Nana



O sol já havia nascido há algum tempo, mas Doumajyd permanecia de olhos abertos, observando a paisagem pela janela sem se dar conta das horas que passavam ou do que acontecia a sua volta. Ele ainda segurava a caixa fechada com os doces que recebera de Summer e não parecia nem um pouco disposto a abri-la.
- Com licença, senhor. – disse alguém entrando – Vim arrumar o seu quarto.
Doumajyd limitou-se a continuar olhando pela janela.
- O senhor não dormiu? – perguntou novamente o alguém, vendo que a cama não estava desfeita.
- Não é da sua conta! – rosnou o dragão.
- Me desculpe pela impertinência, senhor... O que deseja para o café da manhã?
Aquilo fora demais para Doumajyd. Tudo o que ele queria era que o maldito elfo-doméstico fizesse o seu trabalho silenciosamente, como deveria ser, e saísse dali. Então berrou irritado:
- EU NÃO-
Mas ele não pôde terminar o que iria falar, porque o que vira o deixara chocado demais.
Não era um elfo-doméstico que estava na sua frente, recolhendo o seu casaco jogado no chão. Era Mary Ann Weed, vestida com roupas de empregada como as que usavam as elfas da mansão.
- O que está fazendo?! – perguntou ele perplexo.
Mary pareceu extremamente constrangida e tentava voltar toda a sua atenção para algum ponto do chão. Mas ela não conseguia esconder as suas orelhas vermelhas que denunciavam totalmente como estava se sentido.
- Por que está de fantasia?! – perguntou Doumajyd tentando entender, saindo da janela.
- Não é fantasia! – ela se apressou em dizer, em tom de alguém que pedia para não ser caçoada – Quer dizer, não é uma fantasia, senhor.
- Então o que é isso?
Mary respirou fundo, reuniu toda a coragem que tinha e disse de uma só vez:
- Por favor, me deixe trabalhar aqui!
- ...O quê?! – o dragão a encarou mais confuso ainda.
- Eu realmente não tenho para onde ir, não tenho um emprego, meus pais estão longe e eu não tenho parentes a quem recorrer! Morar aqui realmente ajuda muito e eu fico muito agradecida por tudo o que a sua irmã fez por mim! Mas eu não quero continuar simplesmente de graça! Por isso... Me deixe trabalhar, por favor!
- ...Está falando sério? – perguntou ele entendendo, mas ainda não acreditando no que ouvira.
- Eu... Eu quero um motivo! – ela acrescentou com dificuldade, como se fosse um grande esforço admitir – Depois do que eu fiz ontem... Eu quero um motivo para poder ficar perto de você.
- Mary...
- Eu pensei muito nos outros e não pensei em mim mesma. Por isso, eu preciso recomeçar... É a minha melhor tentativa de lhe dar uma resposta.
- Mas... como empregada?
- E por que não, senhor Christopher?
- Nana?! – o dragão se sobressaltou ao perceber que havia mais alguém com eles no quarto, que havia entrado sem ser notada.
Uma elfa-doméstica enrugada, de grandes orelhas caídas pela idade, um nariz torto que mais parecia um bico, grandes olhos lilases e vestindo uma roupa igual à de Mary, mas muito mais antiga, sorriu gentilmente para o seu mestre.
- A senhora levou quase todos os outros para a casa dos Doumajyds além do mar. Estamos com poucos elfos na mansão e ela seria de grande ajuda. Nana viu que além mar quase não existem elfos-domésticos, por isso muitas sangues-ruins trabalham para as grandes famílias de bruxos.
- Mas você não tinha ido para Nova York também, Nana?! – perguntou ele, ainda surpreso por ver a elfa ali.
- Nana recebeu ordens da senhora para voltar e cuidar do senhor Christopher. Nana deve ficar com os dois olhos delas no senhor Christopher, foi o que disse a senhora. Agora com licença, senhor. – ela fez uma grande reverência, meio lenta pela idade avançada – Devo orientar nossa nova contratada sobre seus serviços.
E sem esperar uma resposta, a elfa agarrou o pulso de Mary com seus dedos finos, mas fortes, e a arrastou para fora do quarto.
Devido à pequena estatura da elfa, Mary foi forçada a se curvar enquanto era puxada por inúmeros corredores.
- Ei! Está me machucando! – reclamou ela.
No mesmo instante, a elfa parou e soltou o pulso dela com violência, a encarando com uma expressão carregada, nem de longe parecendo a doce e obediente serviçal que falava com o seu mestre.
- Como ousa falar com Nana nesse tom? – sibilou ela – Nana está aqui há três gerações treinando aqueles que servem a grande família Doumajyd! Você agora é uma aprendiz e deve se redimir a esse posto! Nana é quem manda em você, sangue-ruim! Ao contrário dos elfos, você irá trabalhar aqui e receber por isso, então eu a farei trabalhar até o fim das suas forças!
Mary segurou seu pulso machucado, onde já estava começando a aparecer outra marca roxa para acompanhar os ferimentos que fizera nas pedras do rio, e olhou assustada para a elfa. Seria ela quem estava encolhendo ou a elfa-doméstica parecia estar ficando maior e maior diante dela?... Muito diferente dos elfos que Mary vira em Hogwarts, aquela Nana parecia ter algo superior a todos eles, uma aura que a tornava terrível e conseguia fazer com os outros tremesse apenas com um olhar.
Então passos foram ouvidos no final do corredor e logo Doumajyd apareceu, e ele pôde ouvir o final da conversa.
- Há montes de coisas para se fazer aqui. – continuou a elfa – Eu não terei pena de você por ser uma bruxa! O que a Nana diz é uma ordem!... E espero que não se esqueça disso! – ela finalizou com um sorriso desdentado.

Compartilhe!

anúncio

Comentários (0)

Não há comentários. Seja o primeiro!
Você precisa estar logado para comentar. Faça Login.