Último pedido egoísta



- O que significa isso? – foi tudo o que a senhora Doumajyd conseguiu perguntar diante do que ouvira da noiva do seu filho.
O próprio Doumajyd a encarava de boca aberta, sem conseguir entender. Tinha se preparado para a pior situação possível, e não imaginava que a metamorfomaga fosse capaz de cancelar o casamento.
- Durante todo esse tempo, eu estive pensando muito nisso. – explicou Summer – Para ser sincera, eu não consigo gostar do Chris... Ah, talvez vocês pensem que é tarde demais para desistir, mas... Eu realmente quero escolher a pessoa com que vou passar o resto da minha vida.
- Mas, Summer, querida-
- Isso é sério, Summy? – perguntou o senhor Vanderbilt, fazendo com que o início de protesto da senhora Doumajyd não fosse ouvido.
- Mil desculpas por só falar agora. – pediu a garota para todos e depois disse especialmente para o pai – Por isso, pai, eu queria lhe pedir um favor.
- O que? – perguntou o senhor Vanderbilt não sabendo o que esperar da filha.
- Como isso terminou por causa do meu egoísmo, por favor, aceite a aliança de negócios com os Doumajyd. – e então ela falou com a senhora Doumajyd, agora muito mais chocada – Assim não haverá problemas com o cancelamento do noivado, não é?
A senhora Doumajyd lhe lançou um sorriso amarelo, totalmente desarmada:
- Mas... – e encarou o senhor Doumajyd, tentando ter uma idéia de como deveria agir.
- Tsc. – limitou-se o senhor Vanderbilt, pensando o pedido da filha.
- Então, – Summer, sabendo que seu pai não iria dizer não, pegou a sua taça e a ergueu no ar – vamos comemorar a amizade entre nossas famílias!
Doumajyd, ainda surpreso, sentia que seria capaz de pular por cima da mesa e abraçar a metamorfomaga para agradecê-la.


***


Depois do jantar, Summer deixou o local alegando que não queria ficar para a conversa de negócios entre os Vanderbilt e os Doumajyd. Já tinha planejado o que faria em seguida, e não queria perder tempo, por isso andava com passos rápidos pelo corredor do hotel.
- Summer, espera!
Ao ouvir a voz de Doumajyd a chamando e os passos do dragão vindo correndo, ela parou, esperando que ele a alcançasse.
- Summer, eu-
- Por que essa cara de espanto? Essa foi a minha estratégia secreta! – disse ela com um imenso sorriso de orgulho – E aí? Gostou?
Apesar do seu cabelo ainda permanecer vermelho, Summer voltara a ser a garota sorridente e alegre que sempre fora.
- Esse é o meu pedido de desculpas por ter atrapalhado vocês, Chris... Aaaaahhh! – ela se espreguiçou como se finalmente tivesse terminado uma tarefa muito cansativa – É tão bom deixar de ser a malvada da história!... Foi muito feio da minha parte, não? – ela se virou com a intenção de sair, mas parou de repente, lembrando de algo e se voltou para o dragão – Espera aí! Não me diga que agora você acha que teria sido melhor ficar comigo?!
Doumajyd somente a encarou, sem saber o que responder, e ela começou a rir:
- Brincadeira! Eu sei que a Mary é quem está mais forte dentro desse coração de dragão, não é mesmo?... Mesmo assim, obrigada por tudo. Eu ficava toda nervosa quando estava com você, mas foi divertido... Viu, será que o grande Christopher Doumajyd pode ouvir meu último pedido egoísta?
Doumajyd apenas concordou com um sinal de cabeça.
- Faça a Mary feliz, por mim também, ok?... Boa sorte. – acrescentou ela saindo, deixando para trás um Doumajyd pensativo.
Mas assim que chegou ao seu quarto e fechou a porta, Summer não conseguiu mais segurar as lágrimas.


***


Mary estava passando pela ponte que levava até a propriedade dos Doumajyd quando uma coruja veio voando velozmente na sua direção e ela precisou se abaixar para não ser atingida. Dando meia volta, a ave deixou uma carta cair na frente dela e voltou pelo mesmo caminho que veio. Ainda indignada com a falta de respeito que até as corujas demonstravam com ela por ser uma sague-ruim, Mary pegou a carta do chão.
Ela não tinha remetente e, ao abri-la, Mary pôde perceber que fora escrita de forma apressada:


“Oi, Mary! É a Summer!
O casamento com o Chris não deu certo. Eu não terei mais nada com ele, pode ficar tranqüila.
Sinto muito por ter machucado seus sentimentos até agora. Mesmo depois de saber sobre vocês dois, eu insisti em tentar conquistar o Chris, e isso foi algo horrível. Me sinto culpada principalmente por ter mentido sobre aquela noite. Não aconteceu nada entre nós, e eu só menti por estar com ciúmes.
Realmente me desculpe.
Se você me perdoar, mesmo depois de tudo o que fiz, da próxima vez que nos encontrarmos, queria que você ainda me considerasse como uma amiga...
Vou voltar para Nova York com os meus pais e não sei se retorno para Inglaterra. Mas... da próxima vez que nos encontrarmos, me chame de Summy, ok?


PS: Meus pais concordaram em viajar de avião (você conhece, não é?). Vai ser muito divertido!”



Sem pensar duas vezes, Mary pegou a sua esfera e, assim que a miniatura de Doumajyd apareceu, ela declarou:
- Vou para o aeroporto de Londres!


***


Mary correu pelo grande salão repleto de passageiros apressados e procurou no painel eletrônico o portão de embarque do vôo para Nova York. Assim que encontrou a informação, procurou pelo lugar e viu que era o mais afastado de onde estava. Respirando fundo ela correu com toda a velocidade que pôde e parou deslizando na mureta que impedia a entrada de quem não fosse um passageiro. Mesmo de longe, ela avistou a metamorfomaga, com o seu cabelo disfarçado de preto, e gritou:
- Summer!
A bruxa procurou em volta quem a tinha chamado e ficou surpresa quando viu Mary, parecendo que ia subir em cima da mureta para chamar a sua atenção:
- Mary!... Podem ir na frente, eu já vou. – ela explicou para seus pais e abandonou a fila, indo até onde era permitido para conseguir falar, parecendo muito contente – Que bom que veio!
- Eu... – Mary parou, sem conseguir continuar.
Vir até o aeroporto fora totalmente um impulso e, na sua preocupação em conseguir chegar a tempo e encontrar a metamorfomaga, não pensara no que diria para ela.
Vendo que ela não falaria mais nada, Summer resolveu dizer:
- Obrigada por ter vindo, Mary! E seja feliz, hein?! – ela acenou alegremente, e por um instante o seu cabelo voltou a ser roxo, o que ela reparou logo em seguida com um ‘ops’.
Então, ela acenou mais uma vez e se virou para entrar pelo portão.
- SUMMY!
Summer voltou a olhar espantada para uma Mary sorridente.
- Venha me visitar de novo, Summy! – disse Mary, respondendo indiretamente ao pedido de desculpas da carta.
Quase não conseguindo manter a cor do seu cabelo devido à alegria, Summer apenas confirmou com a cabeça, e bateu continência entrando pelo portão logo em seguida.
Mary se afastou da mureta, se segurando para não rir sozinha com a sensação de alívio por ter vindo até ali e ter falado com a metamorfomaga. Era como se finalmente tivesse conseguido desfazer o nó que a incomodava há tanto tempo.
- Mary! – Doumajyd parou, também deslizando, ao lado dela e perguntou ofegante – Onde a Summer está?
- Ela já foi. – informou Mary.
- Ah, é? – ele se apoiou na mureta para respirar melhor.
- ...Ela foi incrível, não é? – pediu, Mary, sentindo um formigamento que ela conheci bem como o inicio de choro.
- Ei, não comece a chorar! – ordenou o dragão – Não é assim que devemos agradecer!
- Não estou chorando. – resmungou ela, conseguindo evitar as lágrimas.
- Está tudo bem agora, não está? Não precisa chorar!
- Não estou chorando!
Eles se encararam e não puderam evitar o sorriso.
- Está tudo bem. – repetiu Doumajyd, estendendo a mão para ela – Vamos voltar.
Mary olhou para ele e pensou que agora realmente estava tudo bem.
- Vamos. – concordou ela pegando a mão dele.
Doumajyd, parecendo estar contente como nunca, apertou firmemente a mão dela e a puxou para saírem. Mas, no mesmo instante, Mary paralisou, e se soltou de uma forma brusca.
- O que-
O dragão parou o que estava perguntado assim que viu a expressão assustada de Mary, e seguiu a direção do olhar dela. Então pôde ver a sua mãe parada um pouco a frente de onde eles estavam, parecendo extremamente incomodada por estar entre trouxas, com Richardson ao seu lado. Ela provavelmente tinha presenciado toda a cena desde que Summer embarcara.
- Então era isso. – a bruxa falou estreitando os olhos e usando um tom cruel que fez Mary sentir um arrepiou gelado percorrer todo o seu corpo.

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