Novo vizinho



- Fiquei surpresa com a notícia do casamento do Chris. – comentou Sharon enquanto ela e Hainault jantavam juntos em um restaurante.
- Como ele nos disse, é a sua escolha adulta.
- Uma escolha adulta? Como esse mundo dá voltas, não? Justo o Christopher falando em escolhas adultas... Mas, eu penso que não existem escolhas adultas nesse mundo. O que dizemos hoje pode parecer adulto, mas amanhã pode nos parecer infantil... Devemos balancear o que está em questão nas nossas escolhas, ou então ela será egoísta e servirá apenas para suprir nossos desejos.
- A minha escolha de ir para a França naquela vez foi egoísta, não foi? – perguntou ele rindo.
- Foi... apesar de eu ter me divertido muito com você lá.
- Mas... se eu não tivesse ido daquela vez, eu não estaria vendo o mundo como vejo hoje.
- Você pode ter feito uma escolha egoísta daquela vez, mas, por causa dela, você aprendeu a não pensar só em si mesmo, não?
- Aah... então pode ser considerada uma escolha adulta.
Ela riu da conclusão dele e então perguntou:
- Mas, me conta como é a noiva do Chris. Ouvi dizer que ela é a jovem bruxa mais rica da América...


***


- Será que algum ladrão? – perguntou Charles se encolhendo atrás da irmã enquanto os dois se escondiam na cozinha e espiavam a sombra na porta.
Visivelmente era alguém tentando olhar para dentro do apartamento, e por duas vezes ele tentara abrir a porta.
- A vizinhança aqui não é das melhores, mas... Está na cara que quem mora nesse prédio caindo aos pedaços não tem dinheiro! – disse Mary tentando se mostrar corajosa para o irmão, mas com as pernas tremendo – É certo que não temos nada!
- Por que ele não vai embora então?... – choramingou Charles – O que vamos fazer, Mary?
- Vamos... Vamos expulsá-lo! – ela olhou em volta – Procure alguma coisa que machuque e vamos expulsá-lo!
Ela começou a revirar as caixas com a mudança e logo avistou a sua mochila. Sua varinha estava lá dentro, mas seria muito arriscado usá-la. E se fosse um trouxa? Ela ainda não tinha permissão para usar magia fora da escola... Encontrou o antigo taco de golfe do seu pai nas coisas do irmão, e Charles pegou uma vassoura. Então os dois seguiram sorrateiramente até a porta, para que a pessoa que estivesse lá não percebesse que eles tinham saído do esconderijo.
- Quando eu disser três, ok? – sussurrou Mary – Um... dois... TRÊS!
Em um impulso rápido ela destrancou a porta, a abriu e os dois pularam em cima do suspeito, batendo o mais que conseguiam.
Como o corredor do prédio estava escuro, ela somente viu alguém vestido de preto cair nos entulhos, que ela tinha tirado para fora aquela tarde, e se encolher para se defender do ataque.
- O QUE VOCÊ QUER?! – berrava Mary enquanto batia – SE PENSA QUE VAI CONSEGUIR ALGUMA COISA DE NÓS SÓ PORQUE ESTAMOS SOZINHOS ESTÁ MUITO ENGANADO!
- É! MINHA IRMÃ BATE MUITO BEM! – ajudou Charles.
- O QUE ESTÁ FAZENDO, IDIOTA! – rosnou a pessoa no chão.
- ...Idiota? – Mary parou imediatamente e teve que segurar seu irmão para que ele parasse também.
- Querem me matar?! – esbravejou Doumajyd podendo se levantar agora, mas cambaleando pelos golpes que levara.
- Mentira... – foi tudo o que ela conseguiu dizer, surpresa demais por vê-lo ali.


***


- Então até mesmo a valente Mary não pode fugir de ficar doente... – disse Sharon depois de ter ouvido sobre o que acontecera – Mas é bem estilo dela ficar doente por ter se esforçado demais.
- É mesmo. – comentou Hainault.
Depois do jantar, o dragão se prontificara a levar a bruxa até a casa da irmã de Doumajyd. Eles aparataram perto da entrada do Ministério e de lá seguiam andando pelo resto do caminho.
- Afinal, ela ainda é nova, não? – riu-se Sharon – Ainda podemos esperar muito dela...
- E como vão as coisas na França, Sharon?
- Trabalhar, estudar e morar sozinha não é fácil, mas está sendo uma experiência e tanto!
- Que bom que você está conseguindo, mesmo sem o apoio dos seus pais.
- Eles aceitarem agora é uma questão de tempo... Existem muitos bruxos na França que pensam que devemos acabar de vez com esse preconceito contra os nascidos trouxas, e que eles são tão capazes de usar magia e receber os ensinamentos quanto qualquer um.
- Falando nisso, sabia que a Mary quer fazer direito na Academia?
- É mesmo?
- Sim. Ela decidiu que queria ser como você e defender outros que não tiveram essa mesma oportunidade. Não acha que ela seria uma excelente advogada?
Sharon reparou em como ele parecia feliz lhe contando isso.
- Sabe, Ryan...
- O que?
- Realmente foi uma escolha adulta você ter voltado para ela. Agora, você parece mais maduro.
- ...Isso é porque eu era um pirralho quando só pensava em você?
- Você e o restante do D4 sempre serão pirralhos para mim! – ela riu – Não tem como você fugir disso.
- Se pudesse ser o eu de hoje, com a você do passado, nós seriamos perfeitos um para o outro, não?
- Acho que sim... Mas não importa o quanto o tempo passe, Ryan, você foi e sempre será um amigo muito importante. Você, o Chris, o Adam, o Simon e a Christy significam muito para mim, até mais do que a minha própria família. Nunca se esqueça disso!
Eles chegaram à frente da entrada para a casa da Christinne.
- Obrigada por ter me acompanhado. – agradeceu ela.
- Não foi nada.
- Quer entrar? – perguntou ela.
- Não quero incomodar a Christy e o ‘velho’.
- Tudo bem. – ela riu – Viu, Ryan, me prometa uma coisa?
- O quê?
- Que se você gosta mesmo da Mary, não vai fazê-la chorar.
Ele a encarou sem entender.
- Você, mais do que ninguém, sabe que gostar de uma pessoa não significa que essa pessoa também goste de você... Então prometa que sempre vai escolher pela felicidade dela.
- A felicidade dela, é tudo o que eu quero, Sharon.
- Que bom ouvir isso... Bom, agora é um adeus então. Não sei se vou poder vê-lo novamente até ir embora.
- Se cuide. – eles se despediram com um abraço.
Contente, ela entrou pelo portão e ainda falou da porta:
- E muito obrigada por tudo, Ryan. Boa noite!
Depois de ela ter fechado a porta, Hainault ainda ficou um tempo olhando para o portão antes de aparatar.


***


- Se fosse uma pessoal normal, com certeza teria morrido! – ainda reclamava Doumajyd, mostrando para os dois irmãos os hematomas que ele tinha ganho nos braços, enquanto devorava um grande pedaço de carne.
Depois de ter descoberto quem era a sombra suspeita, tudo que Mary queria era arrastar o irmão de volta para dentro do apartamento e voltar a trancá-lo. Mas Charles fora mais rápido e convidara Doumajyd para jantar com eles como um pedido de desculpas. Assim, os três estavam sentados em volta da mesinha, Mary nem um pouco preocupada em esconder o seu descontentamento com a presença do convidado.
- E você não é normal? – perguntou ela furiosa – Por que fica agindo como um ladrão na porta da casa dos outros? É claro que você corria o risco de apanhar!
- Você nos assustou de verdade, Doumajyd. – comentou Charles entre mastigar e por mais comida na boca.
Doumajyd riu e falou:
- Isso é porque você tem um coração de ‘fulga’, irmãozinho trouxa!
- Coração de fulga? – perguntou Charles.
- É pulga. – corrigiu Mary, mas nenhum deles parecia ter a ouvido resmungar.
- Coração de fulga é algo de biologia? Pode cair na prova? O que é? – perguntou Charles desesperado, não encontrando nenhuma referência do assunto em seu arquivo mental para a prova.
- Não ligue para o que ele diz, Charles! Ele é burro mesmo!
- E você é uma idiota violenta! – acusou Doumajyd.
- Olha quem fala! – ela replicou.
- Não ligue para ela, irmãzinho trouxa. Essas garotas vivem pensando que sabem mais do que nós!
Charles concordou rindo. Mary limitou-se a revirar os olhos e perguntar, voltando ao assunto:
- Pode me dizer por que estava a essa hora na porta do nosso apartamento?
A pergunta pegou o dragão desprevenido. Seu sorriso convencido desapareceu e ele tentou explicar:
- Ah, é que... Eu estava olhando alguns anúncios no Profeta... – ele se levantou do chão e foi até a janela dar uma olhada disfarçada na vista – E fiquei sabendo desses apartamentos aqui em Londres... – então acrescentou depressa ao perceber o olhar carregado que Mary lhe lançava – Mas realmente foi uma surpresa encontrar vocês aqui!
- Se explique melhor. – exigiu ela.
- Bom, é que... Eu pensei que já era hora de morar sozinho, sabe?
- Quer dizer que você alugou um apartamento aqui? – perguntou Mary incrédula.
- Idiota! Acha que o Ilustríssimo Eu alugaria um apartamento?
Mary respirou aliviada. Mas isso ainda não explicava o...
- Eu comprei o prédio inteiro. – contou ele com um tom de orgulho, como se tivesse feito o negócio mais invejável do mundo, voltando a se sentar no chão em frente à mesinha.
- O QUÊ?! – perguntaram os dois irmãos em coro.
- Há duas horas, me tornei o dono desse prédio.
- Quer dizer que você é o proprietário agora? – perguntou Charles surpreso.
- Propretra... Idiota! Eu sou o Doumajyd, não isso que você falou! Lembre-se pelo menos do meu nome!
- ...Por acaso, você lembra do meu nome? – perguntou o garoto humildemente.
- Seu nome?... Claro que lembro! Irmãozinho trouxa é o Irmãozinho trouxa! O que mais poderia ser?
Mary permaneceu em um estado de estupor que não lhe permitia mais falar.

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