Capítulo IV



Capitulo IV


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- Não durma... – ela sussurrou, ao vê-lo sucumbir a cansaço.
- Eu preciso... – ele sibilou, ainda tremendo loucamente, apertando seu corpo ao dela.
- Preciso do senhor acordado e consciente. – ela falou, apertando um dos braços dele com força, para que ele não adormecesse.
- Sinto-me tão... fraco. – ele disse, num sussurrou quase inaudível. Ela o beliscou mais forte, ele não se mexeu.
- Senhor Potter, por favor... – ela esganiçou, com certa urgência.
- Sinto muito... – foram as duas últimas palavras que saíram da boca dele. Harry fechou os olhos, num sinal de entrega.
- Senhor Potter... Senhor... – ela chamou. – Não faça isso comigo... Não... Harry, por favor...
Os lábios dele formaram uma pequena curva, sinal de um sorriso.
Os olhos dele abriram com dificuldade e lentidão, ele a fitou.
- Gosto quando me chama de Harry.
Ela se desesperou, aquilo soava como uma despedida, de certa forma, ele parecia já ter se entregado ao destino, não queria mais lutar, estava cansado.
- Por favor, Harry, por favor, não se entregue... Fique aqui. Fique comigo. – ela pediu, num sussurro rouco, o apertado com força. Ele voltou a sorrir, seus olhos se fecharam e com muito custo ele os abriu.
- Estou bem... Nunca estive melhor... Estou feliz... – ele disse, deixando claro de que se morresse, morreria feliz.
- Mas eu não. – ela retrucou, debruçando-se sobre ele. – Não vá...
- Quero... – ele parou, tirou força de onde não tinha para continuar. – Quero saber seu nome, Ninfa.
Ela o fitou. Ele não sabia seu nome? Não sabia? Não tinha dito a ele seu próprio nome?
- Ninfa? – ela indagou, sem entender.
- Tenho chamado-lhe de ninfa por esses dias... Visto que não sei seu nome.
Ela sorriu inconscientemente e seus olhos marejaram.
- Hermione. – ela sussurrou.
- Minha Ninfa tem nome de deusa... – ele falou, tentando sorrir. Ela riu mais ainda, sentindo lágrimas escorrerem em seu rosto. – Hei... Não chores... – ele sussurrou, erguendo a mão trêmula, tocando suavemente a face dela, secando suas lágrimas. – Eu não poderia estar mais feliz. Acredite.
Ela assentiu e o abraçou forte.
- Não vou deixá-lo ir. – ela disse. – Não vou.


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E realmente não deixara. Ele estava ali, vivo, voltando a sua temperatura normal, deitado ao lado dela.
Hermione sorriu com a lembrança da madrugada árdua que tivera. Apesar de tudo, fora o melhor momento de toda sua vida. Ela nunca s sentira importante pra alguém... Nunca ninguém lhe dera valor... Ele era o primeiro que a fazia sentir-se importante e estimada... Que a fazia sentir-se mulher.
- Bom dia. – ele falou, antes mesmo de abrir os olhos.
- Bom dia. – ela respondeu, respirando fundo. Estava cansada, exausta, não dormira, havia penas tirado alguns cochilos incômodos e nada relaxantes. – Como se sente?
- Quente. – ele respondeu, rindo.
- Resposta certa. – ela disse, rindo com ele.
Ele se virou, erguendo-se, para seus rostos ficarem no mesmo nível e a fitou.
- Minha Ninfa está cansada... – ele comentou, observando-a.
- Nesse momento, a última coisa com a qual pareço é uma ninfa. – ela comentou, fechando os olhos, enquanto sentia o toque suave da mão dele em seu rosto.
- Tenho que ir.
- Não quero que vá. – ela respondeu, aninhando-se a ele.
Harry respirou fundo, sentindo-se extremamente culpado. Sabia que tudo aquilo era errado, e se alguém entrasse naquela casa naquele momento, estariam mortos, com certeza.
Mas ela se aconchegou nele como uma criança que queria sentir segura, deitando a cabeça no peito dele e envolvendo-o com os braços.
- Senhorita, eu...
- Não me chame de senhorita, senhor Potter. Acho que depois dessa noite não há mais necessidade de formalidades, não?
- Concordo. Portanto, esqueça o Senhor Potter.
- Certo.
- Ninfa, eu...
- Calado, Harry, preciso dormir. – ela resmungou, juntando-se mais a ele.
Então... Antes que percebessem, os dois estavam dormindo, profundamente.

***


Um vazio frio tomou conta do lugar assim que ela despertou, antes mesmo de abrir os olhos suas mãos correram a cama em busca dele, mas não estava lá. Um sentimento estranho lhe corroeu o corpo de forma fria. Ele simplesmente a largara ali e fora embora? Depois de tudo que fizera por ele? Depois de quebrar centenas de normas que a sociedade impunha, despindo o próprio vestido para, simplesmente, mantê-lo vivo? Ele a usara e a descartara? Ela tinha sido na mão dele, como eram aquelas moças sonhadoras, quando achavam que tinham encontrado o príncipe encantado? Rendera-se assim tão facilmente aos encantos dele, deixando claro e sendo tudo que ela lutava para não ser?
Sentiu-se suja, de certa forma. Burra. Enganada. Idiota por ter se deixado enganar.
Seus olhos se abriram lentamente e lágrimas escaparam deles de maneira involuntária.
Sentou-se na cama olhando em volta, ainda podia sentir o perfume dele ali, presente... O perfume dele estava nela, na roupa dela... Na pele dela.
E todo o sentimento que acabara de surgir, esvaiu-se da mesma forma como apareceu, quando seus olhos caíram sobre uma folha de papel sobre a poltrona em frente a lareira.
Ela se levantou, o dia estava frio e cinzento, ela puxou a manta consigo enrolando-a no corpo, pegou a folha e acomodou-se na poltrona. O papel estava dobrado, era uma carta, e numa letra reta e bem legível lia-se: Para minha Ninfa.
E seus olhos que estavam chorando de tristeza agora choravam de alegria, ele escrevera, era a letra dele, com palavras de posse... Deus! Lá estava ela se comportando como as moças que tem certeza que encontraram seu príncipe encantado. Tudo que ela jurara pra si mesma nunca sentir, nunca fazer, uma forma que ela jamais iria agir... Tudo caíra por terra diante daquela carta, e das palavras escritas ali.

Bom dia, Ninfa,
Sinto muito não estar presente para ver-te despertar, tenho compromissos inadiáveis e me encontro numa situação realmente desconfortável – terei de dizer a minha irmã porque passei a noite fora. A questão é que ela com certeza me perguntará “Com quem eu passei” e não “Como ou por que passei”, então, tenho muito no que pensar nesse caminho de volta a minha fazenda.


Hermione riu com as palavras dele, imaginado como é que ele sairia de tal situação.

Agora, todas as palavras existentes simplesmente não são o suficiente para agradecer-te por tudo que fizeste esta noite. Salvaste minha vida, Ninfa, não somente cuidando de mim para que não me perdesse no mundo além, me salvou de outras formas também, e são essas formas inexplicáveis que fizeram a grande diferença.
Minha vida não é mais a mesma desde a morte de meus pais, eu tento me manter feliz e me manter são por minha irmã, mas isso tem se tornado cada vez mais difícil... E tudo que eu venho mantendo é apenas um disfarce, perdi meus pais... Perdi tudo de melhor que eu tinha, não sabes como ainda sofro por isso. Há momentos que penso que nada mais vale à pena, e há momentos que penso que não há porque lutar. Fui até um convento na esperança de arrumar um bom lugar para Anne, onde tivesse certeza que estaria segura e que não precisaria mais de meus cuidados, depois de me certificar de que ela estava bem, entregaria tudo nas mãos do destino, disposto a não me importar com nada mais, e esperar até que meu fim chegasse, tentando evitar ao máximo o desejo de adiantá-lo.


Um tremor correu o corpo dela com as ultimas palavras, ele realmente estava desesperado.

E então, de repente, tu apareces em minha vida, e me salva da maneira que eu mais precisava. Não há como explicar-lhe a diferença que fizeste pra mim, e como toda minha amargura ficou pra trás no momento que a vi entrar na sala da madre superiora, correndo afoita, a espera de uma carta. Esta noite só serviu para comprovar-me que encontrar-te era tudo que eu precisava, sou imensamente grato ao destino por tê-la posto em meu caminho quando eu mais precisava.

E as lágrimas vinham de um jeito inexplicável, a cada palavra, a cada ponto, a cada frase...

Nunca vi tanta força e determinação juntas em uma única pessoa. Sua segurança e sua esperança, e a sua vontade de que tudo desse certo me manteve forte para lutar. Repito que és uma mulher admirável e incomparável. És única, ninfa, não há outra igual em lugar nenhum nesse mundo. Mostrou-se terrivelmente corajosa, sabendo do erro que estávamos cometendo, ao puxar-me para essa casa, e deitar-se ao meu lado, para dividirmos a mesma cama. Fizeste coisas que mulher nenhuma faria, afinal, não me conheces direito, não sabes nada de minha vida, exceto o que lhe contei, e confiaste em mim como ninguém nunca confiou.
Não há maneiras de expressar o quão admirável és.
Visto que nada que eu faça será comparado ao que fizeste por mim, como um pequeno gesto de agradecimento, proponho-te que compareça a um jantar em minha casa, em homenagem a ti. Darei um jeito de tirar-te daí, não te preocupes.


Ela riu, em meio as lágrimas.

Sem mais delongas, sou-lhe imensa e infinitamente grato por salvar-me de todas as maneiras que poderia ser salvo. Passaste a ser minha heroína a partir desta noite.
Espero vê-la em breve, Ninfa, em minha casa.

Harry.


Ela terminou de ler, mas ainda encarava o papel em suas mãos, meio incrédula, meio passada, meio entorpecida, sem saber o que pensar.
E de repente tudo mudara... E todo o objetivo, e todas as metas, e todas as certeza haviam sido mudadas. Ela estava sentido o que não queria sentir. Estava se transformando naquilo que não queria ser. Estava agindo de maneira que ela abominava nas outras pessoas.
E o que mais a chocava em tudo isso, é que as sensações eram boas, e ela estava feliz, como nunca estivera antes.

Mas não podia se deixar levar... Não podia se deixar envolver... Se entregar... Acabaria como tantas outras...
Mas ele não parecia o tipo de pessoa que a usaria e descartaria... Simplesmente não parecia...
Mas as aparências enganam, na maioria das vezes... Homens são falsos, sabem o que fazer e o que dizer para enganar e seduzir uma mulher...

Ela sabia disso, não era inocente.

Mas ele era tão... Cavalheiro... Educado, gentil, correto...
Mas ele é homem. Homem são todos iguais.
Mas ele parece ser diferente dos outros.
Ele pode simplesmente fingir que é diferente dos outros, como seu pai fez, para conseguir conquistar sua mãe.

E uma sombra fria parecia querer cobrir toda a felicidade que ela estava sentindo. E esse impasse entre o coração e a razão estava apenas começando... Mas ela sabia, sabia que aquilo ainda ia acabar matando-a... E matando-a aos poucos, o que era mais dolorido e cruel.
O que fazer?
Ouvir a razão e seguir seus objetivos, sabendo que homem nenhum presta e que só querem brincar ou aproveitar seu dinheiro?
Ou ouvir o coração que gritava para ela se entregar de corpo e alma a esses novos sentimentos?
E então?
Qual das opções escolher?
Arriscar e acabar como sua mãe, amargurada e infeliz até o dia de sua morte?
Ou seguir suas idéias e certezas, tendo como exemplo tudo que vira em casa, deixar de viver aquele novo sentimento e passar o resto da vida pensando no que teria acontecido se tivesse tentado, ou como estaria se tivesse investido?
Se arrepender por fazer?
Ou por não fazer?


***

N/a: Só atualizei por causa de você, Thaís Mariana.

Enquanto não tiver uma quantidade decente de comentários, eu não volto a atualizar, sinto muito.
Sei que isso é chato, mas são os comentários que me passam a resposta que os leitores estão tendo a fic. Se vocês não comentam, eu não tenho como postar, fico totalmente desmotivada.

Até a próxima [que eu espero que seja em breve],

Paulinha.

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