Cicatrizes Ficarão



N/A: Achei impossível de cobrir RdM em 3-4 capítulos já que tinha tanta coisa que eu queria incluir. Esse capítulo nos leva para logo depois do Natal. O próximo capítulo nos levará para logo antes da Batalha Final.
Fãs de Neville/Luna provavelmente gostarão desse capítulo. Assim como os fãs de Lílian/Tiago.
Amo o rumo que essa história está tomando e, se a fizer da maneira correta, você também amará. Mas ao invés de torcer por isso, o que me diz de eu prosseguir com a história? Deixe-me tomar uma meia-hora do seu tempo, talvez uma review se você estiver afim, e eu lhe apresento o 15º capítulo de “Nas Palavras de Gina Molly Potter”.



Capítulo 15: Cicatrizes Ficarão



Perto do fim de Outubro, encontrei-me constantemente olhando por cima do meu ombro. Se eu pisava fora da linha, alguém estaria assistindo e saberia. Algumas semanas mais tarde, faríamos uma regra no grupo de nunca sair andando sozinho para lugar algum.

Debaixo da minha capa, estive ouvindo conversas pelo colégio. Muitos estudantes estavam perdendo a esperança e tinham começado a duvidar que Harry retornaria. Muitos estavam começando a cair no ensino anti-Trouxa.

Com o poder da invisibilidade, tinha resumido minha missão a descobrir o que uma horcruxe era embora, ao contrário da Espada, eu não tenha caído em obsessão. O desejo de saber tinha voltado a ser uma saudável curiosidade que eu comparava às pesquisas do Trio em relação ao Nicolau Flamel em seu primeiro ano de colégio.

Ouvia as conversas dos Carrows sempre que possível, mas me negava a me aproximar de Snape, por medo que ele fosse me sentir com sua Legilimência. Queria falar com Dumbledore novamente, mas sabia que era muito perigoso. Até mesmo minha pesquisa na biblioteca, na Sessão Restrita, foi tão infrutífera quanto eu esperava. Se Hermione não tivera resultado algum lá, duvidava que eu teria.

Enquanto eu continuava pesquisar sem resultado, acreditava cada vez mais que não encontraria nada até que a guerra acabasse e Harry voltasse para mim.

Não havia novidade nenhuma sobre o paradeiro de Harry e estávamos há menos de uma semana do Dia das Bruxas. Faria dezesseis anos desde o dia que Voldemort fora derrotado por um Harry tão criança que ainda engatinhava. Será que Harry tinha visitado Godric’s Hollow? Ele já teria depositado seu amor sobre o túmulo de seus pais?

Voltando da biblioteca na noite final da minha pesquisa formal, repentinamente senti o castelo esfriar. Reconheci aquela onda de frio. Os dementadores devem ter tido a entrada permitida mais cedo naquela noite. Saquei minha varinha e me preparei.

No outro fim do corredor, Jimmy Peakes e Richie Coote estavam correndo na minha direção. Notei que cada um carregava uma vassoura e um bastão de batedor enquanto passavam por mim, ofegantes. Pelo jeito que eles estavam, os dementadores tinham entrado no corredor. Vi um borrão prateado por trás da criatura desalmada trazendo de volta o calor ao meu coração e corri atrás dos meus companheiros grifinórios.

Estava curiosa para saber o que eles estavam fazendo e sabia que se os dementadores os tivessem pegado, não conseguiriam se defender. Alcancei-os no sétimo andar, berrando um com o outro, “Precisamos esconder essas coisas!”

A Sala Precisa respondeu aos seus pedidos e produziu sua porta. Ele esgueiraram-se para dentro e quando alcancei a entrada, minha capa caiu. Parei, virei-me e deparei com um dementador alguns metros de distância.

Congelei, incapaz de erguer minha varinha, e ouvi a voz de Tom Riddle em minha cabeça. Desabando no chão, senti o material da capa da criatura roçar contra a minha nuca. Erguendo os olhos febrilmente, vi o reflexo prateado de um Patrono no formato de uma corça e senti-me sendo puxada da cena.


- Parte II -


“Gina!”, Coote chamou, “Você está bem?”

“Tudo bem...”, murmurei. Segurei minha cabeça em minhas mãos, desejando um pedaço de chocolate para suavizar os efeitos dos dementadores, perguntando-me qual dos membros da A.D. tinha mudado a forma de seu Patrono para a de uma corça.

“Obrigado por nos salvar”, Peakes disse.

“Eu?”, sacudi a cabeça, “Não conjurei esse. Meu Patrono é um cavalo. Não sei quem nos salvou, mas não fui eu”

Foi então que percebi o que a Sala tinha se tornado. Era uma catedral larga com milhares de metros de sujeira, a maioria sendo poeira e teias de aranha do tempo que ali estavam. Se Hogwarts tinha um porão para guardar coisas inúteis, aquele deveria ser o local.

“Então, qual a história de vocês?”, perguntei a eles.

Peakes e Coote se entreolharam e sorriram.

“Você sabe como o Quadriboll foi banido?”, Peakes disse, “O Coote aqui e eu estávamos nos coçando para pegar em uma vassoura há semanas. Acabou que não fomos os únicos”

“Demelza, Summerby e Fawcett”, Coote continuou, “Nós cinco saímos para o campo hoje à noite para um joguinho”

“E não me convidaram?”, perguntei, provocando.

“Concluímos que você já tinha muito com o que se preocupar”, Peakes replicou, “Além do mais...”, ele passou uma mão pelos cabelos e seus olhos se arregalaram, “... não estávamos jogando por mais do que dez minutos quando os dementadores atacaram. Fugimos”

“O Patrono nos salvou”, Coote falou, “Depois que a encontramos, presumi que você tinha alguma coisa a ver com isso”

“Sinto muito, garotos”, respondi, dando de ombros. Saquei minha varinha do meu bolso e murmurei o feitiço. Um alazão prateado emergiu da ponta e saiu galopando em volta do quarto, “Adoraria assumir o crédito, mas não posso”

Os garotos encararam, pensativos, o alazão que batia com os cascos no chão. Depois de alguns segundos, a criatura prateada dissolveu-se em partículas de neblina cinza.

“Queremos entrar”, Coote sussurrou, puxando sua varinha das suas vestes de quadriboll e olhando a madeira na esperança de fazer algo grande, “Queremos ser soldados”

Olhei de Coote para Peakes, que assentiu, concordando. Caminhei lentamente em direção a um armário que tinha vários livros sujos empilhados em cima. Uma marca de mão estava se destacando da cena. “Têm certeza que querem se envolver?”, perguntei.

Um pedaço de papel estava preso entre dois livros. A parte que estava aparecendo as palavras ‘Querida Lílian’. Franzindo o cenho, puxei o papel de sua prisão.

“Você nos ouviu, Gina?”, Peakes me chamou. Voltei os olhos para os garotos e Peakes continuou, “Sabemos que é perigoso. Não nos importamos. Queremos ajudar”

“Vamos nos encontrar aqui amanhã à noite”, respondi, distraída pelo antigo pedaço de pergaminho em minhas mãos. Olhei para o fim da carta, mas não estava assinada.

Quando checamos o corredor para ver se estava seguro, conjurei meu Patrono para nos guiar de volta para a Torre. Não tinha nem sinal da misteriosa corsa prateada. Apressada, entrei no meu quarto, coloquei a velha carta no criado-mudo e alisei os amassados.

“Querida Lílian,
Você se nega a olhar para mim e se nega a falar comigo. Não sei o que mais fazer. Essa carta é minha última alternativa. Espero que leia isso. Espero que isso faça a diferença.
Você me entende mais do que qualquer pessoa já entendeu. Você tem que entender que sinto como se pertencesse a algo pela primeira vez em minha vida. Sinto que tenho um propósito. Sinto muito se algumas das coisas que faço são questionáveis, mas você não pode ao menos tentar, entender do meu ponto de vista?
Nunca quis que fosse assim. Nunca devia ter te chamado do que chamei e sei que essa cicatriz nunca vai desaparecer. Desse dia em diante, apaguei-a do meu vocabulário. Nunca mais, Lily, aquela palavra deplorável tocará esses lábios.
Estou perdido sem você. Sinto tanto a sua falta. Eu amo...”


E era isso. Não tinha mais carta. Analisei cada pedaço do pergaminho, mas só encontrei três letras na frente da carta: L.A.E. Nada mais estava escrito, nem mesmo um rabisco. Coloquei minha varinha sobre o pergaminho e ordenei que revelasse seus segredos, mas não tinha nenhum. Dobrando a carta novamente, guardei-a na gaveta do meu criado-mudo e encerrei o dia.

- Parte III -

Nós tivemos nossa primeira reunião oficial em semanas na noite seguinte. Os membros da AD receberam Peakes, Cootes, Summerby, Demelza e Sarah no nosso grupo. Nós o informamos sobre nossa organização e lhes demos seus galeões.

Às 19:30, fucei no rádio sem fio. Com meu nome como senha, fiquei encantada quando finalmente entrei em sintonia. Nos reunimos em volta do radio, ansiosamente aguardando pelas notícias.

“Gostaria de receber vocês para a primeira transmissão do Observatório Potter”, a voz de Lino disse, e falei para todos – apenas movendo os lábios, sem emtiri qualquer som – quem ele era, “Para começar, gostaria de agradecer dois bons amigos meus que devem permanecer anônimos. Sem suas idéias inovadoras e mentes criativas, nada disso seria possível. Sou River* e nossos correspondentes, por enquanto, serão Royal, Romulus e Raphael.

“Se você está nos escutando, você obviamente sabe o que estamos fazendo e como nos encontrar. Apreciaríamos se você nos passe para qualquer um que deseje ficar ciente dos fatos.

“Dito isso, temos um número de pessoas desaparecidas e mortes para reportar. A antiga professora de Estudos Trouxas, Charity Burbage, ainda não apareceu, depois de ter se aposentado. Seu marido pede que, se alguém tiver notícias sobre seu paradeiro, por favor, entrar em contato com ele. Também reportada como desaparecida está Hermione Granger e seus pais...”

Houve ofegos pela sala, mas os silenciei.

“... Olho-Tonto Moody”, Lino disse, já alcançando a lista dos falecidos, “Muitos Nascidos Trouxas e antigos alunos de Hogwarts foram encontrados assassinados no fim de semana. Transmitimos nossas condolências aos familiares e companheiros de casa de Justino Flinch-Fletchey, Megan Jones e Marcus Belby...”

Todos soltamos exclamações de raiva, mas os lufa-lufanos e corvinais no recinto se pronunciaram, entristecidos.

“Ouvintes, gostaria de um minuto de silêncio para honrar os perdidos e derrotados”

Abaixamos nossas cabeças e esperamos que o minuto passasse.

“Obrigado”, Lino disse, “Gostaria de apresentar Royal. Ele discutirá sobre a nova Ordem Bruxa que está sobre nós”

“Obrigado, River”, reconheci a voz de Kingsley, “Passou-se menos de três meses desde a troca de poder. Foi muito rápido. Embora tivéssemos antecipado a mudança, não mentirei que foi como um soco na moralidade por não conseguirmos evitá-la.

“Imediatamente, o novo ministro lançou o Ato de Registro dos Nascidos Trouxas. Isso não era nada além de um modo baixo e desprezível de aprisionar os Nascidos Trouxas. Saudamos aqueles que tem elaborando fugas e ajudando-os a se proteger.

“Falando em Nascidos Trouxas, gostaria de informar que todas as famílias que escaparam do Ministério no começo de Setembro já estão em segurança em outros países.

“Para a nova ordem, são os Puro Sangues em primeiro lugar. Para muitos outros, são os Bruxos em primeiro lugar. Para mim, devem ser todos os humanos em primeiro lugar, mas gostaria de ir além e pedir a todos que sejam amigáveis e proteger todas as criaturas mágicas. É imperativo que tenhamos toda a ajuda que pudermos.

“Falando nisso, está confirmado que Gringotes não está mais sob controle dos duendes. Várias das criaturas, incluindo os conhecidos e respeitados Griphook e Garnuk, lutaram e agora estão foragidos. Isso prova que a guerra não é mais uma simples guerra bruxa.”

“Nunca disse nada tão verdadeiro, Royal”, Lino disse, “Ainda quererá a posição de Ministro quando tudo isso acabar?”

“Um passo de cada vez, River”

“Agora passamos para Romulus para a nossa seção ‘Amigos do Potter’”, Lino disse.

“Obrigado, River”, a voz de Lupin disse, “Harry Potter continua longe dos nossos olhos, mas não de nossas mentes. Desde sua suposta invasão ao Ministério, não há qualquer informação sobre seu paradeiro. Sinto que nenhuma novidade é uma boa novidade nesse momento. Estou convencido de que o Garoto-Que-Sobreviveu está realmente vivo e se esforçando para nos ajudar”

“Esse é o professor Lupin?”, Lilá sussurrou. Aquiesci.

“Apesar do Profeta Diário ter sido claramente corrompido, ainda há sinais da verdade. Surpreendentemente, tais sinais tem vindo de Xenófilo Lovegood, editor do Pasquim...”

“Ah, que bom”, Luna disse, “Estamos conseguindo publicidade!”

“... uma publicação completamente de Apoio-Ao-Harry-Potter”

“Quanto tempo eles permitirão que tal publicação continue?”, Lino perguntou a Lupin.

“Não sei, River”, Lupin admitiu, “Só posso imaginar que não será por muito, mas mostrarei tanto apoio quanto eu puder ao homem. Minha cópia está no correio”

“E quanto aos nossos amigos mais novos em Hogwarts?”, Lino perguntou.

“Um grande número de alunos tem se unido e resistido aos Comensais da Morte no colégio...”

Várias exclamações animadas vieram do nosso grupo.

“... tentaram roubar a Espada de Grifinória do escritório de Severo Snape. Não foram sucedidos e, felizmente, não temos qualquer morte para reportar. Embora aplaudamos sua coragem, pedimos que não arrisquem mais as suas vidas de tais formas”

Neville sorriu.

“Obrigado, Romulus”, Lino disse, “Por favor, recebam um dos homens que fez isso possível, Raphael...”

“Valeu, River!”

Gargalhei e reconheci a voz do meu irmão, Jorge.

“Onde está Você-Sabe-Quem? O que ele está fazendo? Ele gosta do seu chá com uma colher de açúcar ou duas? Há muito pouco a se dizer sobre o Comensal da Morte Chefe, porque ele permaneceu nas sombras. Muitos rumores estão circulando e um deles é que ele pode voar. Infelizmente, esse é verdade.

“E se você não sabe, então você provavelmente nunca chamou Você-Sabe-Quem pelo seu nome propriamente. Seu nome está enfeitiçado, tornado taboo, então, a menos que você queira alertar todo Comensal da Morte e Caçador de Recompensa em cem milhas de proximidade, sugerimos que continue chamando-o de Você-Sabe-Quem”

“Ouvintes”, Lino disse, “Isso nos trás ao fim de nossa primeira transmissão. Alguém tem mais alguma coisa a acrescentar?”

Jorge se pronunciou, “Vermelhinha sente saudades de seu Sapinho de Olhos Verdes”

Sorri. “Valeu, Jorge”, pensei. Luna segurou minha mão, carinhosamente.

“Tenho certeza que ela sente”, Lino concordou, “Devemos entrar no ar na mesma hora, semana que vem. A senha será Dumbledore. Mantenham-se a salvo: mantenham a fé. Boa noite”

O som de estática assumiu e desliguei o rádio sem fio.


- Parte IV -


“Foi brilhante”, Coote disse, levantando-se, jogando seu galeão recém-adquirido no ar, “É legal ouvir a verdade para variar”

“Vocês não sabem como é”, Demelza disse, olhando para nós, membros originais da AD, “Ficam próximos uns dos outros, e estão certos em fazê-lo, porque não se pode ter certeza em quem confiar, então vocês não sabem como realmente é”

“O que você quer dizer?”, perguntou Simas.

“Eles estão fazendo lavagem cerebral na gente”, Summerby respondeu, “Vocês estiveram nas aulas. Qualquer um com dúvida em relação aos seus princípios está sendo manipulado com facilidade”

“Os Carrows e Snape podem ser odiados por sua crueldade, mas isso não impede os alunos de pensarem que algo do que eles ensinam faz sentido”, Sarah disse.

Neville se levantou e andou pela sala por alguns segundos. Ele parou, olhando para cada um de nós, implorando silenciosamente, “O que podemos fazer?”, perguntou.

“Podemos ser sinais da verdade”, Terêncio replicou, ecoando as palavras de Lupin, “Nos levantar e clamar, em alto e bom som, o que está acontecendo e o que sabemos”

“E então morremos?”, Miguel completou, em voz alta, “E então não podemos ajudar mais ninguém”

“Poderíamos começar nosso próprio jornal ilícito”, Parvati sugeriu, “Poderíamos repassar o que O Pasquim está reportando”

“Sinal da verdade”, Neville murmurou, considerando as opções. Franziu o cenho, olhou para Luna e sorriu, “Como o seu pai entrega as revistas?”

Luna pareceu maravilhada, “Corujas, é claro. Nós temos dezenas delas no nosso jardim. Eu até mesmo dei nome para cada uma, menos a mais nova. Papai deu a ele o nome de Oghma”

“Você acha que ele gostaria de mandar centenas de cópias para o colégio?”, Neville perguntou.

“Não acho que Oghma decida tais coisas, mas suponho que poderíamos perguntar”, Luna respondeu, coçando o queixo, “Embora eu não ache que ele fale, tampouco”

Eu ri e várias pessoas parecem desconfortáveis, não sabendo como se portar com Luna.

Neville não pôde evitar sorrir também, “Não a coruja, seu pai”

Luna pareceu radiante, “Ele ficaria satisfeitíssimo. Mandarei uma mensagem com meu Patrono”

“Você pode fazer isso?”, perguntei, surpresa.

“Sim”, ela respondeu, seus olhos brilhando enquanto ela conjurava sua lebre prateada em direção à porta e assistia-a pular janela afora, “Tenho praticado”


- Parte V -


Na manhã seguinte, Xenófilo entregou-as ele mesmo. Quando o correio da manhã veio, dezenas de corujas invadiram o Salão Principal, soltando cópia por cópia do O Pasquim nos colos dos alunos. Muitos de nós temíamos que tantos pássaros acabassem deixando uma tremenda confusão para trás.

Peguei uma e sorri para a capa. O rosto de Harry, com seus óculos reconhecíveis e a eminente cicatriz, me encarava. O título era “Apóie Harry Potter” em letras grandes, brilhantes e verdes. Ergui-a e mostrei para Luna, que estava bebericando o suco de abóbora e parecia satisfeita consigo mesma.

Os Carrows tentaram, em vão, confiscar todas as cópias da publicação, mas as aulas começaram. Um bom número de alunos perderam suas cópias, mas a maioria saiu do café da manhã com a sua ainda intacta e escondida.

Snape, seguindo mais uma das medidas de Umbridge, baniu O Pasquim do colégio. Nem era necessário dizer que as pessoas estavam lendo a verdade e nós, os membros da AD, fomos culpados por isso, mas já que nenhuma prova foi levantada, a punição foi menos severa. Snape retirou do resto dos membros da AD a permissão para ir para Hogsmeade.

“Gina, não quero mais ouvir isso”, Neville disse, depois que questionei uma vez mais os motivos de Snape.

“Mas você não acha que é estranho?”, perguntei.

“Já falamos sobre isso”, Neville disse. Ele parecia irritado até Luna colocar sua mão no ombro dele, pelas costas, massageando os músculos tensos. Neville se acalmou.

“Acho uma idéia fascinante”, Luna disse, os olhos brilhando, “Aposto que Papai escreverá uma história sobre isso”

“Valeu, Luna”, falei, evitando o olhar satisfeito de Neville. Eu tinha notado a atração entre meus dois amigos, mas nenhum deles parecia estar fazendo avanços significativos. Talvez fossem como Rony e Hermione? Afastando o meu desejo pelos braços fortes de Harry, falei ‘boa noite’ para eles.

Angerona tinha me implorado para começar a ensiná-la a como se defender e eu estava convencida de que fazê-lo era a única maneira que eu tinha de ajudá-la. Nós nos esgueiraríamos para a Sala Precisa uma vez por semana onde eu a ensinaria os feitiços que Harry me ensinou e também algumas das minhas especialidades. Ele adorava, particularmente, o Feitiço do Bicho-Papão.

Dois dias antes do Dia das Bruxas, nós estávamos praticando pela segunda vez. Ela estava tendo muita dificuldade para me desarmar e ela se recusava a deixar que eu pegasse leve com ela. Ela jogou a varinha no chão e se amuou no canto da sala.

“Não consigo fazer”, ela falou.

“Ang, é só o segundo dia que estou te ensinando e só o seu segundo mês no colégio”, disse, tentando confortá-la.

“Eu não aprendo nada útil aqui”, retrucou, “Aleto está nos ensinando como controlar um ao outro. Amico nos dividiu baseando-se em quanto sangue bruxo nós temos. Quero ir para casa...”

“Eu também”, falei, “Mas um amigo meu me disse que meu lugar é aqui, no meio dos estudantes e do mal que controla esse colégio. Você poderia ser um feixe de esperança para alguns de seus companheiros esse ano”

“Eles não me escutarão”, respondeu, “Fiz dois amigos. Você...”, sorriu para mim, “... e Simon. Ele é da Corvinal”, seus olhos se desviaram um pouco quando ela disse o nome dele e desconfiei que uma pequena paixonite estava crescendo.

“Há um pouco de amor no ar?”, perguntei, beliscando de leve seu ombro, brincando.

“Não”, ela disse, ficando vermelha, “Somos só amigos...”

Dei de ombros, “Dê alguns anos, Ang. Vocês estarão babando um pelo o outro...”

Como se combinado, mais duas pessoas entraram na sala. Com um movimento rápido, eu tinha minha varinha apontada na direção da porta apenas para encontrar com o rosto maravilhoso de Miguel Córner e ninguém menos do que o pequeno Simon entrando.

Miguel era tão atraente quanto eu me lembrava, mas quando o vi dessa vez, não senti qualquer atração ou o que fosse. Ele era apenas um colírio para os olhos, algo legal de se olhar, mas nada que valesse tocar. Ele me cumprimentou com aquele sorriso que costumava derreter meu coração. “O primeiro garoto que falou que me amava”, pensei.

Simon parecia animado em ver Angerona. Seu longo cabelo preto passava dos ombros e imaginei que em poucos anos, ele seria tão maravilhoso quanto seu mentor; seria o centro da atenção de muitas garotas. Na verdade, a julgar pelo quão vermelha Angerona ficou quando ele entrou, eu diria que ele já era o de uma.

“Ouvi dizer que você está ensinando à ela alguma magia defensiva”, Miguel disse, gesticulando para Angerona, “Pensei que deveria começar a fazer o mesmo com Simon. Estávamos com esperança de encontrar vocês duas aqui”

Simon e Angerona caminharam juntos para o outro lado da sala, em direção às cadeiras. Sentaram-se e começaram a conversar em voz baixa. Voltei a atenção para Miguel e senti o constrangimento tomar conta da situação.

“Só para constar”, Miguel começou, sem hesitação, mantendo contato visual, “Entendo agora. Eu sei que demorou dois anos para dizer isso, mas entendo porque você estava brava comigo. Sinto muito. Sei que é tarde demais”

Aquela era a última coisa que esperava conversar com ele sobre, “Miguel, há coisas maiores com o que se preocupar agora. Não estou brava com você. Se redima ao continuar com o que está fazendo”

“Cho e eu terminamos”, Miguel falou, “Nós dois decidimos que estávamos muitos ligados a fatos dos nossos passados”, ele me encarou, curiosamente.

Senti-me desconfortável e supus quais fatos dos passados deveriam ser estes, “Estou esperando pelo Harry”, falei, suavemente. Olhei para Angerona e ela sorriu para mim. Gesticulei para que ela me seguisse e ela se despediu de Simon. Olhei de volta para Miguel.

“Vamos encerrar por hoje. Se divirtam praticando”

“Simon acha que você é muito bonita”, Angerona disse quando deixamos a sala debaixo da minha capa, “Acho que ele gosta de você”

“Desculpe, Ang”, falei, seguindo meu patrono de volta para a torre.

“Tudo bem”, ela disse, “Falei que você é muito velha para ele. E depois falei que você é apaixonada pelo Harry Potter. Ele falou que eu era louca e que ele não gosta de você”

Sorri, lembrando como eu tinha agido, a princípio, quando vi Harry. Neguei por uns bons dois anos, “E qual é essa do cabelo longo?”, perguntei. Lembrava-me de Carlinhos antes de Mamãe obriga-lo a cortar tudo antes do casamento.

“Tradição de família”, ela respondeu, “Eles acham que o mais longo o cabelo deles é, maior o controle deles sobre a mágica. Simon não acredita nisso. Ele o faz só para honrar a família. Eu gosto. Acho que ele parece muito bonito...”, se pudesse ver seu rosto, sabia que estaria vermelho.


- Parte VI -


Na noite do Dia das Bruxas, Miguel entrou no Salão Principal. Era uma hora antes do banquete e Neville, Luna e eu estávamos apreciando a companhia um dos outros. Miguel parecia frenético.

“Eles o pegaram”, falou.

“Do que você está falando?”, Neville perguntou.

“Simon”, Miguel disse. Ele explicou como Simon havia sido pego com uma cópia do Pasquim que ele tinha dado ao primeiro-anista, “Aleto o levou para as masmorras. Vai deixa-lo lá por dois dias... sem comida... sem luz...”

“Confinamento solitário”, engoli em seco. Draco tinha mencionado sobre isso mais cedo naquela semana, sobre como os Carrows estavam tentando esse novo método de punição.

“Vou libertá-lo”, Miguel disse, friamente. Seus olhos brilhavam com raiva e seu queixo tremia. Ele estava tremendo; seu punho estava cerrado. Ele parecia estressado, o que era bem diferente de como ele normalmente era.

“Nós o ajudaremos”, Luna disse.

“Não”, Miguel rebateu, “Se todos nós não aparecermos no banquete, vão notar mais rápido. Uma pessoa em falta não será notada tão facilmente. Vou sozinho”

“Não”, Neville falou.

“Quem te fez o líder?”, Miguel berrou, seus olhos cintilantes, “Não foi uma questão, Longbottom. Simon está lá embaixo por minha culpa. Não estou arriscando o bem estar de mais ninguém agora”

“O que está tentando provar?”, perguntei.

Miguel respirou fundo, “Talvez a mesma coisa que você estava tentando provar quando roubou a espada”, falou, “Se tentar me seguir, vou azarar você”, apontou sua varinha para todos nós.

Neville suspirou, dando de ombros, derrotado, “Quero ajudar, mas se você não aceitará, confio em você. Prometa, pelo menos, que pode dar conta disso sozinho”

Miguel não hesitou, “Prometo”

Horas mais tarde, depois do banquete, Luna e Padma encontraram Miguel no alto da escada em espiral da Corvinal, ensangüentado e espancado, próximo da morte. Levaram-no para a Madame Pomfrey.

Na manhã seguinte, visitei Miguel junto com Angerona. Seu rosto estava preto e azul, seu braço estava numa tipóia, e vários abrasões estava lentamente sendo curadas, por todo o seu corpo.

Angerona enrijeceu contra o meu corpo quando entramos. Não queria que ela o visse, mas ela insistira, dizendo que queria visitar o homem que salvara o seu Simon. Esperei por lágrimas, mas a garota era forte.

Miguel moveu-se um pouco quando nos ouviu entrar. Ele, lentamente, abriu seus olhos e nos cumprimentou com um sorriso difícil. Através do sorriso, sabia que ele estava passando por muita dor, “Olá, garotas”, ele disse, fracamente, “Acho que eu poderia ter usado a ajuda”

“Neville acha que não vai demorar muito para que eles não permitam que Madame Pomfrey cure nossos ferimentos”, falei, baixinho, achando um banco e sentando-me próxima à cabeça de Miguel. Angerona empurrou um banco e sentou-se perto de mim.

“Isso faz sentido”, Miguel sussurrou, “Por que fazer todos os feitiços e torturas, se vamos simplesmente nos curar?”, grunhiu, enquanto se re-posicionava, “Parece que teremos que roubar suprimentos médicos. O Ernesto não está estudando para ser um curandeiro?”

Aquiesci.

“Aposto que quer saber como Simon está”, Miguel disse, gesticulando para Angerona. Ela aquiesceu, ansiosa, “Ele estava bem, quando entrei lá, disse que eu era um idiota por ir atrás dele, que ele poderia agüentar dois dias no escuro”

Angerona sorriu num misto de assombro e tristeza, “Eles o machucaram?”, perguntou, enfiando a mão no bolso e agarrando a varinha.

Miguel sacudiu a cabeça da maneira mais lenta possível, “Não”, respondeu, “Eles não o machucaram... mas...”

“O quê?”, Angerona questionou.

“Eles rasparam-no...”, Miguel respondeu, “Realmente feriram seu orgulho... o garoto disse que não se importaria em ser torturado... juro, ele devia ter sido sorteado para a Grifinória”

Revirei os olhos, “Miguel, concordamos como um grupo que não podemos esperar que mais ninguém faça o que você fez”, falei.

“Você não me perguntou”, Miguel sussurrou.

“Eu sei”, falei, “Sendo como for, Sarah e Demelza já devolveram seus galeões. Depois da espada e do conluio com as revistas, eles não vão mais nos deixar escapar fácil. Você...”, gesticulei para seu corpo, “é uma prova disso”

Miguel fechou os olhos e assentiu, apreensivo, como se todo o seu corpo estivesse em chamas, “Preciso dormir”, disse.


- Parte VII -


Novembro foi relativamente silencioso, em relação às nossas rebeliões. No momento, não tínhamos qualquer meta a atingir e os Comensais da Morte não tinham punições para mandar. Trabalhamos silenciosamente, tentando conversar casualmente com estudantes para descobrir o geral consenso.

Sentei-me ao lado de Luna na aula de Poções. Nós duas tínhamos recebido um ‘Excede Expectativas’ nos exames N.O.M.s de poção no ano letivo anterior. Não podíamos conversar abertamente, pois todas nossas aulas tinham, ao menos, um sonserino, ao invés disso, conversávamos sobre a revista de seu pai.

Professor Slughorn entrou e me cumprimentou com um tapinha no ombro. “Excelente redação, senhorita Weasley, sobre Amortentia. Não poderia pedir por uma melhor”, falou, “Você tem mostrado um verdadeiro talento para poções. Parece que Harry o passou para você”

Movi-me, desconfortável, no assento. Harry não tinha trabalhado exatamente sozinho quando se tratava de habilidades em fazer poções. O Príncipe Mestiço, também conhecido como nosso Diretor, tinha ajudado-o. Simplesmente aquiesci, concordando.

“Quando eu era um professor de tempo integral, no meu tempo, eu entregava prêmios de talento”, Slughorn disse, enrolando o bigode com seus dedos, “Perto do fim de minha carreira, fui forçado a parar. Algo sobre favoritismo... não sei sobre o que eles falavam”

Ele ergueu um dedo e caminhou em direção à sua mesa. Fuçou em várias gavetas e puxou um livro empoeirado. Ele colocou o livro na minha frente e abriu numa página. Uma versão mais nova da minha mãe olhou para mim, “Molly era especialmente dotada, quando se tratava de poções. Maiores altas no seu quinto ano”, falou, sorrindo, “Na verdade, sua mãe foi também uma dueladora e tanto em seu tempo”

“Sério?”, perguntei, surpresa. Nunca vi minha mãe como uma lutadora. Ela sempre ficava em casa durante as missões perigosas e aguardava, preocupando-se com sua família. Não conseguia imaginar minha mãe conjurando feitiços de defesa ou ataque.

Folheando o livro, parei nas páginas finais. Na última página usada, vi o lindo rosto de Lílian Evans me encarando. Ao lado dela estava parado um jovem de cabelos sebosos, nariz no formato de gancho. Se eu não conhecesse a situação, juraria que era Snape.

“Severo e Lílian, sim”, Slughorn respondeu, “Sempre os melhores da turma. Tiveram a mesma nota no terceiro ano”, apontou para a foto, “Acho que ele ensinou a ela tudo o que ela sabia... é uma pena...”, interrompeu-se, o olhar enviesado.

“Parece que eram amigos”, Luna disse, olhando para a foto por cima do meu braço.

Slughorn recompôs-se e pigarreou. Suas mãos gorduchas fecharam o livro e o pegaram, mas deixou-o cair. Caindo na mesa com um estrondo, várias fotos se soltaram. Luna e eu juntamos-nas e as entregamos para o professor.

“Obrigado, garotas”, ele disse, “Eu... eu preciso atualizar o feitiço colante do livro... sim...”

Ele guardou o livro de fotos dentro da gaveta e apontou a varinha para a lousa. As instruções para a poção do dia estavam na lousa e estaríamos fazendo Proptermortis, “Essa é a tarefa de hoje”, Slughorn disse, sua expressão preocupada.

“Professor”, Luna disse, “Essa não é a poção altamente perigosa?”

O rosto de Slughorn corou e ele retrucou, “O quê? Oh... sim... suponho que sim”, sentou-se à mesa e começou a mexer nos papéis que estavam lá depositados.

“Por que estamos fazendo uma poção tão perigosa?”, Luna perguntou.

Slughorn fingiu não ouvi-la e quando ela perguntou de novo, ele ergueu os olhos de sua falsa ocupação, “Senhorita Lovegood, você não deveria estar preocupada com o porquê de estarem fazendo isso. Vale nota...”

“Proptermortis faz com que as pessoas fiquem perto da morte, mas não morram. A morte seria preferível para muitos”, Luna disse.

Eu teria revirado os olhos, mas sabia que Luna estava dando voz a um fato. Quando era algo baseado mais em fantasia, ela normalmente diria que seu pai o havia dito.

Eles pediram que você o fizesse”, Luna falou, referindo-se aos Carrows, “Por que os está ouvindo?”

A expressão de Slughorn indicava que ela estava certa.

Ele se levantou e aproximou-se dela, de modo que ninguém mais poderia ouvir, a não ser eu, “Agora veja bem, senhorita Lovegood”, sussurrou, a voz trêmula, “Tenho um trabalho a fazer. Não tenho tempo para me ocupar com tais coisas...”

“Como fazer o que é certo?”, perguntei.

“Você não entenderia”, Slughorn retrucou.

“Fizemos nossas escolhas”, falei, confiante, indicando Luna e eu, “Sabemos de que lado nossa lealdade está. E quanto a você?”

Slughorn relutou em responder, “Não é tão fácil, jovem”, falou. Abriu meu livro texto na página apropriada na qual estava a poção, “Por favor, parem de falar comigo e façam o seu dever”

Luna e eu, ambas, sacudimos nossas cabeças.

“Com todo o respeito, professor”, falei, “Você pode nos reprovar nessa atividade e manter seus ingredientes. Se me forçar a fazer a poção, sabotarei a minha”

“Ah!”, Luna disse, aquiescendo, “Poderia nos mandar para a detenção. Não tenho estado lá há algumas semanas, embora eu não goste muito de lá”

Slughorn não nos mandou para a detenção e não nos forçou a fazer a poção, “Muito bem”, murmurou, “Vocês reprovaram hoje. Poções defeituosas, certo?”

“Se quisesse fazer o que é certo, todas as poções feitas hoje seriam defeituosas”, falei.

Nossas palavras só pareceram preocupar ainda mais o homem. Ele voltou para a sua mesa e não falou mais nada até dispensar a sala, mais tarde. Um por um, meus colegas trouxeram seus frascos com o líquido negro e brilhante e os colocaram sobre a mesa do professor. Quando Luna e eu saímos, vi-o lançando um olhar cansado e derrotado às poções.


- Parte VIII -


Para a aula de Arte das Trevas, revisamos várias maldições horríveis e os membros da AD se recusaram a praticar qualquer uma delas. Em Novembro, chegamos à poção Imperius, que Aleto esperava que usássemos uns nos outros.

Nos negamos. Por questão de princípio, não tínhamos tocado no nossos livros de Arte das Trevas e, próximo do fim do ano letivo, a maioria dos membros da AD decidiram que Artes das Trevas era uma aula da qual não queriam mais fazer parte. Paramos de ir. Aleto mandou qualquer um que tivesse matado a aula para detenção.

Luna, Neville e eu estávamos acorrentados às nossas cadeiras, nas masmorras. Não daríamos a ninguém a satisfação de implorar. Podíamos torcer que um dos nossos fosse mandando para nos torturar, mas eles tinham desistido há muito de nos mandar lá embaixo fazê-lo. Simplesmente resultaria na libertação de quem quer que tenhamos sido mandados torturar.

O trio, composto por Crabbe, Goyle e Malfoy, entrou na sala. Malfoy caminhou até a parede e recostou-se, arrogante, contra ela. Crabbe e Goyle lamberam os lábios, ansiosos, como se o desejo de causar dor fosse grande demais. Ergueram suas varinhas e apontaram na nossa direção, divertindo-se ao apontá-la em turnos para mim, Neville, Luna, e depois começavam novamente.

Goyle sorriu de novo e, sem uma palavra, soltou as correntes que prendiam Neville, forçando-o a ficar de pé ao seu lado, “Você pode ir... se torturar a loirinha”

Neville negou com um aceno de cabeça, sem qualquer hesitação.

“Não é lunática o suficiente para você?”, Crabbe perguntou.

“Algumas horas com a gente e ela terá uma cama bem ao lado dos seus pais”, Goyle retrucou.

E antes que qualquer um pudesse rir, Neville se jogou sobre ambos, socando e chutando, “Se tocarem nela, mato vocês!”

Palavras de encorajamento saíam dos meus lábios e dos de Luna, mas a dupla era muito mais forte que o Neville. Eles o seguraram e o jogaram no chão. Goyle usou um feitiço de cortante que abriu sua bochecha, molhando de sangue o chão já sujo.

Desviei os olhos da horrível cena enquanto os garotos continuaram a socar e chutar. Encarei Draco, a fúria clara nos meus olhos, e mandada para ele pelos meus pensamentos. Como ele podia simplesmente ficar parado ali, assistindo?

Luna estava chorando, suas lágrimas transbordando dos olhos ininterruptamente, os rastros deixados para trás brilhando contra sua pele. Mantive meu olhar mortal para Draco, berrando, mentalmente, obscenidades que fariam Mamãe estremecer.

Neville perdeu a consciência, mas Crabbe continuou a torturá-lo. Crabbe parou e apontou sua varinha para mim, berrando, “Cruccio!”, senti a agonia pulsar pelo meu corpo e, depois de alguns minutos, apaguei.


- Parte IX -


Acordei pacificamente. O teto familiar da Ala Hospitalar me trouxe de volta à realidade. As memórias da noite anterior apareceram em minha mente, a tortura que Crabbe e Goyle tinham feito e Draco parado ali, assistindo. Pisquei, tentando bloquear a raiva que sentia dos sonserinos. Eu tinha poupado Draco da tortura uma vez. Ele não fora homem o suficiente para retribuir o favor.

“Obrigada por me defender, Neville”, a voz de Luna veio da minha direita. Da minha visão periférica, conseguia ver a corvinal sentada na beirada da cama de Neville, acariciando a pele machucada do nosso líder e passando remédio em seus ferimentos, “Descobri que prefiro as pessoas me defendendo. É bem mais satisfatório do que tê-las roubando minhas meias”

Ele aquiesceu, como devia.

“Você não precisava fazer aquilo”, Luna disse, “Porque você me salvou, sua bochecha...”, sua mão roçou na gaze em sua bochecha e ele estremeceu.

“Cicatrizes ficarão”, Neville murmurou, seus olhos brilhando, “Mas perder você não cicatrizaria nunca”

Senti-me embaraçada por estar deitada lá, ouvindo Neville revelar seus sentimentos, mas não podia interrompê-lo naquele momento. Fechei parcialmente meus olhos e observei pela fresta dos meus olhos.

“Você gosta bastante de mim”, Luna falou.

Neville não respondeu. Não era uma pergunta. A única coisa que realmente importava para ele era se ela sentia ou não o mesmo por ele. Mas ele não parecia envergonhado com a situação. Aquela era o novo Neville que eu tinha começado a admirar.

Luna sorriu ao silêncio dele, mas o seu olhar subiu na direção de uma dos enfeites de natal acima da cama de Neville: azevinho. Como chegou ali, eu não sei, mas eu tinha uma suspeita de que um certo poltergeist estivera por ali, enquanto estávamos dormindo.

“Azevinho”, ela disse.

“Você devia tirá-lo, Luna”, Neville disse, suavemente, “Não queremos que os narguilés nos ataquem enquanto estamos dormindo”

“Você é bobo”, brincando, ela deu um tapinha na perna de Neville, “Narguilés não podem lhe fazer nada quando está dormindo”, ela olhou de novo para o azevinho, “Você sabia que tem uma tradição natalina sobre beijar embaixo do azevinho? Harry e Cho o fizeram na Sala Precisa”

Senti minhas entranhas se revirando, mas impacientei-me comigo mesmo. “Você ganhou o coração dele, no fim...”, pensei.

“Ouvi dizer que beijar é muito legal”, Luna continuou em seu notório jeito inocente, “Pelo menos, a Gina gosta bastante”, seus olhos voltaram para o rosto de Neville, “Não acho que devemos quebrar as tradições. Pode nos trazer anos de azar”

Neville não ousou se mexer ou respirar, como se as palavras que estavam sendo faladas e os atos que poderiam segui-las tivessem uma ligação direta. Ele engoliu em seco, torcendo que ela parasse de falar e o livrasse dessa tortura em que ela o colocara sem o uso de varinha.

“Seria o seu primeiro beijo”, Luna falou, pensativa. Sem qualquer aviso, ela se inclinou, aproximando-se do rosto de Neville, “Tudo bem. É a minha primeira vez, também”

Ela eliminou a distância e desviei os olhos. Tinha apenas um tanto de xeretagem que eu considerava ética. Assistir meus amigos se beijarem não estava incluso nesse montante (e não brigue comigo por ver Harry e Cho trocando saliva. Eu estava em estado de choque e não podia me mexer).

“Pode parar de fingir que está dormindo agora”, Neville disse quando Luna saiu.

Sentei na cama e senti todos meus músculos doerem. Infelizmente, você nunca se acostuma com a dor da maldição Cruciatus. Com um sorriso provocador, voltei-me para ele e perguntei, “Você gosta dela faz muito tempo?”

Neville aquiesceu, “Você sabe o quão perceptiva ela é”, retrucou, “Passamos grande parte do nosso tempo juntos, ano passado, mas com a morte de Dumbledore e Você-Sabe-Quem assumindo o poder e nossa rebelião, parecia ter coisas mais importantes com o que me preocupar além de se ela retribuía meus sentimentos, ou não”

“Vocês, grifinórios, e sua nobreza”

Neville deu de ombros.

“Então, isso foi...?”, apontei para o azevinho e de volta para Neville, torcendo para que meus dois amigos mais próximos estivessem encontrado o amor no meio de tantos corações partidos.

“Não sei”

“Ela te beijou”

“Tinha um azevinho”

“Está me dizendo que deixou ela sair sem descobrir como ela se sentia?”

Dessa vez, Neville pareceu envergonhada e tímido, “Acho que sim”, falou, se endireitando. Ele franziu o cenho e pareceu se perder em pensamentos, “Eu... eu vou perguntar para ela no trem a caminho de casa, amanhã”


- Parte X -


Fui liberada da Ala Hospitalar naquela noite. Sentimentos misturados passavam pelo meu corpo. Eu estava animada que Luna e Neville poderiam se tornar um casal, mas me sentia solitária por isso, embora a maior emoção de todas seja uma de ódio em relação ao Malfoy.

A manhã que íamos partir para o feriado, encontrei-o sozinho no corredor. Antes que eu pensasse sobre isso, empurrei o sonserino contra a parede, meus olhos cheios de fúria.

“O que você acha que estava fazendo? Crabbe e Goyle poderiam ter matado Neville”

Draco me empurrou e passou as mãos nas partes em que eu o tinha agarrado. Com uma expressão convencida, disse, “Vamos deixar algo bem claro, Weasley. Nosso acordo não tem nada a ver comigo te defendendo ou aos seus amigos dos castigos”

“Você ficou sentado lá e deixou que tudo acontecesse, depois de eu ter me recusado a te torturar meses atrás”

“Essa foi uma prerrogativa sua”, Draco fungou, “Você queria conhecimento de mim. Em troca, disse que me ajudaria quando eu precisasse”, seus olhos se desviaram de mim, “Não gosto de você. Não gosto do Longbottom. Não gosto de muitas pessoas no momento. Mas farei o que for preciso para salvar minha família e a mim”

Bufei, “Pensei que, talvez, você tivesse mudado”

“Mudado?”, Draco gargalhou, “Em quê? Para o lado do bem?”, gargalhou mais alto dessa vez, “Se há algo válido que o Lorde das Trevas me ensinou, é que moralidade só é ditada por quem está no comando”

Eu não conseguia acreditar nos meus ouvidos. Ele realmente não se importava com quem ganhasse aquela guerra, contanto que os objetivos dele fossem atingidos? Ele tinha feito o acordo para se certificar de que ele e sua família estariam a salvo se Voldemort fosse derrotado?

“O que foi, Weasley? Re-pensando nosso acordinho?”, perguntou. Ele ergueu a mão e tocou uma mecha do meu cabelo que estava sobre meu rosto.

Me afastei, “Chegará o momento em que terá que escolher um lado, Weasley. Você não poderá ficar em cima do muro para sempre. Você quer vê-lo derrotado tanto quanto eu”

Seus lábios se curvaram perante a verdade da minha observação, “Então, pelo que, diabos, o Potter está esperando?”, sibilou. Voltou-se para sair, rapidamente.

Depois de alguns passos, ele parou e encolheu-se, e tirou algo do bolso. Eu esperei que fosse sua varinha, mas era algo enrolado na forma de um bastão. Voltou-se para mim e disse, como se cada palavra lhe ferisse, “Fique de olho nos seus amigos hoje”, jogou o objeto para mim.

Peguei-o. Desenrolando o papel, eu dei de cara com o Pasquim. A capa mostrava o rosto de Harry e o título “Apóie o Menino-Que-Sobreviveu”. Embora eu quisesse questionar mais Draco, ele já estava no fim do corredor e fui deixada sozinha para ponderar sobre sua estranha ação.


- Parte XII -


As palavras dele não fizeram sentido até depois do evento. Luna tinha ido ao banheiro logo depois que embarcamos, mas não voltou. Todos da AD buscaram pelos corredores, mas não achamos nem sinal da nossa amiga corvinal.

Saindo do trem, Neville e eu encontramos com Xenófilo. Ele estava parado, usando um casaco elaboradamente decorado. “Olá, crianças”, cumprimentou-nos, puxando os cordões do casaco, apertando-o, “Sempre trás sorte vestir...”

“Achamos que eles pegaram Luna”, Neville falou, cortando-o.

O rosto de Xenófilo tornou-se pálido e ele deixou cair os cordões, “Minha... minha Luna...”, murmurou, “Mas... eu disse a eles...”

“Você sabia que eles iam pegá-la?”, berrei.

“Eles disseram que a deixariam em paz, se eu cooperasse...”, sussurrou, Aparatando antes que pudéssemos falar qualquer coisa.

Neville soltou um mantra de xingamentos e maldições que eu nem sabia que ele era capaz de usar. Coloquei uma mão em seu ombro e falei para que não se preocupasse.

O feriado natalino não foi nada do que esperei. Eu estava esperando, desesperada, por uma folga de todos os problemas do colégio, não sair do trem e morrer de preocupação pela minha melhor amiga. Eu tinha até torcido, em segredo, para que o Trio estivesse em casa para o natal ou, pelo menos, parado seu busca para uma visitinha.

Imaginei acordar na manhã de natal só para encontrá-los sentados ao lado da árvore, sorrindo para mim, talvez com laços em suas cabeças, significando que eu tinha recebido o melhor presente que poderia receber.

Natal, para dizer o mínimo, foi triste. Fred e Jorge me trouxeram um kit para atualizar os feitiços da minha Capa. Fomos nós cinco, Mamãe, Papai, Fred, Jorge e eu. Billl e Fleur tinham decidido passar o natal em sua nova casa. (Se eu soubesse que eles estavam escondendo Rony por ter abandonado Harry e Hermione, teria visitado-os para dar um soco na cara dele, aquele idiota).

Um dia antes de eu voltar para o colégio, estava sentada sozinha na cozinha, revendo algumas anotações de transfigurações. Se tivesse me perguntado, teria clamado que estava entediada, mas a verdade era que eu precisava me distrair. Eu não tinha visto Harry, Rony ou Hermione por quase meio ano, o maior período de tempo que eu tinha ficado sem ver qualquer um deles, e já que era tempo de feriado, sentia-me particularmente solitária.

O rádio no canto estava baixinho, tocando alguma música, mas eu não estava ouvindo-o. Ao invés, ouvi meus pais descendo as escadas.

“Molly, é apenas questão de tempo”, Papai falou, antes que eu o visse, “Agora, estamos seguros, mas não sei por quanto tempo eles nos ignorarão. Você sabe que somos traidores de sangue”

“Sei, Arthur”, ela falou, suavemente, “Mas essa é a nossa casa... e pobre Roniquinho... Não saberá onde estamos. Ah, eu gostaria tanto que ele nos mandasse uma mensagem...”

Eles entraram na cozinha e olharam para mim. Papai sorriu suavemente e tocou meu ombro. Deu um beijo de despedida em Mamãe, saiu da casa e, com um estalo, Aparatou.


- Parte XIII -


“Sinto muito que você tenha que ouvir aquilo”, Mamãe disse, sentando-se de frente para mim e segurando uma de minhas mãos nas suas, “Não desejo que vocês, crianças, tenham que carregar tais fardos”

“É tarde demais para isso, Mãe”, retruquei, usando minha mão livre para fechar o livro de Transfiguração, “Nenhum de nós está realmente seguro, não é?”

“Estaria, se não andasse por Hogwarts aprontando”, rebateu, me lançando aquele olhar notório, “Não quero vê-la machucada”

Estou feliz que os gêmeos tenham feito bem a parte deles em amenizar os meus problemas. Ousei não contar a ela o quão ruim realmente era. Ela não me deixaria voltar, e eu precisava fazê-lo. Era o único lugar onde eu poderia fazer a diferença.

“Sabe, Mãe”, falei, tentando mudar de assunto, “Professor Slughorn mencionou que você costumava ser uma dueladora e tanto”

Ela se endireitou, tentando esconder seu orgulho, “Sim, sua mãe não é só boa por fazer comidas muito apetitosas”, deu um sorriso tímido, “Mas ter sete filhos não envolve tantos duelos”

“Mãe, você criou Fred e Jorge”

Mamãe riu, “Sim, criei”

O rádio estalou. Embora precisássemos de um novo, ainda ouvia através da estática, “... não houve mais nenhuma novidade em relação à prisão de Harry Potter. Se alguém tem qualquer informação sobre o seu paradeiro, apresse-se em entrar em contato com o Ministério...”

“Estou orgulhosa de você, Gina”, ela disse, quando a estática tomou o controle e eu parecia levemente preocupada, “Não existem muitas garotas da sua idade que esperariam todo esse tempo por alguém. Harry é um homem de sorte. Eu, pessoalmente, mal posso esperar para vê-la usando a tiara da Tia Muriel”

Olhei-a, surpresa, perplexa perante o que ela sugeria, “Você sabe que você acabou de dar uma indireta dizendo que aprova que Harry e eu nos casemos”, aproximei-me e sussurrei, “Quem é você e o que fez com a minha mãe?”

“Quem mãe não aprovaria sua filha se casando com Harry Potter?”, perguntou, “Ele se provou mais do que digno. Claro, vocês têm que esperar até que você tenha saído do colégio”

Eu não podia pensa em tais coisas. Tudo com o que eu podia me preocupar, então, era em Harry voltando para nós em segurança. Primeiro, ele ia ganhar a guerra, depois voltaríamos e, depois, nos preocuparíamos com casamento. Suspirei, “É difícil, Mãe. Ele queria que eu ficasse em segurança, mas não estou”

Mamãe concordou, “Sei que Tiago nunca teve a oportunidade de criar Harry, mas se eu não o conhecesse bem, diria que ele o fez”

“O que quer dizer?”

Ela inclinou-se sobre a mesa e acariciou meu cabelo, “Os Potters e seu amor por ruivas, para começar. Sua poderosa lealdade aos seus amigos, sua paixão pelas pessoas que amam, a tentativa de proteger as mulheres em suas vidas...”

“Tiago tentou proteger Lílian como Harry está fazendo comigo?”

Mamãe aquiesceu, “Logo depois da formatura, eles se juntaram à Ordem. Depois de uma batalha contra Você-Sabe-Quem e os Comensais da Morte, Tiago saiu parecendo com um herói, mas também um novo alvo para o Lord das Trevas. Tiago terminou com ela para mantê-la a salvo”

Repentinamente, senti uma forte ligação com Lílian, como nunca antes tinha sentido, “Mas ela não estava a salvo”, falei, pensando na co-relação próxima entre a mãe de Harry e eu.

Mamãe me observou atentamente, compreendendo como eu poderia estar interpretando as palavras, “A sua situação com Harry não é a mesma do Tiago com a Lílian”, disse. Ela fechou os olhos e suspirou, “Tiago caiu na real duas semanas depois”

Ela estava certa. Era diferente, mas ainda assim, tão semelhante.

“Quando Lílian e James... não resistiram, nós guardamos algumas de suas posses aqui”, Mamãe falou, “Cartas de amor, diários, mas a maior parte das coisas dos Potters estava em um segundo cofre, então não pudemos ter acesso. Harry tem pleno acesso para ele agora que tem dezessete anos”

Expliquei como eu tinha encontrado as caixas dos anuários.

“Devemos ter esquecido uma”, Mamãe disse. Ela deu um tapinha em minha mão, “Por que você não vai buscar aquela caixa? Eu gostaria de vê-la novamente”


- Parte XIV -


Corri para o porão, ouvindo o vampiro de pijamas gemer quando passei na frente do quarto de Rony. Rapidamente localizei a caixa e trouxe-a para os meus braços. Menos de cinco minutos mais tarde, estava sentada novamente na mesa.

Mamãe pegou o primeiro anuário, o mais novo, e começou a folheá-lo, parando em algumas páginas e sorrindo. Ocasionalmente, soltaria um resmungo entristecido ou de felicidade, levando as mãos aos olhos e enxugando as lágrimas que tinham se formado.

Tirei os livros da caixa, um por um, e empilhei-os na mesa. Quando cheguei ao fundo, vi um livro que eu tinha claramente ignorado da primeira vez. Era menor e menos espesso que os outros, preto, e uma capa que parecia ser feita de escamas de dragão. Na frente, letras verdes brilhavam, onde lia-se, “O Diário de Lílian A. Evans”.

Hesitei, odiando ter encontrado o diário. Eles ainda me deixavam nervosa e tenho certeza que ninguém me culparia se estivesse ciente da minha história. Afastando a sensação, abri na primeira anotação.

“Tiago tem agido de maneira estranha desde a batalha. Eu achei que poderia ser o trauma por ter que matar alguém, mas não era isso. Era ele se preocupando comigo. Ele estava preocupado que já que estava sendo procurado, eu me tornaria um alvo. Eu devia ter previsto.
Ele disse que não conseguiria viver consigo mesmo se eu morresse porque eles estavam tentando atingi-lo através de mim. Ele disse que não suportaria me perder assim, então, ao invés disso, ele termina comigo e me perde de uma maneira completamente diferente. Fiquei em silêncio, mesmo que ele estivesse errado. Não estou segura, mas quem está?
Ainda não tive a coragem de contar a todos que o casamento foi cancelado. Estou arrasada. Não tenho comido. Não tenho dormido. Uma vez dissemos que não poderíamos viver um sem o outro, e me sinto desse jeito agora, e sei que ele se sente da mesma forma.
Esperarei por ele, até que ele deixe de ser nobre”


Parei de ler naquele ponto. Lágrimas escorriam pelas minhas bochechas. Eu queria desesperadamente conversar com Lílian, conhecer a mulher que seria minha sogra, com quem eu poderia ficar acordada até de noite, conversando, rindo, bebendo chá ou chocolate quente. Queria que ela soubesse que eu entendia como ela se sentia e depois poderíamos tirar sarro uma da outra por estarmos tão apaixonadas pelos Potters.

“Eles já estavam noivos”, sussurrei.

Mamãe ergueu os olhos e notou o diário. Aquiesceu. “Mas como eu disse, Tiago caiu na real duas semanas depois, e duas semanas depois disso, eles estavam casados”, ela perguntou se podia dar uma olhada no diário antes que eu continuasse a lê-lo e entreguei-o a ela.

Se Lílian estivesse viva, se Tiago estivesse vivo, então Harry não estaria por aí arriscando a própria vida. Se... se Voldemort estivesse morto, todas essas pessoas poderiam finalmente ser liberadas. Os mortos poderiam descansar. Os vivos poderiam viver.

Mamãe me devolver o diário. “Pensei que fosse um desses”, falou, “Em dados momentos, você pode entrar nas memórias que Lílian adicionou às páginas. É bem parecido com uma Penseira”

Virei para a segunda página que estava intitulada “O Dia No Qual Tiago E Eu Nos Apaixonamos”. Não era uma anotação longa, apenas algumas sentenças e um pequeno quadrado próximo ao fim da página.

Normalmente, uso essa memória para conjurar o meu Patrono, mas Olho-Tonto teve que me salvar ontem à noite dos dementadores. Não consigo encontrar essa memória quando estou tão magoada.

O quadrado brilhou e mostrou uma cena de inverno, quase como se eu estivesse assistindo uma TV trouxa. Enquanto Mamãe sorria para mim, trouxe a página para mais perto dos meus olhos para ver melhor e, quando dei por mim, eu estava caindo pela moldura, mais e mais rápido, num furacão de cores e sombras.

Bati com força contra o chão, mas não senti dor. A neve estava sobre mim, mas não me senti nem com frio, nem molhada. Isso era estranho, estar na memória de outra pessoa, mas muito interessante. Olhei em volta. Eu estava dentro do território de Hogwarts, logo ao lado do lago, bem embaixo da minha árvore favorita. Entretanto, ela era consideravelmente menor.

“Ainda não consigo acreditar que você me convenceu a fazer isso, Potter. Está congelando aqui fora”

“Onde está seu senso de aventura, Evans?”


- Parte XV -


Voltei-me para ouvir a voz de Tiago e Lílian às minhas costas. Lílian era maravilhosa. Seus cabelos ruivos alcançavam logo abaixo dos ombros e seus olhos verdes brilhavam contra o sol de inverno. Tiago era maravilhoso e era óbvio de onde Harry tinha tirado sua boa aparência. Sorri quando percebi que os cabelos de Tiago eram despenteados nos mesmos pontos dos de Harry.

Lílian se arrepiou. Tiago tirou o casaco e ofereceu-o a ela. Ela hesitou. Ele revirou os olhos e foi para as costas dela, colocando o casaco em seus ombros, suas mãos roçaram contra a pele do pescoço dela levemente. Ela se arrepiou novamente, e não era porque ela estava com frio. Admito que ela estava fazendo uma boa encenação ao fingir que não estava se divertindo.

Ela sacudiu a cabeça e franziu o cenho, ajeitou melhor o casaco. “Não entendo, Potter. Ano passado, você era um idiota arrogante. Esse ano, você está, na verdade, sendo...”

“Charmoso?”, Tiago disse, dando um bonito sorriso.

“Eu ia dizer legal, mas suponho que charmoso funcionaria”, ela disse. Um vento frio balançou as árvores e flocos de neve se desprenderam dos galhos. Lílian enrugou o nariz quando os flocos pararam em seu rosto, mas já que suas mãos estavam enroscadas no casaco, não conseguiu tirá-los.

A reação de Tiago foi praticamente impulsiva. Suas mãos estavam lá, tirando os pequenos cristais de água das bochechas dela.

“Mary brigou comigo por vir aqui com você hoje”, Lílian disse.

“Qual é”, Tiago rebateu, erguendo as mãos na lateral do corpo, num gesto questionador, “Eu sou tão ruim assim?”

Lílian deu de ombros, “Não ultimamente”

Essa resposta pareceu satisfazê-lo. Ele se aproximou um pouco mais da garota, mas ainda estava muito hesitante para fazer qualquer movimento. Lílian ficou tensa e suponho que, em momentos passados, ele tinha tentado colocar os braços em volta dela sem permissão. Ela pareceu impressionada que ele não o tivesse feito.

“Você me contou tanto hoje”, Lílian disse, uma expressão de flerte, “Estava tentando me impressionar?”

Tiago deu de ombros, mas por fim aquiesceu. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, Lílian apontou e berrou.

“Tiago, olhe!”

Ele ficou maravilhado por alguns segundos perante o uso do seu primeiro nome. Ela devia nunca tê-lo usado antes. Ela falou para ele olhar uma vez mais e ele o fez, em direção a um grupo de cervos que tinham saído da floresta. Qualquer que fosse o motivo para eles estarem ali, a cena era pacífica.

Os quatro animais andaram graciosamente para, talvez, alguns metros do casal, parando entre algumas passadas para inspecionar um barulho que os tivesse alertado. Tinha um veado, cujos chifres eram majestais. Tinha um cervo, que parecia sereno, movendo-se silenciosamente sobre a neve. Seguindo atrás deles, dois filhotes andavam lado a lado.

Encontrei-me perdida na beleza do cenário. Era calmo, quase romântico. Quando voltei-me para Lílian e Tiago, eles estavam mais próximos, seus dedos entrelaçados, mas pareciam não notar. Sorri. Eu estava testemunhando a criação dos pais de Harry.

Lílian finalmente olhou para baixo e notou suas mãos. Ela corou levemente. Tiago notou, também, e tentou se soltar, desculpando-se pela rudeza, mas Lílian segurou-o. Sua expressão facial tinha mudado notoriamente. Ela ergueu os olhos na sua direção e umedeceu os lábios.

Tiago se inclinou e eles se beijaram pelo o que parecia a primeira vez. Não durou muito e não foi algo desconfortável de assistir. Tiago afastou-se com uma expressão satisfeita. Por quanto tempo ele estaria perseguindo aquela garota?

“Você sempre foi o veado procurando pelo seu cervo”, Lílian sorriu, “Você finalmente a encontrou”, ela o puxou em sua direção e beijou-o novamente.

A cena começou a desvanecer e eu fui puxada de Hogwarts de volta para a minha cozinha. Mamãe estava ocupada folheando outro anuário. Sentei-me novamente em minha cadeira, segurando o diário contra o meu peito e ponderando o que eu tinha acabado de assistir.


- Parte XVI -


Olhei para a página de novo e li a palavra Patrono. Se a cena tinha qualquer tipo de evidência sobre o que era o Patrono dela, eu diria que era um cervo. Imediatamente lembre daquela noite em outubro quando alguém mandou um cervo para salvar a Cootes, Peakes e eu.

“Mãe”, falei, baixinho, e ela ergueu os olhos, “Qual era a foram do Patrono de Lílian?”

“Um maravilhoso cervo prateado”, respondeu, confirmando minhas suspeitas, “Ninguém os produzia como Lílian o fazia... com a possível exceção de Dumbledore... por quê?... o que foi?”

Meu coração bateu mais forte e tentei encontrar as palavras para explicar. Mas minha mente não era tão deficiente quanto minhas cordas vocais. Ela estava acelerada, enquanto eu pensava coisas impossíveis, muitas delas envolvendo a Lílian ainda viva, mas aquilo claramente era ridículo.

“Mamãe...”, falei, explicando o que aconteceu na noite de outubro. Felizmente, ela não reagiu de maneira exagerada em relação aos dementadores, “O que isso significa?”

“Você tem certeza que não se enganou e era outro animal?”

“Era um cervo”, reafirmei com confiança, “Mais alguém na ordem tem um cervo?”

BOOM.

A mais alta explosão ecoou pelos campos à nossa volta. A Toca balançou com o rugido ensurdecedor. Por um segundo, pensei que estávamos sendo atacados. Mamãe me agarrou e puxou a varinha do avental, apontando para todos os cantos à nossa volta, aguardando qualquer movimento estranho.

“Ou Rony está em casa e arrotou”, Fred disse da escadaria, “ou alguém tem sido malvado para com o Ministério”, ele e Jorge entraram na cozinha com as varinhas a postos.

“Parece que veio dos Lovegoods”, Mamãe disse, olhando pela janela.

“Estamos nessa”, Jorge e Fred disseram ao mesmo tempo, saindo do recinto e aparatando.

Acalmei-me consideravelmente e comecei a guardar os livros dentro da caixa, pensando que olhar as coisas de Tiago e Lílian era mais uma coisa que Harry e eu poderíamos fazer quando ele voltasse para mim. Guardei o diário com os anuários e pensei no patrono de cervo que tinha me salvado.

Alguns minutos mais tarde, Fred e Jorge correram cozinha adentro. Olhei-os, ansiosa por informação, “O que aconteceu?”, perguntei.

“Adicione mais uma questão ao mistério de Harry Potter”, Fred disse.

Jorge jogou um Pasquim na minha direção e peguei-o. Nela estava o rosto de Harry e o enunciado “Indesejável Número Um”, terminando com uma recompensa.

“Vimos Travers e Selwyn levando Xeno”, Jorge disse.

“Parece que nossos amiguinhos fizeram uma visita aos Lovegoods”, Fred disse.

Harry, Rony e Hermione estiveram nos arredores? Olhei pela janela, na direção do território dos Lovegood e franzi o cenho, percebendo o quão perto eu tinha estado de Harry em meses. Fechei meus olhos e pensei nele...

“Por que eles estavam lá?”, perguntei.

Fred deu de ombros, “Talvez descobriram sobre Luna e queriam ajudar Xeno...”

“...mas pelo que parece, Xeno alertou o Ministério assim que Harry chegou lá”, Jorge adicionou.

Eu tinha um misto de emoções. Luna merecia ser salva, mas pelo preço de outras vidas? Que dilema moral o senhor Lovegood deve ter enfrentado. O que eu teria feito na mesma situação?

Eu estava voltando para Hogwarts no dia seguinte. Embora eu tivesse juntado algumas peças do quebra-cabeça: R.A.B., Umbridge e o medalhão, a Espada de Grifinória, mais de duas Horcruxes... Eu tinha agora mais perguntas sobre o mistério de Harry, mais do que eu poderia responder.

O que eram exatamente as Horcruxes e quantas mais Harry precisava encontrar? Por que o Trio estava nos Lovegoods? Quemt inha conjurado aquele Patrono de cervo? Por que Snape não estava nos pressionando tanto quanto os Carrows? O que aconteceria conosco agora que o Ano Novo se aproximava e teríamos que voltar para o colégio? Quais novos horrores seriam introduzidos a Hogwarts?

Apenas algumas pessoas poderiam responder essas perguntas e eu não sabia onde elas estavam. Olhando pela janela novamente, olhando em direção ao último lugar onde sabíamos que eles estiveram, suspirei, e perguntei ao ar, “Onde está você, Harry?”

Continua...


N/A: ANTES DE MAIS NADA: DESCULPEM A DEMORA, mas com o colégio é muito difícil manter as atualizações.
QUERO APROVEITAR PARA PEDIR QUE VOCÊS DÊEM UMA LIDA NA MINHA NOVA FANFIC ‘MEMÓRIAS DO ESCUDEIRO’ QUE TEM UMA IDÉIA PARECIDA COM ESSA, COBRINDO A SÉRIE PELOS OLHOS DO RONY – A PEDRA FILOSOFAL JÁ ESTÁ COMPLETA.
Não vou responder aos comentários hoje, porque quero postar logo para me redimir pela demora, mas prometo responder aos comentários do capítulo que vem.
Amo vocês e desculpem a demora,
Gii.

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Comentários (1)

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