Capítulo Único



Um Conto de Fadas


Nymphadora Tonks nunca fora uma criança fácil. Sempre correndo, sempre tropeçando, sempre quebrando tudo. Era difícil a garota de seis anos de idade se dar ao luxo de ao menos tentar atender ao desejo da mãe de ficar quieta. Mas, naquele Sábado à noite, Andrômeda estava sem paciência.

Ted havia saído para jogar futebol com os amigos; era mais um dos hábitos trouxas que ele nunca abandonara, embora Andrômeda não gostasse daquilo. Em tempos de guerra como aqueles o melhor era ficar junto da família em todas as ocasiões possíveis. Nymphadora tinha o costume de querer ficar esperando o pai até tarde, mas Andrômeda sempre dava um jeito de colocar a menina na cama. Naquele dia, no entanto, não havia quem a controlasse.

Estavam no quarto da pequena, que era cheio de bichinhos de pelúcia e, logo na entrada, enunciava a cor preferida da garotinha: rosa. O quarto era pintado de um raso-bebê, clarinho, mas estava realmente bagunçado. Nymphadora decididamente não puxara à mãe no quesito de organização.

- Mamãe, eu quero esperar o papai! – reclamava a garota, com seus pijamas verdes, fazendo contraste com os cabelos ruivos que usava. Ela estava deitada em sua cama, com os braços cruzados e fazendo biquinho com a boca.

- Seu pai vai demorar, querida – falou Andrômeda, impaciente.

- Você sempre diz isso, talvez hoje ele não demore! – continuou
Nymphadora.

- Mas o que você quer fazer enquanto ele não chega? Não há nada para fazer, Dora, sabe disso – disse Andrômeda, passando os dedos nos cabelos da filha.

- Já sei o que podemos fazer – falou a menina, sentando-se na cama. – Me conte uma história.

- Uma história? – repetiu Andrômeda. – E qual história você sugere?

- Uma que eu ainda não tenha ouvido, de preferência – pediu a filha. – Uma sem princesas, isso já enjoou. Não há princesas bruxas, mas há sempre histórias delas.

Andrômeda pensou por um momento. Tinha certeza que nunca havia contado aquela história à filha, nunca sequer pensou em contar. Talvez ela gostasse da história.

- Bom, se é assim que você quer... – começou ela. – Era uma vez uma bruxinha muito rica. Ela vinha de uma tradicional família bruxa, arrogante e d...

- A bruxinha também era arrogante? – perguntou Nymphadora, de repente.

- Um pouco, mas nada comparado à arrogância dos seus pais e de suas irmãs, Bellatrix e Narcissa. Quando a bruxinha completou onze anos, recebeu uma carta de Hogwarts e se juntou à sua irmã mais velha, Bellatrix, na casa Sonserina.

- Papai diz que essa casa é a pior de Hogwarts, que há poucas pessoas legais lá – interrompeu a menina novamente.

- Nymphadora, querida, lembra-se do que conversamos na semana passada sobre interromper a mamãe? – perguntou a mãe, em tom zangado.

- Lembro – respondeu a filha, rolando os olhos para o teto.

- Ótimo – continuou Andrômeda. – Como eu ia dizendo, ela foi à Hogwarts e, pela primeira vez, viu que o mundo não era feito de puro-sangues. Viu muitas vezes sua irmã xingando os nascidos-trouxas de sangues-ruins, mas ela nunca tivera coragem de fazer tal coisa, embora preferisse não falar com eles.

“Quando ela tinha quinze anos, no entanto, sentou-se ao lado dela numa das aulas um nascido-trouxa, chamado... chamado Ted – Andrômeda viu um leve sorriso passar pelos lábios da filha. – Com o tempo, a bruxinha viu que Ted, apesar de trouxa, era um garoto legal e não importava se ele não tinha sangue-puro como ela. Eles passaram a encontrar-se para estudarem juntos, mas não demorou muito para Narcissa contar à Bellatrix com quem vira a irmã.

“Bellatrix fora imediatamente falar com a irmã, que prometeu que jamais falaria com o ‘sangue-ruim’ novamente, diante dos olhos zangados da irmã mais velha. A bruxinha tentou se afastar de Ted, mas logo ela descobriu que não conseguia: estava apaixonada por ele.

“Os dois passaram a encontrar-se secretamente, e tudo continuou às escondidas por um bom tempo. Quando a bruxinha terminou seu último ano na escola, recebeu uma terrível notícia: seus pais haviam escolhido um noivo puro-sangue para ela, com quem ela deveria se casar dali a um mês. Na mesma hora, ela discutiu com os pais, dizendo que não podiam tomar uma decisão como aquela sem consultá-la.

- Mas ela gostava do mocinho! – falou Nymphadora, os olhos fitando a mãe curiosamente. – Não gostava? – acrescentou, com incerteza.

- Gostava – repetiu Andrômeda, sorrindo. – Por isso ela, sem se controlar, falou aos pais que não podia casar com o tal puro-sangue, pois ela já amava outro. Os pais da moça perguntaram quem era, não faziam idéia de que ela amava um nascido-trouxa. Achavam que ela seria como a irmã mais velha, que já estava casada com um puro-sangue muito rico e nobre.

“Ela contou aos pais quem era o verdadeiro amor da vida dela, contou como achava pura besteira aquela tradição de um casamento puro-sangue.

- E os pais dela a apoiaram, não apoiaram? – perguntou a garotinha, os olhos arregalados, sem nenhum sinal de sono.

- O pior de tudo é que não, querida – respondeu Andrômeda, parecendo angustiada. – Fizeram justamente o contrário. Não deixavam mais a moça sair de casa, e decidiram passar aquelas férias na casa do tio dela, a casa da família, provavelmente a mais segura e com menos probabilidade de uma fuga. O maior problema é que ela agora nem conseguia mais falar com o mocinho.

“Na casa dos tios, moravam também os primos mais novos. Um deles entraria para Hogwarts naquele ano, e a mocinha se aproveitou disso e ofereceu-se para acompanhar o primo em suas compras para a escola. Todos estavam muito ocupados planejando uma festa para a irmã mais nova da moça que a deixaram sair para Londres, acompanhada apenas de um garotinho de onze anos que não dava a mínima para a hereditariedade da pessoa. Lá, ela se encontrou com Ted e eles planejaram uma fuga no dia da festa de Narcissa.

“Na noite da festa, a moça estava arrumando as malas quando, de repente, sua irmã mais nova adentrou o quarto e na mesma hora questionou o porquê de todos aqueles pertences estarem voando para as malas da moça. Sem saber o que fazer, ela não respondeu a irmã e continuou a se arrumar. A irmã saiu do quarto calada e ela percebeu que devia ser rápida. Sem se importar com todos os familiares ainda na casa, ela enfeitiçou as malas para irem sozinhas aonde Ted a esperava e rumou à porta de entrada da mansão onde estava.

“Enquanto ela via os tios a olhando de maneira desgostosa, despediu-se do primo rapidamente, e, quando chegou ao andar térreo, deu de cara com seus pais. A mãe a olhou de maneira arrogante, como se nunca vira sangue-ruim maior, ainda que seus olhos estivessem cheios de lágrimas, e o pai apenas lhe disse:

- ‘Se ultrapassar aquela porta, nunca mais será bem-vinda. Terá que parar de se considerar da família’ – falou Andrômeda, imitando uma voz grossa e fazendo a filha rir.

- E o que ela fez? – perguntou a pequena Nymphadora.

- Ela apenas lançou aos pais um último olhar e disse: ‘Eu jamais considerei isto uma família’ – falou a mãe, em tom trágico.

- E aí? – perguntou a menina, demonstrando ansiedade.

- Ela se casou com Ted e hoje são muito felizes juntos – respondeu a mãe, sorrindo.

- E os pais dela, as irmãs?

- Ela nunca mais os viu – respondeu, com o olhar distante. – Soube que a irmã mais nova casara-se algum tempo depois, apenas.

- E o primo dela? – perguntou Nymphadora, curiosa.

- Ah, ele fugiu de casa alguns anos depois, e é o único com quem ainda fala com aquele sobrenome.

- Que sobrenome era?

- Isso não vem ao caso, querida – falou Andrômeda, mudando de assunto. – O caso é que a moça percebeu que ela não fazia parte daquele mundo, e arriscou o que tinha por uma vida mais feliz.

- E de uma maneira bem romântica – comentou a filha.

- Ora, ora, então há um pouco de romantismo por trás dessa máscara de travessuras – surpreendeu-se a mãe.

- É claro que há – falou Nymphadora, como se aquilo fosse óbvio. – Você não acha lindo, mamãe? A moça da história arriscou tudo por um amor... Quero ter um amor de conto de fadas, assim, quando eu crescer... Quando eu amar alguém, você e papai me deixarão ficar com esse alguém, não deixarão?

- É claro que sim, filha – respondeu Andrômeda, rindo. – Agora, não acha que é hora de dormir?

- Deixarão, mesmo se eu amar um gigante?

- Esse não é o caso, Dora.

- E um vampiro?

- Nymphadora...

- Quem sabe um duende?

A garota deitou-se novamente diante do olhar ameaçador da mãe, mas rapidamente a olhou, como se tivesse acabado de se lembrar de uma coisa.

- Mamãe, eu realmente gosto de lobisomens – comentou a menina, com um sorrisinho inocente no rosto. – Primo Sirius disse que conhecia um... Você acha que, se eu perguntar quem é, ele me fala? Eles são fascinantes, posso me casar com um lobisomem?

- Se isso a fizer feliz, querida, pode casar com ele – pediu a mãe, impaciente. – Boa noite.

- Boa noite, mamãe – falou Nymphadora. – E... Mãe? – chamou de novo, quando a mãe já estava na porta.

- O que foi, Nymphadora? – perguntou Andrômeda, impaciente.

- Eu sabia que você amava muito o papai... Mas acho que nunca teria adivinhado que era um amor tão grande assim – comentou Dora, apagando a luz do abajur ao seu lado.

- Eu o amo tanto quanto amo você, querida – falou a sra. Tonks. – Nunca se esqueça disso.

- Eu também amo você – falou a garotinha. – E... Mãe?

- Sim?

- Você acha que meus filhos terão focinho de lobisomem quando eu for casada com um? Fica feio?

A menina transformou seu nariz num focinho de cachorro, fazendo Andrômeda rir gostosamente.

- Não fica feio – respondeu ela. – Mas eu tenho fé de que seus filhos serão completamente normais, querida. Boa noite.

- Boa noite.

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