Espero que saiba rezar



"Nada é tão ruim que não possa piorar. Eles me acharam, os soldados dele me acharam.
Não comentei anteriormente, mas ainda tenho meu cavalo. Um ótimo animal, meu único companheiro aqui. Me ouve melhor que ninguém. Problema que as vezes ouvir faz falta.
Sou só eu e minhas idéias, não tenho com quem debater qualquer assunto. As vezes gostaria de não ter tanta responsabilidade. E esse momento é agora.
Fugi novamente, não há muito o que fazer. Estou me embrenhando cada dia mais na floresta. Essa noite choveu. Arranjar um abrigo foi difícil. A noite estava mais escura do que nunca e já não dava para ver o céu.
Tive um sonho, e foi bem rápido, no leve cochilo que me permitir ter em muitos dias. Foi mais um desses sonhos diferentes que tenho.
Eu estava caminhando na mata fechada, existia uma grande e inesplicável vontade de voltar e algo que dizia "siga em frente". Prossegui com a frase martelando insistentemente em minha cabeça: siga em frente, siga em frente, siga e...
O barulho de uma cachoeira foi chegando devagar.
Siga em frente, siga em frente...
As árvores se distanciavam e uma enorme clareira surgiu à frente. Um rio largo e profundo de correntezas fortes por causa da queda estava bem ali. Algo me fazia querer atravessar a cachoeira. Entrei no rio ficando com a água até o pescoço. Estava muito gelada, me fazendo contrair cada músculo de dor. Nadei contra a correnteza e a força das águas estava me cansando.
Cheguei o mais perto que pude e mergulhei. Submersa abri os olhos, me segurei nas pedras do fundo do rio e segui em frente. Quando olhei para cima, não vi o céu azul refletido na face da água, via tudo escuro.
Subi até a superfície e já estava dentro na caverna. Nadei até uma das margens, me deitei na areia úmida e senti outra atmosfera. Me senti tão feliz por ter chegado ao outro lado. Alguma coisa brilhava no teto, fechei os olhos e acordei.
Ainda era de noite, a chuva continuava caindo, mas o silêncio da floresta havia se quebrando aos sons de pisadas e conversas masculinas.
Ficamos imóveis, tentando passar despercebidos a quem quer que fossem os donos da vozes. Mas infelizmente, eles nos viram. Não eram qualquer homens, eram homens dele, seus soldados. E o único motivo que o faziam estar ali era eu, ele me queria de volta.
Com muita sorte, conseguimos despistá-los. E agora eu sei que estarão sempre em meu encalço. Não terei mais paz nesse mundo.
Espero que saiba rezar, Lucius... Pois não pretendo ter piedade de ti."

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