O Passado



O homem mascarado olhou para o corpo de Alvo deitado no chão e como se estivesse vendo um filme repetido, lembrou da cena a quinze anos antes...

Era vespera de natal do ano de 1996, a casa da família Husfoy em meio a zona rural da Inglaterra estava coberta de enfeite que por sua vez estavam coberto de neve, os cavalos e pôneis dormiam juntos no estábulo buscando calor um nos outros, os porcos passeavam alegremente em meio ao chiqueiro, o clima estava perfeito como todos os anos, a única coisa de diferente nesse natal era a presença do primo da cidade, um rapaz estranho e sozinho rejeitado até pela família, gostava da bagunça e usava roupas esquisitas como uma bermuda de mergulho e uma capa, para o natal vestia uma calça social e um casaco de papai noel, sentou-se na mesa e foi repassando novamente o plano, viu-se espreitando no corredor escuro que levava ao sótão, pegou uma das correntes e prendeu no tornozelo, gritou o nome de seu tio que veio correndo até onde estava, esperou para que desprendesse e quando virou as costas para o rapaz foi empurrado por ele, rolou as escadas sem muito barulho, deu para ouvir com clareza o baque no chão coberto de carpete empoeirado, com cautela desceu as escadas olhou para o chão e viu a figura do homem de cabelos grisalhos e olhos azuis vestindo uma jeans e um pulôver marrom encaixado com perfeição a calça, sim, um legitimo trouxa, a raça mais podre que existia, para se tornar puro todos os trouxas da família deviam ser aniquilados.
Colocou o gorro e abriu a porta do quarto, em silencio foi até a cozinha e sentou-se junto com o seu tio, a sua tia e os quatro primos e as duas primas, porque os trouxas tinham essa horrível mania de espalhar a sua raça em abundancia? Pegou um pedaço de torrada e levou a boca, olhou com os seus olhos negros para os parentes sentindo ódio por ver a alegria que tinham, colocou o cabelo para trás com força exagerada deixando um fio cair na manteiga ainda mole de sua torrada, deu uma ultima bocada e encheu sua xícara de chá quente, foi bebericando aos poucos, o chá esfriou mas ele ainda não tinha bebido nem a metade, esperou que os tios saíssem, três dos primos haviam se retirados, mas o mais velho e o que mais desconfiava dele ainda estava lá comendo uma torrada aos poucos como se fosse engasgar se comesse mais que meio centímetro por dentada, o tic tac do relógio era o único som, os minutos se arrastaram tão devagar quanto uma tartaruga manca.
-Qual é a sua, primo- perguntou Gyu, o primo mais velho do rapaz.
O garoto pousou o chá no pirex e ergueu a cabeça.
-Me desculpe, receio não ter entendido sua pergunta.
-Não se finja de tonto seu ladrãozinho- havia um brilho assasino no olhar de Gyu- todos os dias você é o ultimo a sair da mesa do café e depois vai direto para o porão onde meu pai guarda as nossas coisas de valor, o que você está querendo, o que você e aqueles sujeitinho que você chama de pai e mãe estão querendo, nos roubar? Pois você saiba...
-GYU- gritou a voz firme do tio- deixe o rapaz em paz, já estou cheio das encrencas que você está me arrumando ultimamente.
Um silencio percorreu a cozinha, interrompido apenas pelo barulho do choque entre as duas agulhas da tia.
-Venha me ajudar com a lenha Gyu.
-Ele está tentando nos roubar
-VENHA ME AJUDAR COM A LENHA GYU!
Gyu se levantou com estupidez e seguiu o pai.
Tinha de ser agora, foi até o seu quarto e com as mãos tremulas de raiva enfiou as suas roupas em uma mochila azul marinho, pegou a pequena chave que deixara em cima da velha maquina de costurar da tia e enfiou-a no bolso da capa, olhou-se por um momento no espelho e inspirou fundo e reuniu toda a coragem que tinha.
-Pelo bem maior- sussurrou para si mesmo.
Atravessou o corredor e a cozinha, abriu a pequena porta de madeira e foi até o fim do corredor,abaixou-se e sentiu o frio do metal da algema, colocou o pé no meio da algema e apertou-a contra o tornozelo, jogou a chave a uns dez degraus de distancia, tentando manter a voz firme encheu o peito e gritou pelo tio. Demorou alguns segundos mas os passos apresados e leves do tio começaram a se aproximar, uma sombra alta e esguia apareceu emoldurada na parede.
-O que aconteceu meu rapaz.
-Meu pé entrou sem querer na sua algema...deixei a chave cair.
O garoto se alto culpou por ter a voz tremula.
-Há muito tempo eu estou pra tirar essa algema daí, não sei porque tiva a idéia de colocá-la ai. Mas... o que você faz aqui?
O garoto com cuidado estico a perna e deu uma rasteira no tio, ouviu o baques silenciosos a cada degrau rolado, uma grande nuvem de poeira subiu, avisando que o tio tinha descido os quase vinte degraus, o rapaz pegou a chave e libertou seu pé, desceu até onde o tio caiu e tomou-lhe o pulso, nada. Subiu correndo as escadas, atravessou a cozinha entrou no corredor e encontrou a tia.
-Olha o que fiz para você querido- a mulher estendeu-lhe um pulôver vermelho com as letras H.J, as lagrima começaram a correr seu rosto ele colocou a mochila nas costas e saiu correndo da casa.








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