Pergunte para a sua consciênci



Mary andava de um lado para o outro do seu dormitório. Todos os seus livros estavam abertos em cima da cama e todas as suas anotações das aulas estavam espalhadas sobre eles, junto com penas e tinteiros. Ela havia tentado começar por poções, então passou para herbologia, foi para astronomia, voltou para poções, resolveu ler algo no livro de História da Magia, mas nada a conseguia prender a sua atenção por mais de um minuto. Qualquer palavra que pudesse ser relacionada, ou não, ao que acontecera naquela tarde, a fazia rever a cena da praça. Então, chegando à conclusão que não adiantaria insistir quando sua mente estava ainda tão agitada, ela resolveu simplesmente andar e cantar alguma música bem alto em seus pensamentos. Queria de alguma forma ficar exausta, tanto física quanto mentalmente, e não deixar nenhuma energia sobrando para sua mente ficar pensando em coisas que não fossem relacionadas aos seus estudos.
Mas então um cheiro de queimado chamou a sua atenção e ela percebeu que a fumaça vinha da gaveta em que ela jogara a esfera de Doumajyd e que selara com o encantamento mais forte que pôde encontrar em seu livro de feitiços. Fingindo não ter notado, ela continuou com a sua marcha para lugar nenhum entre a porta e a janela do dormitório.
Porém, quanto mais ela tentava ignorar, mais intensa ficava a fumaça. Mas mesmo assim Mary continuava fingindo que não notava e até fechou os olhos para ser mais convincente. Conhecia bem o caminho que estava fazendo e não teria problemas. Era só continuar cantando o orgulhoso Hino de Hogwarts que não...
- A sua gaveta está pegando fogo?
Mary caiu para trás com o susto que levou quando contornava para ir até a janela. Ao abrir os olhos, gemendo por ter batido o cotovelo no armário ao cair, ela encarou incrédula uma Summer Vanderbilt, que olhava assustada em direção a fumaça.
- Por que está andando em círculos? Por que sua gaveta está soltando fumaça?
- É... foi... foi um encantamento que deu errado! – mentiu Mary se levantando e correndo para organizar seus livros jogados. Não por causa da visita inesperada, mas simplesmente para que a metamorfomaga a visse fazendo algo normal, como arrumar o quarto, e não andando em círculos com os olhos fechados.
- Tem certeza que está tudo bem? – perguntou a bruxa mais uma vez, indo em direção a gaveta, com intenção de tentar consertar o que quer que fosse que Mary tivesse feito errado.
- Está tudo bem! – Mary se apressou em se colocar no caminho dela e acrescentou com um sorriso amarelo – Verdade!... A propósito, o que veio fazer aqui?
Summer deu um grande suspiro e pareceu esquecer completamente da gaveta.


***


- Foi você de novo, velha?!
- Do que está falando?! – perguntou indignada a senhora Doumajyd depois de seu filho ter invadido o seu escritório com a pergunta.
- Você fez com que a Weed não fosse! – acusou ele.
- Aaaah... – disse a bruxa calmamente, compreendendo do que o filho estava resmungando – Ela foi sim.
- ... Como? – perguntou Doumajyd confuso, mas não abandonando a sua posição de ataque.
- Ela foi até o local marcado e ela decidiu por si mesma ir embora.
- O que quer dizer com isso? – bufou o dragão.
- Pergunte a sua consciência, Christopher!
Doumajyd pareceu fazer um grande esforça em encontrar uma ligação entre as palavras da mãe com o fato de Mary não ter aparecido, mesmo tendo ido até o encontro. Então uma faísca de compreensão passou pelo seu rosto, e a senhora Doumajyd sorriu satisfeita.
- Os Vanderbilt virão para a Inglaterra na próxima semana. – anunciou ela levantando da sua poltrona e se aproximando da luz crepitante da lareira para continuar lendo o pergaminho que anunciava a vinda dos bruxos americanos.
- Virão? – perguntou Doumajyd como se não tivesse processado a informação.
- Para oficializarmos o noivado. E faremos um anuncio oficial para a sociedade bruxa também.
- ...Você está brincando, velha?
- Continua a me chamar assim? – perguntou ela em um tom seco, mas ao perceber a expressão de encurralado do filho com o anuncio da vinda dos Vanderbilts, deu uma risada satisfeita e saiu do escritório, sendo seguida por Richardson, que anotava as suas instruções para a chegada dos convidados.


***


- Sério?! – perguntou MacGilleain quase se engasgando com o chá que tomava.
- O que ela foi fazer no seu dormitório?! – perguntou Nissenson perplexo.
- Então... – Mary procurou pela melhor forma de explicar – Ela queria reclamar.
- Reclamar? – perguntaram os dois em coro.
Ao lado de Mary, Vicky apenas confirmava com a cabeça, pois já tinha ouvido toda a história logo pela manhã. Já os dragões haviam aparecido depois do almoço para saberem sobre dia anterior e também para terem uma desculpa para matarem as aulas da Academia na Ala especial deles.
- É, reclamar do Doumajyd. Que ele a chamou para ir lá e depois a abandonou sem justificativas. E no fim ela acabou dormindo aqui.
- No seu dormitório? – perguntaram mais uma vez eles em coro, surpresos com a ousadia da garota em invadir a escola.
Mary confirmou com um aceno de cabeça, devorando mais um bolinho de caldeirão, lembrando do que tinha acontecido na noite passada...


***


- É a primeira vez que eu durmo na casa de uma amiga! – anunciou Summer Vanderbilt, com um pijama emprestado, contente ao se jogar na cama de Mary.
- Mas... aqui é Hogwarts, não minha casa. – informou Mary enquanto tentava improvisar com cobertas um lugar para ela poder dormir no chão.
A esfera tinha desistido de tentar botar fogo em seu dormitório e toda a fumaça já havia se dissipado. Porém, Summer decidira que não voltaria para o hotel.
- Mary, seja sempre a minha amiga! – declarou ela rindo e se arrastando para debaixo das cobertas, procurando a melhor posição para deitar.
Essa frase fora demais para Mary. Ela precisava resolver a situação incomoda o mais rápido possível. E que melhor momento do que aquele em que estavam as duas sozinhas?
Ela jogou o travesseiro extra que segurava no monte de cobertas onde iria dormir e se aproximou da cama escolhendo com cuidado as palavras que usaria:
- Sabe, eu... Summer?
A metamorfomaga permanecia imóvel, mesmo com o chamado. Mary se aproximou mais e percebeu que ela já estava dormido, respirando profundamente.
- Inacreditável... – foi tudo o que ela conseguiu resmungar, e voltou para a sua cama de cobertas reclamando mentalmente que nem a mais poderosa poção do sono conseguiria um efeito tão instantâneo.


***


- Ela parece ter tomado uma dose vitalícia de Felix Felicis... – comentou Nissenson suspirando depois de ter ouvi o relato de Mary.
- Mas... eu ainda não entendo o motivo de você não ter ido ao encontro, Mary. – disse MacGilleain largando o seu chá.
- Motivo?
- Se você não tivesse desistido, – ele explicou melhor o seu ponto de vista – a Vanderbilt teria percebido algo, não? Ela teria percebido que o Chris ainda gosta de você.
Em uma poltrona um pouco afastada da mesa, Hainault deixou de se concentrar em seu livro ao ouvir isso, visivelmente chegando a uma conclusão sobre o que tinha realmente acontecido na tarde anterior.
- Eu acho que era isso que o Chris pretendia a chamando para lá. – concluiu o antigo dragão da Lufa-lufa.
- Doumajyd não gosta mais de mim! Ele já disse isso!
- Eu acho que não é bem assim, Cogumelo. – discordou Nissenson.
- Ele a chamou para o encontro com a intenção de deixar isso bem claro para mim. – replicou Mary, se controlando ao máximo para não contar o que realmente vira – Sinceramente, algo bem típico de se esperar dele!
Hainault deixou a sua posição relaxada na poltrona para prestar uma atenção redobrada em Mary, que continuou falando:
- E depois de tudo ele ainda a mandou ir embora como se nada tivesse acontecido! Isso é completamente sem sentido! Por que ele acha que pode mandar em todo mundo? Aquele idiota só causa incômodos! Ele nunca vai mudar! Vai ser um completo idiota egoísta mandão para sempre! Nunca vai deixar de tratar os outros como escravos!
- Quem é o idiota egoísta?!
Mary congelou.
- E quem está sendo escravizado?!
Apesar do susto, e de estar mentalmente amaldiçoando sua completa falta de sorte com o destino, Mary se levantou para encarar Doumajyd.
- O que você pretendia marcando um encontro e não aparecendo, Weed?! – rosnou ele.
- Inacreditável. – ela lamentou-se, porque ali estava ele, agindo como se tivesse toda a razão do mundo quando era o único que colocara tudo a perder.
- Como assim inacreditável?! – perguntou ele em um tom agressivo se aproximando dela – Está brincando comigo?!
- Quem está brincando com quem?! – ela respondeu no mesmo tom também se aproximando e o enfrentando furiosa.
A cena poderia até ser considerada cômica, com os dois se encarando com olhares assassinos apesar da grande diferença de altura, se não fosse pela intensidade quase elétrica desses mesmos olhares.
- Acalmam-se! – pediu MacGilleain prevendo algo desastroso daquela situação.
- Você sabe que fez o Ilustríssimo Eu ficar esperando por horas?!
- Você esperou porque é um idiota! – respondeu ela.
- Seja educada e pelo menos peça desculpas! – ordenou ele.
Aquilo fora demais para Mary. Ela reuniu toda a sua fúria e gritou:
- FOI CULPA SUA SE EU FUI EMBORA E VOCÊ ESPEROU! – e saiu correndo da Ala, deixando Vicky e os outros dragões pasmos para trás.
Parecendo estar com o mesmo nível de fúria, Doumajyd se largou em um dos lugares da mesa.
- Chris? – chamou Nissenson.
- O QUÊ?! – rosnou o líder do D4.
- Pelo que sabíamos ela tinha desistido no meio do caminho, mas agora ela praticamente declarou que foi até lá... O que você fez para ela?
- Não fiz nada! – ele se defendeu.
Enquanto esse pequeno diálogo se desenrolava, Hainault aproveitou para sair desapercebido da Ala atrás de Mary.
- Eu... – começou a resmungar Doumajyd, tentando parecer estar mais interessado na bandeja com bolinhos de caldeirão do que no que estava dizendo – Eu só queria que aquela macaca percebesse que... que ela não se compara com a Weed... eu... queria poder encarar a Mary de frente...


***


- INACREDITÁÁÁÁÁÁVEL!!! –Mary berrou para a Floresta proibida e alguns pássaros levantaram vôo assustados das árvores mais próximas.
Ainda não contente com isso, ela começou a chutar todas as partes que alcançava da parede de pedra em baixo da janela, respirando forte e dizendo entre as investidas:
- ILUSTRÍSSIMO-EU-UMA-OVA! ACHA-QUE-SOU-ESTÚPIDA?! FICA-SE-AGARRANDO-COM-ELA-E-AINDA-SE-FAZ-DE-INOCENTE?! INA-CRE-DITÁ-VEL!!!
- Então foi realmente isso? – perguntou a voz calma de Hainault atrás dela e Mary quase teve a alma arranca do corpo – Você viu o Chris e a Vanderbilt se agarrando na praça e foi embora?
Mary não respondeu. Tinha parado de chutar a parede, mas continuava apertando as mãos com força, e agora tentava olhar para qualquer lugar, menos para o dragão.
- Foi isso mesmo. – ele respondeu no lugar dela – ...Mas, por que o Chris mandou que ela fosse embora?
- Porque essa era intenção dele. – disse Mary – Não importa se fosse a Summer Vanderbilt ou qualquer outra, ele só queria que eu visse aquilo.
Hainault a encarou por um tempo em silêncio.
- Mas eu não quero mais pensar nisso ou minha cabeça vai explodir! – declarou ela dando um último chute na parede – Ryan! Já que está aqui me ajude a estudar!
- O quê? – perguntou ele confuso.
- Sozinha eu não consigo me concentrar! Os testes para os NIEMs estão chegando e eu preciso mesmo estudar! Você pode me ajudar, não é?
Hainault olhou para o livro que carregava nas mãos, como se pensasse que não tinha nada mais para fazer mesmo, e então concordou.

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