dia 16/09/917



Olá caro diário, temo não ter lhe contado ontem, mas o guardei embaixo da minha cama, e se eu o tirasse para escrever que você estava embaixo da minha cama, então você não estaria mais embaixo dela e sim encima dessa mesa que tenho em meu quarto e não seria então verdade e ainda estou prezando pela verdade por aqui.
Oh diário, te trato informalmente porque afinal você é meu reflexo e não há porque eu ser tão polida comigo mesma, acredito eu. Pois bem, continuarei então com minha discordialidade. Aliás chega de banalização afinal o que é fato é fato e eu não preciso ficar também esclarecendo tudo, só passar a mensagem, para que um dia eu mesma leia e me recorde de tudo o que aconteceue provavelmente não me importarei com determinadas abusidades que por ventura eu mesma tenha com a minha pessoa, a menos que me torne uma velha ranheta, chata e que bate nas outras pessoas com uma bengala as chamando de taradas.
Vamos então falar de mim já que é para isso (penso eu) que escrevo e porque sabe-se lá Merlim vai que eu esqueço de quem eu sou um dia, repetindo o caso incessante de me tornar uma velha chata que bate nos outros com uma bengala, chamando-os de tarados. Nasci na Holanda e vim para a Escócia depois para a Irlanda. Nasci em um quarto muito bonito e de estilo gótico, no ano de novecentos e cinco, exatamente a doze anos e um dia atrás e cresci sem irmãos de carne, mas tenho aos ensaios que meu pai escreve como irmãos de formação. São a única aquisição boa que me prega horas nesse lugar isolado em que vivo hoje. Não que eu desgoste, mas é vazio e estranho em dias ensolarados e doentios como hoje. Já repararam a obrigação das pessoas serem felizes no verão? Todas correndo, pulando, sorrindo. Me enjoa. As pessoas fedem no verão, de verdade.
As montanhas em que vivo têm clima agradável e amendoado nos meses de agora, e neve intensa e uivos altos quando começa o ano. A única coisa que me chama a atenção por aqui nesses dias ensolarados e vomitantes são os gandes pássaros negros belíssimos voando numa sintonia, cantando sua música desafinada.
O lugar onde vivo tem uma língua isolada e bonita. Uma ilha cultural no meio à cultura dos vikings e outros de língua tão longínqua e bruta. Ou seria a nossa que é longíqua e fora de contexto? Quem sabe. Amo o modo que se fala aqui. Isso é o fato. Mesmo não sendo o dos viajantes, mesmo não sendo o bonito inglês da escócia e mesmo não sendo a língua do meu nome. Mas do meu nome eu gosto.
Acho cômico ser parte de uma língua diferente. Somos os corvos cantando sua música aguda, aparentemente perdido nessas ravinas.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.