- A velha tradição -



E a campainha tocou... Logo uma mulher corpulenta se dirigiu para o saguão de entrada para abrir a porta. Ela era alta, esbelta e possuía um ar de superioridade. Seus passos ecoavam no saguão. A senhora usava um sapato de salto alto e ponta fina, para aumentar a altura, que parecia ser feito de couro de jacaré. Suas roupas esvoaçantes eram de um veludo nobre, o que destacava que pertencia a uma família de classe rica. Cruzou um curto corredor para atender a porta, a campainha já havia soado três vezes. Do lado de fora havia uma mulher baixinha e muito magra; possuía cabelos loiros soltos que caíam sobre os ombros. Havia um sorriso um pouco forçado em seu rosto, estava insegura de algo que parecia atormentá-la. Parecia ter envelhecido por algum motivo, contudo era uma bela mulher; e seus olhos castanhos fitavam a amiga, como se houvesse passado muito tempo desde a última vez que a vira.
- Wal-burga?! – perguntou a pequena mulher. Ela hesitava, parecia não reconhecer muito quem estava encarando no momento.
- Sim... – Walburga não parecia ter reconhecido aquela pessoa. Por um momento veio em sua mente que a conhecia de algum lugar, e logo indagou: - Eu te conheço... Não... Adhara, é você?
Por um instante um sorriso verdadeiro transpareceu pelo rosto de Adhara, e logo a mesma assentiu com a cabeça. Talvez a aparência dela estivesse perturbando Walburga naquele momento, pois esta ficou sem fala, as palavras pareciam ter sumido, porém logo saiu a crítica:
- Você está envelhecida! – fez uma expressão de pouco desgosto. – O que fizeram com você?
- Longa história... – uma doce voz encantadora respondeu com pouco entusiasmo. Ela se pôs na ponta dos pés para ver se havia mais alguém dentro de casa, porém era baixa demais. – Posso entrar? Faz tanto tempo que não nos vemos...
Por um momento Walburga pensou em fechar a porta na cara daquela baixinha e dizer: “Volte aqui quando você estiver com uma aparência melhor!” Porém não o fez, sentiu pena daquela pessoa mirradinha que estava logo ali diante dela. Fez um gesto para abrir uma passagem, esperou-a entrar e retornou a trancar a porta.
O andar de Adhara demonstrava admiração pelo lugar, e ao mesmo tempo estava desconfiada. Não viu tanto entusiasmo no rosto de Walburga ao deixá-la entrar. Talvez a amiga tivesse mudado muito, até o modo de encarar os amigos. Sempre soube que aquela senhora fora uma pessoa muito orgulhosa, pelo menos desde que a conhecera. Costumava criticar o modo de vida de todos os bruxos que considerava inferior, e tinha um tremendo ódio por traidores do sangue ou bruxos nascidos trouxas. Ela preservou a tradição da família, queria que continuasse com parentes sangue-puros. Tudo que havia naquela casa vinha dos ancestrais. Logo na entrada da sala havia um grande porta guarda-chuvas feito de perna de trasgo. O salão logo a seguir era um tanto aconchegante, com alguns sofás e logo à frente o início de uma escadaria para os andares superiores.
Todas as tapeçarias e tecidos que compunham o local eram de coloração esverdeada. Nos castiçais e o suntuoso lustre, havia um símbolo de uma serpente. No fundo do local havia uma porta que estava fechada. Em parte, aquele lugar estava começando a assustar Adhara.
Walburga levou a visitante para o andar superior. Havia cabeças encolhidas montadas em placas na parede lateral. Mas não eram exatamente cabeças encolhidas, se alguém se aproximasse mais, iria ver que eram cabeças de elfos domésticos. Ela até abriu a boca para perguntar que tipo de pessoa poderia ter feito aquilo, mas preferiu manter-se calada.
Walburga conduziu-a pelo primeiro andar e entrou por uma porta no final do corredor, que levava a uma sala muito mais confortável, a qual normalmente recebia visitas. Havia uma lareira logo à esquerda e algumas poltronas confortáveis. Grandes cortinas verde-musgo cobriam o lugar e a maioria dos móveis era antiga, pois ela com certeza não gostava de gastar dinheiro com coisas que considerava descartáveis.
Ela nem notou a presença menino sentado no peitoril na janela no final da sala, logo à direita. Era uma sala grande, e ele estava em um lugar onde poderia se passar por despercebido, apesar de poder escutar toda a conversa que com certeza estava por vir.
Walburga sentou-se em uma poltrona perto de uma mesinha onde estava um envelope aberto, foi possível apenas ver um selo com formato de H. E logo sentava Adhara de fronte para a amiga que parecia estar com um ar de importância.
- Vejo o que uns anos fizeram com você... – finalmente comentou depois de muito silêncio quando uma encarava a outra. – Eu não esperava que você saísse tão cedo de lá...
- Me liberaram... Então saí! – parecia que havia um tom raiva pela amiga ter feito aquele comentário. – Eu fui atrás de Emily...
- Quem... é... Emily? – interrompeu a outra.
- M-minha filha! Eu nem pude vê-la direito... Faz um mês que me liberaram e então estou a procura dela... Sete anos... – sua voz parecia ter falhado. Só ter a lembrança de estar abraçando sua filha agora a fez cair no choro, porém logo se recuperou, não esperava que Walburga fosse ampará-la mesmo.
- Vamos parando com o choro, vai estragar o carpete... Eu não sabia o nome da sua filha...
- Estive com ela quando nasceu... Mas depois me pegaram... Eu torturei um trouxa que estava nos ameaçando... Eu quase usei uma maldição, se eu tivesse o feito eu não estaria aqui hoje... Mas depois disso, prenderam-me e levaram Emily... Ela só tinha três anos... – mais uma lágrima foi possível ser vista escorrendo pelo rosto de Adhara.
- Entendo... E porque te liberaram? – ainda não parecia muito interessada nesta conversa.
- Na realidade não sei... Eu deveria ter ficado dez anos... Eles já haviam encontrado o trouxa e modificado a memória dele mesmo! Talvez eu não tenha pegado uma sentença maior porque não o matei...
- Sete anos já se passaram... E Azkaban realmente acabou com você!
- Lá é terrível! No começo eu ainda não era tanto afetada... Mas a culpa é o pior... Aos poucos a memória de minha filha sendo tirada de mim quando eu estava tentando a proteger... Depois ouvi os gritos dela... Aterrorizante! Os dementadores conseguiram acabar comigo, e eu quase não comia o almoço que era entregue. Eu simplesmente não conseguia, as lembranças ficavam me atormentando, quase que enlouqueci como a maioria... Havia um lá que passava o dia inteiro cantando músicas sem sentido... – e soltou uma risadinha.
- E como você sobreviveu? Eu sabia que você havia sido presa por outras fontes, pois não havia nada nos jornais!
- Eu realmente não sei como suportei. Mas uma coisa que acho que me sustentou foi imaginar minha filha caminhando de volta para os meus braços... E até hoje não a encontrei, já faz um mês que estou à procura dela!
- Sabe... Meu marido ainda não saiu de lá... Diferente de mim ele assassinou o outro trouxa que fazia parte da gangue que nos ameaçou... Talvez ele não saia mais... É claro que ficávamos em celas separadas! Mas a última visão que tive dele foi péssima... Ele estava sem cabelo com uma expressão insana no rosto... – continuou Adhara.
- Hum... – Walburga estava com um péssimo humor. – Quer um chá? Estou preparando um já... – na realidade a idéia do chá era para ela, só que iria fazer muito feio não oferecendo.
- Ah, eu aceitaria! - e sorriu bondosamente.
Logo após Walburga sair da sala que Adhara pode analisar a sala. Achou fantástico, pois havia uma estante com livros perto da lareira, protegida por magia para não pegar fogo. Havia ainda um fogo azul que crepitava na fogueira. Porém o que mais lhe chamou a atenção foi aquela carta logo ali diante dela. Chegou até a vira-la e estava escrito em uma letra bem caprichada:

Sr. Sirius Black,
Terceiro quarto do segundo andar...


Porém não chegou a ler o resto, pois Walburga já voltava com uma bandeja depositada naquela mesinha. Adhara leu apenas aquelas duas frases, e logo desviou sua atenção para o bule de chá de porcelana o qual usou para encher sua xícara de um chá com cheiro de canela queimada, mas o gosto estava bom.
- Sirius... – disse Walburga. – Ele recebeu a carta de Hogwarts há pouco tempo... – ela havia percebi o olhar de sua amiga que caíra levemente sobre aquele envelope.
- Ah sim! – concluiu enfim. – Sirius está com que idade?
- Ele completou onze anos! – e finalmente sorriu. – E já não era hora de receber a carta... Até achamos que ele não a receberia... – e soltou um olhar penetrante como se visse Sirius logo ali na frente.
- Mas isso é bom! Então vão continuar a tradição da família... E o outro rapaz?
- Régulo? Régulo é um ano mais novo, mas ele é um bom garoto! Sabe seguir o melhor caminho! Ano que vem deve receber a carta! Mal espero por isso! – e voltou a sorrir, porém era um sorriso malicioso.
- Se Emily receber a carta... Será só ano que vem... Ela deve ter uns dez anos no momento...
- É... Eu espero que Sirius não vá se misturar com aquela gente! – disse mudando de assunto logo.
- É claro ele terá que seguir a tradição da família!
- CLARO QUE SIM! SOMOS OS BLACK! – disse em tom importante.
Logo ali, sentado no peitoral da janela, pensando no que acabara de acontecer. O garoto olhava a paisagem. Fazia um sol escaldante, era verão. E estava olhando para uma praça perto de sua casa. Fazia algumas horas, ele havia recebido uma carta endereçada a ele com os dizeres:

ESCOLA DE MAGIA E BRUXARIA DE HOGWARTS
Diretor: Alvo Dumbledore
(Ordem de Merlin, Primeira Classe, Grande Feiticeiro, Bruxo Chefe, Cacique Supremo, Confederação Internacional de Bruxos)

Prezado Sr. Black,
Temos o prazer de informar que V.Sa. tem uma vaga na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Estamos anexando uma lista de livros r equipamentos necessários.
O ano letivo começa em 1º de setembro. Aguardamos sua coruja até 31 de julho, no mais tardar.
Atenciosamente,
Minerva McGonagall
Diretora Substituta


E seus pensamentos estavam perdidos no futuro, na escola de Hogwarts. Sua prima, Belatriz, tinha dito que Hogwarts era incrível, principalmente as torturas que faziam quando a pessoa pegava uma das piores detenções. Pensava em fazer amizades, não sabia se queria mesmo seguir a tradição da família, na realidade nunca pensou em acatar ordens.
Aquelas palavras de sua mãe estavam começando a irritá-lo. Tudo o que ela queria para ele era imposto, como sempre foi e não tão cedo mudaria. Ela sempre quis que as amizades dele fossem das melhores, ou seja, na opinião dela, puro-sangues; dentre outras. Porém segurou a raiva, voltou-se para a paisagem, contudo apurou a audição.
- Você espera que vá para que casa, Walburga? – perguntou Adhara.
- Sonserina é claro! – respondeu claramente, ainda estava com aquele ar importante. – Não quero que ele se misture com aqueles traidores do sangue da Grifinória, Lufa-Lufa e Corvinal!
- Sonserina... – Adhara repetiu para si.
- Claro que sim! E ele vai ficar no grupo da minha sobrinha Narcisa... Não há melhor opção! – dizia convencida de tudo.
Sirius estava apertando os punhos para controlar a raiva. Aquela mulher, sua mãe, estava passando dos limites. Ele já estava cansado de tudo o que ela queria que ele fizesse. Virou-se para o lado de fora da janela e ficou a observar carros passando lá no final.
- E se ele fizer amizade com outras casas?
- Isso não existe! Se isso acontecer eu vou tomar medidas drásticas! Nem que eu tenha que mudar a memória daqueles traidores e sangue-ruins! Talvez eu até os torture para verem com quem se meteram... Ah não! Não vou suportar essa escória aqui em casa não! – sua voz passou para um tom autoritário.
Cada palavra era um motivo para Sirius cruzar a sala e berrar a mãe. Tentou se segurar novamente, porém agora já estava com os pés no chão esperando a próxima fala. Estava se controlando ao máximo, pois aquela voz autoritária seria o suficiente para liberar sua raiva.
- Depois de Hogwarts ele vai se voltar para a família. Mas se ele for trabalhar no Ministério será porque já existe algum parente dele lá... Eu ainda digo que ele não vai se misturar com aquela gente repugnante!
- CALA A BOCA! – uma voz veio do fundo da sala, e então perceberam que Sirius havia gritado e ele estava diante da janela. – CA-LA A BO-CA!
- Sirius! Fique quieto aí no seu canto! Você não se intrometa na minha conversa...
- Vou me intrometer sim! Estou cansado da sua lábia! Estou cansado das suas imposições! – vociferava com o punho cerrado.
- Imposições? Quem é você para cuidar da minha vida! SOU SUA MÃE! Você é muito ingrato: você tem alimentação, lugar pra dormir, enfim, uma casa; e vem falando para eu ficar quieto! Saia daqui agora eu vou tomar medidas drásticas! – parecia uma competição de quem falava mais alto, e parecia que Adhara havia sumido, pois ela havia se encolhido de tal modo na poltrona que não parecia estar ali.
- E se eu me misturar com “traidores” – imitava a voz de sua mãe. – Você acha que vai fazer o que? Eu não vou deixar você encostar um dedo neles! Sua falsidade e egocentrismo está passando do limite!
- EU NÃO PERMITIREI VOCÊ ESTRAGUE A TRADIÇÃO DA FAMÍLIA! SA-IA DA-QUI A-GO-RA! – ela fez um gesto brusco em direção a porta, mas ao ver Sirius ela puxou a varinha.
- O que é, mãe? Agora vai atacar seu filho porque ele a desobedeceu? – havia um tom de ironia em sua voz. – E mesmo assim, acho que vou continuar aqui... – parecia que queria ver a mãe mais irritada.
- Cru... – parou indignada e guardou a varinha. Aproximou-se de Sirius e o agarrou pela camisa. – Você aprenda... A... RESPEITAR SUA MÃE! – dizia tentando arrastá-lo para fora da sala.
- AH! ME SOLTA!! – disse conseguindo se desvencilhar. Sua raiva era tanto que a vidraça da janela estourou, e voou caco de vidro para todas as direções.
A atenção foi desviada para o vaso que havia explodido. Adhara levantou-se devagarinho, caminhou até a porta e disse:
- Bem... Eu vou me retirando... Tenho coisas para fazer... – antes de qualquer coisa, saiu daquele cômodo e Sirius só retornou a falar quando ouviu a porta da frente bater.
- Você é... – Sirius queria achar uma palavra para expressar sua raiva, mas não disse nada.
- Sou? – Walburga queria acabar com aquela discussão.
Sem resposta, arrastou o filho para fora daquele cômodo e jogou-o para o hall de entrada, e logo depois, antes de trancar a porta, tacou o envelope da carta em cima do filho.
Era tanta angústia guardada que ele queria descontar em alguém. Porém sentiu-se em parte culpado, ele não deveria ter gritado tanto, e muito menos com visitas presentes. Sentou no sofá revirando a carta nas mãos. Puxou a mensagem e a lista. Quando poderia ir ao Beco Diagonal para comprar logo esses livros? Jogou os dois pedaços de papel de lado no sofá, e fechou os olhos. Será que ele seguiria a tradição da família ou não? Ele escutou um estalo e um berro vindos da sala a qual acabara de sair. Aproximou-se e encostou o ouvido na porta.
- Monstro! O que você faz aqui? Me assustou! – berrava Walburga.
- Desculpe-me, senhora Black! – disse uma voz baixa e arrastada. – Monstro não queria assustar a senhora... Eu só ouvi você berrando e vim... A senhora preocupou Monstro, e aproveito para dizer que o almoço está sendo feito...
Monstro era o elfo que servia à família Black. Ele já vivera muitos anos e sempre serviu a mesma família.
- Ah... Não foi nada, só mais uma discussão familiar... – ela parecia estar se recuperando de um ataque de nervos. – AH! O almoço, claro! Muito bem, Monstro... Já limpou os andares acima?
- Sim, senhora...
- Ótimo... É melhor sair logo daqui... Não quero levar mais sustos... Se me der outro, você já sabe! – e passos ecoaram em direção a porta, outro estalo ocorreu.
Sirius saiu rapidamente dali, pegou o envelope e as cartas e subiu para o andar superior, e logo escutava a porta sendo escancarada e aquela pessoa saindo, sem perder a pose, caminhando em direção à cozinha. Sirius dirigiu-se para seu quarto e encostou a porta. Na parede havia alguns pôsteres de um time de Quadribol, o famoso jogo dos bruxos. Deixou as cartas em sua escrivaninha e sentou-se na sua cama. Não demoraria muito para o almoço estar pronto. Mas ele queria descansar. De manhã recebera a carta que tanto esperava e logo após chegou uma antiga amiga de sua mãe, que havia acabado de sair de Azkaban, uma prisão bruxa muito temida guardada pelos terríveis dementadores, capazes de sugar toda a felicidade de uma pessoa.
Sirius era um garoto de cabelos negros, magro, e um pouco alto. Possuía incríveis olhos cinzentos que muitas vezes pareciam azuis. Seu rosto tinha uns traços de um tradicional garoto juvenil. Ele conseguia encantar muitas garotas, ainda jovem, normalmente quando caminhava pela rua, distraído. Havia poucas fotos sobre sua mesa-de-cabeceira: uma qual ele estava sozinho em um parque florido, sorria para a câmera, descontraído; outra era ele e suas primas, Narcisa, Andrômeda, ele, e Belatriz; e a terceira e última era dele com seu irmão Régulo, ambos sorridentes.
Olhou para a primeira foto, tirada pelo seu tio Alfardo. E começou a lembrar... Fora um dos dias mais felizes de sua vida. Sirius fora visitá-lo em sua casa de campo no extremo sul da Inglaterra. Ele sempre gostou do tio, e vice-versa. A foto foi tirada em um dia onde estava um sol escaldante, os dois haviam saído para dar uma volta na cidade e encontraram um lindo parque. Havia um grande canteiro florido e no centro havia um palco circular um pouco mais alto que o terreno, era feito de mármore e havia um teto em formato circular também. Alfardo disse que iria tirar uma foto. Sirius por sua vez tinha dito:
“Aqui que me casarei!”
“Hum... Aqui não é cidade bruxa, mas depois dá para apagar a memória de todo mundo... – e fez cara de sério. – É claro que seu pai não pode saber!”
Isso foi suficiente para provocar riso no sobrinho, que saiu tão feliz na foto que serial quase irreconhecível.
Depois se lembrou da segunda foto. Não fora dos melhores dias, e a foto fora tirada naquela casa onde estava. Seus parentes vieram para comemorar o aniversário de sua mãe, e dentre os parentes vieram suas primas. A que mais simpatizava era com Andrômeda. A mãe tinha acabado de discutir com ele por causa de um mísero pedaço de bolo, e ele não estava com um dos melhores humores. Porém na foto saiu naturalmente, segurando a cintura de Belatriz e Andrômeda. Contudo as três primas eram particularmente bonitas, cada uma com seu charme. A mais velha era Belatriz, possuía um rosto bem desenhado, era uma bela mulher, no entanto seu olhar não emitia seus verdadeiros pensamentos. Narcisa parecia delicada, possuía cabelos lisos e loiros e um rosto fino. Andrômeda era morena e com um bom astral, e possuía um aspecto de mulher, e não uma adolescente, que nem Belatriz. Todos os quatro se movimentavam para entrar na foto, e finalmente paravam sorrindo para a câmera.
A terceira e última foto fora em um dia que ele estava de bom humor, seu aniversário. Tirou então essa foto com seu irmão caçula. Régulo era muito parecido com Sirius, porém era um ano mais novo e mais baixo. Os dois se abraçavam felizes, como uma verdadeira família. Uma lágrima caiu do rosto de Sirius, eram poucas as vezes em que a família estava unida e feliz. Ele gostava do irmão, mas muitas das vezes se descontrolava com o outro e acabavam brigando, e vice-versa. Ele queria muito que a família acabasse com o preconceito e fosse unida como nunca fora. Muitas vezes discutia com sua mãe, queria acabar com isso.
Fechou os olhos por um instante e deitou-se novamente na cama. E não passara nem meia hora já sentia o cheiro de comida. Desceu os degraus da escada sorrateiramente, e olhou para a cozinha, a mesa estava quase pronta. Normalmente quando ele invadia a cozinha antes do Monstro avisar que estava pronto o almoço ou jantar, o elfo começava com um ataque de histeria.
Logo escutou a porta se abrindo, e ao olhar para trás estava um homem alto, com o semblante de uma pessoa sempre atenta, chegava até parecer loucura. Possuía cabelos negros que estavam ficando grisalhos por causa do tempo. O homem foi se aproximando e ao passar por Sirius, este exclamou:
- Pai! Chegou do trabalho cedo!
- Sim! Muita gente faltou hoje... Eu vou trabalhar em meu quarto, faltam algumas pesquisas... Há muitos casos de magia usada na frente de trouxas... Isso é se expor demais! Ah, não... – a voz de Orion era calma, porém um pouco grossa. – Ah! O Almoço está quase pronto! – disse por fim olhando para a cozinha. – É isso aí, Monstro!
- Sim, senhor Black!
- Orion... Por favor! – e se dirigindo para o andar de cima, Sirius ainda o ouviu cumprimentar Régulo e Walburga.
Sirius se jogou no sofá, porém mal passara cinco minutos e Monstro já estava chamando todos para o almoço com aquela sua voz arrastada. Logo vários passos ecoaram no andar de cima e apareceram sua mãe, seu irmão, e seu pai que já havia mudado de roupa. Todos entraram na cozinha muito comprida com uma mesa de grande comprimento. Orion se sentou em uma cabeceira, e sua mulher logo a direita dele, Régulo sentou-se de fronte pra Walburga e Sirius ao lado dele.
Havia um grande peru, muito parecido com os que são feitos para o Natal, dentre outros tipos de comida. Tudo estava muito calmo e quieto, apenas com o tilintar dos garfos no prato, e Walburga começou a falar.
- Orion... Sirius hoje recebeu a carta de Hogwarts! – disse com sua voz sonsa.
- Que bom, Sirius! – exclamou Orion com um sorriso largo e se esticou para dar um tapinha nas costas de Sirius. – Então vai ser mais um Black a cursar em Hogwarts! Isso é bom, muito bom! A nossa família v...
- Na realidade há um “contudo”! – interrompeu Walburga, séria.
- Como assim? – perguntou Sr. Black curioso, e surgiu uma expressão de desespero na cara de Sirius.
- O seu filho... – começou com tom ameaçador. – Não pretende seguir a tradição da família! Ele teve um ataque de raiva novamente... Quase que eu o taco para fora da janela! Ele está começando a me tirar do sério!
- Não vem não, mãe! – disse Sirius tentando cortar a lábia da mãe. – Essa sua lábia falsa já impôs muita ordem hoje!
- Sirius! Mais respeito com sua mãe! – advertiu o pai já sério.
- Não pai! Ela não tem respeito por ninguém, porque teríamos por ela! Ela quer ditar as ordens e que o resto se abaixe para reverenciar!
- SIRIUS! FICA QUIETO! Se alguém aqui merece me respeitar é você e Régulo! Sorte que Régulo não é desequilibrado que nem você. Se fosse eu me suicidaria... – com essas palavras Régulo soltou um risinho e Sirius amarrou a cara mais ainda.
- ELA QUER IMPOR MEU FUTURO! – vociferou. – Ela quer “seguir a tradição da família”! Por que não me deixa cuidar da minha vida, e VOCÊ cuida da sua?! – ele exagerou tanto que acabou passando dos limites.
- Levanta daí, já! – disse Walburga dirigindo-se para o menino.
Walburga bufava de raiva, puxou a cadeira de Sirius, segurou-o novamente pela gola da camisa, apontou a varinha para ele e o fez ajoelhar diante dela. Ela berrava coisas sem sentido, eram palavras soltas como: “Traidores”, “Não vai segui-los”, dentre outras.
- SILENCIO! – bradou o pai finalmente fazendo com que todos ali presentes ficassem calados. – Walburga, sente-se! Sirius... levante-se! – dizia em uma voz sonora. – Régulo continue calado – acrescentou. – Quero que todos respeitem este horário de almoço e ajam como uma família!
- Ela... – começou Sirius em vão, porém ele sentiu sua língua enrolar para o fundo da garganta, e logo depois ela colou no céu da boca. Ele estava quase sufocado, pois diminuíra a passagem de ar, então notou que a mãe lançara o feitiço não verbal nele, ficou então respirando com dificuldade, a raiva pulsado dentro dele.
- Vocês têm que parar de brigar... – começou com seu sermão. – Vocês não entendem o que uma família significa? A família tem que estar sempre unida para a segurança de todos! – e deu ênfase na palavra segurança. Olhou então para Sirius e disse: – Respeite sua mãe... Ela é assim – e depois tentou concertar essa fala, mas já era tarde demais -, e você tem que se acostumar! – quando não houve resposta logo indagou. – Sirius? SIRIUS REPONDA!
Sirius apontou para a boca e depois para Walburga que tentou esconder a varinha em vão. Logo o olhar de Orion caiu sobre sua mulher e uma voz calma e tocante disse:
- Destrave a língua dele...
Foi um alívio para o rapaz, ele mal conseguia respirar. Então, decidido, levantou-se da mesa, deixou seu prato na pia, e rumou para seu quarto. Pelo menos lá poderia ficar em paz. Fechou os olhos, mas a comida pesava em seu estômago. Ouviu passos no corredor e uma batida em sua porta, e respondeu que poderia entrar.
- S-sirius? – perguntou receoso. – Você está bem?
- Sim... Est... – e hesitou. – Na realidade não estou... Estou cansado, Reg... Estou cansado da mamãe...
- Muitas vezes ela irrita mesmo... Mas eu não entendo... Você não pretende seguir a tradição? – disse fechando a porta. Era possível ver a grande semelhança entre os dois irmãos.
- Reg, a realidade é que eu seguirei meu caminho, eu estou cansado com o modo que a mamãe trata as pessoas, principalmente eu. Como seu eu fosse alguém a quem não se pode confiar nada... E ela quer me impor...
- Sirius... Você sabe que no fundo ela está certa... Você não entende? Aquelas pessoas são mesmo muito má companhia para os puro-sangues...
- Ah! Pensei que você veio aqui me amparar! Você veio pra dizer que ela está certa...
- Mas...
- É melhor você sair daqui... Saia!
- Certo... Desculpe, irmão, não queria irritá-lo mais ainda... – Régulo foi se retirando, porém acrescentou: - E... AH! Mamãe disse que amanhã vocês vão ao Beco Diagonal para comprar o material escolar!
E se retirou sem mais nenhuma palavra. Fechou a porta silenciosamente, o que Sirius queria naquele momento era descansar, então fechou os olhos e logo estava no mundo dos sonhos.



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Notas do autor:

Há pequenas mudanças neste capítulo.

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