Pequena morte, Lieveling



CAPITULO VIII


Draco concluiu que valia a pena estar casado ao ver as expressões de espanto nos rostos de R.J e Gabby. R.J. Lupin era um homem corpulento, de pele bronzeada. Tratava-se de um ex-mercenário que agora exercia a profissão de advogado, em Chicago. Gabby White Lupin havia sido secretária de R.J., antes de se casarem.
Draco soubera algumas coisas sobre Gabby, contadas por outro membro da equipe que saíra com ela antes do namoro com R.J. Gabby sempre fora uma mulher muito admirada. E agora que precisava de conselhos, Draco não pensou em mais ninguém além dos dois.
— Casado?! — R.J. repetiu, incrédulo. — Você?
Draco deu de ombros. Levantou a vista do cigarro aceso e fitou o brilho de divertimento nos olhos amendoados de Gabby. Não pôde deixar de rir.
— A culpa é sua — disse a ela. — Eu não a teria notado se não fosse por sua causa. Até R.J. se casar com você, eu pensava que todas as mulheres do mundo eram desonestas.
R.J. tocou a face da esposa com carinho.
— Esta aqui me mudou por completo — disse.
O olhar que os dois trocaram deixou Draco embaraçado. Ficou de pé e aproximou-se da janela, observando Chicago.
— Não sei o que fazer — confessou. — Pensei que continuaria com meu trabalho e que poderíamos ter nossas próprias vidas, mas ela não concorda com isso. Disse que não suportaria viver pensando no risco que corro quando estou longe.
R.J. ficou de pé.
— Vou fazer um café. Gabby faça companhia ao holandês, sim?
— Claro.
Ela também ficou de pé e foi até a janela, cruzando os braços. Olhou para Draco.
— Eu ia sair da vida de R.J. quando pensei que ele pretendia voltar para esse maldito emprego. Também não conseguiria lidar com a situação. — Deu de ombros. — Não sou covarde, mas a preocupação faria com que eu me tornasse uma. Se ele fosse policial ou trabalhasse no setor de segurança de algum lugar, acho que eu até suportaria a situação. Porém, o tipo de trabalho que R.J. fazia, e que você faz, não é fácil de ser aceito por uma mulher. É perigoso demais, holandês.
— Gabby — ele disse sem desviar os olhos da paisagem —, como teria se sentido se R.J. não pudesse deixar o trabalho e... você estivesse grávida?
Um brilho de lágrimas surgiu no rosto dela. Draco olhou-a, tor¬nando-se tenso no mesmo instante.
— Oh, meu Deus — murmurou. Gabby virou de costas.
— Desculpe — disse a ele. — Quero tanto ter um filho, mas isso ainda não foi possível para nós. Se eu estivesse grávida e ele partisse para a guerra, acho que eu morreria aos poucos.
Draco fez menção de falar, mas não conseguiu. Levou o cigarro aos lábios, mantendo uma expressão angustiada.
— Eu ia contar — dizia R.J., minutos depois —, que Apolo foi absolvido de todas as denúncias criminais.
— Conseguiu livrá-lo? — questionou Draco, feliz pelo velho amigo e companheiro de trabalho.
R.J. assentiu.
— Foi trabalhoso, mas o fato de ele não ter antecedentes ajudou muito. Agora ele abriu um negócio próprio.
— É mesmo? E o que ele faz?
— É uma firma de consultoria. Apolo se especializou em en¬sinar técnicas antiterroristas para corporações internacionais. Acredite se quiser, ele já está tendo mais trabalho do que pode dar conta. — Encostou-se no sofá. — A atividade é muito inte¬ressante. Até um pouco arriscada. Ele me perguntou se você não estava interessado. Apolo precisa de alguém especializado em táticas e estratégia.
— Um emprego nos bastidores — Draco zombou.
— Até que não. Por que não vai visitá-lo?
Draco fitou o amigo nos olhos.
— Não sei se conseguirei ficar parado.
— Eu também não sabia. — R.J. olhou para Gabby, que lia cartas, sentada à escrivaninha. — Todavia, não foi difícil decidir o que importava mais: alguns riscos ou ela. Gabby é minha vida — acrescentou num tom que fez Draco desviar o olhar.
Ele inclinou-se para a frente, olhando para o carpete.
— Hermione está grávida.
R.J. hesitou.
— E o filho é seu?
Draco assentiu com um sorriso.
— Não tenho a mínima dúvida quanto a isso.


Mais tarde, Draco foi ver Apolo Blain, seu ex-colega de combate. Apolo recebeu-o com alegria no escritório da nova empresa. Pa¬recia muito satisfeito com o trabalho.
— Cansado de planejar batalhas? — Apolo comentou enquanto trocavam um aperto de mãos. — Ajude-me a salvar executivos abastados de terroristas, homem. É muito mais seguro e o dinheiro muito bom.
— R.J. sugeriu que eu poderia gostar — Draco asseverou, sen¬tando em uma poltrona. — Eu me casei.
— Você?! — Apolo surpreendeu-se, levando a mão à testa. — Meu Deus, devo estar com febre sem saber. Tive a impressão de ouvi-lo dizer que se casou.
— É verdade. E ela já está à espera do primeiro filho — Draco declarou, divertindo-se com o espanto do amigo.
— Deus, acho melhor eu deitar um pouco.
— Não até discutirmos esse emprego — Draco avisou. — Está mesmo interessado? — Apolo tornou-se sério. Draco assentiu.
— Não sei se suportarei por muito tempo. Mas acho que devo tentar, pelo bem dela.
Apolo assobiou baixinho.
— Gostaria de conhecer essa moça. Parecida com Gabby?
— Muito — Draco sorriu.
— Espero que não haja muitas delas andando soltas por aí. Não sei se conseguirei resistir se encontrar alguma. Mas chega de falar nisso. Vou lhe explicar o que tenho em mente, se aceitar a proposta...
Draco acendeu um cigarro, ouvindo com atenção. Por fim, as¬sentiu. Sim, parecia um trabalho interessante. Defesa contra ter¬roristas. Ele sorriu. Talvez acabasse até gostando do emprego.
Encostou-se na poltrona e cruzou as pernas, continuando a ouvir a explicação de Apolo com interesse.


Quando Hermione contou para Gina o que estava acontecendo, sua amiga não fez nenhum comentário, exceto algo sobre ele acabar se sentindo preso em uma gaiola.
— Quando o conhecer melhor verá que Draco não é tão difícil quanto parece — Hermione sorriu. — Além disso, tem que admitir que ele é incrivelmente atraente.
— Beleza não tem nada a ver com isso, Hermione.
Censurou-a, mas acabou sorrindo. Fez uma careta para a amiga e desapareceu na sala de estoque. Hermione ficou olhando a amiga. Seu próprio sorriso desapareceu aos poucos. Levou a mão ao ventre, encaminhando-se devagar para trás do balcão.
De certa forma, tudo parecia um sonho. A única realidade que lhe restava era o bebê. Como diabos conviveria com um marido que se sentia aprisionado? Não conseguia esquecer a expressão que vira no rosto de Draco quando ele notara que ela estava grávida. Nem tampouco o que ele dissera depois. Draco pedira desculpas, mas ela ainda não esquecera. Ele não queria esse filho por alguma razão. Embora ainda a desejasse, na verdade ele não a amava. Seus sentimentos eram superficiais, nada que pudesse constituir um casamento de verdade.
Apareceu pouco depois para atender uma cliente que entrara na livraria. Sua amiga tinha razão; ela devia ter deixado o juízo no México. Só isso para explicar a loucura de se casar com um estranho. Esse tipo de atitude não era do seu feitio.
Agora Draco sentia-se responsável pelo que acontecera por isso queria tanto cuidar dela. Hermione sentiu um nó na garganta. Draco não se propusera a ficar com ela por amor, mas por achar que bebê era culpa dele.
Hermione abaixou a vista, desolada. Como conseguiria encará-lo dia após dia, sabendo que a única coisa que o prendia a ela era o bebê e que quando a gravidez terminasse, ele partiria nova¬mente? Talvez acabasse até sendo morto. Fechou os olhos, aflita.
— Pare com isso! -— ralhou , aproximando-se. — Nada de ficar se atormentando. Pelo menos ele se importa o suficiente para querer ficar com você, não é?
Hermione abriu os olhos marejados de lágrimas.
— Será?
— Ele estava muito nervoso quando chegou aqui, vindo direto do aeroporto. Mas não era sentimento de culpa, sabe. Ele parece mesmo se importar com você.
Hermione suspirou, pensativa.
— Ele ficou aterrorizado quando viu que eu estava grávida, — murmurou. — E quando chegamos no meu aparta¬mento... disse coisas que me magoaram muito.
— Aposto que foi tudo da boca para fora — Gina afagou a mão dela. — Precisa parar de se preocupar. Não é bom para você.
— Ele disse que precisava ver algumas pessoas — Hermione lem¬brou.
— Então está explicado. Se ele disse que voltaria, cumprirá a palavra. Também não pode querer controlar o homem desse jeito.
— Morrerei se o perder — Hermione sussurrou, fechando os olhos. — Pedi o divórcio, mas Draco não quer. Acho que não suportarei ser uma mera responsabilidade para ele.
— Isso mudará quando ele a conhecer melhor. Já pensou por esse lado? — inquiriu Gina com um sorriso amistoso. — Agora ocupe-se com alguma coisa. Essa é a melhor terapia que conheço para preocupações. Ok?
— Ok — Hermione forçou um sorriso.
Porém, com o passar dos dias, as preocupações aumentaram. E se Draco não voltasse mais? E se as pessoas que ele fora ver houvessem solicitado que ele cumprisse outra missão? Deus, como viveria sem ele? Perguntava-se, angustiada.
Na tarde de sexta-feira, antes de sair, pediu a Gina que abrisse a livraria na manhã seguinte para que ela pudesse dormir um pouco mais. Andava muito cansada e a constante preocupação não estava ajudando nada. Gina fez menção de dizer algo, mas acabou desistindo.


Algo acordou Hermione. Um movimento ao seu lado, como um peso extra na cama. Acordou devagar, o rosto ainda pálido, devido ao pouco tempo de descanso, e os olhos pesados de sono.
Draco olhou-a com aparente ansiedade. Hermione parecia ainda mais pálida do que quando ele a deixara. Percorreu a vista pelo corpo dela, detendo-se na saliência do ventre. Dessa vez não a tocou. Hermione não queria, lembrou a si mesmo. Ela o fizera prometer que não haveria nenhum contato físico.
Hermione pestanejou, quase estendendo a mão para tocá-lo. Seria mesmo ele? Percorreu a vista pelos ombros largos cobertos pela capa de chuva. Os cabelos loiros estavam escurecidos devido à umidade. Alguns fios caíam-lhe na testa, deixando-o com aspecto de menino. Hermione imaginou se seu filho herdaria aqueles traços bonitos.
— Não esperava que chegasse tão cedo — disse com voz sonolenta. — Está chovendo?
— A cântaros. — Draco ficou de pé, afastando-se da cama. — Gina ficou de abrir a livraria?
— Sim. Já quer tomar o desjejum? — Hermione perguntou, embora sentisse o estômago revirar só de pensar em comida.
— Comi no avião -— respondeu ele. — E você, quer comer alguma coisa?
— Não — Hermione balançou a cabeça. — Agora eu não conse¬guiria. Comerei algumas torradas quando levantar.
— Então vou prepará-las. — Sorriu do olhar espantado de Hermione. — Bem, também sei fazer torradas, sabia? Meu grupo cos¬tumava comer torradas junto com a comida quando estávamos em missão.
Hermione abaixou a vista no mesmo instante. Percorreu o desenho do lençol com a ponta do dedo.
— Foi esse pessoal que você foi visitar? — Olhou-o um instante e baixou a vista novamente. — Desculpe. Sei que esse assunto não é da minha conta.
Ficou de pé devagar, pois cada movimento mais brusco piorava a onda de náusea.
Draco sentiu-se como se houvesse levado um soco no estômago. Não era da conta dela? Deus, o que Hermione queria, afinal de contas? Furioso, dirigiu-se à cozinha com passos firmes. Hermione respirou fundo, perguntando-se o que estava fazendo, enquanto encami¬nhava-se para o banheiro.
As torradas já estavam sobre a mesa quando ela entrou na cozinha, minutos depois. Trajava um delicado vestido florido. Estava descalça, com os cabelos recém-penteados. Draco vestia jeans e uma camisa marrom que o deixava com uma aparência ainda mais viril e atraente que o normal.
— Obrigada — agradeceu a ele ao sentar.
— Não parece muito bem — Draco comentou.
— Estou grávida.
— Sim, já notei esse detalhe.
Hermione levantou a vista a tempo de perceber o brilho de diver¬timento nos olhos dele.
— Nunca me sinto bem pela manhã — explicou. — É normal. Quanto à minha aparência, não deve haver muita diferença. Nunca fui bonita mesmo.
— Engano seu -— Draco contestou. — Mas não vamos discutir isso agora. Coma suas torradas, sereiazinha.
Hermione olhou-o.
— Draco, não precisa se sentir responsável por mim. Eu já lhe disse que não é necessário você ficar aqui. Posso cuidar do bebê sozinha.
— Claro que pode — ironizou ele, estreitando o olhar. — Deve ser por isso que está com essa aparência tão saudável.
— Eu ficaria bem melhor se você fosse embora! — Hermione impacientou-se.
Soltou a torrada e fez menção de levantar, mas logo voltou a sentar, tomada por uma nova onda de náusea.
Draco apressou-se em pegar um pano úmido e segura-lo junto à testa, rosto e pescoço de Hermione, ajoelhando-se ao lado dela.
— Está melhor agora? -— a pergunta foi feita com tanta gen¬tileza que trouxe lágrimas aos olhos de Hermione.
— Sim -— ela respondeu num fio de voz.
Ele pousou a mão sobre o ventre dela, num gesto protetor.
— Ele também é meu — disse, fitando-a nos olhos. — Eu o coloquei aí dentro. Até que ele nasça e esteja fora de perigo, ficarei com você.
Hermione sentiu um nó na garganta.
— Por favor, Draco, vá embora — pediu.
Ele puxou-a com carinho, encostando o rosto no dela. O agra¬dável perfume da colônia pós-barba aguçou os sentidos de Hermione, fazendo-a lutar contra as reações de seu corpo. Precisava lembrar a si mesma que nada disso era permanente. Draco só ficaria com ela até o nascimento do bebê. Melhor seria não se render demais ao calor dos braços dele.
— Eu ia esperar mais tempo para discutir isso com você — Draco disse, por fim. — Mas acho melhor conversarmos agora. Venha aqui.
Tomou-a nos braços, levando-a com cuidado de volta para o quarto. Acomodou-a entre os travesseiros e inclinou-se um pouco sobre ela, fitando os olhos amendoados por detrás dos óculos.
— Está me matando aos poucos, Draco — sussurrou num tom doloroso.
— Posso notar — ele admitiu. — E isso não está facilitando minha vida nem um pouco. Não posso te amar — declarou, sério. — Desculpe. Estou... muito orgulhoso de você — acrescentou, enxugando as lágrimas do rosto dela. Tirou os óculos e deixou-os de lado. — O amor que havia em mim morreu há muito tempo. Não posso me dar ao luxo de amar. Não com o tipo de vida que levo.
Hermione fechou os olhos.
— Eu te amo — disse com voz rouca, reflexo da dor que tomava seu peito.
— Eu sei — Draco respondeu.
Hermione abriu os olhos no mesmo instante, procurando os dele. O que diabos havia com ele? Ela precisava saber! Talvez isso a ajudasse a entendê-lo melhor. Draco respirou fundo.
— A única mulher que amei na vida... Ela ficou grávida de um filho meu. No dia em que me deixou, disse que havia feito um aborto e riu do fato. Falou que era um absurdo eu imaginar que ela poderia querer um filho meu. — Segurou os braços de Hermione com firmeza, lutando para controlar a fúria. — Ela se livrou da criança como faria com uma peça velha de roupa!
Agora Hermione estava entendendo. As coisas começavam a fazer sentido. Tocou o rosto dele com hesitação.
— Fico revoltado com essas lembranças — Draco admitiu. — Quando vi você grávida de um filho meu, tudo isso me veio à mente de novo. — Segurou o rosto dela entre as mãos. — Você não me conhece, Hermione. Sou hoje o resultado do que aquela mulher fez de mim no passado...
Hermione tocou os lábios dele com a ponta dos dedos, sentindo seu calor. Todo seu lado suave e feminino veio à tona. Draco sofrera muito no passado, não merecia mais viver torturado por lembran¬ças.
— Meus pais me detestavam — ele revelou. — Morreram me odiando.
— Vem cá...
Hermione puxou-o para si, abraçando-o com força. Ao senti-lo es¬tremecer, ela fechou os olhos. Talvez Draco não a amasse, mas precisava dela. Sabia disso, mesmo que ele próprio não se desse conta. Enlaçou os braços amorosos em torno dele, afagando-lhe os cabelos loiros.
— Pais nunca odeiam os filhos — disse a ele.
— Como sabe? — Draco contestou, contrariado. — Os seus não a abandonaram?
Hermione respirou profundamente, aconchegando-se a ele.
— Sim — admitiu. -— Eles eram muito jovens. Quase crianças. O senso de responsabilidade deve ter sido terrível para eles. Ten¬taram entrar em contato comigo uma vez, mas minha tia disse a eles que eu havia morrido. Descobri isso somente quando ela própria estava morrendo. Então já era tarde demais.
— Hermione...
— Não podemos voltar no tempo, Draco. Nenhum de nós — ela prosseguiu com o mesmo tom calmo, acariciando a nuca dele. — Precisamos fazer o melhor com o que temos agora.
— Lamenta o fato de eu havê-la engravidado? — Draco per¬guntou num tom quase inaudível.
— Já lhe disse que estou feliz — Hermione assegurou-o, sorrindo. — Nunca tive alguém para cuidar.
Depois de um longo silêncio, Draco levantou a cabeça. Suspirou, fitando-a nos olhos. A sombra das lembranças continuava a ator¬mentá-lo.
— Eu nunca magoaria você — Hermione asseverou. — Nunca, nem que eu tivesse essa chance. Ela era uma mulher cruel, e você jovem, vulnerável. Porém, tenho certeza de que seus pais entenderam, mesmo estando magoados. Nunca acreditarei que eles não o amavam.
Draco enrijeceu o maxilar. Levantou, ficando de costas para ela. Segundos depois, acendeu um cigarro.
Sem os óculos, Hermione não enxergou o quanto as mãos dele estavam trêmulas. Colocou os óculos e sentou na cama, ajeitando o vestido.
— Preciso ir para a loja — disse após um longo silêncio. —Gina marcou para cortar os cabelos ao meio-dia.
Draco voltou a olhá-la.
— Hermione, você não está em condições de trabalhar. Ela arqueou as sobrancelhas.
— Tolice! Estou com as pernas um pouco tremulas só isso. — Ficou de pé. — Tenho um negócio para administrar.
— Também tem um filho para cuidar — Draco lembrou. — Ligue para Gina e peça a ela que feche a livraria antes de sair.
— Não — Hermione o encarou.
Draco deu de ombros, vendo-a arrumar a bolsa e fazendo-a pensar que o assunto estava terminado. Esperou até Hermione começar a trocar de roupa. Antes que ela pudesse reagir, tomou as roupas das mãos dela e a colocou debaixo dos lençóis. Em seguida, pegou as peças e trancou-as no guarda-roupa, guardando a chave no bolso.
Hermione permaneceu imóvel, com os lençóis puxados até o pes¬coço, fuzilando-o com o olhar. Tudo acontecera tão rápido que ela não tivera tempo de reagir.
Draco pegou o telefone e perguntou o número da livraria. Hermione não teve escolha a não ser dizer.
—Gina ? Aqui é Draco. Hermione pediu para você fechar a livraria quando sair. Ela ficará na cama hoje. Sim, tudo bem. Até logo. Agora — voltou-se para Hermione —, você vai ficar aqui até eu avisar quando poderá levantar.
-— Não vou ficar coisa nenhuma! — Hermione vociferou.
— Tudo bem — ele respondeu com calma, enfiando um mão no bolso. — Então levante.
Hermione fez menção de levantar, mas ao lembrar que estava nua, voltou a deitar, puxando os lençóis até o pescoço.
— Quero minhas roupas.
— Prometo devolvê-las amanhã.
— Eu as quero agora!
— Volte a dormir. Ainda são nove horas. Vou limpar a cozinha. - Draco encaminhou-se para fora do quarto e Hermione ficou olhando-o, confusa. Antes de sair, ele voltou a olhá-la.
— É muito parecida com Gabby — declarou.
Saiu antes que ela pudesse retrucar. Será que Gabby era a mulher que o magoara no passado? Hermione pensou consigo. Tirou os óculos, encostando o rosto junto ao travesseiro quando lágrimas surgiram em seus olhos. Tinha certeza de que Draco a odiava. Que outro motivo ele teria para compará-la à tal mulher?
Por fim, Hermione adormeceu. Já era tarde quando acordou. En¬controu suas roupas ao pé da cama e um bilhete sobre a mesi¬nha-de-cabeceira.
"Pode vestir suas roupas, mas não saia do apartamento. Fui fazer algumas compras. Voltarei às cinco. Draco"
Hermione olhou para as peças de roupa. Já eram quase cinco horas. Levantou rapidamente, para se vestir antes que ele chegasse. Quando Draco chegou, carregando um pacote de compras, Hermione estava no sofá, com livros de conta espalhados ao seu redor. Entreolharam-se um instante.
— Bem, alguém tem que verificar o orçamento e os lucros da livraria — Hermione se justificou. — Já que não me deixa sair, terei que fazer isso aqui mesmo.
— Olho por olho, dente por dente — Draco replicou. — Você também não me deixa realizar meu trabalho.
— Eu nunca disse que o impediria de ir embora, se quisesse — Hermione retrucou.
— Gosto da idéia de me tornar pai, agora que estou me acos¬tumando com ela — declarou Draco, colocando o pacote sobre a mesa da cozinha. — Não quero que você se arrisque a perder esse filho.
— Fala como se eu não me importasse nem um pouco com ele — Hermione indignou-se.
Draco começou a guardar algumas embalagens na geladeira.
— Pare de tentar criar discussões comigo, Hermione. Não vou brigar com você.
— Não estou querendo criar discussões — ela refutou.
Só achava difícil acreditar que Draco estivesse realmente preo¬cupado com ela. Deixou os livros de lado e foi até a cozinha, procurar algo gelado para beber. O calor estava intenso e o ar condicionado não se encontrava nas melhores condições. Draco percebeu sua testa suada.
— Está com calor? — indagou com gentileza. — Vou provi¬denciar um ar condicionado maior.
— Não é preciso -— Hermione disse com teimosia. — Prefiro esse mesmo.
Draco segurou-a diante de si.
— Você não vai vencer, Hermione — declarou num tom ameaça¬doramente calmo. — Portanto, pare de me provocar. Terei que ir a Chicago na segunda-feira.
Hermione desviou o olhar.
— A trabalho? — perguntou fingindo indiferença.
— Sim — Draco confirmou. Acariciou os braços dela. — Não estou fazendo nenhuma promessa.
— E eu pedi alguma? — Hermione voltou a encará-lo.
— Não. É orgulhosa demais para pedir algo que não seja dado espontaneamente.
Inclinou-se e começou a beijá-la, mas Hermione virou o rosto. Draco sentiu um tremor de fúria atravessá-lo de alto a baixo. Afastou-se dela, cerrando os punhos. Estava furioso não apenas com Hermione, mas com ele mesmo. Por que diabos deixara-se envolver tanto com ela?
— Não vou sair do país — explicou. — É que um velho amigo meu abriu uma empresa de consultoria. Ele ensina táticas antiterroristas para executivos. Precisa de alguém que tenha ex¬periência no assunto e perguntou se eu estava interessado. — Deu de ombros. — Aceitei a proposta.
Hermione espantou-se com a idéia de Draco estar pensando em mudar de profissão. Será que o bebê significava mesmo tanto para ele? Provavelmente sim, pensou com um lampejo de esperança no coração. Draco carregava cicatrizes não apenas no corpo, mas tam¬bém na alma. Talvez nunca conseguisse superá-las de forma de¬finitiva. Hermione tinha consciência de que não possuía beleza ou sofisticação para conquistá-lo. Porém, o desejo que Draco sentia por ela não era suficiente. Desejo era algo que um homem poderia sentir por qualquer mulher, e não era isso que ela queria para si.
— Será uma mudança significativa para você — comentou.
— Sim.
Draco moveu-se em direção a ela, mas dessa vez não se apro¬ximou demais. Estudou o rosto de Hermione durante um longo tempo. Ela devolveu o olhar, notando mais uma vez o quanto Draco era bonito e atraente.
— Discutimos isso há muito tempo — ele disse. — Não me importo de mudar de cidade. Por enquanto, acho melhor você permanecer por aqui. Ficaria muito tempo sozinha em Chicago, embora tenho certeza de que Gabby não se importaria de cuidar de você.
— Gabby? — Hermione lançou-lhe um olhar confuso.
— Gabriele Lupin — Draco explicou. — Ela é casada com um de meus melhores amigos, um advogado criminal. — Os lábios firmes relaxaram num sorriso. — Gabby seguiu R.J. através de uma selva da América Central empunhando uma AK-47 de¬baixo do braço. De fato, Gabby atirou em um terrorista com ela e salvou a vida dele. Uma mulher e tanto.
Então Gabby não era a mulher que o magoara no passado! Pelo contrário, Draco a admirava. E dissera que ela própria era muito parecida com a esposa do amigo. Hermione enrubesceu.
— Agora fez a ligação, é isso? — Draco indagou com gentileza. — Pelo amor de Deus, Hermione, o que pensou que eu quis dizer quando comparei você a ela?
Hermione abaixou a vista.
— Pensei... que ela fosse a mulher que traiu você no passado — confessou, voltando para o sofá.
— Você me entende tanto quanto eu a entendo — disse Draco após um instante de silêncio. — Que tal ir comigo a Chicago? Para conhecer meus amigos e saber um pouco mais a meu respeito. - O convite deixou-a animada, mas Hermione hesitou.
— Não sei.
— Meu apartamento tem dois quartos — ele disse. — Não terá que dormir comigo, se não quiser.
— Não consigo imaginar por que motivo quer fazer isso — sorriu, incrédula. — Há tantas mulheres no... Draco!
Quando deu por si, ele inclinava-se sobre ela. Segurou os pulsos de Hermione com firmeza, furioso com algo que ela dissera. Manteve os braços dela ao lado da cabeça, olhando como se naquele mo¬mento fosse até capaz de cometer uma violência.
— Eu nunca faria isso com você — disse a ela. — Nunca! Que tipo de homem pensa que eu sou?
Lágrimas surgiram nos olhos de Hermione.
-— Draco, você está me machucando — murmurou, apreensiva.
Ele diminuiu a pressão, mas não soltou os pulsos dela.
— Desculpe — disse ele, sem desviar o olhar do rosto pálido de Hermione. — Não fiz nada certo... não é? Eu a seduzi, deixei-a grávida, forcei-a a se casar sem saber a verdade a meu respeito. E, por fim, ainda tenho coragem de culpá-la por tudo isso.
Hermione fechou os olhos. As lágrimas escorreram por seu rosto, fazendo Draco conter a respiração.
— Não chore, por favor — pediu, preocupado. — Hermione, não chore. Sinto muito. Lieveling, desculpe... -— continuou repetindo com o rosto junto ao dela. Por fim, beijou-a nos lábios com cuidado, liberando as mãos para tocar o rosto delicado. — Lieveling — repetiu num sussurro.
Apoiando o corpo sobre os antebraços, posicionou-se acima dela. Sentiu o coração acelerado e a respiração alterada. Deus, como a queria!
Hermione sentiu o corpo de Draco tornar-se trêmulo, sob o efeito da proximidade de ambos. Não queria que isso acontecesse. Não era certo manter um relacionamento apenas físico. Porém, há me¬ses que não sentia aquele corpo forte junto ao seu e aqueles lábios a estavam deixando louca de desejo. Reagiu com hesitação, enlaçando os braços em torno do pescoço de Draco.
— Deixe que eu a ame, Hermione — ele pediu com os lábios junto aos dela.
Deslizou as mãos por cima do vestido, sentindo as curvas do corpo de Hermione. Ela queria parar, mas as mãos de Draco a tocavam com tanto carinho que aos poucos sua vontade de resistir foi desaparecendo. A essa altura, Draco já aprofundara mais o beijo, tornando-o um ato altamente íntimo por si só. Hermione moveu o corpo sob o dele, deslizando as mãos trêmulas sobre seus ombros com um leve gemido.
— Sim -— Draco sussurrou com mais urgência.
— Aqui...? — Hermione conseguiu dizer com um último lampejo de sanidade.
— Sim, aqui — Draco murmurou, pressionando-a com gentileza contra as almofadas.
Era como se aquela manhã no México estivesse de volta. Draco estava sendo extremamente carinhoso, despertando um senso de entrega total em Hermione. As mãos trêmulas a tocavam como se estivessem diante de algo sagrado, guiando-a por um turbilhão de novas emoções.
A voz profunda provocou-lhe arrepios ao sussurrar palavras em holandês ao seu ouvido. Em seguida, os lábios de Draco voltaram a se apoderar dos seus, enquanto o contato entre seus corpos tornava-se mais íntimo.
— Draco...! — Hermione sobressaltou-se.
-— Shii... — ele sussurrou.
Ficou observando o rosto de Hermione enquanto se movia com cuidado para não prejudicar seu filho. Despertou sensações que fizeram os olhos amendoados tornarem-se escuros de desejo. Mione sentia o coração batendo forte junto ao peito de Draco.
-— Oh! — resfolegou pouco antes de Draco se apossar de seus lábios novamente.
— Acompanhe-me, lieveling — disse ele. — Aceite meu corpo e me dê o seu. Seja minha amante agora...
— Eu... te amo — Hermione murmurou em resposta. — Eu te amo, Draco.
As palavras acabaram com o pouco de controle que restava em Draco. Ouvir Hermione dizer tão explicitamente que o amava e ver o brilho do amor nos olhos dela deixou-o emocionado.
Colando os lábios aos dela, segurou-lhe as mãos com infinita ternura. Ouviu os leves gemidos de Hermione, aproximando-a cada vez mais do clímax. Queria olhar para ela nesse momento, mas as sensações também o arrebataram para o instante maior. Nunca experimentara algo parecido com outra mulher. Somente Hermione tinha o poder de lhe despertar ondas de desejo selvagem e infinito carinho ao mesmo tempo.
Caíram exaustos um nos braços do outro. Draco acariciava o corpo relaxado de Hermione, sentindo a maciez de sua pele enquanto esperava a respiração de ambos voltar ao normal.
— Hermione? — sussurrou abrindo os olhos.
— Sim — respondeu ela num tom aveludado.
-— Eu... não planejei nada disso — Draco declarou com hesitação.
— Eu sei.
Hermione beijou-lhe o rosto, o queixo, o pescoço... Draco adorava sentir a maciez dos lábios dela. Fechou os olhos, desfrutando melhor a deliciosa sensação. Sorriu, sentindo-se feliz e seguro ao mesmo tempo. Satisfeito, pensou consigo. O ato de amor com Hermione era sempre muito mais do que uma breve união de corpos.
Tocou o ventre dela e sentiu seu filho se mexer. Um sorriso insinuou-se em seus lábios.
— Ele chutou — disse a Hermione. — O movimento foi mais forte.
— O médico disse que ele será muito saudável — ela salientou. Draco levantou a cabeça, fitando cada detalhe do rosto dela. Em algum momento durante o que acontecera há poucos minutos, ela ficara sem os óculos. Olhando em volta, avistou-os sobre a mesinha e sorriu.
— Esqueci onde estávamos. — Suspirou, beijando-a nova¬mente. Acariciou os seios firmes com os polegares. — Deixará que eu a veja amamentá-lo? — Sorriu ao vê-la corar. — Hmm? — insistiu.
— Sim — Hermione respondeu, escondendo o rosto junto ao pes¬coço dele.
Draco beijou-a na testa.
— Hermione, acontece como uma porção de explosões também para você? — perguntou de repente. — Você sente o que os franceses chamam de "pequena morte" no momento do clímax? Hermione conteve a respiração.
— Sim — confirmou. Aninhou-se mais junto a ele. — Eu não sabia...
— Nunca foi assim para mim antes — Draco esclareceu, ajei¬tando-a entre seus braços. — Só sinto isso com você.
Sim, mas continuava sendo apenas uma sensação física, pensou Hermione, fechando os olhos. Ainda assim, melhor isso do que nada, concluiu, acariciando os cabelos da nuca dele. Era um começo.
Partiram para Chicago na segunda-feira, depois de Draco tele¬fonar para o dr. Carter e se certificar de que Hermione poderia fazer a viagem.
Vigiou-a de perto, cuidadoso com a segurança dela e do bebê. O cuidado que Draco estava tendo com ela chegava a ser quase hilário. Mas, por outro lado, também muito lisonjeador. Talvez Draco estivesse finalmente aprendendo a gostar dela, embora ainda não a amasse. Afinal, estava sendo protetor e gentil, mas não a tocava movido por um verdadeiro sentimento de amor.
Indagou-se por que, porém não teve coragem de perguntar a ele. Há muito decidira aproveitar cada dia ao lado de Draco, acei¬tando e o que ele lhe oferecia sem cobrar nada mais. De alguma maneira, aprendera a conviver com Draco, e já não sabia viver sem ele.
Mas e quando o bebê nascesse? Essa era uma questão que continuava a ecoar no fundo de sua mente. Será que Draco iria embora e voltaria a exercer sua profissão ou decidiria ficar com ela, dando ao filho o carinho que só um pai poderia dar?
Só o futuro diria.

~*~

Draco and mione

Foto do Draco acariciando a barriga da Mione. *-*

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