Análise de um Recomeço

Análise de um Recomeço




Eu ouvia as vozes ao meu redor, juntando coragem para encarar seus donos. Ouvia os passos de bruxos e bruxas se aproximando e acomodando-se nos bancos que rodeavam o centro do Tribunal. Abri os olhos, mirando o chão frio por um instante, pisquei, olhei para frente. O alto palanque de madeira escura erguia-se bem acima de minha cabeça, não levantei os olhos para ver o Juiz, mirei apenas e longamente a madeira entalhada. Suspirei fundo, pelo canto direito dos olhos podia ver a mão de minha mãe apoiada no braço frio de metal da cadeira dos réus, igual ao que o meu próprio braço estava apoiado. E à minha esquerda estava o contorno embaçado de meu pai. Não encarei nenhum dos dois, apenas voltei-me para o chão escuro e poeirento. Inspirei longamente mais uma vez e soltei o ar devagar, e então ergui os olhos quando mais algumas luzes brilharam no ambiente. O julgamento logo começaria. O julgamento que decidiria nosso destino. O destino dos derrotados Malfoys.
Olhei ao redor brevemente, calculando em minha mente as nossas chances pelos olhares que recebia de volta. Estranhamente eu estava calmo, irreconhecivelmente calmo. Surpreendente para mim mesmo. Os olhos do júri eram frios, em cada um podia-se ler o desejo de vingança, o desprezo. Observei brevemente todos aqueles olhares, sem me deter em ninguém. Não os conhecia, estavam imerso na penumbra, assim como os invisíveis e altos bruxos que declamariam nossa sentença. Não ousei encara-los. Não por medo, não sei se sinto medo agora... Mas apenas por reconhecer que não deveria fazê-lo. Ou se não fizesse diferença encara-los ou não, isso não me importava. Não tinha vontade, na verdade. Apenas continuei a passear pelos olhares acusadores ao meu redor, sentindo-me distante de tudo, sentindo já ter a resposta em meu íntimo, como se tudo fosse uma lembrança que eu repassava em minha mente e revia os detalhes que perdi no dia. Os detalhes... Os detalhes verdes e brilhantes...
Os grandes e perturbadores olhos verdes. Harry Potter!
Os únicos olhos naquele imenso tribunal que não me olhavam acusadores eram verdes e brilhantes. e em toda a simplicidade de um olhar parecia dizer-me "vai ficar tudo bem."
Por que ele? Por que novamente ele?
Novamente?...

A porta às minhas costas se fechou pesadamente e uma luz fúnebre foi acesa. ouvi a voz do juiz ler o texto frio e introdutório, e chamar o nome de meu pai.

O processo decorria lento e cansativo, seguindo, a cada minuto, mais claramente para o destino lido nos olhares ao nosso redor. E quando tudo estava para acabar, ele se levantou. Levantou-se e o silencio caiu sobre todos os presentes quando ele pediu a palavra. E o silencio se prolongou pesadamente quando lhe foi concedida e ele nada disse. Não pude mirar seus olhos verdes quando ele deixou seu lugar e desceu os degraus vagarosamente, o silêncio ainda persistindo, deixando ecoar seus passos. Não pude mirar seu próprio corpo quando ele postou-se, de pé, em minha frente. Não pude nem mesmo levantar os olhos do chão quando ele narrou calmamente o que aconteceu na Floresta Proibida com minha mãe e o Lorde das Trevas, o que eu desconhecia. Quando narrou o que ocorreu sobre a Torre de Astronomia, sobre eu e Dumbledore, o que eu me lembrava claramente e repetia as cenas em minha mente junto com suas palavras. Quando narrou o meu medo no banheiro, no sexto ano, que eu tentava esconder de mim mesmo e estava gravado naquela cicatriz em meu peito. Quando narrou suas visões do medo e desespero de meu próprio pai, que percebi, com o leve movimento que fez ao meu lado, o quanto ele também tentara não lembrar... E narrou as lembranças de Severus, que eu nunca imaginaria.
E, de repente, o silencio desapareceu e eu estava de pé ao lado de meus pais. Todo o tribunal estava claro e iluminado, e as poucas pessoas que restavam ali se dirigiam imersas em conversas sussurradas em direção á grande porta. Á minha frente, a bancada do juiz estava vazia e iluminada por um brilho dourado, e aquela voz indagava ás minhas costas. Não olhei.
Ele falava com o auror que nos acompanhava e ouvi seus passos aproximarem-se de onde estávamos. virei-me ao ouvir meu pai sussurrar, em tom derrotado, porém estranhamente grato, um "obrigado", eles apertavam as mãos. Aquele idiota e irritante sorriso de quem é indiferente a tudo e que tem apenas o bem estampado no rosto de olhos verdes. Reparei então, pela primeira vez depois de tanto tempo evitando focá-lo, encara-lo, que seus óculos não eram mais aqueles ridículos e redondos tão característicos, mas sim retangulares e simples. O cabelo tinha a franja inacreditavelmente penteada para frente, cobrindo-lhe a testa e a cicatriz. Ele virou-se para a minha mãe, e antes dela dizer qualquer coisa ele se explicou.
"Eu é que devo agradecer, Senhora Malfoy. se não fosse você naquela noite eu estaria morto, e o mundo bruxo estaria nas mãos de Voldemort." o nome já não me assustava, ou era aquela entorpecência que me tomava? Nada naquele lugar parecia causar algum movimento em mim. Vi minha mãe sorrir agradecida, em silêncio, e os olhos verdes caíram sobre os meus como as grades de uma prisão, não me permitindo ver mais nada além daquele brilho esmeralda e profundo... Ele levou a mão ao bolso e quando a estendeu para mim, segurava entre os dedos a varinha de espinheiro e pêlo de unicórnio.
"É realmente uma varinha muito boa, Malfoy. E é sua."
Apenas olhei para aquela mão estendida para mim. Eu havia estendido minha mão para ele daquela vez e ele desprezou minha amizade pelo Weasley... E a sua mão agora me oferecia a varinha e inconscientemente aparei a mão e ele me entregou. Eu não o desprezei. Aquelas lembranças tornando-se sem sentido para mim, novamente como se não fossem minhas. Eu não sentia nada. Aceitei a varinha. Olhei-a longamente, reconhecendo cada detalhe de sua extensão, sentindo o calor das mãos de Potter no cabo dela, encontrando algumas marcas e arranhões ali que quando estava em minhas mãos não existiam. As marcas dele. E quando voltei a encará-lo ele já se afastava, olhando uma última vez para trás como se dissesse com aquele verde dos seus olhos um "bom recomeço" e desapareceu pela porta.
Abaixei novamente os olhos para a varinha. A varinha que deixara de ser minha quando ele me tomou ao fugir da mansão, a varinha que ele apontou contra mim na sala precisa, a varinha que derrotou o Lorde das Trevas e salvou o mundo bruxo. A varinha que voltou às minhas mãos... A Sala Precisa... A lembrança retornou. O arder do fogo, a asfixiante fumaça, e o calor do corpo de Harry. A pressão de seus dedos sobre os meus, as batidas fortes de seu coração sob minhas mãos... Os seus dedos... Foi ali, e não agora, que eu aceitei sua mão, aceitei a escolha que ele me dera, hoje ele só a reafirmou... Aceitei-o com a mão que ele desprezou...
Lembrei do cheiro das chamas, da sua pele e cabelos chamuscados para me salvar. O Lorde das Trevas morto no chão do Grande Salão e eu, vivo, salvo. Foi ele. Sempre o Potter. Foi ele naquele dia, foi ele hoje novamente. Por quê?...



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Bem gente, espero que esteja interessante...
Na verdade isso seria o prólogo de uma fic que eu tenho planos de escrever, a Garotos Perdidos (título provisório), mas não sei se vai pra frente. O motivo, é que estou procurando alguém que queira escreve-la junto comigo. Queria fazer um capítulo narrado pelo Harry e um pleo Draco, intercalando o ponto de vista dos dois, até o fim da fic. Mas acho que eu não saberia escrever bem o pondo de vista do Potter... então se alguém se interessar e quiser saber meus planos para ela, entre em contato pelo e-mail ou deixe um comentário que eu respondo! ^_^
Quer dizer, mesmo que não tenha interesse em escrever, deixe um comentário dizendo o que achou! ^_^'

Coyote

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Comentários (1)

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