Insônia e uma ajuda inesperada

Insônia e uma ajuda inesperada



Fazia um frio cortante no dormitório masculino da Sonserina. Já se passava da meia noite quando um garoto loiro platinado desistiu de se revirar na cama enquanto o sono não vinha. Draco Malfoy já estava cansado daquilo. Todas as noites era o mesmo inferno.

- Demônios... Porque diabos eu não consigo pregar o olho?

Resolveu, então, descer para o Salão Comunal da Sonserina. Olhou para o relógio de parede em cima da lareira. 2:30 da madrugada e ele sequer havia cochilado. Aquela insônia maldita teimava em atormentá-lo toda noite. Olheiras já se faziam presentes. Naquela noite completava um mês que não dormia direito. E parecia que isso não iria mudar tão cedo.

Olhava o crepitar da lareira. Observava cada movimento de chama vermelha-alaranjada que oscilava diante de seus olhos. O Salão estaria praticamente mergulhado no breu se não fosse a lareira acesa e o luar. Lua cheia. Sempre gostara daquela fase. Não sabia porque, mas sempre que era noite de lua cheia o sonserino ficava tempo apoiado na janela observando a claridade que era emanada dela.

3:30

Draco perambulava pelo cômodo, bufando pelo tédio que tomava conta de si. Sentou-se na poltrona negra no canto do Salão e se debruçou sobre a mesa. Pensou. Qual seria o maldito motivo dele não dormir direito? Ele não sabia. Madame Pomfrey não sabia. Ninguém sabia. A única coisa que sabia no momento era que não sabia de mais nada.

4:00

"Demônios! Não tem nem como fazer uma poção sequer pra essa insônia desgraçada. Maldição!", ele pensou com intensidade.

.*.*.*.*.*.

"E, por fim, o Cristal das Águas serve, no preparo de poções, para dar mais intensidade quando a poção for para sono ou sorte".

- Merlin do céu, terminei! - Agradeceu uma garota de cabelos castanhos fazendo seu dever sobre cristais para o professor Snape. O salão da Grifinória estava gélido e Hermione sentiu um arrepio quando uma corrente de ar entrou pela janela entreaberta. Foi até ela e fechou-a. Fitou o relógio em cima da lareira. 4:00. Estava caindo de sono. Se arrastou até a escada do dormitório feminino quando uma voz masculina invade seu cérebro num tom alto e irado.

"Demônios! Não tem nem como fazer uma poção sequer pra essa insônia desgraçada. Maldição!”.

- Malfoy? Diabos, o que você está fazendo na minha mente? Ridículo! – praguejou, se encostando à parede colocando a mão na cabeça.

Subiu as escadas e se jogou na cama. Adormeceu quase que instantaneamente.

.*.*.*.*.*.

O dia amanheceu nublado e quase sem sol. Draco abriu os olhos e se viu desajeitado na poltrona do salão comunal. 6:00. "Era só o que me faltava. Dormir menos de duas horas e não conseguir dormir mais... Eu mereço...".

Subiu para o dormitório para se trocar. Tirou a camisa amarrotada e mirou o espelho. Seis anos de quadribol havia feito bem para ele. Tórax bem definidos, tanquinho, braços com amostras de músculos... Não era pra menos que estava na lista dos mais cobiçados da escola. Virou-se e foi em direção ao guarda roupa, de onde tirou uma calça preta, uma camisa bem passada e a capa. Se vestiu em pouco tempo, deu uma arrumada nos cabelos, que caíam charmosamente pelos olhos, e desceu as escadas. Poucas pessoas estavam acordadas tão cedo. Atravessou a passagem e rumou para o Salão Principal.

.*.*.*.*.*.*.*.

- Gina... Gina... GINEVRA WEASLEY!
- Perai, mãe, só mais cinco minutinhos... - disse Gina, com um sorriso enviesado.
- Ok, tomara que chegue atrasada e Snape tire 50 pontos da Grifinória! – disse a castanha, divertida.
- Arre, Hermione! - a ruiva se levantou, dando uma risada e se dirigiu ao banheiro.
- Estou indo tomar café. Te espero na mesa, ok?
-OK!

Hermione deu uma última penteada nos cabelos e desceu as escadas que davam para o Salão Comunal. Não se espantou de encontrar Harry e Rony fazendo a lição atrasada.

- Eu até que daria o meu relatório pra vocês... Mas como me deixaram sozinha ontem à noite, então eu não dou nada!
- Bom dia pra você também, Hermione. A propósito eu vou ótimo e você? - Disse Harry, irônico.
- É, Hermione, você é muito má. O que custa você emprestar seu relatório pra gente?
- O que custava vocês dois ficarem comigo ontem à noite enquanto eu fazia esse maldito trabalho? Merlin! Eu vou indo tomar café. Espero vocês lá embaixo.

Hermione saiu pelo retrato da mulher gorda e foi ao Salão Principal. Não estava cheio, mas pelo menos metade da escola já havia descido. Olhou a mesa da Sonserina e viu Malfoy brincando com o café. Pegava a colher e ficava mexendo-a no copo, ora para um lado, ora para outro. Percebeu que tinha pequenas olheiras. “Uhm... Então não é de hoje que ele não consegue dormir...”, pensou.

Depois de meia hora, Harry, Rony e Gina desceram e se sentaram junto a ela na mesa da Grifinória.
O dia fora tedioso. Duas aulas de Poções com a Sonserina. Duas aulas de História da Magia com a Corvinal e uma de Herbologia com a Lufa-Lufa. Para Hermione, essa aula era de Runas Antigas.
Na aula vaga antes do almoço, Harry, Rony e Hermione foram para os jardins e se sentaram embaixo da árvore de sempre, próxima a uma faia na beira do lago. Ficaram o tempo todo conversando, xingando professores, maldizendo trabalhos insuportáveis e assim por diante. Quando deu o sinal, Hermione se levantou, se preparando para sua aula de Runas Antigas enquanto Rony e Harry iam para Transfiguração. A garota, quando começou a andar, avistou alguém deitado debaixo de uma árvore perto da que eles estavam. A cabeça pendia para frente, deixado os cabelos loiros platinados lhe cobrirem todo o rosto. Hermione não precisou pensar para saber quem era. Só havia uma pessoa naquele imenso castelo que tinha aquele cabelo albino. Draco Malfoy parecia uma pessoa passiva dormindo, mas mexia bruscamente com o pescoço, como se não tivesse tendo sonhos bons...

.*.*.*.*.*.

“Ele corria, mas o escuro era interminável. Ouvia risadas maléficas e, de repente, escorregou no que parecia ser um precipício. Alguns metros de queda livre e, do nada, pequenas velas foram acesas e Draco observou tudo atento. A varinha não estava em seu bolso, como certificara há alguns instantes, quando estava perdido naquele breu intenso. Começou a andar. Era um corredor parecido com o de Hogwarts. Parecido não... Era um dos corredores de Hogwarts. Ele já havia passado por aquele lugar, sabia disso, mas não se lembrava em que andar era. Em uma parede, uma porta enorme de carvalho estava aberta pra quem quisesse entrar. O sonserino não era nem de longe uma pessoa discreta. Entrou sem mais nem menos no aposento e observou-o atentamente. No fundo da sala, aonde pouca luz chegava, Draco viu o que não queria ver. O Lorde das Trevas segurava uma pessoa de cabelos armados que ele não sabia que era. Sua varinha em riste em seu pescoço e seu olhar penetrando os olhos acinzentados.
- Então Draco, escolha: ou a garota ou sua fidelidade a mim...”.

- Malfoy! - Malfoy começou a se debater e gritar até que Hermione tentava acorda-lo. – Acorda, Malfoy! - Chacoalhava o garoto – Doninha, acorda! - gritava - ACORDA SEU PROJETO DE GENTE! - e nada funcionava. Deu-lhe, então, um tabefe na cara e o garoto abriu os olhos de imediato.
- O que pensa que está fazendo?
- O que VOCÊ estava fazendo! Não parava de se debater debaixo dessa árvore, suava frio! Parecia até que estava morrendo, por Merlin! Devia me agradecer por tê-lo acordado!
O sonserino fitou o chão e se lembrou do pesadelo. Era o mesmo que se repetira naquela madrugada, quando acordara na poltrona negra do Salão Comunal de sua casa.
- Desculpe, Granger. E obrigado por ter me acordado. Agora, se me der licença...
Hermione não entendeu nada. Malfoy pedira desculpas pela grosseria e até lhe agradecera por tê-lo acordado. Foi em sua direção e puxou seu pulso.
- Está tendo problemas para dormir, não é?
- Como sabe disso? – ele a encarou espantado.
- Não sei, só sei que, de alguma forma, seu pensamento veio em minha mente hoje pelas 4 a manhã.
- Uhm... E o que estava fazendo as 4 da manha?
- Não que isso seja da sua conta, mas eu estava fazendo o trabalho do Snape.
- Droga, sabia que tinha esquecido alguma coisa...
- Olhe, se você quiser eu posso até lhe ajudar a arranjar uma poção de sonos sem sonhos. Mas vai ser complicado. Se quiser, você pode até me ajudar a procurar para ir mais rápido.
- Não preciso de nada que venha de você, Granger. Vá plantar bananeiras e varrer o chão, aposto que sabe fazer isso muito bem...
- A garota bufou – Mas você é muito arrogante mesmo. Ótimo, negue minha ajuda. Tomara que fique doente e morra por causa dessa insônia!
Hermione deu as costas e foi andando. Malfoy ficou no mesmo lugar, observando-a ir embora. Pensou. Aquela poderia ser uma boa idéia. Viu que ela já estava quase na entrada do castelo.
- HEI, GRANGER, ESPERE! – ela não deu ouvidos e continuou andando. Ele a pegou pelo pulso, fazendo seus livros irem para o chão e forçando-a a encara-lo. Ela o olhou feio, olhou seus livros no chão e o olhou feio de novo. Ele ergueu seu material e somente disse – Se puder, me encontre na biblioteca as 8:00.

Malfoy saiu andando, deixando-a para trás, confusa. Como assim ele a maltratava e depois pedia sua ajuda? Ridículo!
Hermione foi à direção ao Salão Principal. Estava na hora do jantar. Avistou Malfoy na mesa da Sonserina. O loiro levantou a cabeça e a encarou. Sustentou o olhar por alguns instantes. Só quebrou o contato quando Gina pulou em suas costas.
- Ginevra Molly Weasley, você virou macaca?
- É eu acho que sim. E aí, porque aquele contato visual com...
- Com quem? – Rony chegara por trás de Gina, se intrometendo na conversa.
- Com ninguém. Só estava dando uma olhada no Salão. Agora será que dá pra gente ir comer?
- Ah, claro. Desculpe. – disse Rony com as bochechas vermelhas.
- Tudo bem Rony.

Comeu tranqüilamente. Podia ver a mesa da Sonserina de onde estava sentada. Sentia que alguém lhe observava, mas não tinha vontade de levantar a cabeça.

Draco não sentia fome. Brincou com a comida, como fazia quase sempre. Sentia que estava emagrecendo. Não comia direito há uma semana devido aos pesadelos contínuos. Era sempre a mesma coisa. Ou caía de um penhasco, no escuro, ou via Lorde Voldemort segurando alguém pelos cabelos e ele apavorado, sem saber o que fazer. Ficava imaginando o porque de tudo aquilo. Não era muito importante ao “cara de cobra”. E sua vida estava tomando o rumo certo. Levantou a cabeça e enxergou Hermione na mesma da Grifinória, comendo calmamente. Ficou em choque quando a garota disse que ia ajuda-lo. Não entendia o porque de tudo aquilo, mas já que nem Madame Pomfrey conseguia algum resultado, o que custava tentar? Além do mais, embora odiasse admitir, Hermione era a melhor aluna do colégio. A mais empenhada. A mais inteligente. A que mais sabia de tudo. Imaginava-se no lugar de Snape. “Seria extremamente irritante ter uma sabe-tudo na classe. Não culpo Snape por ser tão insuportável”. Ficou fitando a grifinória de longe. Olhou para o relógio. Cinco para as oito. Levantou-se e percebeu que ela o observava. Apontou, discretamente, o relógio. Hermione viu que horas eram e se levantou também.

- Aonde vai? – Perguntou Harry, com o garfo parado na frente do rosto.
- Estudar.
- A gente vai com você. – Pousou o talher no prato e se preparou para se levantar.
- Ah, não precisa, Harry. Termine de jantar, eu vou tentar não demorar muito.
- Então ta.

Pegou suas coisas e foi para a biblioteca. Encontrou Malfoy na última mesa, a mais isolada. “Ótimo. Não quero que me vejam com essa doninha”. Colocou as coisas na mesa e foi para as estantes para procurar algum livro que os ajudasse.
- Não vai encontrar nada aí. Já procurei em todos os livros.
Ela o olhou e depois olhou para o lado e sorriu.
- Tem um lugar que eu tenho certeza que você não viu.
Rumou para o fundo do cômodo e viu se ninguém estava olhando. Madame Pince estava ocupada carimbando papéis. Lembrou-se do feitiço Abaffiato. “Aquele livro do Snape serviu para alguma coisa”. Usou-o na sala. Abriu o cadeado com um feitiço e entrou na seção reservada. Passou o dedo, ligeiramente, pelas lombadas dos livros até que achou um que lhe interessou. O puxou e saiu sorrateiramente do local. Desfez o abaffiato e voltou para a mesa com o sonserino. Malfoy a olhava com uma expressão “Como você fez isso?”.
- Como você fez isso?
- Ser amiga de Harry e Rony às vezes tem seus créditos.
- Uhm... Vamos, veremos como você conseguirá me ajudar...

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