Expresso de Hogwarts (reescrit






Capítulo 1 - Expresso de Hogwarts


 


                 Uma garota ruiva de olhos muito verdes chamava atenção na estação de King Cross, carregando um carrinho com um grande malão e uma gaiola com uma coruja. As pessoas viravam a cabeça para ver aquela cena, se perguntando por que, em sã consciência, alguém teria uma coruja como animal de estimação. Mas a garota seguia seu caminho parecendo nem mesmo notar os olhares sobre ela, com seus pais ao seu lado, olhando orgulhosos para a filha. Eles pararam ao chegar ao encontro entre as plataformas nove e dez, e ela trocou abraços afetuosos com os pais. Lily estava feliz por sua irmã Petúnia ter decidido ficar em casa hoje e não ter vindo estragar sua partida para Hogwarts. Ela tentara ser amiga da irmã, mas esta insistia em dizer que Lily era uma aberração e em infernizar sua vida.


              Era incrível voltar para Hogwarts, para o mundo ao qual ela realmente pertencia. Lily mal podia esperar para rever suas amigas, voltar às aulas pela última vez. Ah, o último ano... Como o tempo passara rápido! Ela ainda se lembrava, como se fosse ontem, quando vira pela primeira vez aquele castelo, e em pouco tempo já estaria se despedindo dele. Ela terminou de se despedir de seus pais e passou pela sólida pilastra entre as plataformas nove e dez como se ela fosse feita de fumaça.


             Assim que a plataforma nove e meia se fez nítida diante de seus olhos, ela viu  um garoto colocar um grande malão rosa-choque no trem, e ao seu lado uma garota muito bonita de cabelos castanhos ondulados, queixo fino e olhos escuros, olhando desconcertada enquanto sua bagagem era colocada no trem pelo garoto.


             - Lily! - gritou a garota correndo em sua direção, se esquivando da mulher loura, muito parecida com ela, que estava ao seu lado. Emilly Carey era uma das melhores amigas de Lily, e sem dúvida, a mais rica de todas, apesar da ruiva só ter descoberto isso há três anos, quando foi passar as férias na casa, ou melhor, mansão, da amiga. Apesar de ser sempre divertida, e, às vezes, parecer ser fútil, Emilly era uma pessoa muito simples e compreensiva, e sabia dar valor ao que realmente importava.


            - Emy! – disse Lily abraçando a amiga. – Como foram suas férias?


             - Tente imaginar três meses trancada em casa com minha mãe. – respondeu ela, e Lily fez uma careta. – É, um pouco pior que isso, mas serve. Você acredita que ela fez um calouro inocente levar minha mala?!


            - Pobrezinho... – disse Lily sem jeito. Ela não tinha certeza se seria bom falar alguma coisa da mãe de Emilly, por pior que ela fosse.


            - Vem me ajudar a espantar ela. – Emilly falou, puxando a amiga pelo braço em direção à mãe. O garotinho já havia colocado o malão cor-de-rosa no trem e saído correndo o mais rápido possível. Nem Emilly nem Lily poderiam culpá-lo: Vanessa Carey era mesmo assustadora.


            - S-sua mãe? – Lily disse assustada – O que você espera que eu faça?


            - Não se preocupe Lily, é só ficar parada, eu faço o resto.


            Lily riu e deixou-se levar por Emilly. Não demorou para que elas chegassem perto da mulher alta e loira que era a inconfundível mãe de Emilly. Apesar de seu rosto ser muito parecido com o da filha, suas expressões indicavam que ela era uma pessoa amarga, completamente diferente da filha.


            - Oi Sra. Carey – Lily falou sem jeito, mas logo foi interrompida pela mulher, que se dirigiu a Emilly:


            - Quem é essa daí? Uma daquelas suas amiguinhas? Espero que não seja a sangue ruim.


            Emilly deu um passo a frente, com os punhos cerrados.


            - Não chame minha amiga assim! – ela disse, com raiva. Lily não ligava muito para aquilo, e não queria arrumar confusão com a mãe de Emilly. Aparentemente, a própria Sra. Carey também não queria confusão, porque cortou a filha com seu habitual tom de indiferença.


            - Que seja. Olhe, eu não estou a fim de perder muito tempo aqui, você consegue se cuidar sozinha, certo? – Ela disse com sarcasmo. Emilly não se deu ao trabalho de responder – Ótimo. Ah, só mais uma coisa: lembre-se que esse é seu último ano em Hogwarts, então tente não manchar meu nome como nos outros anos, certo?


            - Já entendi, mamãe, pode ir agora. – Emilly murmurou, visivelmente se controlando para não fazer um escândalo. Não houve um abraço de despedida, não houve sequer um adeus. Vanessa Carey simplesmente desaparatou, enquanto Emilly aparentemente contava mentalmente até dez ou tentava pensar em qualquer coisa que a acalmasse. A garota morena se virou para Lily  – para o espanto desta – com um sorriso no rosto.


            - Ela se foi!


            Lily não pode evitar de sorrir. Não só pelo alívio de não ter mais a mãe da amiga por perto, mas pela presença de espírito de Emilly. Ela nunca parecia se abalar, nada parecia ser ruim demais para ela. Emilly era o tipo de pessoa que sempre estava ali para alegrar as amigas mesmo quando seus próprios problemas a estavam sufocando. Lily já tentara dizer a Emilly que ela podia descarregar seus problemas nela se quisesse, mas Emy sempre dizia algo como “Que problemas? Eu sou uma das garotas mais lindas de Hogwarts, tenho as melhores amigas do mundo e mil garotos aos meus pés! O que mais eu posso querer?”. Emilly era muito teimosa, afinal de contas.


            - E as suas férias, como é que foram? – perguntou Emilly ajudando Lily a colocar seu malão no trem.


            - Imagine três meses presa em casa com minha irmã. – respondeu a ruiva, e Emilly fez uma careta. – Mais ou menos assim.


            Elas riram.


            - Olha quem vem chegando! – Emilly anunciou, indicando a passagem da plataforma. Uma garota de rosto redondo, cabelos longos e lisos e grandes olhos azuis. Em seu carrinho estava seu gato cinzento sentado em cima do malão. Alice Johnson logo as viu acenando e acenou de volta, se dirigindo até lá.


            - Olha quem eu achei, as meninas mais malvadas de Hogwarts! – exclamou Alice quando se juntou a elas, abraçando Lily e depois Emilly. – Já estavam tramando alguma coisa maligna para esse ano? – ela perguntou com uma piscadela.


            - Já estávamos era com saudades de você. – respondeu Lily.


            - E aí, Lice, como foram suas férias? Só pra adiantar, eu e a Lily concordamos em descrever as nossas com uma careta. – Emilly disse, e Alice deu uma risada antes de responder:


            - Pois ao contrário de vocês, minhas férias foram ótimas! Pelo menos as últimas semanas, porque o Frank foi passar uns dias lá em casa.


            - Lice sua safadinha! Já está levando o cara pra casa?! – Emilly disse fazendo uma cara de falso espanto.


            - Queremos detalhes, dona Alice! – brincou Lily.


            - Suas engraçadinhas, não aconteceu nada de mais! O Frank respeita meus pais, sabe...


            Alice namorava Frank Longbotton há quase três anos e eles literalmente não se desgrudavam. Sem encontrar mais nenhum comentário sobre aquilo, Emilly resolveu mudar de assunto.


            - E aí garotas, prontas pra arrasar no nosso último ano? – disse ela, e as três disseram “YES!” em coro.


            - Estão comemorando sem mim? – disse uma voz de taquara-rachada um pouco atrás delas que as fez pularem sobressaltadas.


            - É claro que nós estávamos comemorando sem você, Jessy, se não, não teria a mesma graça! – Disse Emilly ao mesmo tempo que Lily murmurava um “Oi Jessy” meio sem graça. Jessy Landyner, uma garota alta, magra e desengonçada, com cabelos cheios num tom entre loiro e castanho, lábios grossos e óculos quadrados colocou a língua para Emilly, que prontamente correspondeu ao gesto, rindo. Desde que se conheceram, Emilly e Jessy não param de implicar uma com a outra, apesar de no fundo serem também muito amigas.


            Mas o assunto não criou mais polêmica, pois haviam quatro garotos se aproximando delas, e Emilly, a primeira a notar, logo se virou para sorrir para eles. Porque, é claro, não eram quaisquer garotos, eram simplesmente os três garotos mais bonitos de Hogwarts (junto com o mais feio também).


            James Potter vinha na frente, bagunçando seus cabelos negros e rindo de algo que Sirius Black lhe dizia, com seus olhos azuis acinzentados brilhando em contraste aos  cabelos pretos que insistiam em cair em sua testa. Do outro lado de James estava Remus Lupin, que também ria da suposta piada de Sirius. Remus tinha uma cicatriz perto da sobrancelha, parcialmente tampada por seus cabelos cor de areia, e uma praticamente integral aparência de alguém que está doente, sem deixar de ser bonito. Atrás dos três estava Peter Pettigrew, o garoto baixinho e gorducho que pulava tentando participar da conversa.


            Eles interromperam sua conversa ao chegarem perto das meninas. James se inclinou e disse no ouvido de Lily:


            - Bom dia, meu lírio.


            Lily sentiu um arrepio na nuca antes de se afastar bruscamente.


            - Eu não sou seu lírio, Potter!!! – ela disse, suas orelhas começando a ficar vermelhas como seus cabelos.


            - Eu também senti saudades. A gente se fala mais tarde, certo? – Ele disse dando uma piscadela, e Lily o fuzilou com os olhos. – Oi garotas!


            Emilly e Alice disseram oi, assim como Remus e Sirius, que tinha o olhar fixo em Emilly. Ela percebeu seu olhar e correspondeu com um sorriso, que durou uma fração de segundo, antes dela se virar para dizer tchau a Lily, que seguia com Remus para a cabine dos monitores, já que ambos haviam sido nomeados Monitores Chefes este ano.


            - Então, vamos para o nosso vagão também?! – sugeriu James, se referindo ao vagão que seu pai havia comprado para ele alguns anos antes, e que ele tinha gentilmente oferecido uma cabine a Lily e suas amigas (é claro que Lily não queria aceitar, mas Emilly a convenceu com uma célebre frase: “Hello! Popularidade + Cabine VIP = Popularidade Plus!”).


             James, Sirius, Emilly e Alice subiram no trem, enquanto Jessy se esforçava para colocar ela própria e seu pesado, velho e surrado malão em cima do trem ao mesmo tempo, resultando em uma cena comicamente atrapalhada. Emilly deu uma risada antes de se voltar para a garota.


            - Jessy, você nunquinha vai conseguir fazer isso! – disse ela, ajudando a amiga desajeitada.


           Peter acabara de subir no trem, depois de muito esforço, quando Alice voltou para a porta.


           - Alguém viu o Frank? Acho que ele está atrasado. – ela disse, espiando a estação.


           - Ele deve chegar daqui a pouco, Lice. Ele encontra a gente na cabine. – disse Emilly, e Alice sorriu, assentindo. Ela, Emilly e Jessy entraram em uma cabine, e os garotos foram para a cabine ao lado.


           - Emilly, Alice, vocês viram como o Sirius estava bonito? – disse Jessy mal acabando de se sentar. – Eu estava com tanta saudade dele...


           - Ai Jessy, achei que dessa vez as férias tinham te curado dessa obsessão com o Sirius. – falou Emilly revirando os olhos.


            - O Sirius me ama, Emilly, e eu sei que esse ano ele vai se declarar pra mim. – disse Jessy com um brilhinho de deslumbramento nos olhos.


           - Você diz isso todo ano, Jessy. – falou Alice.


            - Vocês têm é inveja que ele prefere a mim e não a duas feiosas que nem vocês!


            - Jessy, acorda, nós não queremos o Sirius. – disse Emilly passando a mão na frente dos olhos vidrados de Jessy.


            - É claro que nós não queremos o Sirius, Jessy. – disse Lily entrando na cabine e pegando o assunto pela metade. Não que fizesse alguma diferença, por que Sirius Black era praticamente a única coisa da qual Jessy sabia falar.


            - Nós queremos é o James né Lily? – disse Alice cutucando a amiga que acabara de se sentar ao seu lado.


            - Pode ir tirando esse sorriso malicioso do rosto, Alice. Eu não quero namorar o James! – protestou Lily.


            - Como foi lá na cabine dos monitores? – perguntou Emilly a Lily cortando o assunto.


            - A mesma baboseira de sempre, só que dessa vez, ao invés de escutar era eu que estava falando. – disse Lily e as meninas riram.


            As garotas ouviram batidas na porta.


            - É o Frank. - disse a voz do outro lado.


            Alice se levantou e abriu a porta para seu namorado. Um garoto não muito alto, de cabelos e olhos castanhos entrou na cabine.


            - Eu vou roubar a amiga de vocês por uns minutos. – ele disse, após cumprimentar as meninas, e saiu com Alice.


            - Ai ai, o amor é lindo. Daqui a uns dias sou eu com o Sirius. – falou Jessy.


            - Oh não, de novo não. – disse Emilly balançando a cabeça antes de Jessy começar a tagarelar sobre como o amor entre ela e Sirius era lindo e florido. – O segundo round é com você Lily.


            Antes que a ruiva pudesse dizer alguma coisa, Emilly saiu da cabine. Ela se debruçou na janela do corredor, deixando que o vento batesse em seus cabelos, e começou a observar o movimento nos outros vagões. Haviam alunos de todos os anos correndo de cabine em cabine, testando produtos da Zonko’s e comendo doces. Ela respirou fundo, aliviada.


            A cada ano que passava, Jessy conseguia ficar mais obsessiva, e deixar Emilly mais sufocada. Ela não conseguia entender como alguém podia continuar com uma ilusão por tanto tempo, depois de tantos foras. Era tão obvio que Sirius Black não gostava de Jessy quanto era obvio que Lily tinha uma queda por James Potter.


            Foi então que ela viu uma figura alta, de ombros largos e cabelos negros andando em sua direção com alguns doces nas mãos. Impressionante como as pessoas nas quais estamos pensando sempre aparecem na nossa frente.


           - Oi Emilly. – disse Sirius abrindo um pacote de feijõezinhos de todos os sabores e sorrindo para ela.


           - Oi. – ela respondeu, sorrindo de volta. – Estava perseguindo o carrinho de doces de novo?


           - Ela demora de mais para chegar no nosso vagão! – ele se defendeu, e Emilly riu. – E o que é que uma dama como você está fazendo num lugar tão inóspito como o corredor do trem?


           - Acredite, inóspita é aquela cabine, com a Jessy tagarelando.


           - Posso imaginar. Quer um doce? - ele disse tirando o cabelo dos olhos e estendendo o pacote de feijõezinhos de todos os sabores para ela. Emilly agradeceu e escolheu uma bala com uma cor um pouco mais confiável. Ela mordeu o doce e fez uma careta. - Não era caramelo?


            - Não – ela falou ainda com cara de nojo, e eles riram.


            - Emilly, você cortou o cabelo. – Ele notou. Ela nem sabia o que dizer, tamanho era o espanto de que a primeira pessoa que notara aquilo fora ele.


            - Cortei.


            - Ficou bonito. – Sirius falou, e Emilly se sentiu corar. Ela agradeceu, sorrindo, e seus olhos ficaram presos nos olhos dele por um instante.


            - SIIIIIRIUS! – Eles ouviram Jessy berrar de dentro da cabine, e no próximo instante a garota magricela estava ao lado deles. – Siriuquinho, que bom que você me achou, eu já estava com tanta saudade! Sabia que eu fiz um poema pra você nas férias? É assim: “Siriuquinho, Siriuquinho, você é o meu benzinho. Quando eu olho pra você, eu vejo um anjinho”. E aí, gostou? É claro que você gostou né, Sirius! Sabe, eu acho que a gente tinha que casar logo...


            Emilly não conseguiu conter o riso enquanto via Sirius tentando se livrar dos braços de Jessy que insistiam em abraçá-lo e dos cabelos crespos e cheios da garota que invadiam o rosto dele.


            - Jessy, você vai matar o coitado! – exclamou Emilly, mas Jessy a ignorou e continuou tentando abraçar Sirius e falando sobre os detalhes do casamento deles.


            - Para com isso garota! – Sirius disse, encobrindo a voz de Jessy. – Eu não te amo! Na verdade eu não gosto nem um pouquinho de você! Eu achei que eu já tivesse sido claro sobre isso nos últimos sete anos!


            Jessy finalmente se afastou dele e Emilly aproveitou a deixa para empurrá-la de volta para a cabine.


            - A gente se vê depois, Sirius – ela disse antes de entrar em sua cabine e ele concordou, acenando. A porta da cabine se fechou e ele conseguiu ouvir a voz de Emilly.


            - Jessy, você ficou louca de vez? Você quase matou o cara sufocado!


            Depois, a voz dela foi abafada pela de Lily, perguntando o que havia acontecido ao mesmo tempo que Jessy se defendia, e Sirius não conseguiu mais identificar o que elas estavam dizendo, com as três vozes falando ao mesmo tempo. Ele respirou fundo e entrou na cabine ao lado da que as garotas estavam.


            - Por que você demorou tanto, Almofadinhas? Foi fabricar os doces? - perguntou James assim que o amigo entrou na cabine com os doces nas mãos.


            - Não, eu fui atacado no corredor por uma Jessy histérica. - respondeu ele, despejando os doces no espaço de banco vazio entre James e Remus, e se sentou ao lado de Peter, jogando três feijõezinhos de todos os sabores na boca ao mesmo tempo. Os outros riram. - Não é engraçado, caras. Essa garota é psicopata, sério!


            - Hey, eu gosto dela – disse Rabicho, enfiando um sapo de chocolate inteiro na boca.


            - Então vai fundo, Rabicho. Quem sabe ela não para de pegar no meu pé, se você ficar com ela. - falou Sirius, e Peter sorriu, mostrando os dentes cheios de chocolate.


            - Deixa de ser nojento, cara! - Remus falou, jogando uma caixa de sapo de chocolate vazia em Peter. James riu, abrindo uma tortinha de abóbora.


            - Aluado, você ainda não sacou que não dá pra corrigir o Rabicho? Ele é um caso perdido! - Eles riram. James despenteou os cabelos e sorriu de lado. - E você, Almofadinhas, pode parar de esconder, eu vi você falando com Emilly Carey no corredor.


           - É, a gente se encontrou por acaso, e daí? - disse Sirius, se sentindo corar um pouco.


           - Daí que eu vi o jeito que vocês se olharam na estação, Sr. Black. - respondeu James.


           - Do que você tá falando, Pontas? Ah, pode ir tirando esse olhar safado da cara, eu e a Emilly eramos amigos no primeiro ano, só isso. - disse Sirius, colocando mais feijõezinhos na boca.


           - Eu também fui seu amigo no primeiro ano, e se você começar a me olhar daquele jeito, eu te dou um soco. - falou Remus, abrindo um sapo de chocolate.


             - Cala a boca, Aluado! - disse Sirius, rindo, mas Rabicho interrompeu o assunto, apontando para o sapo de chocolate de Remus.


            - Que carta você tirou? - perguntou o gordinho, abrindo outro doce. Remus mordeu a cabeça de seu sapo antes de pegar a figurinha e entregar para Peter, que a recebeu com os olhos brilhantes.


            - Nicolau Flamel. Pode ficar, eu não coleciono mais.


            - E aí, Aluado, quem são os monitores novos? - perguntou Sirius mordendo uma varinha de alcaçus, tratando de desconversar antes que o assunto voltasse a Emilly.


            - Anne Brown e Dave Diggory na Grifinória... - ele começou, mas James o interrompeu.


            - Irmão do Amos Diggory? - perguntou ele, e Remus assentiu. James fechou a cara -  Espero que ele seja melhor que o irmão Lufo idiota dele!


            - Qual é, Pontas, só por que o Diggory namorou a Lily você implica com ele? - zombou Sirius.


            - É sim, senhor Almofadinhas. Não é um bom motivo? - resmungou James, e Sirius deu de ombros. - E aí Aluado, quem mais virou monitor? Quero saber quem vai poder nos dar detenção esse ano.


            Remus riu, assim como Sirius e Peter, e continuou a contar os nomes dos novos monitores, enquanto os amigos comiam doces e faziam comentários aleatórios sobre as orelhas grandes do monitor da Corvinal, da mono-celha da nova monitora da Lufa-lufa, do fora que Remus dera, no ano passado,  na irmã mais velha do garoto da Sonserina que queria bater em Lupin durante toda a reunião dos monitores.


            Quase meia hora depois, quando os doces já estavam quase acabando e o assunto sobre o Campeonato Nacional de Quadribol já estava sumindo, James tirou uma pequena caixa púrpura do bolso.


            - Adivinhem o que eu trouxe? Snap Explosivo! - disse o moreno, levantando a caixa no alto para mostrá-la aos amigos.


            - Eu tenho uma ronda com a Lily daqui a dez minutos, vocês vão ter que jogar uma partida sem mim. - Remus falou, e Sirius, que já estava puxando a varinha para conjurar uma mesa, arqueou as sobrancelhas para o lobisomem.


            - Não dá pra jogar Snap de dois, Aluado, e você sabe que o Rabicho é completamente idiota para essas coisas. Nós já tentamos ensinar o jogo para ele umas três vezes, e ele não aprende de jeito nenhum!


            - Isso é verdade. – confirmou Peter, o único que ainda atacava os doces, com a boca cheia de caldeirão de chocolate. Remus, contudo, já tinha uma resposta na ponta da língua:


            - Então por que vocês não vão jogar com as meninas?


            Ambos concordaram. Era mesmo a melhor alternativa, e James ficou particularmente feliz por ter alguma desculpa para ver Lily durante a viagem, assim como Peter, que apesar de não saber jogar não perdeu a oportunidade de tentar falar um oi com Jessy.


            Em menos de cinco minutos estavam os quatro em frente à cabine das garotas, batendo na porta.


            - Pode entrar! - eles ouviram uma voz lá de dentro, que imediatamente reconheceram como sendo a de Lily. James abriu a porta, com Remus ao seu lado e Sirius e Peter atrás deles, e assim que se tornaram visíveis para as pessoas da cabine, Emilly abriu um sorriso, dizendo:


            - James! A Lily estava agorinha falando de você!


            Após lançar um olhar reprovador para a amiga, Lily se levantou, com um meio sorriso para James e disse, antes que o moreno pudesse ter qualquer reação:


            - É, eu estava falando do quanto você é idiota. Vamos Remus - e saiu, puxando Remus para fora do vagão. A única coisa que James conseguiu fazer foi olhar para Emilly com cara de ponto de interrogação. Ele não conseguia entender se as garotas estavam falando sério ou se estavam brincando.


            - Mentira dela, eu estava quase conseguindo fazer ela confessar seu amor por você. - disse e morena com uma piscadela, que James entendeu como a confirmação de que elas estavam brincando, e chegou mais perto de Jessy no banco. - Entrem, vocês três, não fiquem parados aí feito uns bobos.


            James, Sirius e Peter entraram e se acomodaram, Sirius tomando o cuidado de ficar o mais longe possível de Jessy, que estava anormalmente calada e encolhida num canto.


            - Então vocês finalmente resolveram me apoiar? - perguntou James para as meninas, bagunçando seu cabelo.


            - Nós te apoiamos desde que você deixou de ser infantil – disse Alice. - O que foi só no final do ano passado, então digamos que a Lily ainda não sentiu direito os efeitos do nosso excepcional poder de persuasão.


            - Nem minhas incríveis habilidades de cupido, né Lice? - completou Emilly piscando para Alice e Frank, lembrando-os de que foi ela quem os juntou a três anos atrás. James riu e agradeceu, mas Sirius o interrompeu:


            - Vamos deixar os negócios para depois, nós viemos convidar vocês para jogar Snap Explosivo. - ele disse, tirando a caixinha púrpura do próprio bolso, enquanto James apalpava o seu próprio casaco, procurando a caixa que a poucos segundos estava ali.


            - Como você pegou isso? - perguntou ele, e Sirius deu como resposta apenas uma risada.


            James conjurou uma mesa redonda flutuante e eles se dividiram em duplas para jogar. Alice ficou com Frank e James com Sirius, e para Emilly sobrou apenas Jessy, já que Peter não sabia jogar. Eles se sentaram, cada um de frente para a própria dupla, e James abriu a caixinha. Imediatamente pularam para fora dois snaps, pequenas bolinhas gelatinosas que ficavam pulando incessantemente na frente de James enquanto ele embaralhava e distribuía  as cartas.


            Frank, que estava imediatamente à sua esquerda, começou o jogo, e os snaps foram pular um ao lado de Frank e outro ao lado de Alice, sua dupla. Ao final de sua jogada, ele colocou uma carta na mesa, passando a vez para Emilly, ao seu lado (assim como as bolinhas que agora pulavam ao lado da garota e de sua dupla), que tinha que jogar uma carta mais alta que a dele.


 


            Vinte minutos e muitas risadas depois, Alice e Frank já haviam saído do jogo, graças a uma jogada de mestre de Alice, que conseguira esvaziar sua mão enchendo a de Jessy (não que isso fosse novidade, porque Jessy não conseguia fazer uma jogada certa), garantindo que ela e Frank não fossem os perdedores. Agora Emilly e Jessy disputavam com James e Sirius, e estava óbvio que os garotos iam ganhar.


            Emilly estava completamente desesperada, olhando desconsolada Jessy jogar na mesa uma carta muito mais baixa do que a que estava na mesa, e em seguida, depois de Alice mostrar pela milésima vez para ela que ela não podia jogar aquela carta, pegou todas as cartas da mesa, passando a vez para James. O moreno comprou uma carta, com Peter atrás dele olhando curioso. Assim que ele jogou na mesa a mesma carta que havia comprado, Rabicho exclamou:


            - Por que você fez isso, Pontas? Era sua maior carta!


            Todos na mesa olharam para o gordinho, com os olhos arregalados. Ele havia acabado de revelar, basicamente, que as cartas de James estavam muito ruins. O garoto deu um tapa de leve na cabeça do amigo, perguntando por que ele não conseguia ficar quieto.


            Emilly, por outro lado, estava com um sorriso malicioso no rosto, diferente da expressão de desconsolo que estava estampada nele minutos antes. Ela fez uma jogada um tanto quanto complicada, jogando uma combinação de cartas que fazia a ordem do jogo voltar, obrigando James a limpar a mesa e jogar uma carta fraca, que Jessy conseguiu rebater facilmente, pela primeira vez no jogo, e Sirius jogou uma carta muito alta, para tentar impedir Emilly, que agora estava apenas com uma carta na mão, de esvaziar sua mão e fazê-los perder. Ela sorriu.


            - Boa jogada, Sirius. - ela disse, e ele sorriu de volta, com um ar de esnobe. Ela abriu mais seu sorriso – Mas não foi suficiente.


            Ela se recostou no banco e jogou na mesa sua última carta, que era maior que a de Sirius, e elas venceram, graças à traição de Peter. As bolinhas de Snap pairaram no ar, e todos os outros da cabine se abaixaram antes delas explodirem no rosto de James e Sirius. Todos eles acabaram rindo, como sempre acontece num jogo de Snap Explosivo.


            Neste momento, Lily e Remus entraram na cabine.


            - Potter, você ficou muito melhor com essa gosma no rosto. - disse a ruiva, sentando-se ao lado de Emilly enquanto Remus se sentava ao lado de Frank.


            - Se você gosta, Lily, eu posso usar mais. - O garoto sorriu e passou a mão pelos cabelos sujos de verde. Ela ficou alguns segundos sem resposta, se segurando para não rir dele. Se ela risse, ele tomaria liberdade com ela, e ela definitivamente não queria isso.


            - Não se incomode em tentar me agradar. Não vai dar certo de qualquer jeito. - ela disse, fazendo toda a bagunça da explosão desaparecer com um gesto de varinha, assim como a mesa que flutuava no meio da cabine. As cartas e os dois snaps já restaurados também se arrumavam sozinhos dentro da caixinha púrpura, que James recolheu depois que estava tudo guardado.


            Jessy estava sentada ao lado de Lily, olhando de soslaio para Emilly que estava ao lado de Sirius, do outro lado do banco. Emilly percebeu os olhares da amiga, e se lembrou de cochichar para o moreno ao seu lado:


            - Desculpe pelo que aconteceu mais cedo no corredor.


            - Não foi culpa sua, Emilly. - Sirius disse, sorrindo. - Mas me conta o que aconteceu para ela estar tão quieta?


            - Acho que foi a mistura do que você disse para ela com o que eu, a Lily e a Alice dissemos depois.


            Ele riu, e Emilly sorriu de volta. O assunto na cabine fluiu levemente depois disso, entre os comentários sobre o jogo, as expectativas para o próximo ano e quadribol , até que pousaram no que vinha povoando as mentes de todos eles a muito tempo.


            - Houve um ataque, mês passado, num vilarejo não muito longe da minha casa. Fiquei sabendo pela televisão, reconheci na hora. - disse Lily, adquirindo um tom sério, e todos olharam para ela. - Muita gente morta, casas destruídas, e os sobreviventes contando histórias sobre luzes e pessoas com capas pretas. Só podiam ser Comensais da Morte.


            - Isso saiu no Profeta Diário também. - disse James – Foi em Heminghill não é? Segundo o Profeta, o Ministério reconstruiu a cidade e obliviou os sobreviventes, mas os danos foram bem terríveis. Eu me pergunto se havia alguma coisa nessa cidade que Voldemort quisesse.


            - Não sei não, James, os Comensais se divertem torturando trouxas. - disse Sirius – Eu me lembro da minha prima Bellatrix, ela aplicava Cruciatus no meu gato quando eu tinha 10 anos, só pra se divertir.


            - Acho mais provável que seja isso mesmo, Sirius, porque segundo o Profeta aquela aldeia não tem nenhuma ligação com o mundo bruxo. - Remus falou, e os outros concordaram.


            - E o problema é que esse caso não é único! - falou Emilly – São inúmeros povoados trouxas que estão sendo atacados. Alguém devia parar essas pessoas!


            - É pra isso que eu vou me formar esse ano, Emy. - disse Alice, e a outra assentiu, sabendo que a amiga estaria se formando como auror. - O problema hoje é que os aurores não fazem o trabalho deles direito. Em lugar de agir contra isso, estão simplesmente remediando os efeitos.


            - Isso é o pior, eles têm medo. Todos eles. - disse James.


            - Ora, e quem é que não tem? - disse Peter, abruptamente, depois de um curto silêncio. Nenhum deles respondeu, mas o que todos pensavam era “eu não teria medo”.


                                                                       **


            O sol alaranjado que estava quase sumindo no horizonte ainda iluminava as cabines do Expresso de Hogwarts, e ainda estavam todos na mesma cabine. Agora a conversa corria leve novamente, assuntos variados eram discutidos entre grupos de dois ou três, e Lily tinha a atenção presa na conversa entre Emilly e Alice sobre a nova música das Bruxas de Salen. Porém algo em sua frente, que ela estava tentando ignorar a alguns minutos (sem nenhum sucesso) a estava incomodando muito. James Potter, sentado de frente para ela, não parava de olhá-la.


            - Potter – ela chamou, não podendo mais ignorá-lo.


            - Sim, lírio? - Ele disse, sorrindo de lado. Por uma fração de segundo, ela se deixou divagar sobre como ele ficava charmoso com esse sorriso, mas manteve a compostura, lembrando-se que ela odiava ser chamada de lírio.


            - Você está me encarando.


            - Oh, me desculpe Lily! - ele parecia realmente arrependido – Eu não pude evitar, você está muito linda hoje.


            - Não desperdice sua energia com elogios, Potter, eu conheço suas intensões. - ela disse de cara fechada.


            - Você pensa que conhece Lily. - O moreno respondeu, sorrindo de lado, mas foi interrompido por Remus que disse, após olhar seu relógio de pulso:


            - Olhem as horas! Já devemos estar quase chegando. É melhor irmos nos trocar.


            Os Marotos e Frank se despediram e saíram, indo para suas próprias cabines e deixando as garotas sozinhas para se trocarem. Depois de se trocarem, Jessy voltou a tagarelar sobre Sirius; e Emilly, Lily e Alice trocaram um olhar desesperado.


            Lily já estava abrindo um livro de grossas páginas amareladas quando Alice tirou da bolsa a mais nova edição de uma revista de bruxas adolescentes, e a ruiva fechou o livro pare se juntar as amigas. As três começaram a ler um artigo sobre “Como conseguir conquistar aquele garoto sem usar poção do amor”, rindo dos próprios comentários sobre a futilidade do artigo que mais parecia uma receita de bolo, enquanto Jessy absorvia concentrada cada palavra que as garotas liam em voz alta, planejando usar aquilo com Sirius.


            Após as muitas risadas que elas deram com a revista, Lily começou a contar sobre o passeio que fizera com os pais durante as férias, e Emilly recostou a cabeça no vidro da janela, os dedos brincando com o pingente do colar em seu pescoço enquanto escutava a história de Lily.


            Quando o trem fez uma curva, ela pôde avistar a ponta de algumas torres de Hogwarts, e sorriu. Finalmente em casa, pensou, e enquanto Lily contava sobre alguma idiotice que a irmã havia feito, Emilly deixou que sua mente vagasse para bem longe dali, para seu próprio passado, uma última vez antes que as luzes das velas de Hogwarts o ofuscassem e ela voltasse ao calor e ao conforto de sua segunda vida, onde os únicos fantasmas com os quais ela devia se preocupar eram Pirraça e Nick Quase-sem-cabeça.

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Comentários (1)

  • -

    Amei os caps reescritos! ficaram otimos!

    2012-07-17
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