Capítulo I



Capítulo I



Março de 1989, Londres.


Remus Lupin estava sentado naquele pub calmo e bem freqüentado, quando seu celular tocou. Era uma chamada do número particular da dra. Tonks. O homem suspirou enquanto segurava o aparelho em suas mãos. Decidiu que não atenderia e tentou ignorar aquele barulho irritante que estava começando a preencher o ar ao seu redor. Pensou em trocar de número ou comprar um celular novo apenas para que ela não mais conseguisse perturbar sua paz.
Que droga de mulher que não me deixa em paz! Remus queria ser grosseiro com ela e dizer qua não gostava daquele seu jeito atrapalhado, daquele seu sorriso exuberante, daquele seu penteado moderno e daquela sua forma despreocupada. Mas ele não tinha coragem de dizer que não gostava dela, porque isso seria aceitar que não era apto a amar. Não era a primeira vez que uma mulher se aproximava dele, assim como não era a primeira vez que ele tentava manter distância.
Tomou mais um gole do seu wísque. Sempre aparecia naquele bar nas sextas-feiras: o ambiente era calmo e aconchegante, trazendo um leve sopro de conforto para a vida de Remus.
Seu celular voltou a tocar naquele instante, e ele já estava começando uma enxurrada de maldições contra Tonks, quando percebeu que o número não era o dela. O número da sala dos médicos, reconheceu. Ficou olhando aparvalhado enquanto a luz do visor brilhava.
- Alô - disse com voz solícita, quando atendeu. - Remus Lupin falando.
- Que diabos, Remus! - Remus soltou um muxoxo quando reconheceu a voz da dra. Tonks. - Onde você deixou o seu comunicador?
- Oras! O meu comunicador está... - parou a frase no meio ao perceber que o havia deixado dentro do carro.
- Eu estou tentando lhe chamar há alguns minuto e você não responde!
- Bem... - Remus sentiu a face corar.
- Venha logo para a sala de emergências.
Remus sentiu um leve torpor no seu corpo.
- É um caso de urgência, Remus!
E ela desligou. Lupin se levantou rápido, deixou algum dinheiro sobre a mesa e se dirigiu até a saída. Correu até o estacionamento e entrou no carro. Acelerou e se dirigiu até o centro, onde estava localizado o Queen's Hospital, seu posto de trabalho.
A velocidade na qual ele estava excedia o limite permitido naquela região, mas ele não ligou para isso naquele instatnte. Acelerou mais um pouco e se manteve concentrado na direção. Diminuiu a velocidade ao fazer uma curva, e assim que estava se aprontando para voltar a acelerar, um corpo invadiu o espaço a sua frente, acertando em cheio o pára-brisa do seu carro. Remus levou o pé ao freio rapidamente e sua cabeça foi lançada de encontro ao volante: em sua pressa, esquecera de colocar o cinto.
Enquanto sua visão ainda estava turva, e ele sentia um filete de sangue escorrer pela testa, ouviu algumas vozes e barulhos e logo sentiu um par de mãos fortes puxando seu braço.
- O senhor está bem?
Remus tentou ajustar o foco da visão e se manter de pé. Um homem vestindo roupas simples e usando óculos lhe segurava, enquanto ele via alguma movimentação ao seu lado. Eu bati em alguém.... Remus processou a informação que seu cérebro formava e se aprumou.
- Onde está a pessoa?
O homem continuava lhe segurando.
- Calma. O senhor está bem?
- Sim, sim - assentiu Remus. - Mas eu bati em alguém... Onde está a pessoa?
Remus olhou ao seu redor, e viu que havia um homem no chão, deitado, rodeado por algumas pessoas que estavam passando pela rua na hora do ocorrido.
- Não mexa nele!
Seu grito soou mais estridente do que ele fora capaz de pensar. Livrou-se do homem que lhe segurava e, ainda com os passos um pouco incertos, se aproximou da vítima.
- Chamem uma ambulância - ordenou enquanto se abaixava e sentia o pulso dele. Lupin viu um ferimento despontando sangue na testa, empapando os cabelos negros. A pele do homem caído, levemente amorenada, estava suja com uma poeira negra que provinha do chão. Suas pernas estavam em um ângulo estranho. Remus levou sua mão até seu próprio machucado. Que merda!, praguejou. - Alguém já chamou uma ambulância?
- Sim - Remus reconheceu a voz do homem que havia lhe segurado. - Já estão à caminho.
- Ótimo.
Remus se sentou ao lado do homem que ele atropelara. Suas mãos tremiam e sua mente vagava para um telefonema que havia recebido antes.
- Eu preciso do meu celular.
Voltou para o carro e viu que o seu celular estava quebrado. Precisava avisar Tonks que ele havia se envolvido em um acidente.
- Eu já disse pra não mexer nele!
Uma mulher fazia menção de mover as pernas do homem.
- Eu ia virar as perna dele e...
- Deixe ele assim até que a ambulância chegue.
- Mas ele pode ter quebrado a perna! - ralhou a mulher.
Remus analisou suas vestes e pensou que provavelmente ela deveria ser uma prostituta. Deu-se conta de que estava em um bairro muito pobre e, com certeza, perigoso.
- Escute - disse enquanto se aproximava -, eu sou médico, sei o que estou fazendo. Ninguém vai mover o corpo dele. Se foi apenas uma perna fraturada, melhor. Mas há o risco de rompimento de vértebras e compressão da medula.
Viu que as pessoas pouco entenderam o que ele falava.
- Ele deve ter algum documento. É melhor dar uma olhada, pra ligar pra alguém avisando que ele foi atropelado.
O médico olhou para o homem que falava: era franzino e tinha uma expresão de cachorro doente, mas estava certo.
- Eu vou dar uma olhada.
Voltou a se sentar ao lado do moreno e sentiu uma pontada no peito. Meu Deus! Espero que não tenha fraturado nada... Pegou uma carteira de dentro do bolso interno do casaco de couro meio rasgado pela fricção do acidente e olhara seu conteúdo: algumas notas, um talão de cheques e a identidade. Sirius Black, leu Remus. Pelo menos agora ele tem um nome. Havia uma foto meio amassada que saia um pouco para fora da repartição. A cor estava um pouco gasta, mas ele podia reconhecer aquele homem que estava deitado ao eu lado. Sorridente, abraçava uma mulher de cabelos castanho e compridos pela cintura. Um casal de namorados, pensou.
Remus sentiu uma lufada de ar mais pesada e escutou ao longe o barulho das sirenes. O homem soltou mais uma lufada de ar e agora começava a ter espasmos. Não pode ser! Remus sentiu uma onda de desespero tomar conta de seu corpo quando o moreno deu os primeiros sinais de que estava tendo uma convulsão.
- O que ele está fazendo? - perguntou a suposta prostituta.
Remus ajoelhou-se ao lado do corpo e abriu a boca do homem, virando sua cabeça de lado. Ele babava muito e os movimentos agora ganhavam mais intensidade.
- Mas que diabos...! - disse o homem de óculos.
- Afastem-se! - gritou Remus. - Ele precisa respirar! - Agora o jovem médico voltou-se para um dos homens que estava de pé assistindo aos movimentos musculares involuntários de Sirius Black. - Tire o casaco e coloque próximo à cabeça dele.
O homem ficou sem entender.
- Agora!
Colocaram um casaco para servir de travesseiro e Remus, ajudado pelo de óculos, começou a afrouxar as roupas do homem. Precisava manter a respiração dele adequada, para que não houvesse uma parada cardiorespiratória. Com muita precisão, ele começou a secar a baba do homem que continuava a se mexer, sob os olhares atentos dos demais.
- Agüenta - disse entre os dentes, enquanto uma luz avermelhada banhava o negror daquela cena.
Os paramédicos se aproximaram, imobilizaram o corpo do homem e começaram a removê-lo. Remus assistia tudo de perto quando foi tomado pelas mãos daquele homem que havia lhe tirado do carro.
- Este aqui também está machucado!
Um paramédico conduziu Remus até a parte interna da ambulância enquanto uma viatura da polícia chegava ao local.
- Não se preocupe doutor, eu resolvo isso. Vá com eles - e Remus viu os olhos verdes brilhantes daquele homem entre a armação arredondada.
E a porta se fechou antes que Remus pudesse dizer alguma coisa. Sentiu uma moleza latente e não conseguiu mais pensar em nada. Deixou-se desmaiar na maca.

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