Aula de Feitiços



Capítulo 6
Aula de Feitiços


Heron e Adam já haviam tomado o café-da-manhã quando Cat e Marina sentaram-se de frente para eles na mesa da Grifinória. A conversa entre eles cessou quando as duas sentaram-se e Heron olhou rindo para a irmã.


– O que aconteceu com a sua cara?


Cat levantou um olhar letal para o irmão.


– Ela passou a noite em claro – Marina disse distraída.


Adam levantou a sobrancelha.


– E o que foi que tirou seu sono?


Os dois rapazes viram a menina corar e baixar o olhar envergonhado.


– Insônia – ela respondeu em um murmuro.


– Eu tenho certeza que para a rainha-da-vaidade aparecer assim em público o motivo deve ser muito melhor que “insônia”.


Adam riu, mas não disse mais nada. Marina também esticou os lábios no que seria um sorriso, mesmo assim mais preocupada com o seu café-da-manhã. Cat, por sua vez, voltou a levantar a cabeça para encarar o irmão mais velho. A testa e o nariz franziam-se em irritação.


– Tá legal, eu já entendi que estou feia, pode parar!


Só então Marina pareceu se dispor a parar de comer para defender a prima.


– Não escuta ele, amiga, você sabe que fica linda até quando está feia.


Cat bufou, balançou a cabeça e se pôs a servir-se do café-da-manhã, enquanto Heron e Adam riam deliciosamente. Depois de encher um copo de suco de abóbora, Cat abriu a boca para dizer alguma coisa, mas foi interrompida por uma mão tocando seu ombro.


– Já tiveram aulas de Feitiços? – a cabeleira loira de Claire surgiu de trás de Cat. – Estou ansiosa para as aulas da professora nova.


Sorrindo, animada, Claire sentou-se ao lado de Cat.


– Bom dia pra você também – Cat disse com ironia.


Claire olhou para ela, franziu a testa e abriu a boca, mas não desistiu do próprio comentário vendo Marina balançar a cabeça negativamente.


– Então? – ela tornou a perguntar, esperando uma resposta.


Por um segundo a única resposta que teve foi um sorriso nervoso de Heron.


– Não. – Marina disse logo depois. – Pensei que fôssemos ter as aulas de feitiços juntas.


Adam puxou do bolso das vestes um pergaminho amassado e o passou para Marina com descaso.


– Corvinal e Grifinória juntos só no sexto ano – ele olhou sugestivamente para Heron, rindo discretamente. – Isto é, você e a Claire terão aulas juntos...


Ninguém viu o soco que atingiu a lateral do tronco de Adam, nem prestaram atenção quando ele gemeu de dor e mordeu o lábio.


– E nós somos obrigados a ter Feitiços, DCAT e História da Magia com os adoráveis sonserinos – Marina resmungou.


Cat e Adam fizeram uma careta.


– Desculpe – Heron deu os ombros, apontando para si mesmo e para Claire. – Sextanistas.


Marine estreitou os olhos, olhando enfezada para o primo. Cat debruçou-se sobre a mesa, choramingando.


– Mas se ninguém aqui teve, então eu acho que só os outros anos tiveram aulas com ela... Pelo menos até agora.


– Pelo que eu ouvi, na Grifinória, só do quarto ano para baixo – Heron falou.


Claire pôs a mão no queixo, pensativa.


– No meu salão comunal os setimanistas estavam falando que a aula dela até parece mais DCAT do que Feitiços.


– E isso é bom ou ruim?


Claire riu e deu os ombros.


– Eu tenho plena certeza de que é bom! Os comentários que eu ouvi não podiam ser melhores.


Adam suspirou.


– Bom, azar pra nós que vamos contar com a deliciosa companhia dos sonserinos.


– E sorte do Heron, que vai me ter como colega de estudo.


Cat virou para ela, dando a primeira risada do dia.


– Você é pouco convencida, né, amiga?


Claire riu também e se levantou da mesa com animação.


– Te vejo na aula, Heron! – ela exclamou, jogando a mochila sobre os ombros e se afastando do grupo.


Heron observou-a de longe mais um segundo e abaixou a cabeça, tendo certeza de que estava corado. O gesto não passou despercebido por Cat, que deu uma risada e, mansamente, encarou o irmão mais velho.


– Aposto que você não sabia que eu era amiga da Claire... Heron – ela deu uma risada.


– Não fazia a melhor idéia – foi só o que ele disse.


Os olhos estavam focados na prataria em cima da mesa, mas Cat sabia que aquele ar de desinteresse era só fachada. Por uma única vez, resolveu poupar Heron de maiores provocações.


– Mas como não? – Marina começou a rir. Claramente ela não tinha entendido a malícia por detrás do comentário de Cat. – Já faz dois anos que ela faz Estudo dos Trouxas com a Cat.


Heron levantou novamente o olhar para a irmã. A sobrancelha esquerda estava levantada.


– Eu continuo sem entender porque você faz Estudo dos Trouxas quando a mamãe e o papai cresceram e nos criaram no meio trouxa, Cat. – ele resmungou. – Runas Antigas é muitíssimo mais interessante.


– A razão se chama crédito extra, maninho... Ou você faz questão que eu explique alto e claro que quem herdou o fator nerd da mamãe foi você?


– Se chama inteligência, maninha.


As feições dela voltaram, quase instantaneamente, ao estado de mal-humor.


– É melhor você se apressar se quiser manter o status de CDF da família, porque a aula de Feitiços já deve estar para começar!


Ele jogou a mochila por cima do ombro e se levantou, rindo acidamente para a irmã.


– Estou indo... Boa sorte com os sonserinos.


Cat abriu a boca para retrucar, mas Adam a interrompeu sem ao menos perceber.


– Obrigado, vamos precisar mesmo...


E no minuto seguinte Heron já havia se afastado da mesa e deixado o grande salão.


 


Quando Lupin e Tonks abriram a porta da sua pequena casa em Hogsmead, Hermione estava sentada no sofá, lendo um livro com Levi sentado no colo e Harry descia as escadas com as malas deles nas mãos.


– Eu não acredito que agora que voltamos, você resolveram ir embora! – Tonks protestou.


Hermione e Harry olharam para a porta e sorriram, cumprimentando o casal. Levi pulou do colo da mãe e correu até Tonks, que o levantou em um abraço apertado enquanto Lupin deixava as malas no hall.


– Muito obrigada por terem nos cedido a casa durante essa semana – disse Hermione, se levantando para trocar um abraço com os dois. – Infelizmente já tínhamos combinado que não ficaríamos mais que uma semana, Harry tem trabalho no Ministério e as aulas na escola de Levi começam essa semana.


Harry deixou as malas do lado da escada e foi abraçar Lupin e a esposa também.


– É realmente uma pena – disse Lupin. – Nós queríamos ter voltado mais cedo para poder passar alguns dias com vocês, mas a missão complicou e tivemos que ficar além do prazo.


– Não se preocupe, recebi sua coruja – disse Harry.


Tonks sentou-se no sofá com Levi no colo.


– Tem certeza que não podem ficar mais nem um dia sequer?


– É, mãe, só mais um dia – Levi pediu, implorando com os olhos.


Lupin e Harry soltaram uma risada divertida.


– Não adianta me olhar com esses olhos pidões – ela olhou para Harry. – E você não ria! Não me façam parecer a chata aqui, está bem?


Lupin mordeu o lábio, encostando-se no braço do sofá, ao lado da esposa.


– É – disse ele. – O Departamento de Aurores está fervendo. O Profeta Diário está começando a questionar demais o fato de não termos pista alguma sobre o que aconteceu em Paddington.


Hermione trocou um olhar discreto com Harry, que balançou a cabeça em afirmação. Eles dois contornaram o sofá e Hermione sentou-se ao lado de Tonks a medida que Harry encostou-se na parede de tijolos ao lado da pequena lareira.


– Levi, porque você não vai ver se não esqueceu alguma coisa lá em cima? – Harry sugeriu.


– Eu tenho certeza que guardei tudo, papai – o pequeno respondeu.


O moreno sorriu para o filho.


– Bom, se você esquecer alguma coisa, não diga que não avisei!


O menino rolou os olhos, gemeu em desânimo e pulou do colo de Tonks, subindo as escadas sem pressa alguma.


Só depois que ele desapareceu nos últimos degraus que Lupin e Tonks voltaram-se para Harry e Hermione com olhares interrogativos.


– O que aconteceu? – os dois perguntaram. Os cabelos de Tonks mudaram do tom habitual de roxo para um azul muito escuro que indicava sua curiosidade.


– Nada demais – Harry disse de modo tranqüilizador. – Nós só estamos a par de algumas informações sobre o assassinato em Paddington...


– Informações que o Harry achou melhor não trazer a tona no Departamento.


Tonks ajeitou-se no sofá, fazendo um sinal para que eles continuassem.


– Lupin, você conhece William Chase, certo?


– Claro – o mais velho respondeu. – É um dos melhores aurores do Departamento. Embora eu não tenha nenhuma intimidade com ele, já que conversamos poucas vezes, sei que faz um ótimo trabalho lá.


Harry afirmou com a cabeça.


– Pois então – ele continuou. – Will tem feito grandes progressos com relação ao assassinato. Já que não havíamos conseguido colher nenhuma informação que nos remetesse ao assassino ou ao motivo do assassinato, resolvemos tentar uma abordagem diferente: nós começamos a investigar, extra-oficialmente, a história da família Burchell e da filha das vítimas, Astarte Burchell.


– Conseguiram alguma coisa até agora? – Tonks perguntou.


– Na verdade, o que descobrimos não são informações diretamente importantes, mas que podem ter algo a ver com o motivo do assassinato – ele disse. – Eu não vou entrar em detalhes com isso agora, Will está preparando um relatório com todas as informações que colhemos que eu pretendia enviar a Dumbledore, mas posso te mandar uma cópia.


– Mas se vocês não contaram isso a ninguém, porque o Ministro ainda não encerrou as investigações? Quando eu e Tonks partimos para Manchester atrás dos traficantes de artefatos mágicos ele estava decidido a deixar as investigações de lado por falta de evidências.


– Acontece que nós liberamos um mínimo de informações para que ele considerasse válido deixar as investigações em aberto – Harry explicou.


Tonks balançou a cabeça. Novamente seus cabelos muraram de cor, assumindo agora um tom esverdeado cheio de mechas pretas que denunciava sua confusão.


– Mas eu não entendo porque manter as informações mais importantes em sigilo!


– Astarte Burchell, a filha das vítimas, está lecionando em Hogwarts este ano, de modo que mantendo em segredo a ligação entre ela e o caso, nós evitamos que Dumbledore, ou a própria escola de Hogwarts, acabem se envolvendo em algum tipo de polêmica ou escândalo.


– Além disso – Hermione adiantou-se. – Harry acha que dessa vez o ministério possa estar lidando com um bruxo ou um grupo de bruxos realmente poderosos. Nesse caso é sempre bom evitar o sensacionalismo.


Tonks balançou a cabeça, mostrando ter entendido o ponto de vista de Harry.


– Já foi bastante ruim quando isso aconteceu da última vez.


Lupin inclinou-se para frente.


– Você realmente acha que podemos estar lidando com amantes de magia negra outra vez?


Harry deu os ombros.


– Até agora é mais um medo de que seja isso do que uma suspeita em si – ele ponderou. – Mas o fato é que o caso se encaixa perfeitamente nos padrões dos assassinatos de dezesseis anos atrás. Pessoas assassinadas sem nenhum motivo aparente, nenhuma pista sequer deixada para trás. Absolutamente nada, por motivo algum, da mesma forma que Voldemort costumava fazer.


– Mas dessa vez não pode ser ele! – Tonks exclamou. – Quero dizer, ele foi morto e cremado. Dessa vez nós temos certeza de que ele foi destruído de uma vez por todas.


– Obviamente, por isso, eu não considerei a hipótese de ter sido ele – Harry concordou, com um olhar frustrado. – Contudo, confesso que não sei o que pensar.


Lupin ainda fez menção de dizer alguma coisa, mas Levi irrompeu pela sala com uma expressão vitoriosa para cima do pai.


– Eu disse que não tinha esquecido nada!


Harry sorriu para o filho.


– Então, vamos?


O pequeno sorriu e concordou com um aceno. E depois de rápidas despedidas, Harry, Hermione e Levi partiram pela lareira da casa.


 


Astarte Burchell entrou na sala de aula como um furacão: rápida e agitada.


Os vários alunos que antes conversavam amistosamente calaram-se imediatamente, todos voltando o olhar para a professora.


Ela parou na frente da sala, de costas para o quadro negro e por um minuto não disse nada, apenas avaliando a expressão de cada um dos alunos ali sentados, todos com o uniforme de Hogwarts, tendo metade da sala os detalhes das vestes em azul e prata e a outra metade em vermelho e dourado.


O olhar dela parou em um certo garoto de cabelos castanhos revoltos e um sorriso surgiu em seus lábios. Ela agitou a varinha e, atrás de si, um pedaço comprido de giz branco começou a rabiscar a lousa.


– Bom dia a todos – ela anunciou, obtendo como resposta um cumprimento geral da sala. – Quase que passamos a primeira semana de aula sem nos conhecermos, não é mesmo?


A sala continuou em silêncio. Ela não parecia ser uma professora especialmente rigorosa, mas de alguma forma sua presença era marcante.


– Parece que, afinal de contas, nossas aulas serão somente as sextas-feiras e nós passaremos a manha toda juntos – novamente, o silêncio não se rompeu. – O que é bom, considerando que isso me dá a possibilidade de planejar aulas mais extensas e, portanto, mais elaboradas para vocês. Algum de vocês se arrisca a adivinhar o que preparei para essa primeira aula?


Novamente, ninguém se manifestou.


Ela suspirou satisfeita.


– Bem, eu pensei em um tipo de teste para saber qual é o nível de magia de vocês – explicou. – Eu conversei com o professor Stevens e nós concordamos que as aulas de DCAT e Feitiços podiam estar mais relacionadas uma com a outra, uma vez que Defesa Contra as Artes da Trevas está tão diretamente vinculada ao bom uso de feitiços e encantamentos.


O barulho seco que o giz fazia atrás dela parou. Heron podia ler quatro palavras listadas no quadro negro: Proteção, Desarmamento, Ataque e Patrono.


– É basicamente disso que se tratam os testes que eu proponho a vocês hoje – ela voltou a dizer. – Eu quero saber se vocês dominam ou não pelo menos um feitiço de cada um desses tipos e, para isso, obviamente será necessário colocar vocês em uma situação que simule um duelo.


Perto de si, ela viu um aluno da Corvinal levantar o braço, hesitante.


– Sim? – respondeu educadamente.


– Professora Burchell, esse tipo de atividade não deveria ser visto nas aulas de DCAT?


Ela sorriu para ele e assentiu com a cabeça, mostrando que havia sido uma pergunta muito conveniente.


– Certamente – afirmou. – Contudo, essa primeira aula não tem fins explicativos. Como o professor Flitwick é quem esteve ministrando essas aulas aqui durante muito tempo, eu preciso saber qual a linha pedagógica que ele seguia e o que costumava ensinar para cada ano. Vocês devem ter reparado que o livro que eu pedi é diferente do que ele escolhia para os sextos anos – todos confirmaram mecanicamente. – Pois então, eu quero só saber que tipo de feitiços vocês dominam nessas quatro categorias.


Ela fez sinal para que se levantassem de suas carteiras e uma vez que todos estivessem em pé, um gesto rápido com a varinha fez com que todas as mesas e cadeiras se transfigurassem em um único e extenso tapete branco.


Depois Astarte virou-se para a lousa e novamente sacudiu a varinha. Dessa vez as quatro palavras se desfiguraram e misturaram-se na lousa.


– Pensem todos em uma única outra pessoa dentro dessa sala, com a minha exceção. – ela instruiu.


Então, os traços feitos de giz foram quebrando-se e movendo-se pelo quatro negro, unindo-se com outros, formando palavras que se distribuíam rapidamente montando uma lista. Heron precisou de um segundo, depois que o processo concluíra-se, para entender do que se tratava.


Agora eram nomes que formavam uma lista de duplas. E na quinta linha da segunda coluna ele leu seu nome.


Heron Potter e Claire Walker


– Bem, o que vocês estão esperando? – Astarte sorriu amistosamente. – Formem suas duplas e disponham-se em posição de duelo como vocês já aprenderam nas aulas de DCAT.


Todos começaram a se movimentar pela sala de modo a formarem-se como a professora tinha mandado.


Heron ainda estava parado, meio atônito, sem saber o que fazer. Havia, afinal, pensado nela? Ou será que era ela quem pensara nele? Ele viu a cabeleira loira de Claire aparecer por entre os outros alunos, provavelmente o procurando.


Seus olhos fixaram-se em Astarte. Ela não olhava para ele, mas sorria como se soubesse cada um dos pensamentos na sua cabeça. Olhou nervosamente para Claire de novo. O olhar dela encontrou o dele e ela sorriu. Não de modo malicioso, nem como qualquer outra pessoa sorria, mas de uma forma doce e inocente que o fazia se sentir bem.


Mas se ele gostava de vê-la sorrir daquela maneira, por que, interiormente, não queria que ela se aproximasse?


– Heron! – a loira exclamou, quando finalmente chegou até ele. – Parece que somos dupla, de novo.


Ele tentou sorrir de volta, mas não conseguiu saber se havia sido convincente. Sentiu-se tentado a virar os olhos e procurar Astarte novamente. Por outro lado, preferia que ela não prestasse atenção nele naquele momento.


– Ótimo – ele somente ouviu a voz da professora. – Comecemos então com a atividade. O que eu quero é, basicamente, que vocês comecem conjurando feitiços de ataque, defesa ou de desarmar. Um ataca e o outro defende, naturalmente – depois sua voz pareceu assumir um tom de alerta. – Lembrem-se que isso é só um treinamento, eu não espero ter problemas em uma sala que não tenho sonserinos.


Todos os alunos riram. Foi o momento chave onde a tensão que a presença intimidadora dela foi quebrada e os alunos começaram suas atividades normalmente.


– E aí, quer atacar ou defender? – a voz de Claire lhe invadiu como se pedisse toda a sua atenção.


Ele a olhou, preparando-se para forçar um sorriso. Claire sorria tão inocentemente, não tendo a menor idéia do que se passava na cabeça dele, que o sentimento o contagiou antes que ele simulasse um sorriso e o que surgiu em seus lábios foi totalmente espontâneo.


Ela tinha uma expressão tão feliz no rosto, que Heron não pôde deixar de pensar que provavelmente era mesmo ele quem tinha pensado nela, sem ao menos perceber, e esse era o motivo da sua felicidade. Talvez, apenas talvez, Adam tivesse razão e Claire realmente estivesse esperando mais dele do que só amizade.


– Acho que melhor você atacar – ele respondeu, querendo que seus pensamentos não soassem tão egocêntricos. – Assim não corremos o risco de você se machucar.


Ela estreitou os olhos, dando uma risada.


– Ora, Potter, você realmente acha que eu não defendo um feitiço seu?


Heron riu também. Claire levantou a varinha e a encostou no peito do rapaz, aproximando-se dele.


– Eu só acho que não devo pegar muito pesado com a princesinha do Ministro – ele respondeu em tom provocante, entrando no jogo dela.


Ela abriu a boca, fazendo-se de ofendida, mas aproximou os lábios do ouvido do rapaz. O perfume dela invadiu o nariz de Heron sem pedir permissão. Ele não se lembrou que estavam em uma sala de aula quando fechou os olhos.


– Vamos ver quem pega pesado com quem, Potter – ela sussurrou, de um modo que ele achou perigosamente provocante, e afastou-se empunhando a varinha.


Heron abriu os olhos, não conseguindo evitar que seu coração quase parasse em uma frustração agonizante. Ele se daria ao luxo de ficar mais alguns segundos parados, saboreando o arrepio na nuca que ela lhe causara, mas Claire já sacudia a varinha pronunciando um feitiço.


Um lampejo azul partiu da varinha dela em sua direção.


– Protejo! – ele ordenou.


O feitiço de Claire chocou-se contra uma parede invisível e dissipou-se no ar.


– Expeliarmus – tornou a dizer.


Ele viu Claire sorriu com o canto dos lábios.


– Impedimenta! – e seu feitiço dissipou-se no ar. – Vamos lá, Heron, você é um Potter, tem que saber mais que isso.


Mais uma vez ela o atacou e mais uma vez ele defendeu-se com êxito.


– Apostando no meu lado competitivo, princesinha?


Claire balançou a varinha três vezes consecutivas.


– Olhe só – um lampejo vermelho saltou pela ponta da varinha. – Quem é... – outro lampejo vermelho. – A princesinha! – um terceiro lampejo surgiu, deslizando pelo ar na direção de Heron.


O sorriso desapareceu no rosto dele e, dessa vez, defender-se não foi tão fácil como das outras. O primeiro e o segundo feitiço bateu contra o feitiço protetor de Heron, mas o terceiro voou agilmente até ele e o atingiu no peito, arremessando-o metros para trás.


– Muito bem, Walker – ele ouviu a voz de Astarte.


Só quando se levantou, sentindo a dor do impacto no peito, é que viu a professora, de braços cruzados, olhando-o com um sorriso nos lábios e as sobrancelhas erguidas.


– Vamos lá, Potter – ela deu uma risada. – Eu sei muito bem que você sabe fazer melhor que isso.


Heron olhou emburrado para uma Claire que sustentava um sorriso vitorioso. Ergueu novamente a varinha, não conseguindo ignorar o comentário de Astarte.


– Estupefaça! – ele bradou.


Faíscas vermelhas exatamente iguais as que Claire havia conjurado saíram de sua varinha. Ele ainda a brandiu mais duas vezes, repetindo o feitiço.


Claire sacudiu a varinha com agilidade. O primeiro feitiço desapareceu no ar. O segundo avançou em cima dela, que se abaixou, girando o corpo e evitando o feitiço, e tornou-se a levantar com a varinha armada.


– Protejo! – e o terceiro lampejo vermelho chocou-se contra a proteção invisível.


A loira não ficou observando Heron se preparar para mais um ataque, ergueu a varinha e tornou a conjurar um feitiço de desarmamento contra o adversário.


Irritado, Heron protegeu-se antes que fosse desarmado.


– Acho que você pode fazer melhor, Heron – Astarte tornou a dizer, sorrindo.


Ele a olhou rapidamente, por algum motivo muito irritado. Ela tinha um sorriso despreocupado no rosto, mas não olhava para ele, tinha sua atenção voltada para outra dupla. Dois outros alunos da Grifinória e outros dois da Corvinal haviam parado seus testes para observarem a disputa de Heron e Claire.


Não durou mais de um segundo, mas alguma coisa na forma como a professora falava feriu seu orgulho tão doloridamente, que quando o moreno apontou a varinha novamente para a loira a sua frente, a convocação de mais um feitiço de ataque saiu quase como um grito.


– Estupefaça!


E outra rajada vermelha irrompeu pelo ar.


Claire posicionou a varinha e tentou conjurar outro feitiço-escudo, mas a rajada rubra de Heron pareceu o romper como se fosse uma folha de papel e terminou explodindo em faíscas no peito de Claire, jogando-a metros para trás. As costas da menina chocaram-se contra a parede e seu corpo caiu no chão, desacordado.


Por um momento, uma rápida fração de segundo, o garoto sentiu-se satisfeito e fez menção de procurar o olhar de Astarte, mas a visão do corpo de Claire desfalecido no chão fez um sentimento de culpa e desespero crescer dentro do peito.


Quando percebeu, já estava ajoelhado ao lado da menina, levantando sua cabeça com cuidado e a apoiando sobre as pernas.  Aparentemente não havia ferimento algum na cabeça, mas um corte pequeno deixava um pouco de sangue escorrer do ombro direito.


– Professora Burchell – os olhos dele se levantaram buscando a professora enquanto ele já chamava por ela.


Astarte já estava abaixada do lado oposto de Claire quando ele a viu. Os outros alunos também haviam se aglomerado ao redor deles, o que deixou Heron ainda mais nervoso.


– Eu não tive a intenção, eu só...


Mas o olhar que a professora lhe lançou foi seco e repreensivo.


– Eu disse que não queria ninguém saindo machucado daqui, Heron, você deveria ter tomado mais cuidado – ela praticamente rugiu, friamente.


Suas mãos percorreram cuidadosamente o corpo da loira, a procura de ferimentos. Depois ela pressionou o pulso da menina com os dedos médio e indicador.


– Ela vai ficar bem – disse, olhando para o braço direito, que estava dobrado em um ângulo anormal. – Parabéns, Potter, você conseguiu quebrar o braço da senhorita Walker. Agora, se você não se importar, leve-a até a enfermaria e peça para Madame Pomfrey cuidar dela.


Heron assentiu sem dizer nada. Depois levantou Claire no colo, recolhendo a varinha dela e guardando-a junto a sua no bolso da calça.


– E se vocês não se importarem, saiam da frente – a professora ordenou aos outros alunos. – Pelo visto suas habilidades com ataque, defesa e desarme são melhores do que eu pensei – acrescentou com ironia.


Heron já quase deixava a sala quando ela tornou a chamá-lo.


– E você, Potter, não se incomode em voltar para a aula, vai cumprir detenção pelo próximo mês, de todo modo.


Sem dizer nada, o rapaz consentiu e deixou a sala, rumando o mais rápido possível para a enfermaria com Claire nos braços.


Heron passou o resto da manhã ao lado da cama onde a menina ainda estava adormecida. Madame Pomfrey havia lhe dito que o corte no ombro havia sido apenas superficial e que o braço dela estaria como novo no dia seguinte, mas que o impacto sofrido fora tão forte que a menina provavelmente demoraria ainda um pouco para acordar. Fora isso, havia apenas algumas marcas roxas nas costas dela e elas começaram a desaparecer quando Madame Pomfrey deslizou a ponta de sua varinha pela pele da garota.


Pouco antes do meio dia, Astarte apareceu na enfermaria. Contudo, a bruxa não ficou muito tempo e quase não trocou palavras com Heron, apenas deu uma olhada no estado de Claire e conversou rapidamente com a enfermeira.


– Tem sorte que Minerva não tenha julgado necessário avisar seus pais ou os da senhorita Walker sobre o ocorrido, Heron, mas você cumprirá detenção comigo pelo próximo mês, todas as sextas-feiras, depois do horário de aula – foi a única coisa que ela lhe disse antes de deixar a enfermaria.


Durante a tarde, Heron não pôde ficar com Claire na enfermaria, mas foi assistir as aulas com a consciência tão pesada que não conseguiu absorver nada delas. E quando encontrou Cat, Marina e Adam rapidamente no grande salão, depois das aulas, os comentários deles também não ajudaram muito.


– Foi provavelmente a coisa mais estúpida que você já fez, Heron – Cat implicou. – Quero dizer, francamente, você acha mesmo que se conquista uma garota arremessando-a pelos ares e a deixando inconsciente?


Marina riu e olhou para Heron como quem concordava plenamente com Cat.


– Eu já disse que foi sem querer – ele murmurou, irritado. – Já não basta o peso na minha consciência? Você realmente tem que ficar tocando nesse assunto?


– Não sou eu que estou tocando nesse assunto, querido irmão, é Hogwarts inteira... Eu não sei se você se lembra, mas Claire Walker é a filha única do Ministro da Magia. – ela disse, sua voz carregada de ironia.


Adam, que estava atrás das duas, olhou para Heron por cima do ombro da irmã.


– Calma, nem tudo está perdido – ele disse, passando pela irmã, passando o braço pelo ombro do primo e seguindo ao seu lado pela saída do grande salão. – Tudo bem, você atacou a garota pela qual tem uma provável queda, mesmo que não queria admitir isso... – ele acrescentou ao ver o olhar de Heron. – E tudo bem, não seria nada fora do comum se ela não quisesse mais olhar para a sua cara de novo... Mas nós estamos falando de Claire Walker, certo? Quero dizer, você já a viu envolvida em algum tipo de briga aqui em Hogwarts? Não, porque Claire se dá bem com todo mundo.


Heron parou de andar, virando para o primo e lançando-o um olhar desconfiado.


– Adam, pode ir direto ao ponto?


– Estou querendo dizer, meu caro, que nem tudo está perdido. Você deu a sorte de não ter nocauteado uma das patricinhas orgulhosas de Hogwarts... – ele viu Heron levantar as sobrancelhas. – Ah, você entendeu o que eu quis dizer...


Adam voltou a puxar Heron pelos corredores do castelo.


– Eu estou preocupado unicamente com o bem-estar dela, Adam – ele disse. Adam esperou, com um sorriso, até que o primo balançasse a cabeça e completasse – embora, é claro, eu fosse me sentir um pouco mais satisfeito se ela não me odiasse para sempre.


Eles viraram mais um corredor e Adam levantou as mãos, dramaticamente.


– Meu caro, não seja dramático. Você a nocauteou, e daí? Não foi a coisa mais legal de se fazer, mas não quer dizer que tudo esteja perdido. Ouça a voz da experiência: vai dar tudo certo.


Eles pararam por um momento na base de uma escada que estava em movimento e esperaram que ela terminasse de mudar de lugar para subirem.


– Será que no seu mundo pessoas do sexo oposto não podem ser só amigos? Quantas vezes terei que te dizer que não estou interessado em Claire Walker?


Os dois continuaram seguindo pelo corredor no topo da escadaria, quando Adam bufou e lançou um olhar entediado para Heron.


– Está vendo? Esse é o seu problema, você simplesmente não quer admitir que está apaixonado por ela – Adam exclamou, parando subitamente no meio do corredor.


Heron parou também e virou-se para o primo.


– Eu? Apaixonado por Claire? – ele deu uma risada. – Certo, e você sabe disso como? Adivinhação ou Legilimência?


– Eu consigo ver o amor estampado na sua cara.


– Ah, claro, o maior galinha de Hogwarts – Heron riu com sarcasmo. – Adam, você não saberia o que é amor nem se tropeçasse nele!


Adam o olhou contrariado.


– Certo, meu caro, isso é o que vamos descobrir – ele pôs as mãos nos ombros de Heron e o virou de costas para si. As portas da enfermaria estavam bem na sua frente. – Agora fale menos e faça mais... Esteja do ladinho dela quando ela acordar.


E empurrou o primo para dentro do cômodo. Heron não se deu ao trabalho de responder. Ver novamente Claire deitada naquela cama acabou com seu humor.


Madame Pomfrey lhe dirigiu um olhar rápido, com descaso, apenas para saber quem era e depois voltou a atenção para o que quer que estivesse em sua mesa. Heron entendeu aquilo como uma permissão para entrar e foi sentar-se ao lado de Claire.


Pela janela da enfermaria ele pôde ver o sol se por no horizonte.


– Não precisa ficar aqui, Potter, a senhorita Walker está perfeitamente bem e pode não acordar hoje – a voz de Madame Pomfrey cortou momentaneamente o silencio.


Ele não respondeu, mas também não se moveu. Acomodou-se melhor na poltrona ao lado da cama de Claire e recostou a cabeça para trás. Sabia que a loira estava bem, sabia que ela não tinha nada de grave, mas mesmo assim não iria sair dali...


Não até que ela acordasse.

<---------------------------------------------------------------------------------------------->

Nota do Autor: Bom, pessoal, aqui está o capítulo 6 depois de meses sem atualização. Não sei se você já sabem, mas a falta de postagens tinha a ver com os meus estudos para o vestibular. Agora já estou cursando Jornalismo, na UNESP, e tudo fica mais tranquilo. Pretendo voltar com a fic normalmente (e, claro, com postagens mais frequêntes) e talvez comece uma outra que ainda está um tanto quanto crua na minha mente insana.
No mais, só tenho a dizer que agora tenho um blog e, através dele, vocês podem saber se ainda estou vivo: www.falou-e-disse.blogspo.com
Meu twitter: www.twitter.com/lucas_esteves
E meu Formspring (para quem não sabe, um site onde eu respondo objetivamente qualquer pergunta que vocês possam querer fazer: www.formspring.me/lucasesteves
Espero trazer o próximo post daqui a umas duas semanas, se você forem legais e comentarem um pouco.
Abração. Lucas.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (2)

Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.