≈. A garota desaparecida




Gina observava Amanda silenciosamente por cima das travessas de comida e suco de abóbora na mesa da Grifinória no salão principal. Amanda estava ao lado de Draco na mesa da Sonserina, parecendo mais feliz do que nunca.
Ela ainda achava muito estranho o comportamento de Amanda mudar de repente e ficou muito chateada quando Hermione disse que não encontrara mais notícias sobre Amanda e a família nos jornais. Estava tão obcecada para notar algo de diferente em Amanda que nem viu Harry chegar.

- Por que você olha tanto pra o que ela está fazendo, com esse olhar de raiva? - perguntou ele repentinamente, assustando-a sem querer. - O que foi que ela te fez?

- Nasceu, acho que é isso - Gina notou o olhar de quase-censura de Harry e continuou com frieza na voz: - Olha aqui, eu não consigo esquecer o que ela me fez. Se você também tivesse isso - Gina afastou bruscamente a gola das vestes e indicou uma cicatriz fina e visível no pescoço, causada por Amanda. - você também não esqueceria.

Gina tomou um gole de suco com desinteresse, olhando de soslaio para Harry. Ela continuou, com desprezo na voz:

- Ela irritou Hermione, deu em cima de você...

- Amanda não voltou a fazer isso - interrompeu Harry. Os olhos castanhos de Gina se estreitaram. - Não estou defendendo ela, sei que o que ela fez com você não tem perdão, mas você vai odiá-la para sempre? É o melhor pra você?

Harry e Gina olharam ao mesmo tempo para a mesa da Sonserina, onde Amanda agora alisava os cabelos loiros de Draco com ar de apaixonada adoração.

- Ela muda de uma hora pra outra, não entendo - disse Gina depois de algum tempo, fingindo interesse em passar a geléia na torrada. - Ela fica um doce ao lado do namorado, será que Draco não tem medo que ela o deixe diabético?

- Se ele tem medo, não demonstra - disse Harry sorrindo, observando Gina comer a torrada com geléia com ar pensativo. Ela se virou e seus olhares se encontraram. O dela, mais sério.

- Você reparou - ela baixou a voz propositalmente. - Que uma das poucas pessoas que não teve problemas com Amanda foi o Rony? E que ela não fez nada de ruim pra ele, mesmo depois que meu irmãozinho saiu contando os segredos dela por aí?

- É porque ela e o Rony eram amigos, antes! Hermione falou que Amanda ficou muito abalada depois que eles pararm de se falar - explicou Harry.

- Então é por isso... se eles eram amigos... Harry, o que Luna fez que Amanda não gostou? - Gina afastou os cabelos ruivos do rosto e fitou Harry com determinação.

- Luna contou pra você... que eu e Amanda... na sala comunal... - Harry desviou o olhar. Odiava ter que lembrar daquela noite, sabia que machucava Gina mais que tudo.

- Amanda estava com raiva porque você estava ignorando-a, porque gosta de mim, e não dela! Luna me contou exatamente o que ela havia feito com você, e a gente brigou... Se Amanda sabe que Luna me contou tudo, então ela passaria a odiá-la... e se vingaria depois.

- Ela sabe da Luna, eu contei... - Harry teve a sensação que um nó se formava na garganta. - Você acha... Amanda atacou Luna na floresta proibida?

Gina confirmou com a cabeça, quase imperceptivelmente, os olhos fixos nos desenhos do prato de porcelana. Seus olhos se enchiam de lágrimas.

- Você sabe o que isso que dizer, Harry. Ela fez muito mais que isso. Ela também pode ter matado a Vallery.



Ele sentia um ódio que penetrava em qualquer um que olhasse diretamente em seus olhos escuros. Mesmo naquela hora da manhã já estava tendo aquela sensação de raiva que tanto conhecia desde que ela chegara.
Havia alguma coisa que ele desejava fazer, ainda mais depois da cena que acabara de presenciar. Ela tinha sido avisada, mas estava desobedecendo suas ordens com sua rebeldia insuportável. Isso ele não iria tolerar mais.

Amanda Hartwell. A lembrança desse nome provocou-lhe involuntariamente um sorriso malicioso. O que ela iria pensar quando soubesse da história verdadeira? Será que o sr. Borgin havia dado pistas para ela reconhecer seu pai? Talvez não, mas existem mulheres que são inteligentes e manipuladoras, e com toda a certeza, Amanda era uma delas.

Impaciente, Snape afastou-se do armário de poções que agora nem usava mais, e começou a andar lentamente de um lado para o outro, saboreando sua vingança. Fazia questão daquele lugar vazio e sombrio sempre que se lembrava terminantemente delas: Lílian Potter e Kate Hartwell. Os filhos delas estavam em Hogwarts agora e Amanda, assim como Harry, tinham pais que Snape desprezava. Amanda havia herdado a bela rebeldia de Kate, que sempre intrigara Snape quando era mais jovem. E ele odiava isso.
Snape sentiu a boca seca e passou a língua nervosamente pelos lábios. Kate, a francesa que havia se revoltado contra a própria família e a mulher mais linda que ele já havia visto. Se recordava muito bem da sua juventude, nunca aparentando a idade que tinha, até a sua morte, com 33 anos.
Snape engoliu em seco, com um arrepio ao se embrar dela.
Amanda Hartwell e Draco Malfoy. Não, isso não podia acontecer. Ele podia prever a expressão dela, exposta a todos como realmente era, paralisada pelo medo.

- Vamos, Amanda. Você não pode com a verdade - murmurou Snape para si mesmo, parando no meio da sala. - O que acha de saber quem é seu verdadeiro pai?



Amanda lutava contra o desejo secreto de quebrar a promessa que havia feito para si mesma, depois da morte de Vallery: nunca mais ir para a Sonserina. Ela sentia uma necessidade inexplicável de voltar naquele lugar, como se fizesse parte dela.
Ela suspirou, dando-se conta de que já estava no último degrau da escada. Era tão fácil se perder em lembranças...
Amanda tentava desesperadamente viver cada dia que passava, sem olhar para trás, mas fazendo planos para o futuro. Sairia de Hogwarts o mais rápido possível, mesmo sabendo que isso machucaria alguém.

A visão do corredor estreito e escuro causou arrepios nela. Podia imaginar aquela noite, visualizar Vallery caída no chão, fria como o mármore. Amanda afastou os pensamentos da cabeça e ergueu os olhos lentamente. Parada em frente à parede de pedra lisa estava uma moça alta e esguia; seus cabelos loiros iam até a cintura. Ela estudou Amanda com os olhos verde-claros semicerrados e um frio sorriso nos lábios.

- Mandy, você por qui? - Alexy falou num tom arrastado e sarcástico, indo até onde estava Amanda. - Faz tento tempo que não te vejo, você ficou tão abalada assim depois da morte da Vallery que nem sequer aparece mais?

- Todos ficaram abalados depois da morte da Vallery - rebateu Amanda, cruzando os braços e apoiando o pé na parede. Teve que olhar para cima, pois a garota era muito mais alta que ela. - Menos você, Alexy.

- E por que eu ficaria? - Alexy deu de ombros, mascando um chiclete com ar de despreocupação. - Vallery nunca gostou de mim, sempre me deixava em segundo plano. Era sempre Sabrina, Sabrina, Sabrina... as duas se mereciam.

Amanda ergueu a sobrancelha, perplexa. Alexy, que tinha sido tão amiga de Vallery e Sabrina durante quatro anos agora estava falando da morte delas com um desprezo cruel. A frieza no olhar dela impressionou Amanda. um olhar totalmente diferente do que ela havia visto na foto das três garotas, vários meses atrás.

- Posso te perguntar uma coisa, Alexy? - acabara de ocorrer uma idéia estúpida com Amanda, mas mesmo assim curiosa. Precisava saber, e isso talvez seria um choque para ela.

- Se for rápido... - murmurou Alexy apática.

- Hum... ok - Amanda a encarou com um sorriso falsamente simpático. - O que você pode me contar sobre o voto Perpétuo que você, Sabrina e Vallery fizeram no quarto ano?

- Então a Val contou isso pra você? - e espressão de desdém de Alexy tinha desaparecido repentinamente e agora ela avançava para Amanda com ferocidade nos olhos claros. - Isso era um segredo! O que mais ela te disse? Então ela queria colocar você contra mim também!!! - ela desviou bruscamente de Amanda e socou a parede, com raiva.

- Por que motivo eu ficaria contra você? - Amanda teve o cuidado de escolher bem as palavras, como fizera com Vallery, assim Alexy falaria tudo por ela mesma. - Eu sei que você não fez por mal...

Alexy ergueu os olhos lentamente para a parede lisa e depois os fixou seriamente em Amanda.

- Eu não fiz por mal, ok? Não sabia o que o voto perpétuo era na realidade - murmurou ela sem emoção, com os olhos inexpressivos. - Sei que eu deveria ter morrido no lugar da Sabrina ou ter contado tudo pro Dumbledore, porque talvez isso fizessse a Val me tratar melhor do que antes, mas acabou, ela está morta - Alexy inclinou a cabeça lentamente. - Não quero mais falar sobre isso.

Alexy se virou em direção á sala comunal da Sonserina, mas Amanda a chamou enquanto subia o primeiro lance de escada:

- Eu não vou descansar enquanto não encontrar o assassino da Val. Fiz uma promessa.

- Boa sorte - respondeu Alexy com um leve sorriso. - Você vai precisar, contando que ninguém achou Sabrina até hoje.

Ela acenou com a cabeça mais uma vez e desapareceu em um portal de pedra.
Está enganada, Alexy, pensou Amanda enquanto subia, sem pressa, os degraus para chegar em seu quarto. Aquilo era mais fácil do que parecia.




O ar da tarde se infiltrava agradavelmente por entre a janela aberta, onde uma gata dormia tranquilamente, a brisa suave fustigando seus pêlos longos. Amanda entrou no quarto decidida e abriu silenciosamente a gaveta, tirando de dentro um pequeno espelho quebrado.

- Sirius! Sirius! - chamou com impaciência, tirando as meias e se enrodilhando na cama cheia de travesseiros. Tirou a varinha do bolso e depositou cuidadosamente em cima de um deles. - Anda logo, Sirius!

- Que foi? - ouviu-se a voz grave de Sirius e um segundo depois seus olhos castanhos apareceram no espelho.

- É sobre o que conversamos ontem. Não posso esperar mais - ela suspirou e encarou os olhos dele com determinação. - Se tudo der certo, eu faço o que você quer. Quando eu voltar para a França tudo isso vai acabar, mas primeiro tenho que cumprir o que prometi. Acha que estou certa?

- A escolha é sua, Mandy - disse Sirius depois de um tempo, baixando a voz cautelosamente. - Confia em mim, eu sei que ela é um animago.

Amanda olhou instintivamente para a janela aberta: a gata se espreguiçou e pulou com um ruído fofo no chão, indo em direção à porta entreaberta.

- Obrigada Sirius, depois a gente se fala.

Ela guardou o espelho sob um dos travesseiros e pegou a varinha, apontando-a para a porta e murmurando um feitiço. A porta se fechou com um estrondo e a gata se assustou, chiando e eriçando os pêlos longos e brancos, mirando em Amanda um olhar cruel nos olhos azul-gelo. Amanda sorriu com um espressão irônica.

- Chega de disfarces - disse ela friamente. - Chega de mentiras, Sabrina.

Ainda restava um fio de esperança de que talvez Amanda estivesse errada, afinal. Ela abaixou a varinha e fitou a gata branca com um olhar penetrante por cima dos travesseiros da cama.

- Então?

Ela prendeu a respiração ansiosamente. Quando achou que nada mais aconteceria, viu que estava enganada: a gata repentinamente se transformou em uma moça de cabelos pretos e lisos que lhe iam até os ombros, contrastando imensamente com a pele translúcida e pálida e as vestes desbotadas. Seus olhos azuis claros e opacos tinham uma expressão angustiantemente triste e decepcionada. Amanda recuou, momentaneamente assustada.

- Sim - disse Sabrina tão baixinho, como se falar fosse um esforço muito grande para ela. - Você tem razão, não consigo mais viver assim... - a voz sumiu e ela se largou na cama, olhando com expressão vazia para as próprias mãos. - Co-como foi que você de-descobriu?

- Pela sua tatuagem, principalmente. Gatos não têm manchas em formas perfeitas de S, ou pelo tempo em que você sumiu... Você apareceu como gata no mesmo ano em que você supostamente morreu. Ou ainda porquê você nunca poderia ter morrido, porque você nunca iria abandonar a Vallery mesmo que fosse expulsa da escola, então não quebraria o Voto Perpétuo - respondeu Amanda friamente, encarando os olhos úmidos de Sabrina. Para sua surpresa, percebeu que não sentia raiva da garota e o pior, ela não parecia culpada. Amanda afastou esses peensamentos da cabeça e se concentrou em Sabrina. - O que foi isso que você fez? Um tipo de brincadeira? Tentou saber quanto tempo enganaria suas duas amigas até revelar que era um animago?

- Você não entende?! - gritou Sabrina desesperadamente, mas se encolheu como se tivese sido agredida ao ver o olhar sério de Amanda. - Eu não podia contar a ninguém que sou um animago! Roubei a poção do meu tio, e quando ele descobriu me fez jurar que não contaria a ninguém, ou nós dois podíamos ir parar em Askaban!

- E isso é motivo pra você se esconder de todos durante quase três anos? Gostava tanto de ser bichinho de estimação dos outros enquanto Vallery sofria por você o tempo todo? Afinal, o que ela fez de ruim pra você? - Amanda se levantou enraivecida, com vontade de quebrar todo aquele quarto, com vontade de arrancar de vez aquelas lembranças. Um arrrepio desagradável percorreu seu corpo ao aolhar para os olhos de Sabrina e ver como eles eram parecidos com os seus. Ela os fechou imediatamente aguardando que a pergunta mais excruciante saísse de sua boca: - Foi você quem matou a Vallery, DIGA A VERDADE!


Sabrina também se levantou, encarando Amanda, com raiva nos olhos, tremendo de indignação. Como ela ousava acusá-la assim? Amanda percebeu os dentes caninos estranhamente afiados da garota enquanto ela dava a volta pelo quarto e avançava rapidamente:

- Como você tem coragem de dizer uma coisa dessas? - gritou Sabrina histericamente, parecendo uma gata brava. Amanda continuou impassível, escondendo o medo que sentia dela agora. - Como pode me acusar de matar a Vallery, que sempre foi minha única amiga nesse lugar? Eu nunca faria isso! Você sim, Amanda! Você roubou a sala de um professor, você quase matou aquela garota na floresta proibida! - Ela parou em frente à Amanda, reprimindo sua raiva. - Mas mesmo assim eu nunca duvidei de você, nunca pensei que fosse a assassina da Val! E eu sei que não foi você, porque eu estava no seu quarto quando aconteceu!

Amanda suspirou e sentiu o nó de tensão dentro dela se desfazer. Sabrina era inocente, pensou, fitando os olhos azul-gelo da garota injustiçada e desviando-os em seguida.
Baixou a varinha lentamente, sentindo-se envergonhada.

- Eu acredito em você - disse ela em tom de quem pede desculpas, sem conseguir olhá-la nos olhos.

Amanda deu um giro lento e voltou a se sentar na beirada da cama, apreensiva. A brisa leve que entrava pela janela pareceu amenizar o ar agressivo entre as duas e Sabrina sentou-se ao lado de Amanda, baixando a cabeça ligeiramente, deixando que os cabelos negros escondessem seu rosto pálido.

- Eu não devia ter desconfiado de você - continuou Amanda. - Eu também sinto muita falta da Vallery... e estou desesperada para encontrar o assassino...

- Se eu soubesse quem matou a Vallery - retrucou Sabrina com voz rouca, passando as unhas afiadas distraidamente no lençol. - , eu o mataria com as minhas próprias mãos.

- É isso que eu também vou fazer, e se eu ajudar Sirius, ele vai me ajudar - Amanda tentou um sorriso, vacilante, e afastou os cabelos do rosto, olhando para o chão. - Tudo piorou, agora que existe um assassino em Hogwarts e...

- O que você quis dizer com "agora"? - interrompeu Sabrina olhando-a com curiosidade. Amanda levantou a cabeça, confusa. - Tem um assassino em Hogwarts bem antes da morte da Vallery, há três anos atrás, mais ou menos - ela virou o rosto e olhou para a janela, de um jeito distante, como se ela não existisse. - Você ficou sabendo da versão que fizeram para a minha morte, não é?

- Mia me contou, já faz um tempo. Disse que viram você pela última vez perto da floresta proibida, e supostamente tinha morrido lá. Então isso foi só um boato, já que você sobreviveu...

- Mas isso é verdade! - Sabrina se levantou de um salto e começou a andar de um lado para o outro, com as faces coradas de tanta impaciência. - Alguém lançou a Maldição Imperius e me levou para a floresta proibida. Quando dei por mim, eu estava lá, tudo escuro e frio... e eu vi essa pessoa por atrás das árvores, mas não deu pra ver quem era - ela parou a caminhada pelo quarto , encarando Amanda lividamente. - Essa pessoa tentou lançar uma Maldição da Morte em mim, mas eu me transformei e consegui fugir. Desde então eu vivo como gato, andando em Hogwarts noite e dia, tentando achar pistas para descobrir quem tentou me matar há três anos...

- ...E tudo indica que essa é a mesma pessoa que matou a Vallery - completou Amanda, e as palavras saíra de sua boca sem que ela percebesse.

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