Único



Harry ainda estava sem reação. Isso tudo tinha mesmo acontecido? Rony não podia ter ido embora, ele não conseguia se conformar!

Mas as lágrimas de Hermione e seus soluços baixinhos na cama ao lado não o deixava esquecer.

Ele sentiu raiva, muita raiva de Rony naquele momento. Como ele podia abandoná-los assim? Como podia abandonar a Hermione? Para fazê-la sofrer desse jeito? Ele era tão imbecil assim?

Os soluços aumentaram, fazendo Harry se desconsolar. Não aguentava ver a amiga sofrendo daquela forma. Se levantou como estava - vestindo apenas a calça do pijama- e se aproximou da cama da garota.

Não chamou para não assusá-la, apenas se sentou suavemente e se aproximou o bastante para tocar em seus cabelos.

- Hermione? - sussurrou baixinho. - O corpo que havia ficado tenso ao sentir o peso na cama volto a balançar com os soluços contínuos.

Harry trouxe as pernas para cima da cama e se apoiou em um cotovelo, enquanto acariciava os cabelos da garota.

- Tudo bem - ele murmurou. - Vai ficar tudo bem...

Ela não se virou, nem fez nenhum sinal de que acreditava no rapaz.

Harry a abraçou pela cintura, encostando a cabeça entre o ombro e o pescoço da garota e falando em uma voz abafada graças aos cabelos que tapavam seu rosto.

- Eu sinto muito. A culpa é minha. é tudo culpa minha, eu não tinha um plano, eu trouxe vocês para um caminha sem rumo... Eu tinha que ter impedido vocês de me acompanharem, não devia ter deixado vocês acabarem com suas vidas assim... Por favor, Mione, me perdoa... Se não fosse por mim, Ro...

- Xiiiiii! Não diz o nome dele, Harry, por favor.

Hermione se virou de frente para ele e Harry continuou o abraçando pela cintura. Seus olhos já estavam inchados de tanto chorar...

- Você não tem culpa, Harry. Ele é um idiota, imbecil, filho de uma mãe e retardado, você não pode acreditar no que ele te disse!

Harry abaixou os olhos, incapaz de mirar os dois castanhos e úmidos que o encaravam. Não importava o que ela dizia, não importava o que todos diziam, Harry era o culpado. Ele sabia. As vezes se perguntava em como seria o mundo se ele não tivesse nascido.

"Muito melhor, com certeza!" - pensou com amargura.

- Harry, pare de se lamentar! - Veio a voz de Hermione, um pouco dura demais.

"Claro, o cara que ela ama acabou de abandoná-la por sua causa e ainda por cima ela tem que ficar te consolando! Como você acha que ela reagiria?"

Forçou um sorriso, fazendo um carinho suave nos cabelos de Hermione, mas ainda não era capaz de encará-la nos olhos.

- Tem razão, Hermione. Me desculpe, não é mesmo o que está em questão aqui. Acho que se esperarmos até amanhacer será um pouco arriscado, então podemos aproveitar que é de madrugada e...

- Harry?

- ... poderemos voltar para A Toca, ou pelo menos eu posso te deixar lá e depois...

- Harry!

- ... vou partir sozinho atrás das horcruxe. Afinal, seu lugar é com R... com ele, vou sentir falta de sua ajuda e de vocês, mas...

Hermione, cansada de tentar atrair a atenção de Harry o chamando, segurou em seu queixo e o obrigou a olhá-la. Ele finalmente parou de falar e a olhou surpreso. Hermione sorriu.

- Você tem um grande coração, Harry. Sempre pensando nas pessoas ao invés de pensar em você. Mas ainda não entendeu. Eu não quero ir atrás dele. Eu não quero abandonar você. Eu vou ficar e te ajudar, e nada que me disser vai me fazer mudar de idéia.

Harry piscou e sorriu, por fim. Porém, o sorriso dos dois se desmancharam instantes depois.

Hermione se aproximara para falar com ele e os dois se deram conta de como estavam próximos. Sua mão ainda estava em seus cabelos e a mão dela ainda tocava seu queixo.

Era uma proximidade perigosa, ambos pareceram se dar conta, mas nenhum moveu um centímetro sequer para se separarem.

Sem pensar no que fazia, Harry desceu os dedos para colher os rastro de um lágrima que havia parado na bochecha de Hermione. Enxugou-a, mas não retraiu os dedos. Continuou movendo-os lentamente pelo rosto da amiga, numa carícia suave, até encontrar novamente os cabelos dela e entrelaçar seus dedos entre os fios, com a mão na nunca da garota.

Hermione ainda o encarava, uma expressão indecifrável que ele nunca fora capaz de ver naquele rosto. Nunca reparara? Mesmo? Como nunca pôde ver a beleza daquele rosto? Daqueles traços simplesmente perfeitos!!??

Levantou um pouco a cabeça e empurrou quase incoscientemente, bem de levinho que mal daria para perceber, a nunca dela para frente. Ela respondeu, indo muito mais para frente do que o movimento teria impulsionado. Foi o que bastou para que Harry inclinasse o rosto e tocasse os lábios dela com os seus. Suavemente.

Esperava que a qualquer momento a consciência o invadisse, o fizesse parar o que fazia... Era Hermione! Sua amiga! Hermione quem estava beijando! A garota que amava seu melhor amigo...

Ao pensar em Rony, Harry quase se afastou, quando percebeu que os lábios sob os seus se entreabriam, em um pedido mudo por mais.

Estava sendo correspondido. Estava beijando sua melhor amiga e sua melhor amiga beijava-o de volta. Que situação inusitada...

Mas a consciência já o havia abandonado. Antes que pudesse pensar no que fazia, Harry viu-se entreabrindo os lábios e colhendo o sabor salgado das lágrimas que passaram pelos lábios de Hermione, deslizando lentamente sua língua pelo lábio infeiror. Um som diferente de todos que ja havia escutado, principalmente de Hermione, pareceu ter saído do fundo da garganta dela. Quando isso aconteceu, ele não resisitiu, e se viu inserindo sua língua naquele espaço convitativo, sendo recepcionada no mesmo instante por uma outra língua, úmida, quente, tímida.

Elas se cumprimentaram timidamente no início, mas bastou isso para que se enrolassem como se nunca tivessem esperado outra coisa, como se nunca pudessem querer algo diferente desse contato... Como se em suas vidas aquele contato fosse essencial para suas sobrevivência.

A mão de Hermione em seu queixo deslizou até o seu pescoço e mão que Harry tinha na cintura dela desceu até enlaçá-la de vez. Nem percebeu que se inclinara mais até sentir seus dois braços enlaçados na cintura dela entre o colchão e o corpo quente de Hermione.

Forçadamente, mais forçadamente do que tudo que já fizera em sua vida, ele rompeu o contato dos lábios, olhando suas posições sobre a cama.

Hermione estava deitada de costas, as duas mãos agora em seu pescoço e ele tinha todo o seu tórax em cima dela. Tirou uma das mãos debaixo dela para se apoiar na cama e a olhou, assistindo aqueles olhos cor de mel se abrindo e o encarando.

Estava confuso. Muito confuso. Beijara sua amiga, gostara do beijo. E queria repetí-lo novamente. Sem contar que estava se sentindo um tremendo de um traidor agora.

- Mione... - murmurou, sem saber o que dizer. - Eu... Acho... O que estamos fazendo? - despejou, com a voz ligeiramente rouca.


Hermione tirou uma de suas mãos do seu pescoço e contornou seus lábios com um dedo.

- Achei que estávamos nos beijando.

Harry sorriu, capturando o dedo em seus lábios e o mordendo de leve.

- Isso é loucura, não é? - murmurou baixinho.

Como ela demorou a lhe responder, ele ergueu os olhos para encará-la. Estava pensativa, mas ainda sim o olhava.

- É...

Harry baixou os olhos novamente, acenando a cabeça e já estava quase saindo dali, um vazio imenso no coração, quando ouviu:

- Mas eu aprendi a gostar de loucuras. Elas sempre nos fazem um certo bem.

Voltou a encará-la, intrigado.

- Fica aqui?

Sim, ele ficaria. Sorriu, enquanto se deitava ao seu lado e a acolhia em seus braços

"Sim", pensou, quando ela deitou sua cabeça em seu ombro e sua respiração pareceu se tranquilizar. "Era uma loucura. A forma com que sobrevivera de Voldemort quando ainda era um bebê, a forma como descobriu ser um bruxo quando já não restava mais esperanças, as horcruxes de Voldemort, o beijo com Mione... Tudo era uma loucura. E essa, foi a melhor loucura que ele gostou de conhecer e a única que, sem dúvida, ele repetiria... de muito bom grado."

♥___________________♥

FIm

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