Dose da Verdade



eyes - open

Capítulo 5 – Dose da Verdade


Harry quase quebrou as gárgulas de pedra. Agradeceu mentalmente que as senhas continuassem as mesmas desde que Dumbledore morreu.

Pelo menos o maldito Snape tinha mantido essa tradição.

Obviamente ele não estava esperando a visita de Harry, por isso deu um pulo na carteira quando a porta foi explodida em mil pedacinhos. A fúria do moreno era tão grande que ele teve ânsia de gritar. Snape ergueu o cenho:

–O que você acha que está fazendo, Pot...
Expelliarmus!

Harry não o deixou terminar. Sacou a varinha de dentro da capa e pressionou-a contra a garganta de Snape, enquanto puxava o colarinho das vestes do adversário com a mão esquerda.

–Onde ela está? – Sibilou Harry, apertando a ponta da varinha conta Snape – Onde ela está?
–O–que-você-está-fazendo? – Arquejou Snape, tentando repelir inutilmente a mão de Harry
–Onde Julia está?

Snape se forçou a rir desdenhosamente.

–Está longe de você e de sua cólera.

Harry apertou mais a garganta do homem. Uma veia saltava de seu pescoço, denunciando a raiva sentida.

–Você continua o mesmo pirralho prepotente de sempre.
–Dobre sua língua antes de falar de mim, Snape – berrou Harry – Me diga onde ela foi!
–Julia foi para um lugar do qual nunca deveria ter saído.

Snape pôde ver o entendimento e o medo tomar conta dos olhos de Harry.

–Seja mais claro – disse Harry, embora já soubesse onde a garota estava.
–Você sabe, Potter. Apesar de tudo, você nunca foi burro.
–Você acha que eu não sei? – Berrou. – Você acha que eu não sei que você tentou me envenenar?

Snape ergueu as sobrancelhas, sentindo dificuldade de respirar.

–Do que você esta falando?
–Eu sei de tudo! A Julia me contou que você colocou uma poção no meu vinho!
–Eu não tentei matar você, seu ignorante. É impressionante como você é igual ao seu pai! Acha mesmo que eu ia sujar minhas mãos com você, Potter?
–Você acha mesmo que me engana com esse papinho de sujar as mãos? Seu hipócrita de merda!
–Aquela poção era Veritasserum.
–Por que colocaria Veritasserum na minha bebida?
–Eu queria que você contasse a verdade pra Julia – disse Snape. – Mas você descobriu tudo. Eu tinha um plano B, Potter. Não tão perfeito como o primeiro, mas ainda assim eficaz.

Harry afrouxou um pouco o aperto na garganta de Snape.

–Onde a Hermione está?
–Você pergunta pra mim? – Ele riu, desdenhoso. – Acredito que no mesmo local em que você a deixou, Potter.

Harry soltou Snape. Havia marcas vermelhas de suas mãos no pescoço dele.

–Espero que esteja falando a verdade, Snape – disse, com um certo nojo. – Pois se não estiver, eu voltarei.
–Volte. Eu estarei preparado dessa vez.

*

–Desculpe ter faltado naquele dia – disse Gina a Draco, dando um selinho nele. – Foi porque precisei dar uma ajuda a Hermione, minha amiga.
–Tudo bem, eu sei.
–Você conhece Hermione?
–Claro. Já trabalhei muito com ela no Ministério, apesar de ela ser uma inominável e eu auror.
–Um Malfoy auror. Quem diria?
–É verdade. Eu cheguei a me tornar um Comensal da Morte, mas me toquei do que estava fazendo a tempo. Hoje vi que fiz a escolha certa.
–Você não deveria contar isso tudo à editora do Profeta Diário.

Draco riu.

–Eu confio em você.

Gina ficou com algo entalado na garganta. Talvez ele não devesse confiar tanto nela.

–Para onde você está me levando? – Perguntou ela, mudando de assunto.
–Você verá...

*

Sem dúvida, a Santa Maria era uma embarcação magnífica, com um mastro com mais de trinta metros. Draco estacionou o carro, desceu e deu a volta para abrir a porta para Gina.

–O que achou? – Indagou, cheio de orgulho e carinho pelo veleiro.
–É lindo.

Ele pulou no convés e estendeu a mão. Ela tomou um impulso e pousou ao lado dele. Draco lhe apresentou a tripulação, alinhada para saudá-la, incluindo um chefe para fazer a comida.

O sol estava brilhante e quente, uma brisa forte agitava a água, e logo ganharam o mar aberto. Gina acostumou-se com a oscilação em poucos minutos e achou até agradável.

–Deixe-me mostrar-lhe meu reino – ofereceu-se Draco, tomando-lhe a mão. – Aliás, daqui a um tempo será o seu reino também.

A parte inferior da embarcação lembrava um pequeno palácio. Na cozinha, o chefe Alfredo, cercado de equipamentos modernos, empenhava-se na preparação do almoço. No fim do corredor estreito, ficava a suíte completa com um banheiro luxuoso. Perfeito para amantes.

–Vista um biquíni. Estarei esperando lá em cima.

Gina se vestiu rapidamente e encontrou Draco à sombra do toldo listrado no convés, cercado de petiscos.

–Esse veleiro pode nos levar aonde quisermos.
–Aonde vamos hoje?
–Vamos circular essa pequena ilha e depois voltar. Há uma baía onde podemos nadar.
–Ótimo!
–Por que não toma sol? Mas passe filtro solar... sua pele é muito clara e você deve se proteger.
–Nunca tive problemas com o sol – afirmou Gina.
–O sol aqui é forte.

Ela sentou-se em uma das espreguiçadeiras, decidida a não discutir um assunto tão banal. Draco a observou passando a loção nos braços e pernas.

–Vire-se, eu espalho nas suas costas.

Indecisa, Gina virou-se de bruços. O toque dos dedos de Draco em sua espinha revelou-se leve, delicado. Com a cabeça sobre as mãos, relaxou enquanto ele lhe massageava a nunca. Mérlin, que sensação era aquela?

–Ancoramos – ele avisou, depois de um tempo. – Bem ali tem uma baía.

O veleiro tinha um pequeno bote de remo que os tripulantes já baixavam a água. Draco apontou para a prainha dourada e deserta.

–Que tal nadarmos até lá antes do almoço? Eles levam o bote com a lancha.

A água fria estava deliciosa. Nadaram lado a lado. Gina não era uma nadadora vigorosa, mas sentia-se segura ao lado de Draco. Levaram quase meia hora para alcançar a prainha.

–Vamos nadar mais – convidou Draco, após recobrarem o fôlego.
–Não, vou preparar o piquenique. Pode ir.

Ele correu para o mar e sumiu debaixo de uma onda particularmente grande. Gina soltou os cabelos e se assustou ao olhar ao redor e não o ver mais.

Levantou-se devagar, o coração oprimido como se uma nuvem negra tivesse encoberto o sol. Então Draco emergiu e ela respirou aliviada, lembrando-se de brigar com ele quando voltasse.

–Você me assustou! – Ralhou ela, assim que ele pisou na areia.
–Desculpe – disse ele, sorrindo.

O piquenique estava ótimo. Draco sorveu o vinho branco gelado e Gina reparou em uma cicatriz que ele tinha na lateral do rosto. Ele passou a mão no local, consciente.

–Desculpe-me – murmurou Gina, horrorizada com a sua indiscrição.

Ele deu os ombros.

–Não faz mal. A natureza não me abençoou com a beleza, pra começar. Então fiz a palhaçada de virar um Comensal da Morte. Recebi apenas o que merecia.
–Foi Você-Sabe-Quem?
–Sim. Fiz um trabalho mal feito, aparentemente.

Draco estendeu a mão dela e tocou a cicatriz. Gina estremeceu. Alisou o rosto dele e o beijou com carinho. Ele a beijava gentilmente, quase controlando o desejo. Sem pressa. Gina sentiu um ar frio, mas ela mesma já não estava com frio.

*
Julia só fazia abrir a boca.

Em sua curta vida, ela já havia visto muita beleza, mas era uma beleza de Hogwarts – imponente, pétrea, masculina. Na escola, muita coisa era grandiosa, mas nada era mimoso; no apartamento da Srta Granger tudo era mimoso. Ele era cheio de luz, pois as janelas largas eram viradas para o sul, e as paredes eram cobertas de um delicado papel listado em branco e dourado. Quadros encantadores em molduras douradas, um espelho antigo, arandelas interessantes servindo de base para luminárias ambáricas com cúpulas embabadadas; e babados nas almofadas, e um macio tapete verde estampado de folhas; e aos olhos inocentes de Julia parecia que cada superfície estava coberta de lindas caixinhas de porcelana.

A Srta. Granger sorriu da admiração da menina.

– É, Julia, há tanta coisa para lhe mostrar! Tire o casaco e vou levá-la até o banheiro. Você pode se lavar, depois vamos almoçar e fazer compras...

Nesse momento o telefone tocou. Julia fitou com interesse a bruxa atender aquele aparelho trouxa. A cara dela endurecia a cada segundo. Suspirou antes de desligar. Olhou para a garotinha, parecendo cansada.

–Vou ter que sair, meu anjo.

Julia mal conseguiu esconder o desapontamento.

–Não olhe assim pra mim, minha princesinha – Hermione suspirou, abraçando a garota. – Eu voltarei em 10 minutos. Irei buscar sua tia Gina. Ela está com problemas.
–Ela se meteu em encrenca?
–Nada que ela mesma não tenha provocado – ela sorriu. – Outro dia nós saímos, as três. Gina provavelmente dormirá aqui.


*

De volta ao veleiro, Gina reparou fascinada num jet ski preso à poupa. O moderno veículo trouxa transportaria duas pessoas facilmente.

–Quer dar uma volta? – Indagou Draco.
–Adoraria!

Os olhos de Gina brilhavam que nem os de uma criança. Draco baixou o jet ski ao mar e tomou o assento dianteiro. Gina ficou na garupa e, mal o enlaçou na cintura, dispararam sobre as ondas.

–Tudo bem ai? – Gritou Draco.
–Tudo ótimo!

Era verdade. A vibração tomava conta de seu corpo... das coxas, do abdômem, dos seios pressionados contra as costas fortes de Draco. O veículo espirrava água para todos os lados, cobrindo-os de espuma branca. Gina agarrava o corpo de Malfoy com força, como se ele fosse o seu pilar.

Finalmente ele diminui a velocidade, até parar o jet ski.

–Uaaaaaau!
–Gostou? – Perguntou Draco, sorridente.
–Adorei! Onde estamos?
–Estas belezinhas andam rápido. Mas alguns minutos e perderíamos o veleiro de vista.

Gina sentiu um impulso maluco.

–Vamos!
–Quer continuar?
–Mais e mais!
–Ginevra, o que deu em você? – Riu-se ele.
–Nada! Tudo! O mundo inteiro!
–Acho que devíamos voltar...
–Não, quero ir pra frente! Vamos Draco!
–Está bem! – Algo no tom de voz dela fez com que ele aceitasse o desafio e religasse a máquina. Manobrou-a e então disparou rumo ao mar infinito.

Logo o veleiro sumiu de vista. Por algum motivo, Gina achava aquilo excitante. Aquela sensação de liberdade era incrível, ela nunca tinha sentido algo parecido. Afrouxou os braços da cintura do homem, segurando-se nos braços dele. Sentia-se segura daquela forma. Era invencível. Nada podia lhe acontecer.

Segundos depois, o jet ski derrapou. Desprevenida, Gina tentou se agarrar nos braços de Draco, mas era tarde demais. Com uma cambalhota no ar, voou alto, vindo a colidir com a água em seguida.

Àquela velocidade, foi como bater numa parede de tijolos. Por um instante, tudo ficou preto. Parcialmente consciente, sentia-se afundando nas águas infinitas, tomada de horror.

De algum modo, conseguiu emergir, mas continuava tonta e tinha de lutar para se manter consciente. Apesar da vista irritada pelas águas salinas, viu Draco se afastando no jet ski, aparentemente alheio ao fato de ter perdido a passageira. Gritou o nome dele, mesmo sabendo que não seria ouvida. Então, voltou a afundar nas águas e desesperou-se.

Tentou emergir novamente, mas sabia que se afogaria antes de conseguir. Enquanto Draco não notasse sua ausência, pessoas invisíveis a levavam para o fundo pela última vez, o mundo cada vez mais escuro...

Sentiu que alguém a agarrava. Não via nada, mas sentia que a arrastavam para a superfície, onde havia luz, ar, alívio. Agarrou-se com força no pescoço de Draco.

–Olhei para trás e você tinha sumido! – A voz dele tinha pavor. – O que aconteceu?
–Não sei... não posso....
–Esqueça. Felizmente, está a salvo.

O jet ski estava perto, parado sozinho enquanto o condutor mergulhava para procurar a passageira perdida. Draco nadou até a máquina com o braço livre, subiu nela e puxou Gina para fora d’água, instalando-a na sua frente.

–Quero você onde eu possa vê-la. Você sumiu na água... eu não sabia onde procurar!

O terror dele igualava-se ao dela. Gina se atirou nos braços dele, soluçando.

–Pensei que você nunca me acharia!
–Está tudo bem. Segure firme em mim.

Retornaram ao veleiro em velocidade moderada, Gina ao lado, abraçada a ele. Não tinha coragem de se soltar. Finalmente, percebeu que era carregada para bordo do veleiro. Draco a ergueu nos braços e carregou até a suíte, onde ela desmaiou.

*

–Eu já disse pra você parar de me ligar! – dizia Luna ao telefone, parecendo chateada.
–Mas você me ama!
–Quantas vezes eu vou ter que repetir? Eu não te amo! Se te amasse, não teria me casado com outro!

Rony soltou uma risada amargurada.

–Ronald, por favor. – Luna suspirou. – Deixe-me viver a minha vida e vá viver a sua.
–Não tente me enganar, Luna. Você acha que eu sou idiota ou o que? Eu sei que você não casou com ninguém!
–Do que está falando?
–Não havia nenhuma aliança em seu dedo no dia em que eu fui à Paris!

*

Gina despertou e viu Hermione ao seu lado.

–Olá – saudou, meio indecisa.
–Olá – disse Hermione, sorrindo. – Surpresa em me ver?

A ruiva suspirou de alívio ao ver o sorriso da amiga. Fazia muito tempo, Gina não tinha como saber, não podia saber... amava Hermione e ficar longe dela a corroeu por dentro. Durante aqueles dez anos.

–Estou surpresa, sim.
–Espero não ter atrapalhado nada – insinuou Hermione, com um sorriso travesso.

Gina gargalhou. Talvez por ser engraçado a amiga dizendo isso, talvez por que fosse engraçado se imaginar com Malfoy ou talvez apenas por ter notado que a amizade continuava espontânea como sempre.

–Você está pirando Granger? – Perguntou Gina.
–Anda, vai logo se vestir, para podermos ir para terra firme.
–Basta vestir algo sobre o biquíni...
–Que biquíni?

Gina percebeu que vestia apenas um robe atalhado e mais nada. Tentou recobrar se despira o biquíni, mas a memória ia até o momento em que Draco a colocara na cama e fechara a porta.

–Você...?
–Eu, não – avisou Mione. – Você já estava assim quando eu cheguei – mantinha o rosto impassível, mas o seu olhar era altamente malicioso. – Está bem. Eu não conto pra ninguém.
–Não seja ridícula – censurou Gina, enrubescendo até a raiz dos cabelos. – Vamos logo para casa.
–Sim, lá você pode me explicar essa história.... Srta Ginevra Willis.

*

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