Por ela não fazer nada



- O que eu estou fazendo? – Mary se jogou na sua cama perguntando para si mesma.
Realmente não conseguia achar que Summer Vanderbilt fosse uma má pessoa. Não havia como negar que ela era mais uma vítima dos planos da senhora Doumajyd. Porém, a garota estava disposta a não se opor aos planos da bruxa e também gostava do líder dos Dragões.
Ela pedia sua ajuda para conquistá-lo de uma forma tão entusiasmada que Mary não conseguia odiá-la... e isso era o que a atormentava agora.
Ela se virou na cama para afundar a cabeça no travesseiro e se deparou com a caixa onde estavam os restos de biscoitos de chocolate que tiveram a sorte de não serem devorados pela metamorfomaga na noite anterior.
- O que eu estou fazendo? – ela repetiu a pergunta e bateu desanimadamente na caixa para que ela caísse e ficasse fora da sua visão.


***


Como seu tempo de estadia na Inglaterra não era algo certo, Doumajyd recebera ordens da sua mãe de ficar na casa da família em Londres.
Mesmo ela sabendo que a distância de Hogwarts não seria um obstáculo para o filho, ela buscava um meio de deixá-lo o mais afastado possível do castelo e da influência Mary Ann Weed. Porém, mesmo com o seu cuidado, essa influência não era algo fácil de ser evitado.
Enquanto Doumajyd desfazia as suas malas, ainda pensando na conversa que tivera a tarde com os amigos, uma caixinha entre suas roupas lhe chamou a atenção. Ele paralisou e apenas a observou por um tempo, como se estivesse travando uma grande batalha em seu interior entre o ‘pegar’ e ‘não pegar’ a caixa.
Então uma imagem atravessou os seus pensamentos como um lampejo. “E então porque não falou? Não teve chance?”, perguntou furiosa a Mary no começo da escada da Ala dos Dragões em Hogwarts. Isso fez com que ele tomasse impulso e pegasse a caixa. Ao abri-la, ele encarou o único biscoito de chocolate em forma de dragão que sobrara no fundo dela.
Ainda com a caixa nas mãos, ele se jogou na cama ao lado da mala, com a aparência de estar cansado como nunca estivera antes na vida, e tentou se esquecer de tudo por um tempo.


Ele se viu na sala de jantar onde uma família fazia a refeição. O pai, a mulher, um filho ainda pequeno e uma bebê, todos sorridentes e felizes. Com um gesto amplo para a mesa, o pai o convidou para que se juntasse a eles. No mesmo instante a cena mudou para um lugar aberto onde ventava muito, com um céu tempestuoso. Era o prédio de sua mãe em Nova York, de onde ela comandava os negócios da família. E lá na borda dele, tomando fôlego, como se estivesse decidindo se iria pular ou não, estava alguém.
- KEN! – berrou Doumajyd desesperado, já sabendo o que iria acontecer.
O homem lhe deu um sorriso demente e pulou.



O dragão se levantou em um pulo e acabou derrubando a mala no chão. Olhou em volta assustado e então respirou profundamente percebendo que não passara de um sonho. Então ele colocou a caixinha de lado e, com um gesto impaciente de varinha fez a mala voltar para cima da cama e continuar a se esvaziar sozinha.


***


Assim que pisou no Salão Principal no almoço do dia seguinte, Mary recebeu um recado de que havia alguém lhe esperando na Ala dos Dragões. Já imaginando que fosse Summer Vanderbilt vindo almoçar com ela com o pretexto de estar entediada no seu hotel, Mary subiu penosamente as escadas, quase arrastando sua mochila pelo caminho.
Porém, ao se aproximar da mesa do D4, percebeu que era outra pessoa:
- Por que está aqui? E sozinho? – perguntou uma Mary surpresa para Ryan Hainault que lia tranquilamente um livro, estirado na poltrona maior perto da lareira.
- Olá. – cumprimentou ele se levantando – Parece que todos estão ocupados com os problemas do Chris para virem aqui.
- Aaah... – disse ela, tentando ao máximo não parecer alguém que queria saber mais sobre o assunto, se sentando em um dos sofás e largando a sua mochila ao seu lado no chão.
- Ele vai ficar um tempo em Londres. – comentou o dragão, adivinhando o comportamento dela.
- Ah, é?
- Sim. E quer saber mais uma coisa? – ele se levantou calmamente da poltrona e se sentou ao lado dela – Ele disse que não tem intenção de se casar com aquela garota.
- Sér... Ah, é? – ela conteve a sua surpresa e se afastou um pouco dele, achando que ele havia se sentado perto demais.
- Gostou da notícia? – perguntou ele como alguém que estivesse curioso em registrar a reação dela, se aproximando mais.
- Eu? Nããão, eu não – ela se arrastou mais um pouco e chegou ao limite do braço do sofá, não podendo mais se afastar – Precisa se aproximar tanto, Ryan?
- Por que está vermelha?
Se Mary estava ou não vermelha antes de ele dizer isso ela não saberia dizer. Mas com certeza ficara depois de ele ter dito.
- Po-porque você está perto demais! – ela reclamou e tentou o empurrar, porém ele foi mais rápido e agarrou os pulsos dela, puxando-a para si.
Esse movimento por parte dele a deixou desorientada e por conseqüência os dois acabaram caído do sofá, Mary por cima dele. Ela se apressou em se levantar e gaguejou:
- Ah, de-desculpa! E-eu estou atrasada! – e, agarrando a sua mochila, saiu correndo da Ala.


***


Mary correu o mais rápido que pôde para a sua torre. Mesmo sabendo que não era o melhor lugar para ficar o mais longe possível do antigo Dragão da Grifinória, foi o único lugar que ela pensou naquele momento.
Lá, se agarrou na borda de pedra fria da janela e olhou para a paisagem respirando fundo.
- Por quê?! – ela se perguntava perdida em pensamentos do que acabara de acontecer – Por que meu coração está batendo tão forte?!
Ela achava que essa reação pelo seu Cavaleiro de Olhos Frios já era algo esquecido do passado, e nem sonhava que poderia se sentir assim novamente perto dele.
Então um cheiro forte de fumaça a fez sair dos seus pensamentos e procurar assustada em volta. Percebeu que ele vinha da sua mochila e se apressou em retirar a sua esfera de lá de dentro antes que ela queimasse os seus livros e pergaminhos.
A única pessoa que imaginava que poderia ser naquele momento era Hainault, mas foi com uma grande surpresa que ela encarou a imagem de Vicky lhe dizendo:
- Mary, pode vir na estufa?
Ela demorou alguns segundos até entender o que a amiga tinha lhe perguntado, por ainda estar nervosa, e então respondeu:
- Ok... já estou descendo.


***


- Ela é um saco! – desabafaram Nissenson e MacGilleain para Mary assim que ela entrou na estufa e se deparou com os dois de cabeças caídas em cima da mesa de madeira, em um estado que sugeria, no mínimo, uma derrota devastadora.
- Como assim? – perguntou ela se sentando na frente deles, ao lado de Vicky.
- Eles tentaram fazer com que os sentimentos da Summer Vanderbilt pelo Doumajyd se voltassem para eles, para acabar com essa história de casamento. – explicou Vicky.
- E o que aconteceu? Por que estão parecendo zumbis?
- Alguém precisa tratar a hiperatividade daquela garota! – reclamou Nissenson de mau humor.
- Nós a convidamos para passar o dia conosco fazendo o que ela quisesse, – começou a contar MacGilleain – então ela decidiu que queria conhecer como era o mundo bruxo da Inglaterra.
- E estão exausto por terem passeado com ela? – perguntou Mary confusa.
- Ela acha que passeamos com ela. – se lamentou Nissenson, balançando a cabeça, mas não falando mais nada além disso.
- Ela tem um pique difícil de se acompanhar. – continuou o outro dragão, contando nos dedos para não se perder – Primeiro ela não tinha tomado café e decidiu que queria comer sanduíche de carne de peru com sorvete e cerveja amanteigada em uma lanchonete trouxa de Londres, uns vinte deles e tivemos que arranjar a cerveja para ela. Daí ela quis conhecer como era o subterrâneo de Gringotes e deu ouro para que os duendes a deixarem andar pelo menos umas dez vezes com aqueles vagões descontrolados.
- Dez vezes?! – se surpreendeu Mary.
- Achamos que foi isso. – Nissenson se pronunciou – Perdemos a noção do que acontecia na terceira volta. Foi terrível!
- Depois ela quis voltar para Hogsmeade e visitar o zoológico, principalmente a parte dos répteis. Ela pagou para o senhor que cuida das jaulas deixasse ela entrar em cada uma delas... mas, na verdade, ela nos empurrava lá dentro e fechava a porta para nos ver gritando desesperados enquanto o bicho que fosse nos atacava.
- Eu fui mordido. – Nissenson puxou a manga das suas veste e mostrou uma parte roxa no braço, rodeada por bolhas com uma substância verde.
- Ah, é grave?! – perguntou Vicky assustada, praticamente se jogando por cima da mesa e agarrando o braço dele para ver de perto o ferimento.
- Não, – ele tentou tirar o braço das garras da garota – o senhor do zoológico falou que é só uma reação alérgica e me deu uma poção. Ele disse que até a noite estará curado.
- E depois? – perguntou Mary curiosa para MacGilleain.
- Depois ela praticamente invadiu a Dedosdemel e nós fez experimentar com ela todo o estoque de doces da loja, inclusive algumas invenções novas do dono que ainda estão na fase de teste. Quando saímos da loja, quase não conseguindo mais agüentar nossas próprias pernas, encontramos a Vicky vindo comprar alguns ingredientes para a professora Karoline e ela nos salvou.
- O Simon ficou feliz em me ver! – comentou a garota contente para a amiga.
- Nossa! – exclamou Mary pensando que tivera sorte nas compras calmas do dia anterior com a americana.
- E tem mais! – disse Vicky – Quando a Summer me viu, disse que eles tinham muita coragem em tentar fazê-la se esquecer do Doumajyd!
- Ela sabia do nosso plano desde o começo! – suspirou Nissenson – Por isso estava nos torturando daquele jeito!
- E ela também falou que eles não fazem o tipo dela e que ela é fiel ao Doumajyd. – Vicky concluiu sua parte do relato.
Mary pensou por um tempo, enquanto Vicky insistia em tentar fazer um feitiço de cura que ela havia aprendido com a sua avó no braço de Nissenson, e este tentava desesperadamente fugir.
- Mas, – ela questionou enfim, não conseguindo reprimir mais a pergunta – por que fazem isso pelo Doumajyd?
- Não é óbvio? – respondeu Nissenson, achando um meio de se livrar da insistência de Vicky – É por que você não faz nada!
- O quê? – Mary pestanejou diante da acusação.
- Não agüentamos ver vocês dois agindo dessa forma! – acrescentou ele.
- Você sempre pensou nele nesse tempo em que ficaram separados, não? – perguntou MacGilleain.
- Bom, eu...
- Pode me chamar de intrometido, – continuou ele sem dar atenção para a resposta de esquiva dela – mas eu ainda acho que o melhor para o Chris é ficar com você, Mary!
A frase atingiu Mary em cheio, como se fosse um feitiço estuporante.
- É só perto de você que o Chris age de uma forma mais humana, e não igual à mãe dele! – ajudou Nissenson – E se você continuar nessa sua relutância teimosa, essa metamorfomaga vai tirar ele de você!
Mary fingiu desastrosamente que prestava mais atenção na madeira da mesa do que aos dois dragões.
- Está bem assim, Cogumelo? – perguntou Nissenson, mais como alguém que dava uma bronca do que alguém preocupado.
Ela apertou as mãos por debaixo da mesa, mas não respondeu.


***


- Simon! Espera! – berrava uma Vicky ofegante correndo para alcançar Nissenson nos terrenos de Hogwarts atrás das estufas.
- O que foi agora? – perguntou ele irritado achando que ela iria tentar curar o seu braço novamente.
- Uau! Essa moto é sua?! – perguntou ela parando abobada na frente dele, admirando a moto que estava ao lado do Dragão – É daquelas que voam, não?! Eu nunca tinha visto uma de tão perto!
- É que... eu não uso ela muito. – murmurou ele como se não tivesse conseguido pensar em nada melhor para respondeu ao comentário – Mas, ultimamente... resolvi usar.
- Um dia você me leva passear nela? – perguntou ela esperançosa.
- Não. – ele foi rápido.
- Por quê? – perguntou ela em um choramingo.
- Porque não! – ele colocou o capacete e montou na moto, se preparando para ir embora.
- Espera! – ela o segurou no braço machucado e ele quase caiu da moto com a dor – Ah, desculpa! É que eu ainda não falei o que eu queria...
- Então fala de uma vez! – rosnou Nissenson.
- Muito obrigada!
- ... Sobre o que? – perguntou ele confuso, ainda esfregando o braço.
- Como melhor amiga da Mary, eu agradeço pelo puxão de orelha que você deu nela! Ela não me ouve mais quanto a esse assunto. Ter alguém para me ajudar a convencê-la realmente me deixou muito feliz!
- Ah... não foi nada. – disse ele sem jeito, não achando realmente que havia feito uma grande coisa.
- E não quer mesmo o feitiço da minha avó? – perguntou ela esperançosa.
- Não, de verdade!
A garota riu e comentou:
- Meu nome pode significar vitória, mas eu vivo sendo derrotada por você, não?... Mas eu vou continuar me esforçando, não se preocupe! Preciso voltar para o castelo agora. Até, Simon! – ela se afastou acenando para ele e ainda acrescentou em tom de ameaça – Se você não vier me visitar eu vou atrás de você!
Nissenson acelerou a sua moto e não pôde deixar de balançar a cabeça rindo antes de partir, passando por cima dos muros e indo em direção a cidade.

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