Capitulo 2



Capítulo 2


Depois de três tentativas frustradas, Hermione conseguiu equilibrar-se, precariamente, no dorso do cavalo. O animal pareceu-lhe incrivelmente alto. A sela era dura e desconfortável. Contudo, era bem melhor estar sentada nela que atravessada sobre ela, como um saco de mantimentos. Tentou disfarçar o medo e o constrangimento. Pelo menos, sua saia era ampla o suficiente para lhe cobrir as pernas. Não suportaria sentir-se exposta, com os pés e os tornozelos à mostra, principalmente levando-se em conta que fora seqüestrada por um estranho.
_Acha que está em condições de se agüentar na sela? - Harry perguntou.
Ela consentiu, com determinação. Podia ter sido feita prisioneira, mas não ficaria dando demonstrações de fraqueza. Orgulho e coragem haviam de ajudá-la a superar-se, como já acontecera em tempos passados.
Sem perder um segundo, Harry colocou seu cavalo em marcha, puxando a montaria de Hermione pelas rédeas. O balanço do animal, desconhecido e totalmente estranho, fez com que ela quase deslizasse para o lado. Meneando o corpo, agarrou-se nas correias da sela, segurando-se com as duas mãos. Por puro instinto, apertou as pernas de encontro ao cavalo. Cada músculo de seu corpo tencionou-se, deixando-a rígida como uma estátua. Porém, ao cabo de alguns minutos, depois de acostumar-se com a nova situação, permitiu-se afrouxar um pouco os dedos e observar os arredores.
Encontravam-se dentro de um bosque denso, de árvores altas e frondosas, cujos galhos se entrelaçavam, formando um teto de ramagens. A folhagem ainda era escassa, naquele princípio de primavera, deixando ver nesgas do céu. Dali a algumas semanas, o lugar se tornam-ia escuro e frio mesmo nos dias mais quentes do verão. O solo era duro, coberto de folhas mortas. Havia vestígios de neve nas áreas mais escarpadas.
Hermione sorveu o ar profundamente, inalando o perfume da terra úmida, da vegetação, do suor dos animais. Aquela sensação nova era, ao mesmo tempo, fascinante e assustadora. Estava acostumada à cidade, com seus sons e cheiros familiares. Não necessariamente agradáveis, apenas conhecidos. Deslocada de seu ambiente, não sabia o que esperar. Tudo lhe era desconhecido.
Algumas mechas de cabelo, que haviam escapado dos grampos, começaram a esvoaçar em torno de seu rosto, provocando-lhe cócegas. Levou a mão para afastá-las, em um gesto automático. Ao fazê-lo, percebeu que já conseguia acompanhar o balanço das passadas do cavalo, sem perder o equilíbrio. Uma onda de confiança invadiu-a. Relaxou a musculatura. As batidas do coração diminuíram de intensidade. Deu-se conta de que o pânico a dominara desde o instante em que o tiro interrompera a cadência das rodas da diligência. Em um momento, estava sonhando com um destino feliz e no outro...
Relanceou os olhos para o homem a sua frente. Ele usava um casaco escuro, que mal chegava à altura dos quadris. O tecido fino, em contraste com os ombros largos, fazia com que parecesse gigantesco, ameaçador. O chapéu, enterrado na cabeça, encobria-lhe os traços.
Afastou o olhar. Em vez de observá-lo, preferiu ater-se à visão das árvores e da vegetação. Não queria pensar no que lhe acontecera. Nem no fato de que não chegaria a Whitehorn naquela noite. Ficaria muito mais assustada, tremeria e talvez até chorasse. E para que, afinal, haveriam de servir as lágrimas? Já vivera por vinte e um anos e chorar, por qualquer motivo que fosse, mesmo o mais forte, não lhe adiantara de nada.
Porém, era muito difícil não se inquietar com os fatos. Viera de tão longe, cheia de esperanças. Depois de anos tentando apenas sobreviver em Chicago, tivera finalmente a chance de ser feliz. E a oportunidade lhe escapara. Se aquele bandido não a houvesse arrancado da diligência, estaria, naquele momento, indo ao encontro de seu amado.
Fechou os olhos, procurando imaginar como seria aquele encontro. Tocou, de leve, a gola branca, que colocara sobre o vestido verde, poucos momentos antes da última parada da viagem. Levou, depois, a mão aos cabelos. Levara horas fazendo um elaborado penteado. Queria tanto causar uma boa impressão a Lucas Stoner... Sorriu, abrindo os olhos. Mesmo o nome dele era perfeito. Lucas Stoner. Soava de forma agradável, era um nome forte e sonoro. A correspondência entre eles fora breve. Apenas respondera à carta que ele lhe enviara. Recebera, logo após, umas poucas linhas com instruções e a passagem. Estudara a letra e a forma como as palavras haviam sido escritas, até sentir-se segura de que conhecia o homem com o qual prometera casar-se. Lucas Stoner era bom e honrado, gentil, porém firme. Era do tipo que impunha respeito. Não conseguia imaginar sua aparência, mas aquilo não chegava a ser um problema. Já vira muitos homens, belíssimos, que batiam nas esposas e nas crianças. Ou roubavam. Ou mesmo matavam. Importava-lhe seu íntimo, sua beleza interior. Tinha certeza de que Lucas Stoner encarnava as mais elevadas virtudes de um ser humano.
E pensar que poderia estar se encontrando com ele naquele exato momento. Imaginara a cena milhares de vezes. O jeito que ele tiraria o chapéu, tomaria sua mão e a ajudaria a descer da diligência. O sorriso amável que trocariam, a conversa polida e embaraçada da qual iriam rir, passados alguns anos.
Em vez, porém, de estar iniciando uma nova vida, fora jogada sobre o lombo de um cavalo, em uma situação horrível e constrangedora, sabe-se Deus por quê.
_Você está muito quieta - disse, de repente, seu raptor.
Ela o encarou, sem nenhum indício de aborrecimento.
_É - respondeu, evasivamente.
_Só perguntei para ter certeza de que ainda estava aqui.
_Você está segurando as rédeas de meu cavalo. Onde eu poderia ir, sem que percebesse?
Ele encarou-a abertamente pela primeira vez. Olhos verdes encontraram os dela.
_Você poderia ter se esgueirado da sela e fugido.
_Você teria ouvido. Ademais, eu lhe dei minha palavra.
_Precisarei de algum tempo até poder acreditar no que diz - respondeu ele, torcendo ligeiramente os lábios carnudos.
_Espero não ter que permanecer a seu lado tempo o bastante para que você forme uma opinião a respeito de minha honestidade.
_Você é um bocado corajosa, não é mesmo?
_Corajosa? - Ela levantou o queixo, em uma atitude de desafio. - Não tenho medo de você, se é isso que está insinuando. Não tenho medo de ninguém!
Estavam, agora, face a face.
_Deve ser ótimo se sentir assim. O medo pode consumir um homem por dentro. É como eu disse. Corajosa. Que bom! Vai precisar de muita coragem para sobreviver nestas paragens. Esta terra é hostil com os forasteiros. Especialmente com as mulheres.
Hermione relanceou o olhar para as árvores, tão altas, e para o céu infinito. Desde que deixara Chicago, estava ansiosa por ver o que o imenso território a oeste do país tinha a oferecer. Até pouco tempo, seu mundo se resumira a uns poucos quarteirões na parte mais pobre da cidade. Raramente se aventurara além do trajeto daquelas ruas familiares.
Ficara entusiasmada com o que pudera ver, durante a viagem. Tanta terra, tanta vida! Lugares exóticos, um povo diferente. Tudo era amplo, as cores tão brilhantes. O inverno, em Chicago, dava à paisagem um aspecto cinzento, desde o céu, a neve, a sujeira, até as pessoas.
_Não acredito que seja pior do que na cidade - ela murmurou, pensativa.
_Morrem muitas mulheres, lá?
_Claro.
_Bem, talvez seja só um pouco diferente, então.
Ela não queria pensar em morte. Muito menos agora, quando um estranho a seqüestrara. Preferia manter os pensamentos fixos em Lucas e em como ele viria resgatá-la.
Um ruído de folhas e galhos se partindo chamou sua atenção. Alguma coisa, rápida como uma flecha, passou por entre as árvores. Devia ser um cervo, pensou, sem muita certeza. Abriu a boca para se dirigir ao estranho, mas resolveu calar-se. Diante das circunstâncias, como manter uma conversação? Mas mudou de idéia e o interpelou.
_Como devo chamá-lo? Se não me engano, o cocheiro chamou-o por Harry. É esse seu nome?
_Sou Harry Potter. Pode me chamar como achar melhor.
Chamá-lo pelo primeiro nome, poderia soar como uma atitude muito informal, pensou Hermione. Afinal, aquele homem a havia tomado à força. Porém, seria ainda mais estranho se dissesse sr. Potter. Que situação absurda! Balançou a cabeça, um tanto confusa. Voltou a observar a trilha, percebendo que começava a escurecer. Os últimos raios de sol iluminavam o topo das árvores, e as sombras avançavam, rapidamente. O ar tornava-se cada vez mais frio.
O que aconteceria se parassem para passar a noite no bosque? O que ele poderia fazer a ela? Ouvira muitos relatos de mulheres indefesas à mercê de homens estranhos.
_Logo teremos de acampar - Harry avisou-a.
Hermione deu um pulo, de susto. Será que ele havia lido seus pensamentos? O movimento fez com que o cavalo se agitasse, arqueando-se e trotando para o lado. Com um grito estridente, ela se agarrou, com ambas as mãos, à sela.
Harry veio em seu socorro. Emparelhou os cavalos e segurou-a pelo braço, procurando acalmá-la.
_Está tudo bem - disse - . Estou aqui, a seu lado. - As palavras dele não deveriam tê-la tranqüilizado, uma vez que era ele o principal responsável pela inquietação que a dominava. Todavia, sentiu-se mais segura.
O cavalo acalmou-se. Harry soltou o braço de Hermione e apontou para uma clareira.
_Há um riacho logo acima. Vamos parar e passar a noite ali. Quero que me prometa que não vai tentar fugir.
_E por que eu faria isso? — Ela o encarou. — Não quero ficar com você. Quero ir para a cidade, encontrar-me com meu noivo.
_Se não me der sua palavra, vou amarrá-la. Sua noite será bem desconfortável.
Veio à lembrança de Hermione a maneira desconcertante com que ele a jogara sobre os ombros e a colocara atravessada, sobre a sela do cavalo. Encheu-se de raiva. Queria ir para Whitehorn. Queria estar ao lado de Lucas. Queria sentir-se amada, viver em um lugar seguro, ser feliz. Ninguém iria impedi-la de concretizar seu sonho.
_Não vou fazer nada disso - ela esbravejou, puxando as rédeas com força e conseguindo soltá-las.
O cavalo, assustado, corcoveou, quase lançando-a no chão, e começou a galopar. Ela, porém, agarrou-se, apertando as pernas contra o dorso do animal e inclinando-se sobre seu pescoço.
_Que maldição, Hermione! Assim, você vai se matar!
Ela ignorou a advertência e procurou não ouvir o som de cascos batendo contra o solo duro. O cavalo corria rápido. Embrenhou-se no bosque, fazendo com que o vestido dela se enganchasse nos galhos, e os arbustos lhe arranhassem o rosto. Os cabelos de Hermione soltaram-se e esvoaçavam, dificultando-lhe a visão. Não sabia onde estava, nem como poderia encontrar o caminho para Whitehorn. Tudo o que importava, naquele momento, era fugir dali. Precisava escapar. Pensaria depois como poderia localizar Lucas.
_Hermione, cuidado! Puxe as rédeas. Pare!
O tom aflito de Harry fez com que ela levantasse a cabeça e olhasse para a frente. As árvores adensavam-se, formando uma barreira praticamente impenetrável. Talvez o cavalo pudesse se desviar dos galhos. Ela, porem, seria fatalmente atingida.
Soltou um grito de pavor, tentando puxar as rédeas. O animal não diminuiu o galope. Continuou avançando. Em um último esforço, ela retesou os músculos e deu um violento puxão nas rédeas. Com um relincho o cavalo estacou, baixando o focinho. Hermione viu-se voando peio ar, aranhada por folhas e ramos, nos braços, no pescoço e no rosto. O chão foi ficando cada vez mais próximo, e ela aterrissou em um monte de neve.
O impacto tirou-lhe o ar dos pulmões, fazendo-a sufocar. A dor correu-lhe por todo o corpo. Tentou se mexer, sentar, respirar, aliviar a enorme pressão sobre o peito. Finalmente, conseguiu sorver um hausto de oxigênio. Ofegante, completamente atordoada, estirou-se no chão. Cada pedaço de seu corpo doía. Suas costas, seus braços e pernas, seus ombros, sua cabeça. A neve gelada começou a umedecer o tecido de seu vestido. Não tinha forças nem sequer para afastar os flocos que lhe entravam pela boca. Queria ficar ali até que Lucas a encontrasse e a levasse para a cidade.
O homem que se inclinou sobre ela não era seu noivo, porém. Pareceu-lhe grande demais, duro, inflexível e frio. Sem dizer uma só palavra, ajoelhou-se ao lado dela e começou a apalpá-la.
Hermione estava tão aturdida pela queda que foi incapaz de protestar. Os olhos queimaram, e as lágrimas despontaram, escorrendo-lhe pela face, quando aquelas mãos percorreram-lhe os braços e, depois, as pernas. Tentou encolher-se, fugir daquela aproximação, perguntando-se como conseguira livrar-se de ser atacada. Durante tantos anos, vivendo na cidade, para encontrar-se, agora, à mercê daquele homem. Pensou em lutar, chutá-lo, enterrar as unhas nele, mas as forças haviam-na abandonado.
_Não há nada quebrado - ele murmurou, sentando-se sobre os calcanhares. - Você consegue se levantar?
_O... quê? - perguntou ela, piscando os olhos repetidas vezes, completamente confusa.
Reuniu as últimas reservas de energia e rolou sobre si mesma. Ergueu o tronco sobre os cotovelos, encolheu as pernas e conseguiu ajoelhar-se. Ergueu-se lentamente, procurando equilibrar-se. Olhou para seu raptor, por sobre o ombro, murmurando, com um fio de voz.
_Não estou machucada.
_Ótimo. Levante as mãos.
O que ele queria dizer com aquilo? Pensou em sair correndo. Mas correr para onde? Se não fora capaz de fugir a cavalo, como ir ia conseguir fugir a pé? Levou o braço para a frente, juntando os pulsos. Talvez amanhã surgisse uma nova oportunidade, pensou.
Ficou a observá-lo, enquanto ele enrolava a corda, prendendo-lhe as mãos com firmeza. A barba por fazer escurecia-lhe o queixo e o contorno dos lábios bem-feitos.
_Você vai ser punido por isso - ela disse, em desafio. - Você vai ser capturado e punido.
Ele terminou de amarrar-lhe os pulsos e balançou a cabeça, concordando.
_É provável que tenha razão. Porém, terá valido a pena.



Daisy Newcastle tirou a tampa da sopeira de porcelana e sorriu, com gentileza.
_Quer mais um pouco, Lucas?
O homem alto, sentado à frente dela, fez um gesto de negativa e deixou o guardanapo sobre a mesa.
_Não sei como você consegue, Daisy. Cheguei a pagar três dólares por um prato de sopa como este na cidade. Porém, nunca provei nada tão delicioso como sua comida. - Inclinou-se e tomou-lhe o queixo nas mãos. - Você é um tesouro.
A sensação dos dedos dele em sua pele fizeram-na arrepiar-se. Esboçou um sorriso tímido e baixou os olhos, como se estivesse encabulada pelo elogio.
_Você é tão gentil comigo - disse ela. - Não posso desapontá-lo.
Ele acariciou-a levemente, e afastou-se. A luz das velas, espalhadas pela sala, iluminaram-lhe o perfil. Lucas Stoner era um homem bonito, de feições marcantes e fortes, cabelos negros e brilhantes. Ao ouvir um ruído, vindo lá de fora, ele voltou-se A claridade incidiu sobre o outro lado do rosto, revelando uma fina cicatriz, que corria desde o maxilar até o canto direito da boca. As duas metades de sua face eram, por si só, a melhor definição de seu caráter. Se visto sob um ângulo, mostrava-se charmoso, bem-sucedido, um belo exemplar de homem. De outro, tinha face marcada, estava seu lado implacável, ameaçador. Era um homem cruel, para o qual a vida não tinha nenhum significado.
Daisy sempre soubera que estava se metendo em um jogo letal, ao desafiar um oponente terrivelmente perigoso. Ainda assim, não tinha outra escolha. Arriscaria tudo para vingar o homem a quem amara. Não podia trazê-lo de volta à vida, mas faria o que estivesse a seu alcance para que o responsável por sua morte pagasse pelo que fizera. Pensava em James Potter, o pai de Harry, na maneira brutal e sem sentido pela qual morrera, na destruição de sua propriedade, construída com tanto sacrifício. Juntou as mãos no colo, apertando-as com firmeza, para controlar a ira e a sensação de desamparo que ameaçavam dominá-la. Já haviam se passado seis meses, e a dor ainda persistia. Permanecia inalterada, lancinante, apertando-lhe o peito da mesma forma de quando soubera da noticia. Seu amor era grande demais para desaparecer.
Por James e também por Harry, ela havia convidado Lucas Stoner para entrar em sua casa, para deitar em sua cama, na esperança de conhecê-lo melhor, descobrir seus pontos fracos, enredá-lo em uma armadilha. Para que a justiça pudesse prevalecer, ela se fizera passar por uma prostituta, fazendo-o acreditar que ele era tudo o que ela sempre sonhara encontrar em um homem.
Algumas vezes, quando estava prestes a fraquejar, lembrava-se de que seu objetivo era ver Stoner na prisão e, em seguida, pendurado pelo pescoço na ponta de uma corda. Se a sorte permitisse, seria uma morte lenta e dolorosa. Era para aquilo que rezava cada dia cada noite.
_Será que senti o cheiro de torta? - a voz dele cortou o silêncio.
_Sei que é sua sobremesa preferida e fiz para agradá-lo.
Ele aproximou-se e segurou-a pela nuca. Inclinou-se, beijando-a na boca. A sensação daqueles lábios quentes e o cheiro de seu corpo fizeram-na ter embrulhos no estômago. Forçou-se, porém, a permanecer quieta e impassível, até que ele a soltou e sentou-se, novamente, a sua frente.
_Obrigado - ele murmurou.
_Faço qualquer coisa por você - Daisy respondeu.
Pôs-se em pé e começou a tirar a mesa. Como sempre, recusou-se a ponderar sobre o que estava por vir nas próximas horas. Era sempre a mesma coisa. Uma conversa oca sobre o dia que ele tivera, elogios vazios, dizendo como ele era brilhante e bem-sucedido. Depois, um café, servido na fina porcelana que a avó trouxera da Inglaterra. Ele poria a xícara sobre a mesinha ao lado do sofá, colocaria a mão na virilha e olharia maliciosamente para ela.
_Está na hora, Daisy querida - ele sempre dizia, esperando que ela se dirigisse para o quarto.
Ela odiava tudo aquilo, especialmente quando ele a chamava de Daisy querida. Pelo menos, ele era bem rápido. Algumas vezes, nem se dava ao trabalho de tirar as roupas. Desabotoava a calça e jogava-se sobre ela, fazendo sexo como um animal. Se ela pudesse ignorar a dor que lhe queimava as partes intimas e a umidade pegajosa que ele deixava em suas entranhas, poderia até se convencer de que, em realidade, nada havia acontecido.
Afastou os pensamentos tenebrosos. Dirigia-se a cozinha, quando alguém bateu á porta da entrada. Daisy assustou-se e ao olhar para o relógio, pendurado na parede. Já estava escuro e passava das sete horas da noite. Quem poderia estar batendo aquela hora, sabendo que Stoner havia deixado sua charrete bem na frente da casa para que todos na cidade vissem que ele estava ali?
Voltou e deixou os pratos sobre a mesa. Limpou as mãos no avental e murmurou:
_É melhor eu atender.
_Talvez seja melhor eu ir junto - resmungou Stoner, afastando a cadeira e levantando-se,
Daisy correu para a porta e abriu-a. Um velho de meia-idade estava parado no pequeno fere-aço, amassando o chapéu entre as mãos. Parecia conhecido, mas ela não conseguiu lembrai-se de seu nome. Stoner aproximou-se por detrás dela e indagou, por cima de seus ombros:
_Charlie, o que está fazendo aqui?
_Sr. Stoner, eu trouxe uma mensagem.
Daisy franziu as sobrancelhas, lembrando-se de que ele era o cocheiro da diligência.
_Está esperando alguma encomenda? - indagou, voltando-se para Stoner.
_Uma encomenda, propriamente, não - ele respondeu. - De que mensagem está falando? Aconteceu algum problema?
Charlie baixou os olhos, passando o chapéu de uma mão para outra cada vez mais rápido. Engoliu era seco por duas vezes e contraiu os músculos da face, deixando evidente seu nervosismo.
_Sr. Stoner, tivemos um problema com a diligência.
_O senhor não quer entrar? - convidou Daisy.
_Não será preciso - falou Stoner, sem tirar os olhos do cocheiro. - O que aconteceu?
_Houve um assalto.
_Não havia encomendas e nem dinheiro meu na diligencia.
_Eu sei disso. Porém, havia sua... - Charlie retrocedeu e olhou, de forma significativa, na direção de Daisy. - O senhor sabe a que me refiro.
_Minha noiva por correspondência. Sei disso. Vamos, continue. E daí?
Charlie continuou falando, mas Daisy não mais ouvia o que ele dizia. Então, a mulher havia chegado. Não podia fazer nada a respeito. A pobre inocente havia respondido ao anúncio de um homem que procurava uma esposa. Sem dúvida, devia ter pensado que iria se casar com alguém gentil e bem-intencionado. Não com um monstro. Não com Lucas Stoner.
_Harry Potter arrancou-a da diligência, na frente de todos nós.
Daisy alarmou-se.
_O que disse?
Charlie sacudiu a cabeça por diversas vezes, desolado.
_Isso mesmo, dona. Harry seqüestrou a noiva do sr. Stoner. Disse que a traria de volta quando Stoner concordar em falar com ele. - Encolheu os ombros e resmungou: - É tudo o que vim dizer.
Daisy não queria, mas forçou-se a levantar os olhos para o rosto de Stoner. Havia nele um ódio tão intenso, uma expressão tão cruel e aterradora, que ela encolheu-se contra o batente da porta.
Fez-se um silêncio pesado. Os únicos sons provinham do ruído que o chapéu fazia, amarfanhado entre as mãos calosas de Charlie e do tique-taque abafado do relógio da sala
_Obrigado pela informação - por fim, Stoner manifestou-se. - Vou tomar as providências.
_Claro, senhor - murmurou Charlie. meneando a cabeça. - Só quis ser o primeiro a contar o que aconteceu. Quando ele a levou, ela não estava machucada ou coisa parecida.
_Obrigado - repetiu Stoner, puxando Daisy para dentro e fechando a porta com estrondo.
Daisy tentou recompor-se. Tinha de avaliar como deveria agir. Não sabia nada a respeito dos planos de Harry. Sua surpresa havia sido genuína. Com tristeza, pensou que o pobre garoto poderia também ser assassinado. Porém, não havia tempo a perder com as tolices de Harry. Primeiro, tinha de reter Stoner, impedi-lo de sair a caça do rapaz. Teria de fingir que acreditava ser uma esposa muito querida, e que a notícia sobre uma noiva por correspondência a havia chocado. Stoner não tinha como saber que ela o surpreendera falando com o telegrafista, quando mandara o dinheiro para a passagem.
_Lucas? - ela quase gritou, enquanto ele a empurrava de volta para a sala. - Não estou entendendo!
Ele puxou a cadeira para que ela se sentasse. Daisy hesitou por um momento e, por fim, sentou-se. Colocou as mãos sobre a mesa e abriu os olhos, desmesuradamente, deixando transparecer uma enorme confusão. Na mente, permitiu-se relembrar da imensa dor que sentira ao ver James Potter enforcado, acusado de um crime que não cometera. Como sempre, a recordação daquela morte tão horrível e sem sentido inundou seus olhos de lágrimas. Ela baixou a cabeça, como se tentasse ocultar o sofrimento.
_Uma noi... va - disse, gaguejando de forma deliberada.
_Eu sei, Daisy querida, que isso é um choque para você.
_É muito mais do que um choque. Eu pensei... - Ela balançou a cabeça, fingindo desespero, e virou-se para o lado. - Lucas..
Ele puxou a cadeira mais próxima e sentou-se, tomando-lhe as mãos e apertando-as entre as dele.
_Não tenho escolha. Olhe para mim.
Com um suspiro de tristeza, ela levantou os olhos. O rosto dele, cheio de pesar, fez com que ela quase vomitasse de nojo.
_Você conhece minhas ambições - ele murmurou.
_Você quer ser governador.
_Muito mais que isso - ele acrescentou, deixando que um sorriso lhe retorcesse os lábios. - E, para tanto, preciso me relacionar com as pessoas corretas e ter a esposa adequada.
_E eu não me relaciono com ninguém, nem sou uma noiva jovem e encabulada - ela murmurou, com um beicinho de mágoa.
_Você é uma linda mulher. Não tenho intenção alguma de pôr um fim ao nosso caso.
Ela respirou, ofegante, e esboçou um leve sorriso. No íntimo, rezava para que ele acreditasse em suas mentiras. Olhou-o, com toda a candura que pôde fingir.
_Verdade? Mas, então, continuo não entendendo...
_Ela será apenas uma esposa de conveniência, nada mais. Fiz questão de dizer que queria uma órfã. Assim, não vai aparecer ninguém para refutar o que quer que eu diga acerca de seu passado. Ela será como um objeto decorativo para ser apresentado ao mundo da política. Você continuará a aquecer meu leito à noite. - Aproximou-se e beijou-a - Sempre.
A piedade que ela sentira pela jovem mulher desconhecida desvaneceu-se. Era ela, Daisy, quem estaria ao lado de Stoner. Pelo menos por enquanto. Continuava a querer vê-lo morto e enterrado.
_Mas... Ela foi seqüestrada. O que você vai fazer?
O rosto de Stoner endureceu-se. Os olhos soltavam faíscas de raiva.
_Eu mesmo vou dar um jeito em Harry Potter.
Como você fez com o pai dele, pensou Daisy, enraivecida.
_Ele não pode seqüestrar jovens inocentes - continuou Stoner. - Vou pensar em alguma lição bem adequada.
Daisy deu-se conta de que era preciso avisar Harry. O ponto central da questão era que ele sabia que, raptando a futura noiva de Stoner, estaria desafiando de forma direta seu maior inimigo. Talvez fosse aquilo mesmo o que pretendia. Era seu plano, tinha certeza. A melhor forma de ajudá-lo seria ficar o mais perto possível do inimigo em comum e se inteirar de tudo o que pudesse. A qualquer momento, Lucas Stoner poderia cometer um erro. Precisavam apenas de um deslize, uma distração. Quando aquilo acontecesse, ela estaria lá, em pé, observando, enquanto ele era pendurado em uma forca.




Obs1:Oi pessoal!!!!Ai está o 2 capitulo para vocês!!!Espero que tenham curtido!!!!No domingo tem mais atualização!!!Tenham um ótimo feriado!!!Bjux!!!Adoro vocês!!!!

Obs2:Quero pedir um favor à vocês!Tenho um prova de Estatística no sábado muito importante, por isso rezem muuuuuuito por mim, para que eu vá bem!!Ok?Obrigada a todos!!!!Bjux!!!!

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