Desejo Contido



CAPITULO VII


Embora muito cansada, Luna não conseguiu dormir. Seus nervos estavam tensos demais. Deitada, prestava atenção no silêncio do apartamento, imaginando o que Blaise estaria fazendo. Das janelas de vidro fechadas não vinha nenhum som da rua. A luz de uma lâmpada lá fora desenhava um círculo na parede, e ela cravou nele os olhos ardentes e secos. Não podia conservá-los abertos. Fechou-os, para logo abri-los, assustada, olhando à sua volta, como se esperasse encontrar Blaise no quarto.
Aos poucos, a pesada manta começou a aquecer seu corpo gelado e sentiu-se confortável. Espreguiçou-se, bocejando. Embora Blaise não a pudesse ver, sentia que era essencial ficar alerta, acordada, para o caso de ele tentar entrar no quarto novamente. Não se esquecia de que havia permitido que ele despertasse suas emoções. Isso, com certeza, o encorajaria. Luna odiava-se por sua fraqueza. E odiava-se porque não resistira à faminta pressão da sua boca e à envolvente possessão dos seus braços. Cada vez que lembrava da triunfante satisfação no rosto dele, sentia a fúria queimando-a por dentro.
Maldito! murmurou, e o quarto silencioso pareceu devolver-lhe as palavras num eco irônico. Esse foi o seu último pensamento consciente. Não percebeu quando caiu num sono agitado. Mas, quando abriu os olhos novamente, o quarto estava claro com a luz do dia. Sentou-se rapidamente. Viu sua imagem no espelho da penteadeira, em frente. O rosto abatido era a testemunha das horas que havia dormido, inquieta, quase sem descanso. A roupa deve estar muito amarrotada, pensou, com uma careta.
Não ouvia nenhum som no apartamento. Será que Blaise estava acordado? Escorregou da cama e dirigiu-se, pé ante pé, até a porta. Encostou o ouvido na madeira, mas não havia o menor som. A única coisa que ouvia eram as batidas do próprio coração. Endireitou-se, imaginando o que ia fazer. Sua maleta estava no hall, onde a deixara ao chegar. Não podia nem mesmo trocar a roupa amassada.
Se Blaise estivesse dormindo, ela teria uma oportunidade de sair antes que a ouvisse. Silenciosamente, puxou o trinco e deixou a porta ligeiramente aberta, os ouvidos atentos. Nenhum som. Ficou ali parada, pronta para correr para dentro do quarto se ele aparecesse. Não havia sinal dele: o apartamento parecia vazio. Movendo-se como um gato, Luna atravessou o estreito hall, dirigindo-se para a porta da frente. O coração disparado, o corpo retesado.
— Vai a algum lugar?
A voz gelada fez com que pulasse, como se tivesse sido atingida por um tapa. Voltando-se, encontrou Blaise recostado na porta da sala de estar, numa atitude displicente, irônica. Luna sentiu a tensão aumentar. Quis gritar, mas conseguiu apenas fitá-lo, num silêncio amargo. Parecia muito calmo e sua aparência era a de quem passara uma ótima noite: roupa impecável, cabelo bem escovado, o rosto tranqüilo e bem disposto.
— Dormiu bem? — perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Maldito!
Ele riu baixo.
— Ainda zangada? Achei que uma boa noite de sono a deixaria mais razoável.
— Suponho que você dormiu como um anjo — disse Luna, com voz raivosa e cortante.
— E os anjos dormem? Esse é um ponto polêmico. Ouvi dizer que é um desses problemas teológicos que vêm mantendo acesa uma discussão há séculos, da mesma forma que a pergunta: Quantos anjos podem sentar-se na cabeça de um alfinete?
— Muito engraçado.
Os olhos dele a esquadrinhavam e suas sobrancelhas se levantaram, ao comentar, com ironia:
— Você tem a aparência de quem passou a noite num banco de jardim.
— Sinto-me como se tivesse passado. — Olhou em volta, procurando a maleta. — Onde estão minhas coisas?
— Aqui — disse ele, pegando a mala de cima de uma cadeira. — Gostaria de um banho de chuveiro e roupas limpas antes do café?
— Sim — respondeu, arrancando-a das mãos dele.
— Malcriada! — caçoou, tomando-a de volta. — Vou acompanhá-la. Você é minha convidada, lembra?
— Convidada?
Ele riu de novo.
— É um modo de dizer.
— Sou uma prisioneira, não uma convidada!
— Não vamos gastar horas discutindo definições. — Blaise atravessou o hall com a mala, comportando-se com tanta naturalidade que ela o seguiu sem pensar.
— Com fome? — perguntou ele, enquanto colocava a maleta sobre a cama.
— Faminta. — A refeição fria do avião era apenas uma lembrança distante e não muito agradável.
— O que prefere? Ovos com presunto? Chá ou café?
— O que for mais fácil. — Interrompeu-se e olhou para ele, intrigada. — Quem vai cozinhar?
Ele leu o pensamento e sorriu para ela, novamente divertido.
— Eu. Não precisa fazer planos.
Ela perdeu a leve esperança de poder escapar que havia passado por sua cabeça e afastou-se.
— E não demore — continuou Blaise, um tanto impaciente, virando-se para sair. — O café estará pronto em quinze minutos. Está bem assim?
Luna acenou com a cabeça e ele saiu. Trancou a porta. Blaise parou por um momento e disse, do lado de fora:
— Mesmo quando você parece ter dormido num banco de jardim, é maravilhosa, Luna.
Seu coração saltou. Não respondeu e ouviu-o afastar-se, após um momento, como se estivesse esperando que ela dissesse alguma coisa. Abriu a maleta e retirou um jeans, uma camiseta de algodão, roupas de baixo e uma toalha. Despiu-se, entrou no box, abriu a água. Durante alguns segundos, o jato foi gelado, e ela estremeceu com o choque. Aos poucos, a água aqueceu-se, até ficar suportável. Luna sentia-se desconfortável após aquela noite mal dormida. Todo seu corpo parecia dolorido. A água, escorrendo pela pele, a reconfortava.
Quando se vestiu novamente, sentiu-se mais leve. Escovou os cabelos e fez uma maquilagem leve, tomando cuidado para dar um ar natural ao rosto. Sentia-se como alguém colocando uma armadura antes de uma batalha. Precisava de um escudo para conservar Blaise a distância. Ele estava na cozinha, no fundo do apartamento. Luna podia ouvir que trabalhava rápido. Um delicioso aroma de presunto enchia suas narinas, enquanto se encaminhava para lá.
O cômodo estava inundado pelo sol, e os cabelos de Blaise brilhavam. Olhou-a por sobre o ombro, demorando-se a observá-la.
— Muito alinhada — brincou.
— Posso ajudar em alguma coisa?
Luna estava tentando colocar seu relacionamento num nível amigável e natural. Se pudesse fazer Blaise compreender que a estava tratando de forma inadequada, talvez a deixasse partir. Ele colocou os ovos com presunto num prato e virou-se para ela novamente.
— Quer apanhar algumas xícaras e pires? O café está pronto.
— O cheiro está bom.
Luna abriu diversos armários, antes de achar as xícaras. Blaise estava colocando a comida na mesa. Ao lado de cada prato havia um copo de suco de laranja. Luna apanhou o bule e serviu o café, enquanto ele sentava-se à mesa, tomando o seu suco.
— Uma linda manhã — observou o rapaz, olhando pela janela.
— É verdade.
Luna também olhou. O céu estava azul, com pequenas nuvens brancas, mas não pareciam de chuva.
Permaneceu calada por alguns minutos, tomando o café, comendo com prazer. Blaise comeu, depois olhou para ela e perguntou:
— Você deixou um bilhete?
— O quê?
— Para Arthur.
Ela corou.
— Não. — Não havia nem pensado nisso. Estava por demais assustada e ansiosa para partir. Assim, não se lembrou de deixar uma mensagem.
— Santo Deus! — Blaise comentou, com ar assustado. — Ele deve estar fora de si. Seria melhor escrever-lhe ainda hoje.
Luna sentiu-se repentinamente indisposta. Havia desaparecido sem deixar para o padrasto nenhuma indicação de seu paradeiro e de seus planos. Não lhe agradou que tivesse sido Blaise a lhe apontar tal falha,
Balançou a cabeça, lentamente.
— Sim, preciso fazer isso.
— Como pôde? — Ele a observava e seus olhos cinzentos estavam duros. — Você devia saber que sumir desse jeito o deixaria extremamente preocupado. Podia ao menos ter escrito um bilhete, ou mandado um pelo correio, só para ele saber que está bem.
Uma ponta de raiva nasceu dentro dela.
— Já deu a sua opinião. Admito que errei.
Blaise tinha agora um ar intrigado.
— Quer que ele fique aflito?
Corou mais ainda e abaixou a cabeça.
— Claro que não.
— Tomara — murmurou ele com uma ligeira agressividade na voz. — As mulheres gostam de pôr as garras de fora.
— Por que você sempre generaliza quando fala sobre mulheres? Por acaso acha que são todas iguais? Pois não são.
— Ah, são, sim — desabafou, apanhando sua xícara de café e tomando um gole.
— Você prefere acreditar nisso, eis tudo.
— Falo pelas que conheci.
— É de espantar que trate todas as mulheres com desprezo e indiferença.
— Indiferença? — Colocou a xícara na mesa e olhou-a, com um sorriso irônico. — Expressou-se mal, Luna. Quando foi que a tratei com indiferença?
Cerrou os dentes.
— Isso depende da definição que você dá à palavra.
— Oh, estamos de novo nas definições? Você parece ter paixão por elas. Deve ser a sua educação grega. Eles adoram discutir sobre o significado de cada palavra do dicionário.
— Não vamos brigar por causa de significados — disse Luna, voltando à sua refeição.
Por um momento, ficaram novamente em silêncio. Blaise recostou-se na cadeira, tomando outra xícara de café e observando-a com os olhos semi-cerrados.
— O que, exatamente, planejava fazer, ao chegar aqui em Londres?
— Arranjar um emprego.
— Como...
— Como recepcionista — disse Luna, sem pensar, e isso lhe trouxe Pansy de volta à mente. Olhou para ele. — Disse que Pansy era uma amiga. O que isso quer dizer?
— Com ciúmes?
Ela empertigou-se.
— Não, claro que não.
— Verdade?
— Ela estava... envolvida com você? — perguntou, seca.
— Isso foi há muitos anos. Quatro anos, para ser exato. Tivemos um caso durante algum tempo, mas a coisa não deu certo. Pansy é bastante atraente, mas não tínhamos muitas afinidades.
Luna desviou o olhar, recusando-se a admitir que o fato de Pansy e Blaise terem tido um caso a magoava. Amantes, pensou, com raiva. Por que não usar a palavra? Ela agora conhecia Blaise o suficiente para perceber que aquele relacionamento não podia ter sido platônico. Ele só se interessava por uma espécie de relacionamento com as mulheres. Blaise olhava à sua volta, aparentando naturalidade.
— Este apartamento era dela, na verdade.
Luna sentiu uma pontada de dor e raiva.
— Apartamento de Pansy? Este é o apartamento dela? — De alguma forma, esse fato piorou consideravelmente as coisas.
— Agora, não — disse, calmo. — Comprei todo o prédio. Pansy mudou-se há seis meses, quando comecei a reforma. Arranjou um em Chelsea. Está morando com um ator há meses; acho que é coisa séria.
— Santo Deus! — murmurou Luna, sem saber se ria ou chorava. — Estão morando juntos há meses e você acha que é sério?
Blaise olhava para ela, impaciente.
— Encare a realidade, Luna: este é um outro mundo, um outro tempo. Precisa aprender as regras, ou não sobreviverá.
— Quais regras? As suas? Viverei pelas minhas próprias regras, obrigada; ou simplesmente não viverei.
— Não se pode viver só pelas nossas próprias regras. A sociedade não nos permite.
— E como pode nos impedir? Se você está falando da lei, muito bem, temos que nos curvar a ela. Mas não precisamos fazer nada que não queiramos fazer, se não houver uma lei que nos force a isso.
Ele suspirou, parecendo irritado.
— Estou falando sobre as atitudes sociais das pessoas que nos rodeiam. Atualmente, ninguém espera que se viva como um monge, só porque não se é casado.
— Não me importo com o que as pessoas esperam ou deixam de esperar!
— As pílulas liberaram as mulheres do casamento.
— Você quer dizer que elas liberaram os homens. Eles não precisam mais se preocupar em aceitar nenhum compromisso em relação às mulheres. Não necessitam mais se responsabilizar pelo risco de engravidar uma moça. Os homens podem simplesmente correr para todas as camas que quiserem sem precisar parar para pensar.
— Você está sempre falando a respeito de ser uma pessoa, de ter valor como ser humano e de ser respeitada como indivíduo. Com isso que acabou de dizer, parece desejar que nenhum homem tenha responsabilidade por você.
— Não quero que você se responsabilize por mim — corrigiu, zangada. — Só quero que admita que tenho o direito de escolher; ir para a cama com você ou não.
— Concordaria com isso — disse Blaise entre dentes — se achasse que sabe o que está fazendo. Mas você não sabe. Está recusando algo sobre o qual não tem opinião formada. E está fazendo isso pelos motivos errados.
— Quem é você para dizer que os meus motivos são errados ou certos?
— Sou louco por você — disse Blaise, com os olhos repentinamente brilhando de satisfação. — E recuso-me a deixá-la se afastar de mim, até que tenha enfrentado o que sente por mim.
— Há qualquer coisa esquisita nesse modo de pensar — disse Luna, desafiando. — Você parece acreditar que sabe mais sobre meus sentimentos do que eu mesma.
Ele riu gostosamente.
— E sei mesmo.
— Não, você só pensa que sabe.
Com um movimento inesperado, ele segurou-lhe a mão por sobre a mesa e, curvando a cabeça, beijou-lhe a palma carinhosamente. Luna sentiu um prazer subir-lhe pelo braço, como uma fagulha elétrica. Sua pele ficou quente e, quando Blaise a olhou, quase não pôde encará-lo.
— Percebe o que digo?
Ela puxou a mão e levantou-se.
— Vou lavar a louça.
Estava furiosamente consciente do que sentia. Seu cérebro lhe dizia que a atitude habitual de desprezo que Blaise tinha em relação às mulheres era uma barreira entre eles, mas suas emoções e seu corpo pareciam mais e mais querer transpor essa barreira, sem olhar as conseqüências. Quanto mais ele a tocava, mais ela tinha que lutar consigo mesma. Blaise ajudou-a a tirar a mesa. Enquanto lavava a louça, ele enxugava com movimentos rápidos e precisos.
Depois, olhou para ele, com a maior calma que pôde aparentar.
— Agora, quero ir embora, Blaise.
Ele sorriu, seco.
— Você já sabe a resposta.
— Não pode me segurar aqui para sempre.
— Não precisarei.
Odiou a fria confiança com a qual ele disse aquilo.
— Deve estar louco! Não parou para pensar no que está fazendo?
— Tenho pensado em muito pouca coisa, além disso.
Seus olhos cinzentos escureceram e suas feições se contraíram como se lutasse para controlar-se. A boca estava tensa e apertada.
— Se tem um pouco de juízo, não me provoque — murmurou.
Luna ficou chocada com aquele olhar e aquelas palavras rudes. Voltou para o quarto, sem mais uma palavra, e trancou-se por dentro. Não podia ficar ali para sempre; entretanto, como sair? Tentou a janela, mas estava firmemente fechada. Podia quebrar o vidro, pensou, e gritar por socorro. Mas sair pela janela era impossível. Não havia espaço suficiente, e era alta demais.
A rua parecia vazia e quieta. Era estranho olhar Londres e quase não ouvir nada. Os vidros abafavam a maior parte do barulho do tráfego Via chaminés, telhados e prédios de escritórios. Um helicóptero atravessou o céu. Observou-o desaparecer e sentiu-se abandonada e perdida.
Finalmente, estirou-se na cama e fechou os olhos. Embora tivesse dormido na noite anterior, o sono fora agitado e a sua mente estava atormentada demais para permitir que o corpo descansasse livremente.
Quando Blaise bateu na porta, mais tarde, acordou, assustada. Por um momento, não soube onde estava.
— Luna! — A voz dele denotava impaciência.
Não respondeu. Fixando os olhos no teto, observava a dança do sol em volta do lustre franjado.
— Luna! Luna! Abra essa porta! É hora do almoço e eu fui buscar comida pronta. Venha comer.
A moça dobrou os braços embaixo da cabeça e continuou a olhar para o teto. Contou os pingentes do lustre até perder-se na conta.
— Luna, pelo amor de Deus! — insistiu Blaise, dando um pontapé na porta.
Desejou que ele tivesse machucado o pé. Pelo som rouco que ouviu, imediatamente depois, suspeitou que tinha doído e ficou contente.
— Que me importa! Fique aí, então — disse ele e afastou-se. Era o que Luna pretendia fazer: ficar ali, até se transformar em esqueleto, se fosse preciso. Ele voltou uma hora depois.
— Coloquei sua salada na geladeira. Há um pouco de frango frito também. Quando ficar com fome, coma.
Agora ele aparentava calma. Luna não se preocupou em responder. Havia contado todos os pingentes. Havia trinta e oito. Nesse momento começava a contar as bolinhas das cortinas, e Blaise a fizera perder a conta. Começou de novo. Ouvia a respiração dele. Estava calado, mas seus movimentos pareciam fazer tanto barulho que ela quase podia vê-lo. E ele estava tentando adivinhar o que ela fazia, com o ouvido contra a porta.
— Esteve dormindo? — perguntou. — Gostaria de algum livro? Tenho muitos na sala de estar. Trago um para você?
Luna concentrava-se de novo nas bolinhas. Havia contado doze quando ele voltou a falar. Suspirou e recomeçou. Blaise disse alguma coisa que ela procurou não ouvir.
— Você é uma estúpida teimosa! — continuou, com a voz tremendo de raiva. — Saia daí, antes que eu ponha essa porta abaixo!
Luna dessa vez continuou concentrada e não perdeu a conta.
— Luna! — disse Blaise, junto à porta, com uma leve ponta de pânico na voz. — Pelo amor de Deus, pare com isso! Diga alguma coisa! O que está fazendo aí dentro? — Parou. — Luna? — perguntou, com ansiedade. — Luna! — E já era um grito.
Sabia que ele havia tentado vê-la pelo buraco da fechadura, mas ela o havia tapado com um pedacinho de papel e uma tira de esparadrapo. Blaise tentara removê-lo com uma caneta, mas só conseguiu afastar um pouco o esparadrapo e não podia ver nada através dele.
— Muito bem! — gritou. — Fique aí, até que esteja pronta para sair.
Ouviu-o afastar-se pelo corredor. A porta bateu, e ela ficou mais calma. Fechou os olhos novamente e caiu num sono leve, reconfortante. O pânico a abandonara agora. Tudo que tinha a fazer era continuar obstinada, recusando-se a tê-lo por perto. Era só a sua proximidade que a perturbava. Quando ele não estava, sua mente permanecia fria, calma e controlada. Enfurecia-a saber, que, assim que Blaise a tocava, seu bom senso desaparecia como a neve no verão.
De repente, ouviu vozes e saltou da cama, colando o ouvido à porta. Reconheceu a voz de Pansy. Tremendo, começou a destrancar a fechadura. As vozes pararam, e ouviu uma batida da porta da frente. Luna abriu um pouco sua porta e olhou para fora. O apartamento estava quieto.
— Pansy! — Correu para a porta da frente e tentou abri-la sem sucesso. Soluçou, socando a madeira e esperando ver Blaise aparecer atrás dela, mas nada disso aconteceu. Bateu com os punhos e gritou o mais alto que pôde. Depois, parou, com lágrimas rolando pelo rosto, e ficou ali, sentindo-se doente e infeliz.
Quando parou de chorar, voltou para o banheiro e lavou o rosto. Sentia tonturas e percebeu que estava de novo com fome. Foi para a cozinha, hesitou por um momento, abriu a geladeira e apanhou o prato de salada que Blaise colocara lá. Depois procurou o frango. A comida fez com que se sentisse melhor. Preparou um chá e sentou-se, observando o relógio branco redondo, com seu tique-taque interminável. Eram quase cinco horas. Devia ter dormido durante horas. O telefone tocou na sala de estar e correu para atendê-lo, tremendo.
— Alô? Alô? Ouça, você precisa me socorrer... — começou. A ligação interrompeu-se e ela olhou para o fone, desesperada.
— Ouça — começou de novo, mas ouvia o som característico do telefone desligado do outro lado. Colocou o fone no lugar e ficou olhando para ele. Podia ligar para alguém, pedindo que chamasse a polícia. Por que não pensara nisso antes? Nesse momento, ouviu a porta da frente ser aberta. Retesou-se. Blaise entrou.
Os olhos cinzentos caçoavam dela, irônicos e divertidos.
— Comeu?
— Era você no telefone?
— Claro. Liguei lá de baixo.
A raiva queimou-a por dentro, ao perceber a satisfação estampada em seu rosto. Estava terrivelmente alegre consigo mesmo por tê-la feito, de algum modo, sair do quarto e almoçar. Devia saber que ele tramaria alguma coisa. Conhecia-o, o suficiente para saber que estava preparado para ganhar a parada, fosse qual fosse o meio a ser empregado. Não tinha escrúpulos, quando se tratava de conseguir o que desejava. Todo o seu pensamento se concentrava na satisfação que pensava obter dela.
— Eu o desprezo — disse, magoada. — Você é mesmo desprezível! Foi uma pena Arthur não ter quebrado o seu pescoço naquele dia. Se estivesse aqui agora, ele o mataria.
Blaise ouvia, com o rosto contraído e os ombros encolhidos; ela interrompeu-se, percebendo, tarde demais, que cometera um erro ao mencionar o padrasto. Por alguma razão, era como agitar um pano vermelho para um touro. Blaise encarava-a com os olhos apertados, dominado pelo ódio.
— Queria que ele estivesse aqui, não? Pois bem, ele não está, e se estivesse levaria um soco na boca, se tentasse afastá-la de mim.
— Você poderia tentar — disse Luna, em desafio, mas ao mesmo tempo temerosa de insuflar o seu ódio. Ele atravessou a sala como um raio, apertando-a entre os braços, num gesto selvagem que a fez perder o equilíbrio.
Levantou a cabeça para protestar e sua boca encontrou-se com a dele, que a pressionou, silenciando o seu grito. Lutou para desvenciIhar-se, mas Blaise segurou-lhe a cabeça, e o beijo agora era de uma doçura que fazia sua cabeça girar. Odiando-se, tentava não ser subjugada, mas seus lábios a traíam, correspondendo às carícias com ardor.
Blaise suspirou ao levantar a cabeça. Seus olhos mostravam uma paixão intensa, suplicante, que a fez sentir como se flutuasse no ar.
— Querida, quer me deixar louco? Vamos parar de brincar de gato e rato. Você está desperdiçando um tempo que podíamos passar juntos de forma maravilhosa. — Encostou o rosto no pescoço dela e murmurou: — Luna, adoro você. Não vê onde está me levando? Não posso pensar em outra coisa. Você tornou-se uma obsessão para mim; estou sendo torturado.
Luna fez um gesto de recusa e permaneceu silenciosa. Aquilo custava-lhe um esforço enorme. Sentia-se como alguém agarrado a um penhasco com as pontas dos dedos, sabendo que um grande abismo estava lá embaixo. Se perdesse a resistência por um instante, cairia mais e mais, até se despedaçar completamente.
— Sua tola teimosa! — explodiu Blaise, sacudindo-a. — Está me forçando a tomá-la à força? Pensa que quero que seja assim? O que está querendo fazer comigo?
— Deixe-me ir! — disse, encontrando os olhos dele, zangados e fixos nela. — Deixe-me sair daqui, Blaise.
— Não — respondeu, rouco. — Sei que me quer e não a deixarei partir, até que admita isso.
— Nunca!
Embora permanecesse calado, seu sorriso demonstrava que não acreditava nela.
— Não vou mudar de idéia — insistiu Luna.
— Você me quer — disse Blaise, com uma teimosia que o fazia parecer uma criança. — Talvez nem mesmo saiba que me deseja.
— Você não fala a minha linguagem — respondeu, com amarga ironia.
Encarou-a, surpreso.
— O quê?
— Você me nega o direito de pensar por mim mesma, agir por mim mesma, escolher por mim mesma. Isso é desprezo. Além do mais, diz que ama, mas não sabe o que é o amor; se soubesse, deixaria que eu decidisse sozinha se desejo ir para a cama com você ou não. Fala sobre liberação, quando afirma que as maiores vantagens são para os homens no seu relacionamento com as mulheres. Não acredita que uma mulher seja igual. Eu não sonharia em dizer a um homem que sei melhor do que ele o que ele mesmo deseja. Levaria um soco, se o fizesse.
Os olhos de Blaise faiscavam, impacientes, e Luna chegou a duvidar de que estivesse realmente ouvindo uma única palavra do que dizia.
— Ainda não me deu nenhuma razão válida para a sua recusa — argumentou, quando ela parou de falar.
— Não tenho que lhe dar razões; estou apenas dizendo não. Não pode entender isto?
— Mas você me quer — insistiu, excitado. — Luna, você não nega isso, verdade? Porque não pode.
Ela bem que desejava poder negar, mas honestamente não podia. Encontrou seu olhar inquisidor, torturado.
— Não sei como consegue fazer-me sentir assim — disse, com amargura. — Está me tirando o juízo. Todas as vezes que vejo a sua boca obstinada, desejo beijá-la até que você se entregue a mim. Estou avisando: minha paciência está se esgotando. Se não ouvir a voz da razão, logo a tomarei para mim, diga o que disser.
— Se o fizer, eu o odiarei — disse Luna, tentando dar à voz um tom firme.
Blaise praguejou baixinho e retirou-se, batendo a porta.

~*~

Depois de muito tempo sem postar aki estou eu de volta!

Bom, espero que vcs comentem bastante e façam uma autora feliz!


logo fic esfumaçado

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