<b>Capítulo 9 –bastetazazis </

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Capítulo 9 –bastetazazis

Fernanda franziu a testa para a janela com o insistente tec tec que ouvia no vidro enquanto iniciava seu lap top. Mas foi só olhar para a data no calendário que ela se deu conta do que se tratava. Abriu a janela correndo para que a enorme coruja preta entrasse sem que seus vizinhos trouxas estranhassem. Uma coruja daquela espécie estava muito longe de casa, não era nem um pouco comum no Brasil.

Com um sorriso de orelha a orelha, ela pegou o pergaminho trazido pela coruja de Severo. Já fazia cinco anos, e ele nunca esquecia.

Muita coisa acontecera desde aquele dia fatídico, véspera do seu aniversário, quando Madame Pomfrey quase flagrou o primeiro beijo entre os dois. Claro que Severo não conseguiu lidar facilmente com os boatos que encheram a escola no dia seguinte. Ele não era um homem fácil, ela também era um pouco cabeça dura – tinha que admitir –, e os dois não queriam arriscar a bela amizade que crescera enquanto trabalhavam juntos.

Mas como ela poderia esquecer aquele beijo? No momento que Fernanda entrou na sala do mestre de Poções, exatamente no dia do seu aniversário, ela sabia que sua vida nunca mais seria a mesma. Aqueles olhos pretos profundos, que a faziam entender o que eram as famosas “borboletas na barriga” quando a encaravam – mas que ela não tinha coragem para admitir nem para si mesma – estavam fixos nela.

Aquele beijo, aqueles lábios... como ela poderia continuar seu trabalho com ele depois daquilo?

Mas ela o conhecia bem, depois dos boatos espalhados pelo castelo, se ele alguma vez pensou nela como uma mulher – uma mulher de verdade, não a ex-aluna e colega de pesquisas – agora ele enterraria isso para sempre. Não admitiria que Pomfrey provasse que seu boato era verdadeiro.

– Nós precisamos conversar – ele começou pausadamente –, Srta. Porcel.

– Sim – Fernanda avançou pela sala até a mesa dele. – Acho que descobri qual é o problema com a poção. Nós precisamos...

– Eu não estou falando da poção, Srta. Porcel – ele a interrompeu. – Fernanda...

– Professor, eu já lhe assegurei uma vez, não me importo com esses boatos. Mais uns dias e Dumbledore arranjará outro professor para procurar casamento e outros boatos aparecerão. Nós vamos rir disso um dia, tenho certeza – ela acrescentou com um sorriso torto.

– Você tem certeza? – ele perguntou com os olhos fixos nela. – Eu acho que lhe devo um pedido de desculpas, então – acrescentou sem conseguir disfarçar a decepção na voz. – Eu deveria ter me controlado.

Fernanda não acreditou no que viu. O odiado mestre de Poções, ex-Comensal da Morte, aquele homem que tantos consideravam frio e insensível, estava com o coração partido? Por causa dela?

Ela lembrou-se do beijo dele na noite anterior. Foi um beijo apaixonado, quente, correspondido. Eles jamais seriam amigos novamente depois daquele beijo. Então, talvez fosse a hora dela vencer sua timidez e abrir seu coração para o homem a sua frente.

Mas Fernanda não disse nada. Surpreendendo-se a si mesma, ela deu a volta na mesa que os separavam, parando à frente dele e inclinando-se para apoiar-se nos braços da cadeira que ele ocupava. Ele a olhou curioso, e ela o beijou. Sim, não havia palavras que traduzissem melhor que aquele beijo os seus verdadeiros sentimentos por seu antigo mestre de Poções.

Naquela noite, nenhum avanço foi feito quanto à formulação correta da poção que estudavam, nem na noite seguinte. Entretanto, Lupin parecia não se importar muito com isso. Ele e Dumbledore sempre sorriam quando encontravam os dois juntos. O tempo foi passando, os boatos esquecidos, e aquela paixão desenfreada foi se tornando em algo muito mais doce e significativo. Fernanda e Severo continuaram os estudos sobre o uso de polímeros naturais em poções e, ao final do ano letivo, obtiveram com sucesso uma poção que, se tomada às vésperas da lua cheia, evitava a transformação do lobisomem. Não era exatamente a cura para a licantropia, mas já era um avanço à Poção Mata-cão, e a prova definitiva que as teorias desenvolvidas pelos dois estavam corretas.

Discretos como sempre, os dois jamais admitiram seu relacionamento em público, mas Fernanda não se importava com isso. Seus momentos com Severo eram os mais felizes da sua vida, e não fazia a menor questão que os demais professores de Hogwarts se intrometessem nisso.

Infelizmente, quando anunciaram a eficiência da poção, o problema inerente do professor de Defesa Contras as Artes das Trevas foi descoberto, e Lupin foi obrigado a deixar a escola. No ano seguinte, Severo começou a sentir cada vez mais forte a presença da sua Marca Negra tatuada no braço, até que, no final do Torneio Tribuxo, o Lorde das Trevas renasceu com a ajuda de seus servos.

Fernanda ainda se lembrava do dia que recebera o pergaminho da Universidade Brasileira de Magia e Estudos Trouxas. Ela ficara tão animada com o convite para continuar seus estudos com polímeros mágicos numa instituição que buscava unir os conhecimentos trouxas e bruxos, que mal percebeu a feição preocupada quando encontrou Severo. Quando ele lhe confessou que acabara de se encontrar com o Lorde das Trevas em pessoa, e que deveria continuar seu trabalho como Comensal da Morte para garantir a própria vida e, ao mesmo tempo, servir de espião para a Ordem, Fernanda não pensou duas vezes para recusar o convite e permanecer ao lado dele. Mas Severo a proibiu. Insistiu que ela estaria a salvo em outro país enquanto a guerra contra o Lorde das Trevas não acabasse, e que preferia que ela vivesse a milhas de distância que vê-la transformada num alvo por causa dele.

Sem mais argumentos, ela aceitou a proposta do governo brasileiro, exigindo total acesso a rede Flu internacional, coisa que os Ministérios da Magia dos dois países aceitaram prontamente, tal era sua fama pelos seus trabalhos científicos.

A adaptação ao país tropical não foi fácil. Teve que aprender uma nova língua, acostumar-se ao clima mais quente e, para sua surpresa, descobriu que os bruxos brasileiros não tinham o costume de usar lareiras.

Mas aos poucos sua nova vida foi se mostrando cada vez melhor. Ela conseguiu permissão para que Severo usasse chaves de portal até seu novo apartamento no Brasil sempre que necessário, e ele arranjava as desculpas mais estapafúrdias para precisar visitá-la. Entretanto, eles passaram por momentos bastante complicados no ano passado. Severo foi visto lançando a Avada Kedrava no corpo já envenenado de Dumbledore e passou meses escondido entre os Comensais da Morte. Fernanda ainda lembrava-se com um arrepio daqueles meses, quando esperava desesperadamente por notícias dele.

Mas felizmente, Lord Voldemort fora derrotado por Harry Potter, e Severo conseguiu provar sua inocência. Ele agora era visto como um herói na Inglaterra e foi indicado pela própria diretora substituta, a Profa. McGonagall, como o próximo Diretor de Hogwarts.

No Brasil, as pesquisas que Fernanda realizava na universidade meio trouxa, meio bruxa, estavam de vento em polpa. Ela estava próxima de conseguir a cura para a licantropia, e Lupin e Tonks estavam ansiosos por seus resultados e já haviam escolhido ela e Severo para os padrinhos de seus futuros filhos.

Mas e quanto a Fernanda e Severo? Bem, o Diretor de Hogwarts tinha muitos afazeres na escola bruxa, enquanto a Profa. Dra. Porcel mergulhava nas suas pesquisas na universidade brasileira. Parece triste? Não. Eles são bruxos. Bruxos com permissão especial para aparatações internacionais.

Muitos bruxos ingleses entendiam a reclusão do Diretor de Hogwarts e não especulavam sobre seu paradeiro nos finais de semana ou nas férias de verão. Por outro lado, as novas amigas brasileiras de Fernanda viviam tentando lhe arranjar um namorado. Mal elas sabiam que ela tinha encontrado sua verdadeira alma gêmea na figura de um mestre de Poções carrancudo, com um coração que muitas vezes fora ferido e que agora ela o curara.

Abrindo o pergaminho que recebera, Fernanda desistiu de iniciar seu computador. Suas amigas que a esperavam no MSN para lhe dar os parabéns teriam que esperar. Logo seu presente de aniversário estaria chegando e ela teria que dar total atenção a ele.

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