha mais aquele sorriso prepotente, demorei um pouco para encará-lo. Ele me olhou, com uma intensidade que fez com que eu me arrepiasse, e voltou a colar seus lábios nos meus, mas dessa vez ele não parecia ter pressa. Ele brincava passando seus lábios sobre os meus, lentamente, fazendo com que meu coração quase saltasse pela minha boca. E no momento seguinte eu percebi, desesperada, que estava correspondendo ao beijo.

“Cérebro maldito! Você está enviando as mensagens erradas para o meu corpo! Me faça parar! Me faça parar AGORA!”

Merlin com certeza não gosta de mim. Ou isso, ou meu cérebro realmente resolveu se rebelar porque, a próxima coisa que tive consciência foi que eu estava entreabrindo minha boca e deixando a língua do Potter entrar.

A língua.
Do POTTER.
Dentro da minha boca.

E não foi só isso. Eu tinha a ligeira impressão que eu agora estava agarrada ao seu pescoço, com uma das minhas mãos bagunçando seus cabelos já excessivamente desgrenhados. Oh céus, eu estou perdida!
Tá, eu sou obrigada a admitir que o Potter beija bem. Quer dizer, meu coração está a mais de mil por hora e parece que minhas pernas são feitas de gelatina. E todos esses arrepios indo e vindo... e não é como se fosse a primeira vez que eu retribuía. Algumas vezes eu pareço simplesmente fora de mim e acabo o beijando de volta. Não que eu me orgulhe disso. Na verdade, quando acontece, junto toda a frustração e a culpa que sinto na cara dele, batendo mais forte. Mas nada, nem mesmo o rosto vermelho e dolorido, tira o sorriso vitorioso do idiota quando isso acontece. Como eu odeio aquele sorriso vitorioso!
O sorriso acabou sendo minha salvação. Lembrar de como o arrogante sorri malicioso depois de algum deslize meu me deu forças para empurrar seu peito com força e me desvencilhar de seu abraço. Cambaleei para trás, saindo da passagem para o corredor, ainda ofegante e, devo acrescentar, sentindo meu rosto arder. Nem preciso olhar meu reflexo para saber que estou tão vermelha quando meus cabelos. Potter idiota dono desse beijo maldito!
Maldito e idiota são as palavras que definem minha vida ultimamente.
Ainda sem fôlego, vi o idiota (mas ele É idiota!) saindo da passagem com aquele sorriso irritante. (Viu? Nem falei maldito!) Revirei os olhos irritada e lancei o pior olhar na direção dele.

- Sabe Evans, olhar não mata. – disse o idi... Potter, passando as mãos nos cabelos e alargando o sorriso, porque eu devo ter ficado mais vermelha ainda. De RAIVA!
- Quem sabe eu não consigo dessa vez? – retruquei seca. – Muitos bruxos conseguem fazer magia sem varinha, Potter.

Ele só riu mais. Merlin! Como pode um ser conseguir mostrar tantos dentes de uma vez só?! Me lembrei que ainda não tinha lhe dado o merecido tapa. Levei a minha mão em sua direção, com força, mas ele parecia estar preparado. Ele segurou o meu braço.

- Nada de tapas hoje ruivinha. – ele deu um sorrisinho de lado. Céus! Ele só saber sorrir por acaso? Eu tentei puxar meu braço de volta, mas ele é bem mais forte que eu. Bufei com raiva e ele voltou pro sorriso vitorioso inicial. Eu te odeio Potter!
- Será que dá pra me largar, Potter? – falei olhando para o id... maroto, com uma expressão sarcástica. – Ou nós vamos ficar aqui até que o Filch nos pegue?

O sorriso diminuiu um pouco. Iupi!!! Ele soltou meu braço ainda com aquele ar arrogante e eu voltei para meu olhar mortífero. Ainda tinha minha frustração de ter correspondido ao beijo dentro de mim.

- O que seu minúsculo cérebro acha que vai conseguir, hein, Potter? – já que eu não podia lhe dar um tapa, descontaria tudo com palavras. É sempre uma boa segunda opção. – Roubando beijos pelos cantos... é só isso que eu posso esperar de um arrogante como você! Provavelmente seu ego infinito e imaturo acha que eu vou acabar cedendo ao seu “charme irresistível”? Cresça Potter! – Tudo bem, eu sei que acabei cedendo algumas vezes. Mas isso não é algo que se admita em voz alta para alguém com o ego daquele tamanho. Ele já é insuportável sem essa informação, muito obrigada.
- Cresça? – umn, ele parece meio... irritado agora. Na verdade, está mais para incrédulo. O sorriso desapareceu totalmente. (Ponto pra mim!) – VOCÊ está me dizendo para crescer Evans?! – Agora ele parece realmente irritado. – Não sou EU o arrogante que pensa que está acima de tudo! Não sou eu que não consegue admitir um erro! Quem é o imaturo aqui?!

Ops. O Potter está MUITO irritado. Acho que nunca o vi assim. Devo estar com uma cara assustada, sabe, com a boca meio aberta, os olhos meio esbugalhados e tudo mais. O irritadinho está me chamando de imatura! Que diabos ele quer dizer com admitir um erro? Senti meu rosto ferver. Meio raiva e meio constrangimento. ELE ME CHAMOU DE IMATURA!

- QUEM É VOCÊ...

Não cheguei a terminar a frase. Minhas palavras gritadas se transformaram em um gritinho de susto quando vi uma luz vermelha passando entre nossos rostos lívidos, que estavam meio próximos pela discussão. Olhei para o fim do corredor e vi Avery, com uma expressão triunfante, sua varinha estendida em nossa direção. E ao lado dele estava Snape, que parecia ter engolido uma poção particularmente desagradável.
Potter reagiu bem rápido. No momento seguinte, percebi que ele já estava com a sua varinha apontada de volta para os Sonserinos. Ele parecia estar, se possível, com mais raiva do que estava quando brigávamos. Ele jogou um feitiço sem dizer nenhuma palavra em Avery, que foi rápido o suficiente com um feitiço de proteção. Eu deveria saber que as inúmeras peças que Potter havia pregado acabaram o deixando muito bom em duelos.
Meu cérebro, lento como sempre, começou a mandar sinais de aviso. Eu deveria pegar minha varinha. Quando coloquei a mão em minhas vestes, vi que era tarde demais. As varinhas de Snape e Avery estavam apontadas para Potter e para mim, respectivamente. Eu podia ver os feitiços vindo em nossa direção, como em câmera lenta. Agora sim eu estou perdida.
Não tive tempo de pensar em mais nada. O feitiço de Avery chegava a mim com toda velocidade. Vi Potter apontando a varinha para mim e gritando alguma coisa, meio desesperado, mas não consegui prestar atenção no que ele dizia. Eu seria enfeitiçada por aquele projeto de Comensal da Morte. Eu não estava perdida, eu estava morta!
Por fim, entendi o que o Potter havia gritado. O feitiço de Avery pareceu rebater em um campo invisível que estava um pouco à frente de mim. Potter usou um feitiço Escudo. Em mim. E eu nem sabia que esse feitiço de proteção existia!
Mas o feitiço de Avery rebateu com força naquele campo e desviou seu trajeto. Olhei assustada para o maroto ao meu lado, e vi que o feitiço foi direto em sua direção. Ele não teve tempo para mais nada. O feitiço de Avery o acertou em cheio, assim como o feitiço que Snape tinha lançado.
Potter idiota com essa maldita mania de herói!
Foi tudo o que eu consegui pensar, enquanto via os sonserinos indo embora e assistia Potter cair no chão, desacordado.

***

Acordei sentindo dores em meu corpo, mas não tive vontade de abrir os olhos. Acho que sonhei com o Potter. Merlin! Até em sonhos ele está me perseguindo agora. Eu estava deitada em uma posição certamente estranha. E senti algo se mexer perto de minha mão direita. Abri os olhos e me endireitei na cadeira, quando eu vi onde eu estava: Ala Hospitalar.
Eu percebi que havia dormido sentada em uma cadeira ao lado da cama em que Potter estava, apoiando minha cabeça e meus braços sobre o colchão. Minha mão direita ainda estava sobre a cama, onde estivera durante a noite, eu presumo. Vi, com um certo pânico, que ela estava perigosamente perto de uma das mãos de Potter. “Merlin, eu dormi segurando a mão do POTTER?”. Aquele pensamento confuso me fez olhar para o maroto, que ainda estava dormindo.
Sua mão, que estava perto da minha, mexeu-se novamente e pude ver que ele abria os olhos, não parecendo saber onde estava. Tirei a minha mão daquele lugar comprometedor e vi o maroto levantar seu tronco um pouco, esfregando os olhos e tateando o criado mudo ao meu lado, provavelmente à procura de seus óculos. Pelo jeito ele não enxerga nada sem eles. Peguei os óculos e coloquei em sua mão esticada. Ele pareceu surpreso por um momento, e colocou os óculos em seu rosto, me olhando com uma expressão meio estranha. M. Promfey apareceu na hora com um olhar preocupado sobre o maroto.

- Está se sentindo bem? – ela perguntou. Potter ainda estava me encarando de um jeito estranho e eu sabia que estava corada. – Você sofreu um feitiço bem forte ontem, sabia? Eu não sei o que seria se sua namorada não te trouxesse correndo pra Ala Hospitalar.

Sua namorada?
De onde ela tirou essa história?
Potter olhou para ela, e voltou a olhar para mim, com a mesma expressão estranha em seu rosto. M. Promfey pareceu mais preocupada.

- Você pode me dizer seu nome? – M. Promfey perguntou, encarando Potter como se ele estivesse realmente mal. Será que ele está sem memória?
- James Potter. – Potter respondeu, com uma voz meio rouca, e parecendo inseguro. M. Promfey pareceu mais aliviada.
- Você se lembra do que aconteceu ontem, Sr. Potter? – M. Promfey perguntou novamente, com uma voz quase maternal. O maroto negou com a cabeça.
- Snape e Avery te enfeitiçaram. – eu disse, com uma voz meio doce demais. Potter fez uma careta ao ouvir os nomes dos sonserinos e eu senti um alívio enorme. Pelo menos ele se lembrava quem eram os idiotas! Mas meu alívio foi embora quando eu percebi a expressão confusa que ele fazia enquanto olhava para mim.
- Então... – Potter começou me encarando, enquanto M. Promfey saía, dizendo que buscaria algum remédio. - ...você é mesmo minha namorada?

Eu olhei incrédula para ele, sem saber o que dizer. Achei por um momento que ele estivesse tentando me pregar uma peça, e quase gritei a plenos pulmões uma resposta mal educada. Mas ele me olhava com uma curiosidade muito sincera. Ele perdeu mesmo a memória! Quando abri a boca para responder (sem ainda saber o que dizer), as portas da Ala Hospitalar se escancararam e vi quatro grifinórios praticamente correndo até a cama, falando todos ao mesmo tempo: os marotos Remo, Sirius e Peter e ainda Lene. Potter abriu um sorriso enorme ao ver os amigos ali.

- Você está bem, Pontas? – perguntou Sirius, que foi o primeiro a chegar.
- Eu estou bem, Almofadinhas... – Potter respondeu.
- O que aconteceu ontem? – Lene perguntou, olhando para Potter e para mim ao mesmo tempo. Ele passou a mão pelos cabelos, tentando puxar alguma coisa de sua memória, mas acabou dando de ombros.
- Prof. McGonagall só nos contou hoje de manhã que você estava na Ala Hospitalar, cara. – disse Remo, com um rosto preocupado.
- Mas ela não disse o que aconteceu. – finalizou Pedro, chegando ofegante, por último. Potter olhou para mim, por um momento.
- Talvez ela saiba dizer. – disse voltando para os marotos e Lene. – M. Promfey me disse que foi ela que me trouxe pra cá.

Todos olharam para mim, mas eu ainda olhava para Potter, incrédula. Que história era essa de “ELA”? Ele não se lembrava da noite passada, mas claramente se lembrava de Sirius e de todos os amigos. E até mesmo de Snape e Avery! Porque diabos ele ainda agia como se não me conhecesse? Bufei irritada.

- Snape e Avery nos atacaram. – disse sem desviar os olhos de Potter, ainda desconcertada pela situação. – O feitiço que Avery jogou em mim rebateu em uma proteção e Potter recebeu as duas azarações ao mesmo tempo. – Potter ainda olhava para mim com um olhar vazio. Perdi a paciência. – Será que dá pra dizer meu nome?

Potter continuou com aquele olhar vazio. Bufei outra vez e levantei da cadeira, começando a andar em círculos no meio da Ala Hospitalar, um pouco afastada de onde todas estavam. Escutei Potter murmurar sem graça “quem é ela?” para os quatro amigos.

- Cara, é a Lily! – Sirius, respondeu descrente.
- Você não se lembra da Lily? – ouvi Remo perguntar, com um tom preocupado.
- Ela não é minha namorada? – perguntou Potter incerto. Parei de chofre e o encarei, mais irritada. O IDIOTA NÃO SE LEMBRA DE MIM!
- Em seus sonhos! – respondi rude e saí rumo aos corredores.

Ótimo!
Era o que me faltava!
Os sonserinos acabaram com os miolos já não muito certos do Potter.
Ele não sabe meu nome!
Bom, agora sabe, já que o Sirius falou.
Ele se lembra de todo mundo!
Senti uma mão puxando meu braço. Eu já estava na metade do caminho para o Salão Comunal. Olhei feio para trás. Era Lene.

- Lils... devem ser os feitiços. – ela começou em um tom doce.
- O que tem os feitiços? – respondi meio seca, voltando a andar. Lene ficou andando ao meu lado.
- Você sabe. Deve ser por causa dos feitiços que James não se lembra de você. – ela me olhava de esguelha e ainda falava com aquela voz doce.
- E quem disse que eu me importo? – respondi em um tom meio alto. Bufei irritada. - Na verdade, aqueles idiotas me fizeram um grande favor! Me lembre de agradecê-los quando formos para o Salão Principal! – terminei ainda com aquele tom meio alto e entrei pelo quadro da Mulher Gorda, deixando Lene para trás.

Era isso.
Aquilo era ma coisa boa.
Agora o arrogante não ia mais me encher o saco. Me seguir para todos os lados. Me convidar para sair vinte vezes por dia!
Eu estava livre!
Dei uma topada na perna da minha cama. Praguejei alto. Me joguei sem cerimônias sobre o colchão e enfiei minha cara no travesseiro. Não queria pensar mais sobre essa história.

***

- Lils? – escutei uma voz chamando meu nome baixo e me remexi sobre meu colchão. A luz do sol bateu forte em meus olhos e eu me sentei tentando ver alguma coisa. Era Lene. Ela me olhou por um momento, ainda na porta do nosso dormitório e depois continuou. – A Prof. McGonagall quer falar com você.

Eu acenei com a cabeça e ela fechou a porta do quarto, incerta e ficou escorada lá, me observando. Esfreguei meus olhos tentando entender o comportamento estranho de minha melhor amiga, quando me lembrei da cena depois da Ala Hospitalar naquela manhã. Eu tinha jogado toda a minha fúria em Lene, mesmo que ela não tivesse culpa. Pus uma mecha de cabelo teimosa atrás da minha orelha, nervosa e um pouco envergonhada.

- Quanto tempo eu dormi? – perguntei com uma voz de quem queria pedir desculpas, mas era orgulhosa demais para isso. Sempre funciona.
- Não muito. – Lene respondeu, com uma cara aliviada. – Estamos na hora do almoço. – ela sentou-se na beirada de sua cama enquanto eu tentava ajeitar meu uniforme. – Fiz as anotações dos dois tempos de Poções pra você.

Eu abri um grande sorriso. Lene ODEIA poções. Ela só consegue passar de ano porque vive pegando minhas anotações emprestadas e eu ajudo com todas as tarefas. E porque o Prof. Slugorn sabe que ela é minha melhor amiga, também. Ela fez um grande sacrifício por mim, copiando tudo ao invés de trocar bilhetinhos com Sirius. Que aliás, não sei como acabou se tornando seu namorado. Saímos do dormitório e Lene me acompanhou até a porta da sala da Prof. McGonagall. Não conversamos muito. Eu ainda estava tentando ignorar toda a história “Potter não se lembra de mim”. Nos despedimos e ela disse que me esperaria na mesa da Grifinória para almoçar.
Quando ouvi a voz severa da Prof. McGonagall e entrei, me senti pouco à vontade com a cena que vi. Potter estava lá, comendo cookies e tomando chá, sentado confortavelmente de frente à mesa da Prof., parecendo perfeitamente saudável e descontraído. Ela me pediu para me sentar e conjurou uma xícara de chá para mim também. Evitei olhar para Potter ao meu lado, mas podia sentir que ele me encarava com uma expressão de interesse.

- Bom, Srta. Evans, te chamei aqui para que possa me contar o que exatamente aconteceu ontem. – ela começou, com seu tom eficiente. – Porque o Sr. Potter aqui não parece se lembrar. – ela apontou para o maroto e eu o mirei por um segundo. Ele bebericava sua xícara de chá parecendo bastante interessado no que eu diria.
- Como eu disse para M. Promfey ontem à noite... – comecei sentindo meu rosto esquentar. Eu sentia os olhares fixos de Potter em mim, mesmo olhando para a Prof. – ...nós estávamos em um corredor do quinto andar, quando Avery e Snape apareceram. – Dei uma olhada de relance em Potter antes de continuar. – Potter lançou um feitiço Escudo em mim e o feitiço de Avery rebateu e o acertou, assim como o de Snape.
- E o que vocês estavam fazendo antes dos sonserinos chegarem? – Prof. McGonagall perguntou. Eu senti meus olhos arregalarem em surpresa pela pergunta. Aquilo seria uma repreensão por estarmos tão tarde nos corredores do castelo? Oras, eu sou monitora-chefe, posso muito bem andar por aí de noite!
- B-bom... nós... – comecei sem graça, sentindo minhas bochechas ardendo. A cena do beijo do Potter invadiu meus pensamentos e eu fiquei confusa sobre contar ou não sobre essa parte. Sacudi esses pensamentos da minha cabeça. – ...nós estávamos brigando. – admiti ainda sem graça. Bom, todos os professores de Hogwarts já assistiram pelo menos a uma briga entre mim e Potter. McGonagall assentiu com a cabeça, mas não parecia me censurar.
- Estava agora mesmo conversando com Sr. Potter sobre um episódio que aconteceu no início desse ano letivo. – ela continuou falando como se minha informação não fosse além do que ela esperava. – Um episódio que o rendeu uma detenção no primeiro dia de aula, durante a Seleção dos novos alunos. Você se lembra Srta. Evans?

Senti meu rosto esquentar de novo. Maldição! Como eu poderia esquecer aquele maldito dia da Seleção? O idiota do Potter teve a idéia brilhante de azarar Snape durante a Seleção para que ele dançasse e cantasse uma canção trouxa para mim, em cima da mesa da Sonserina. O salão explodiu em risadas, enquanto Snape declarava que eu deveria finalmente me entregar ao amor da minha vida: James Potter. Típico! Assenti para a Prof., sabendo que se eu abrisse a boca, acabaria brigando com o Potter sobre aquilo. De novo.

- O Sr. Potter se lembra de ter azarado o Sr. Snape, e também se lembra de como ele cantou e dançou... – se eu não conhecesse a Prof. McGonagall, diria que ela parecia orgulhosa do feito de Potter. Quer dizer, foi uma azaração bem complicada, mas convenhamos! Foi IDIOTA! - ...mas ele não se lembra de ter dedicado o seu feito a ninguém. – Ela fez uma pausa, olhando para mim por um tempo. – De alguma forma a memória do Sr. Potter foi alterada pelos feitiços que recebeu e ele obviamente não se lembra de você ter estado nelas, Srta. Evans. – Há! Grande novidade! Eu já percebi isso hoje de manhã professora, muito obrigada! – Talvez seja porque você era a pessoa que estava com ele na hora, mas isso realmente não importa. Achamos que é um bloqueio temporário.
- Ah... – foi tudo o que eu consegui expressar. Temporário? Por quanto tempo? Eu não sabia se a notícia me deixou aliviada ou desapontada. Fiquei olhando para os meus sapatos, me sentindo confusa.
- Talvez com a convivência o Sr. Potter acabará desbloqueando suas memórias. Ou talvez o tempo resolva. – Prof. McGonagall levantou-se e começou e nos levar até a porta. O assunto estava encerrado, pelo jeito. Potter e eu saímos, mas eu ainda olhava para ela esperando uma solução. – Tentem passar um pouco de tempo juntos. Agora vão almoçar e espero os dois na aula de Transfiguração dessa tarde.

Ela fechou a porta. Devo ter ficado um bom tempo olhando para a madeira escura, sem acreditar. “Tentem passar um tempo juntos?” Era isso tudo o que ela podia dizer? Era só o que me faltava!
Notei que Potter me olhava com um ar divertido. Ótimo! Ele deve achar que eu sou algum tipo de louca varrida. Me senti subitamente irritada. Comecei a andar em direção ao Salão Principal e ele me seguiu.

- Você ouviu a Prof., namorada. – disse ele com um riso de lado. – Temos que passar um tempo juntos!
- Eu. Não. Sou. Sua. Namorada. – disse entre dentes. Não queria gritar. Uma idéia genial passou por minha cabeça. – E desde quando você escuta o que sua Madrinha te fala, Potter? – falei com sarcasmo.

Ele parou de andar abruptamente. Sorri abertamente. Ele estava branco como um papel. Eu sabia que esse era um “segredinho” de Potter.

- Co-como você sabe? – perguntou o paspalho, passando a mão pelo cabelo. Girei os olhos sem perceber. Que mania irritante! Mas sorri vitoriosa logo em seguida.
- Você me contou, ano passado. – respondi com uma voz falsamente doce. – Não se lembra?!

Potter fez uma careta engraçada, parecendo se esforçar para lembrar. Dei uma risada tranqüila. No Natal do ano passado ele tinha me procurado, irritado e frustrado por eu não ter aceito o presente que ele havia me enviado. Acabamos entrando em uma discussão sobre eu não ter confiança em nada que vem dele (o que AINDA é uma verdade) e ele me disse que me contaria um segredo dele, que ninguém mais sabia, para provar que eu estava errada. Então ele me contou que a Prof. McGonagall é na verdade sua madrinha e, pasmem, Prof. Dumbledore seu padrinho. Ele me disse que nem o Sirius, que mora com ele desde o final do quarto ano, sabia disso.
Eu fiquei realmente surpresa com o que ele me contara e, em troca, ele pediu que eu aceitasse o seu presente. Era apenas uma caixa de chocolates da Dedosdemel e eu acabei aceitando. Lene adorou, de qualquer jeito, comer metade do meu presente. Eu não sabia que Potter ainda não tinha contado isso pra ninguém. Mas é claro que Dumbledore e McGonagall não queiram que os outros alunos saibam. Fica parecendo que ele é privilegiado, de alguma forma. Não que ele já não o seja, com toda a popularidade de ser o capitão e apanhador do time de quadribol da Grifinória.
Entramos no Salão Principal e eu vi Lene, sentada ao lado de Sirius. Como eles acabaram namorando mesmo? Contrariada, fui até lá e me sentei ao lado dela, sorrindo discretamente para Remo, que estava em minha frente e ao lado de Peter. Potter se sentou do outro lado de Sirius, resolvendo me deixar em paz.

***

Eu consegui fazer Lene se soltar um pouco de Sirius depois do almoço. Nós duas andávamos até onde teríamos o primeiro tempo de Transfiguração, e os Marotos estavam afastados alguns metros atrás. Eu ainda não entendo como minha melhor amiga está com o cara considerado o mais galinha de Hogwarts. Ele só compete com o Potter, de qualquer jeito. Acho que devo ter soltado isso em voz alta, porque Lene soltou uma risada divertida.

- Sirius sabe muito bem o que vai acontecer se ele colocar as asinhas de fora enquanto estivermos juntos... – ela comentou tranqüila. Como ela consegue ter tanta segurança? – Eu acabaria com a próxima geração de Blacks. – eu acabei rindo imaginando toda a cena.
- Você não faria isso comigo, querida! – escutamos a voz exaltada de Sirius, que mesmo estando muito atrás de nós, parecia ter ouvido a conversa. Rimos da atitude infantil do maroto e observei os quatro lá atrás, aos cochichos. Potter parecia evitar olhar para mim. Reprimi um sorriso vitorioso.
- Então, o que McGonagall disse? – Lene perguntou em tom de conversa. Sabia que ela estava louca para saber de tudo, sem precisar olhar para ela. Eu refleti por uns minutos, ponderando o que eu diria.
- Ela disse que é temporário... – eu comentei, com um pouco de descaso. - ...o bloqueio da memória do Potter. Eu sabia que Avery era um completo incompetente! – completei revirando os olhos e Lene riu alto. Entramos pela sala e já íamos nos sentar em nossa mesa de costume, juntas, quando Prof. McGonagall nos interrompeu.
- Srta. McKimmon, você se importaria de fazer dupla com o Sr. Black hoje? – Lene ergueu as sobrancelhas antes de murmurar uma resposta que não se importava. Ela me lançou um olhar significativo antes de sentar-se na mesa ao lado com Sirius e eu evitei soltar um bufo mal humorado, quando Potter se sentou ao meu lado. Não olhei diretamente para ele, pegando meus materiais em minha mochila, mas ele parecia estar meio intrigado e se divertindo com a situação.
- Ela quer mesmo que passemos um tempo juntos, não é namorada? – ele comentou com uma voz risonha, enquanto pegava seus próprios materiais. Senti meu rosto esquentar. O idiota não mudava.
- Pare de me chamar assim Potter. – respondi com um tom baixo, mas irritado. Ele levantou as mãos, gesticulando como se dissesse “não se fala mais nisso” e eu voltei a minha atenção para a professora.

Transfiguração não é uma matéria muito fácil pra mim. Quer dizer, eu tirei “Excede todas as expectativas” na matéria em meu N.O.M., mas foi à custa de muitas horas estudando e praticando na Biblioteca. Eu preciso me sair bem nessa matéria no N.I.E.M. no fim deste ano, para poder entrar no treinamento para curandeira do St. Mungus. Ela e, lógico, DCAT, são as únicas matérias que realmente me preocupam. Bom, vocês viram como meu cérebro é devagar em Duelos ontem de noite.
Mas Potter se dá muito bem nessas duas matérias. DCAT porque, lógico, ele e Sirius praticam mais feitiços e azarações que todos os outros alunos juntos. Ele parece se sentir perfeitamente bem sobre pressão, desde que possa usar sua varinha. Eu tenho suspeitas que seu desempenho em Transfiguração tenha a ver com o fato que a professora é, bem, sua madrinha, mas eu não acho que a Prof. McGonagall faria isso. Ela é do tipo bem justa. Ao contrário do Prof. Slugorn, que não vê problemas em paparicar alguns alunos da sala. Eu sou um desses alunos, mas isso não me deixa muito à vontade. Aliás, Potter e Poções simplesmente não combinam. Ele parece não conseguir ficar parado tempo suficiente para cortar os ingredientes.
Me assustei ao perceber que estava divagando durante a aula pensando no Potter. Olhei para o meu lado e ele estava lá, copiando distraído o que estava escrito no quadro. Ele quase nunca copiava a matéria. Talvez McGonagall exigisse mais dele, como madrinha.
Sacudi minha cabeça. Estava divagando sobre Potter de novo!
Olhei para meu caderno trouxa, pronta para voltar a fazer anotações, quando vi um pedaço de pergaminho com uma letra inclinada e fina. Era a letra do Potter.

“Existem outros segredos entre nós que eu deva saber?”

Reprimi um bufo. Ele estava obviamente tentando me provocar. Pelo menos ele não me chamou de namorada. Apesar de estar insinuando. Rabisquei uma resposta de volta.

“Você tem uma capa da invisibilidade e tinha um mapa do castelo, que Filch confiscou há algumas semanas. E isso é TUDO o que eu sei.”

Não sei o que deu em mim para responder só a verdade. Nem o reprimi pela provocação, apesar de estar irritada. Omiti a parte sobre eu saber quase todas as passagens secretas do castelo porque ele vivia me puxando para dentro delas. Isso poderia gerar perguntas que eu prefiro não responder. Talvez eu esteja com um pouco de pena pela sua falta de memória. Talvez.
Potter não me incomodou mais o resto da aula. Eu o vi lançar alguns bilhetes para Sirius, mas tentei me desligar do maroto ao meu lado. Precisava me concentrar em Transfiguração. Com uma certa dificuldade, consegui fazer o feitiço que McGonagall pediu. Potter conseguiu antes de mim, provando que minha teoria de ser privilegiado pela madrinha era realmente uma furada.
Com o fim da aula, comecei a guardar meus materiais, ainda ignorando Potter ao meu lado. Pude ouvir conversas animadas de todos os grifinórios: nós tínhamos o segundo e último tempo da tarde livre. Isso era realmente uma raridade, estando no sétimo ano e bem no meio do mês de abril, com os exames se aproximando. Ouvi risadas de Lene e Sirius e olhei para eles, na mesa ao lado de Potter, parecendo entretidos um no outro. Potter me observava com uma expressão indefinida no rosto. Quase revirei os olhos. Eu estava começando a me irritar com o olhar que ele me lançava, como se não me conhecesse.
Potter abriu a boca para dizer algo, mas a voz rouca de Sirius o fez parar.

- Ei, Pontas, que tal uma partida de quadribol nos jardins? – Potter olhou para mim por um momento, murmurou um “até mais” e saiu conversando e rindo com Sirius. O que, por Merlin, ele que queria me dizer?
- Lils, tem certeza que a Prof. McGonagall não te enfeitiçou quando você estava na sala dela? – Lene me perguntou, enquanto saíamos da sala rumo ao Salão Comunal. Eu olhei intrigada para ela. – Você não gritou com James nenhuma vez durante a aula... – ela completou, parecendo realmente impressionada.

Eu revirei os olhos. Ela riu e eu acabei rindo também, meio a contragosto. O idiota do Potter não me provocou nenhuma vez. Foi isso que eu respondi. Bom, não provocou realmente muito. O apelido de “namorada” e o bilhete não chegavam aos pés do que James Potter conseguia fazer para me irritar. Eu sou a pessoa em Hogwarts que ele mais gosta de provocar, lógico, depois do Snape. O que é, de certa forma, irônico, já que Snape e eu fomos melhores amigos até o quinto ano. Mas Potter nos irrita de forma completamente diferentes.
Estou divagando outra vez! Tentei me concentrar no que Lene dizia alegre, alheia ao fato que eu não a escutava.

- ...então talvez tudo isso acabe sendo uma coisa boa. – ela completou, me olhando como se esperasse ver mina reação. Eu pisquei incerta. Sobre o que diabos ela está falando? Ela percebeu minha reação, na hora. – Você não escutou nada do que eu disse, não é?

Ela parecia divida entre me censurar e rir. Eu neguei com a cabeça meio envergonhada. Às vezes Lene parece me conhecer mais do que eu mesma. Ela riu alto e balançou a cabeça, fingindo indignação. E não voltou ao assunto. Ela passou um braço sobre meus ombros, de um jeito que me fez lembrar como Sirius abraça os marotos e entramos no Salão Comunal. Merlin, Lene está andando demais com ele!

***

Não tive sinais de Potter até depois do horário do jantar, naquele mesmo dia. Eu e Lene ficamos o resto da tarde no Salão Comunal. Eu fiz alguns deveres adiantados e Lene reclamava da falta que fazia ter Lice por perto quando eu me tornava uma chata traça de livros. Lice se formou ano passado, era minha única grande amiga aqui em Hogwarts além de Lene. Também, só as duas agüentaram minha obsessão pelos estudos e ódio pelo Potter. Para todas as outras meninas, odiar Potter é um pecado mortal.
Estávamos comentando justamente sobre Lice e pensando em escrevê-la uma carta para combinarmos de nos encontrar em algum passeio a Hogsmeade, quando o quarteto maroto adentrou pelo quadro da Mulher Gorda. Eles conversavam alto e riam escandalosamente, como sempre e por um momento me esqueci que Potter tinha me bloqueado de suas memórias. Peter ainda tinha uma grande quantidade de bolinhos em suas mãos e imaginei que eles deviam estar chegando da cozinha, já que não apareceram no Salão Principal para jantar. Sirius sentou-se no braço da poltrona de Lene e lhe estendeu a mão, com uma trufa enorme de chocolate. Lene simplesmente AMA chocolate.
Sorri percebendo o gesto romântico do maroto mais galinha de Hogwarts. Lene não precisava se preocupar tanto, afinal. Sirius parecia estar mesmo na dela. Ela deu um sorriso enorme para o maroto, aceitou a trufa e os dois começaram a conversar, sequer me notando ali. Peter subiu para o dormitório e Remo e Potter sentaram-se em poltronas ao meu lado.

- Almofadinhas, temos crianças no recinto! – Remo falou em um tom falsamente reprovador. Vi Sirius e Lene separando suas bocas, Lene meio corada. Eu nunca os tinha visto se beijando. Lene me disse que era contra ficar se agarrado a Sirius em lugares públicos, para não provocar a ira das milhares de fãs do maroto. Eu nunca ousei perguntar onde eram os lugares privados que eles poderiam se agarrar à vontade. Na verdade, prefiro não saber.
- Não enche Aluado. – Sirius respondeu, não parecendo contrariado de verdade. – Porque não arruma uma namorada para você e pára de pegar no meu pé? – ele completou com seu tom sarcástico. Bem Maroto-Black. – Olha a Lily aí do seu lado, por que não a chama para dar umas voltas nos jardins?

Qualquer pensamento positivo que eu tivera sobre Black desapareceu na hora. Marotos idiotas! Senti meu rosto esquentar e vi que Remo também corava.

- Não seja idiota, Almofadinhas, Lily e eu somos apenas amigos! – Remo retrucou, parecendo irritado. Eu concordei com cada palavra que ele disse. – Além do mais, o Pon... – mas ele não terminou a frase. Ele olhava obviamente para Potter, parecendo pensar sobre o que deveria dizer. Potter olhava para ele parecendo genuinamente intrigado. - ...ah, deixa pra lá.

Ele saiu andando para as escadas do dormitório masculino, com passos duros. Escutei Lene bater em Sirius e começar a dizer alguma coisa sobre ele não ter nenhum pingo de sensibilidade. Mas não prestei realmente atenção. Os olhos de avelã de Potter estavam cravados nos meus e eu não conseguia sequer respirar. Ele tinha um brilho estranho nos olhos, e eu me peguei imaginando se ele finalmente estava se lembrando de mim. Não percebi que Sirius e Lene saíram do nosso lado, nos deixando a sós nas poltronas naquele canto do Salão.

- Sabe Evans, o que mais me intriga? – Potter quebrou o silêncio. Ele me chamou de Evans! Eu não me lembro de ter mandado ele me chamar assim.
- O que Potter? – minha voz saiu um pouco mais rouca do que eu esperava. Praguejei internamente. Parecia minha voz de quando nós estávamos presos naquele armário de vassouras do sétimo andar e ele beijava meu pescoço, enquanto eu juntava todas as minhas forças para implorar que ele parasse. Essa lembrança particularmente perturbadora me trouxe um arrepio.
- Se você aparentemente me odeia e nós estamos sempre brigando... – ele falou com uma voz estranhamente calma. – Porque nós estávamos juntos tarde da noite pelos corredores do castelo?

O final da frase ecoou em meus ouvidos, de forma maliciosa e cheia de sarcasmo. Um sorriso presunçoso encheu o rosto de Potter quando senti meu rosto queimando. Eu devia estar MUITO vermelha. Idiota! Ele podia não se lembrar de nada, mais ainda tinha essa MALDITA mania que gostar de me irritar. Senti meu autocontrole indo pro espaço no mesmo momento.

- VOCÊ ESTAVA ME PERSEGUINDO, COMO SEMPRE! – gritei sem me importar que chamasse a atenção de todos para mim.
- E porque eu acho que isso não é toda a verdade? – ele passou a mão pelos cabelos e alargou o sorriso arrogante.
- NÃO ME IMPORTA O QUE SEU EGO ARROGANTE ACHA QUE SEJA VERDADE POTTER! – ele sorriu mais para mim. Bufei. Idiota! Prepotente! Arrogante! Tive uma vontade imensa de meter a mão na cara dele. Aliás, ele ainda me devia um tapa.
- Então porque você está toda estressadinha com isso... Foguinho?! – ele replicou, triunfante.

Foguinho?!
FOGUINHO?!?!
Eu não acredito.
Abafei um grito pelos meus dentes cerrados, sem querer fazer (mais) escândalo. Não me dei ao trabalho de responder à provocação. Virei as costas para o maldito-idiota Potter e subi pisando duro até meu dormitório. Ainda estava bufando de raiva quando vi Lene entrar, olhando cautelosa pra mim.

- Foguinho?! – soltei exasperada para ela, sentando-me em minha cama e apertando meus cabelos frustrada. Eu sei, parecia meio insana. Lene se segurava para não rir.
- É... também fiquei surpresa. – ela disse ainda tentando não rir. Olhei irritada para ela e ela finalmente se acalmou. – Ele não te chama assim desde...
- Desde o primeiro ano. – completei, enterrando meu rosto em minhas mãos. Aquilo não podia ser verdade!
- É... – Lene concordou desnecessariamente comigo e eu a vi se sentando em sua cama, de frente para mim.

Basicamente, Potter e eu brigamos desde o primeiro dia que nos conhecemos. Ele sempre foi uma peste que gostava de encrencas e eu sempre fui uma certinha incorrigível. No primeiro dia de aula, quando tivemos aula de Trato de Criaturas Mágicas com a Sonserina, Potter começou a implicar com Snape que, na época, era meu melhor amigo. Ele o chamou de Ranhoso, pela segunda vez desde que eles se conheceram. Eu o chamei de Espeto. Afinal, ele era magrinho e tinha aquele cabelo espetado (como se não o tivesse até hoje!). Snape riu bastante. E Potter, como resposta, me chamou de Foguinho.
Eu fiquei vermelha na hora. Odiava quando falavam dos meus cabelos ruivos. Já era ruim o suficiente eu me sentir tão diferente dos outros alunos, a maioria filhos de bruxos e bruxas importantes. Foi aí que o apelido pegou. Mas não durou muito tempo. No início do segundo ano Potter já estava inventando novos apelidos para mim, e continuou inventando inúmeros outros ao longo desses sete anos. Escutar ele me chamando de Foguinho de novo era como se voltássemos ao primeiro ano: Potter era um pequeno arrogante encrenqueiro, que não se importava nem um pouco com os outros. Bom, ele ainda é meio assim, mas até o trasgo do Potter já amadureceu pelo menos um pouco!
Bufei irritada pelo que parecia a centésima vez naqueles minutos. Olhei para Lene, que me encarava com um olhar indefinível. É incrível como ela parece me conhecer tão bem, e eu às vezes não entendo os seus olhares. Um mistério, isso sim, era Lene.

- Merlin!!! – eu soltei, ainda exasperada, mais para mim mesma do que para Lene. – O que isso quer dizer? Eu vou ter que agüentar o idiota inventando mil apelidos e aprontando comigo por mais sete anos para ele voltar a me tratar como antes desse bloqueio maldito?

Ótimo! Eu usei idiota e maldito em uma mesma frase, em voz alta! Lene deve ter percebido, pelo olhar engraçado que me encarou por uns segundos. Ela parecia surpresa.

- Bom Lily... – ela começou, parecendo escolher as palavras. – Na verdade, você não vai ter que agüentar James por mais sete anos... – eu a olhei intrigada. O que isso deveria dizer? Ela sabe como reverter aquele bloqueio idiota? Ela suspirou antes de continuar. - ...porque nós não temos mais sete anos aqui em Hogwarts. Na verdade, só temos mais alguns meses antes de nos formarmos e seguirmos nossas vidas.

Suas palavras me pegaram de surpresa.
Lene tinha razão. Nós nos formaríamos dentro de três meses e cada um tomaria um caminho diferente.
Aquilo fez meu coração bater acelerado.
Daqui a três meses Potter ainda estaria me chamando de Foguinho e lançando feitiços em meus cabelos, se continuássemos seguindo as mesmas regras.
Então foi quando eu percebi.
E doeu muito para eu admitir.
Eu QUERO que o Potter volte a se lembrar de mim!

***

Me levantei em um impulso, tentando colocar as minhas idéias em ordem enquanto saía do nosso dormitório. Nem ao menos disse alguma coisa para Lene. Eu tinha que agir, e agir agora. Desci as escadas quase pulando degraus e quando cheguei ao Salão Comunal novamente, vi Potter e Sirius conversando nas mesmas poltronas que estávamos. Potter me lançou um olhar amedrontado, mas não prestei muita atenção. Puxei seu braço sem nenhuma delicadeza rumo ao quadro da Mulher Gorda. Ele cambaleou assim que se levantou de sua poltrona e me lançou um olhar interrogatório.

- Vem comigo Potter. – eu usei meu tom mais autoritário. Ficou bem claro que aquilo não era um pedido ou um convite para fazermos as pazes pela discussão.
- M-mas Evans... – Potter voltou ao olhar assustado. Nós paramos bem em frente ao quadro da Mulher Gorda, que já abria para nos dar passagem. Soltei o seu braço.
- Agora. – nem me dei ao trabalho de olhar para ele. Saí andando a passos largos pelo corredor do castelo. Quando estava chegando às escadas, vi que ele havia me alcançado. Subimos lado a lado.

Eu sentia o olhar do Potter em mim, mas minha cabeça estava fervilhando de idéias sobre o que eu deveria fazer. O lugar que eu estava indo era óbvio: o maldito corredor do quinto andar, em frente àquela estátua enferrujada idiota. Ótimo! Maldito e idiota voltaram ao meu vocabulário.
Quando pisei no último degrau da escada e avistei ao longe à estátua da armadura, diminui meu passo consideravelmente. Nenhum plano para fazer as memórias do Potter voltarem tinha se formado em minha cabeça. O idiota-maroto pareceu achar minha atitude um sinal positivo.

- Então, onde estamos indo? – ele perguntou, parecendo animado.

Eu o ignorei totalmente.

- Foi esse o corredor que os sonserinos me azararam, não é? – eu o vi passando a mão pelos cabelos. E o ignorei de novo.

Estávamos a poucos metros da estátua enferrujada e da passagem secreta. Meu cérebro lento não queria cooperar. Por Merlin, o que eu faço agora?!

- Então... – o maroto começou, ainda com um tom animado. Faltavam uns três metros para chegarmos à frente da passagem. – ...o que estamos fazendo aqui?!

Ele agia como se eu não estivesse o ignorando.
Céus! Como ele é irritante...
Continuei o ignorando, lógico.

- Vai finalmente me contar o que aconteceu? – ele perguntou com um sorriso enviesado. Bufei.

Dois metros.

- Ou quem sabe me mostrar o que aconteceu? – ele continuou, com um sorriso malicioso. Revirei os olhos.

Um metro.

- Ou talvez...

Não deixei Potter completar a frase.
Puxei seu braço de uma forma meio brusca, o levando comigo para dentro da passagem secreta. Senti a parede de pedra gelada atrás de mim, enquanto o corpo de Potter trombou no meu.
Meu corpo agiu sem que eu pensasse. Passei meus braços em volta do pescoço de Potter e o puxei para baixo. Colei meus lábios nos dele, com pressa.
Senti os músculos de Potter se retesando, em choque.
Não dei atenção.
Tentei beijá-lo, sem paciência alguma. Ele não estava com seus braços em torno de mim, como de costume. Ele não me correspondia!
Soltei um grunhido indignado enquanto quebrava o contato de nossas bocas. Encarei os olhos castanhos do maroto, tentando fazer com que ele lesse meus pensamentos.

Você TEM que se lembrar de mim!
Sou eu, seu idiota! A ruivinha! Será que dá pra fazer o favor de pelo menos me beijar de volta?!


Ele me olhava meio assustado.
Inspirei devagar, tentando me acalmar.
Voltei a aproximar minha boca da dele, devagar. Passei meus lábios sobre os dele da forma mais lenta e provocante que consegui me forçar. Senti um arrepio pelo meu corpo pelo contato leve. Resisti ao impulso de agarrá-lo com mais força e continuei o beijando com calma. Percebi que eu estava fechando meus olhos com força. Senti mãos quentes em contato com a pele da minha cintura. Potter abriu ligeiramente os lábios e começou a corresponder.
Meu coração estava batendo tão acelerado em meu peito que Potter poderia ouvi-lo agora mesmo.
Passei minha língua de leve pelo seu lábio inferior e senti meu corpo estremecer quando as nossas línguas entraram em contato pela primeira vez. Por tudo que é mais sagrado, como beijar alguém pode ser tão... tão...
Perdi a capacidade de pensar quando percebi James me puxando pela cintura, me trazendo mais para perto de seu corpo. Nossas bocas se misturavam de uma forma meio louca enquanto ele me encostava à parede. Todos aqueles arrepios que só o beijo de James provoca em mim voltaram. Minhas pernas estavam bambas e eu estava muito próxima de um ataque cardíaco. Meu pulmão começou a queimar pedindo ar, mas quem é que precisa respirar?!
De uma forma brusca James se afastou de mim. Abri meus olhos e sentindo a claridade me incomodar, pisquei algumas vezes, enquanto ele cambaleava de volta pro corredor. Tentei firmar minhas pernas e saí também da passagem, encarando o maroto. Ele estava com uma expressão estranha. Nos encaramos por alguns segundos incômodos, quando vi um sorriso se formar em sua boca.
AQUELE sorriso malicioso.
O sorriso vitorioso.
Foi aí que eu soube que as memórias de James estavam devidamente de volta em seu lugar. Senti meu rosto ardendo.

- Eu sabia que você não resistiria ao meu “charme irresistível”, Evans. – James falou com uma voz séria, ao contrário do sorriso malicioso em seus lábios. Me lembrei de ter dito essas mesmas palavra a ele, na noite anterior.
- Vejo que seu ego infinito não mudou Potter. – respondi sem pensar, também usando palavras de nossa última briga. Minha voz estava ligeiramente trêmula e praguejei internamente por isso.
- Vejo que alguém ainda não consegue admitir os próprios erros. – ele rebateu, ainda com a voz séria.
- Então você ainda insinua que estou sendo imatura? – perguntei em um tom de desafio, encarando os olhos de avelã. Vi o maroto passando a mão pelos cabelos e revirei os olhos sem pensar. Ele abriu um sorriso enorme.

Não tive tempo de pensar depois. James de repente deu passos largos em minha direção e me empurrou de uma forma nada delicada de volta para a passagem secreta. Senti meu corpo sendo comprimido entre as pedras geladas e o corpo quente do maroto. Ele começou a beijar meu pescoço, enquanto eu tentava fazer meu cérebro voltar a funcionar. Sei que daqui a pouco tudo o que vou sentir é culpa e frustração por estar cedendo a esses caprichos.
James mordiscou de leve a curva ente meu pescoço e meu ombro e eu tive que morder meu lábio inferior para abafar um grunhido de aprovação.
Esqueci que tinha algum cérebro.
Que se dane a culpa e a frustração!
Agarrei o rosto de James com as duas mãos e o beijei com vontade. Ele respondeu na mesma hora com intensidade. Senti meus pensamentos flutuando em algum lugar alegre e tranqüilo enquanto nos agarrávamos sem pudor.

***

Acho que perdi completamente a noção do tempo. Não sei se James e eu ficamos nos agarrando por quinze minutos ou duas horas quando ouvi vozes distantes chamando nossos nomes. Uma parte racional do meu cérebro me dizia para sair rápido da passagem, antes que os gritos de quem quer que fosse chamassem a atenção de Filch para nós. Estávamos, outra vez, nos corredores do castelo fora do horário permitido. Mas, pela primeira vez na vida, minha parte racional estava fraca demais para me controlar. James também não pareceu se importar.
As vozes foram se tornando cada vez mais próximas e tive a impressão de que conhecia bem os donos delas. James me pressionou um pouco mais na parede e eu, por instinto, mordi seu lábio inferior. O maroto soltou uma exclamação bem satisfeita em minha boca e perdi outra vez minha linha de raciocínio. Eu estou no céu! No mínimo no paraíso! Não percebi dois braços puxando James pelos ombros com força. Ele saiu logo da passagem, quase caindo, me puxando pela cintura junto com ele. A claridade das tochas me forçou a piscar forte para acostumar minha visão.
Eu estava ligeiramente encurvada, respirando rápido, tentando ainda recuperar o fôlego dos minutos (ou horas?) da sessão de amassos com James. Olhei para ele ao meu lado de esguelha e tive que segurar um sorriso. O maroto estava com as mãos sobre os joelhos, tentando também recuperar o fôlego. Seus lábios estavam exageradamente vermelhos e inchados e seus cabelos adoravelmente bagunçados. Sua gravata estava frouxa em torno de seu pescoço e percebi que os dois primeiros botões de sua camisa amassada estavam abertos. Fui eu quem provocou tudo isso?! Desviei meu olhar para Sirius e Lene, que olhavam de James para mim com uma expressão que misturava alegria e completo choque.

- Er... – Sirius começou um pouco inseguro. Ele e Lene trocaram olhares. - ...nós estávamos procurando vocês.
- Eu imaginei que você traria James aqui, Lily... – Lene completou olhando para mim, de uma forma meio maliciosa. Lembrei-me da camisa desabotoada de James e olhei para baixo, desesperada. Minha camisa estava amassada, mas todos os botões permaneciam em seus lugares. Consegui recuperar minha compostura.
- Você imaginou certo. – respondi num tom meio irritado. James olhou para mim por um tempo, parecendo me analisar.
- Minha ruivinha me trouxe aqui para resolvermos um assunto pendente... – ele comentou com um sorriso no rosto. Lene e Sirius perceberam que James não tinha mais o bloqueio de memória. Vi Sirius levantando os braços pro alto, em sinal de alegria. Lene deu um pulinho animado.
- Eu não sou sua ruivinha. – eu respondi de forma automática. Minha cabeça ainda estava em algum lugar alegre e tranqüilo. – E nós não temos nenhum assunto para resolver, James.

Sirius e Lene me olharam chocados. Só percebi que o havia chamado de James, pela primeira vez em voz alta, muitas horas depois. Ele também não pareceu notar.

- Tem certeza Lily? – James comentou de forma risonha. Passou a mãos pelos cabelos e eu tive que reprimir um impulso de voltar a beijá-lo. Nos encaramos por um segundo. – Você não tem nenhum erro pra admitir?

Revirei os olhos de forma automática outra vez. Meu coração ainda estava acelerado e meu cérebro zunindo. Não conseguia formar nenhum pensamento coerente. James olhava para mim de forma carinhosa e tinha um sorriso doce em sua boca. Não consegui não sorrir de volta. Eu ainda estava no paraíso.

- Cala a boca Potter. – rebati sem paciência, juntando todas as minhas forças para me virar e começar a andar rumo ao Salão Comunal da Grifinória. Só Merlin sabe como eu queria continuar encarando aquele sorriso doce de James. Ou fazer outras coisas nada apropriadas em público.

Poucos passos depois, vi que Lene andava ao meu lado, me lançando olhares desconfiados e sorrindo pelo canto da boca. Eu ainda estava sob o efeito de uma sessão completamente avassaladora de beijos com James Potter, então não consegui me incomodar com isso. Parei de chofre quando um pensamento passou correndo em meu cérebro. Girei novamente e andei a passos largos até parar em frente a James. Ele me olhava com expectativa e percebi que ainda sorria.
Não pensei duas vezes.
Meti a mão na cara dele.
Não foi tão forte como eu costumava bater, mas o ruído foi alto e estalado o suficiente para deixar meu coração mais leve ainda. James me encarou assustado, enquanto colocava uma mão sobre o seu rosto ligeiramente vermelho.

- Você me devia um tapa. – eu falei encarando James, sem conseguir parar de sorrir. Vi o maroto sorrindo novamente, enquanto eu me virava e voltava a andar rumo ao Salão Comunal da Grifinória.

Lene me olhava incrédula. Começamos a andar juntas novamente. Ela começou a comentar alguma coisa, certamente tentando me perguntar o que estava acontecendo. Não tive a mínima vontade de prestar atenção ao que ela dizia. Meu coração batia leve e descompassado e eu me sentia como se ainda estivesse andando nas nuvens.
A única coisa que ocupava meus pensamentos era onde eu andaria amanhã para que eu e James pudéssemos ter, no mínimo, mais duas sessões incríveis de amassos como aquela.


THE END

***

N/A: Espero que tenham gostado! É minha primeira fic J/L publicada... tenho outras pelo computador que não acabo nunca mais... hehehehe.... é minha primeira ONESHOT também. Confesso que a idéia não é 100% original, mas espero que tenha ficado mais autêntica no desenrolar da história....

Espero comentários!!!

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Comentários (1)

  • Kinnon ☹

    Amei D+ acho que devia continuar ,mas fazer o que? Sou muito tua fã adoro suas fics.

    2012-11-09
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